As informações são escassas - apenas se sabe o número de surtos - e a nossa imprensa, enfim, continua a fazer vista grossa, entretida com a análise das restrições. Vejam esta evolução:
a) No dia 2 de Setembro, a DGS divulga no seu site que há 23 lares com surtos activos.
b) Cerca de duas semanas depois, no dia 16, o Observador aponta surtos em 35 lares.
c) Em 23 de Outubro, o Ministério da Saúde revela que existiam então 107 lares com surtos, afectando cerca de 1.400 utentes.
d) Um mês depois, a 23 de Novembro, é divulgada a existência de 182 surtos em lares de idosos.
Em cerca de dois meses e meio, os surtos em lares aumentam 8 vezes, e 159 em termos absolutos
Isto pode parecer pouco, mas é imenso. É catastrófico. Por um lado, embora a DGS continue a sonegar essa informação, cada surto afecta, por norma, uma muito elevada quantidade de idosos (os mais vulneráveis), que quase apenas têm contacto com funcionários (o que revela falhas de protecção activa nessas instituições).
Por outro lado, e ainda mais importante, 182 surtos em lares significa mais de 8% do total (assumindo que, entre legais e ilegais, existirão 2.200 lares em Portugal). Mostra sobretudo uma gritante falta de protecção dos mais idosos.
Se acham que não, vejam: se esta incidência fosse semelhante fora dos lares (na casa dos portugueses, cerca de 4 milhões de alojamentos de residência permanente) e mesmo assim só estivesse a infectar uma pessoa teríamos então, actualmente, 332.000 infectados. Ora, incluindo idosos nos lares, temos actualmente 84 mil infectados.
Em suma, grande parte das medidas políticas (muitas absurdas) têm, em última análise, como escopo, proteger os lares de idosos. Porém, a facilidade com que a c0vid entra nos lares continua a surpreender-me, o que apenas é suplantado pela indiferença com que esta matéria é tratada a nível político e meditático.
Seria muito bom sabermos, nesta fase crucial, quantos mortos por covid em Novembro eram utentes dos lares. Há por aí algum jornalista com coragem ou vontade de saber isso? Ou não?
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