quinta-feira, 14 de maio de 2020

DA VIDA, DA MORTE E DO VÉU QUE SE DESTAPA DA COVID


Os recentes testes serológicos em Espanha, um dos países mais afectados pela covid, começam a revelar a dimensão da pandemia. Em vez de taxas de letalidade verdadeiramente aterradoras (10%) se se considerasse o número de óbitos (27.321) em função do número de casos positivos (272.646), afinal temos taxas de letalidade de 1,1%, tendo em considerção que o número de contaminados (a esmagadora maioria assintomático) é muito superior. Em regiões muito afectadas, como a Comunidade de Madrid, uma das piores regiões, os testes serológicos estimam que cerca de 11% dos residentes foram contaminados pelo SARS-.CoV-2, pelo que a taxa de letalidade ronda os 1,2%.

Não exisetem indicadores por faixas etárias, mas tudo indica, até por testes serológicos em outros países (e.g., EUA), que a covid-19 sendo uma pandemia preocupante, particularmente para a população mais idosa (com mais de 85 anos), não é uma peste negra nem a gripe espanhola de 1918. Tem, aliás, a particularidade (feliz dentro da infelicidade) de não estar a afectar a população jovem e em idade adulta. Além disso, quer queiramos quer não, a situação está a ser mais dramática em resultado de um sucesso civilizacional e geracional: o aumento "estonteante" da esperança média de vida (para quem não sabe, no início do século XX era de apenas cerca de 40 anos na Europa), fruto da melhoria dos cuidados médicos e particularmente da redução fortíssima da mortalidade infantil.

Que devemos fazer perante estes valores? Perante isto? Ser racionais. Reconhecer que viver é um risco, tomar precauções mas sem demasiados fundamentalismos, sobretudo numa altura (a actual) em que tudo indica que a covid regrediu (não significando que possa não regressar, mas essa probabilidade não nos pode tolher os movimentos). Não podemos ter a posição definitiva de não sair à rua porque nos pode sempre cair um vasos em cima (existe sempre uma probabilidade, mesmo remota de suceder tudo), Essa opção pode até dar-nos mais anos de vida, mas não é uma forma de vida. Não é para uma criança numa creche que não pode agora brincar com os seus amiguinhos; não é para um jovem estudante que não pode beber os seus copos com os amigos (e estudar também); não é para famílias que deixam de confraternizar e ter férias; não é sequer para os vellhos para quem esta tal sorte (a distopia em que vivemos) ameaça ser pior do que a morte.

Viver de forma realizada é saber arriscar, embora com prudência. Viver de forma realizada não é certamente aceitar que nem se pode sequer colocar uma toalha numa praia deserta só porque há uma norma "cega", construída por um burocrata, que decreta que agora só é permitido "andar" por lá em passeios curtos. Viver de forma realizada seria, por exemplo, poder abraçar a minha mãe que faz 80 anos daqui a uma semana, mas que, por todo o espectro do medo que se instalou, faz com que, provavelmente, não o venha a fazer. Para quem, como eu, está imune ao medo e pânico que se foi instalando, não se se livrou, porém, do ferrete do receio. Estar constantemente sob uma espada de Dâmocles não é certamente a melhor forma de se viver.

Há decisões que temos de tomar; e as melhores não devem ser tomadas em exclusivo apenas pelos políticos, sobretudo quando, entre eles, germina essa semente do gosto pela "ordenzinha" imposta e pelo controlo das nossas vontades. Drones, torniquetes e cédulas de "pureza", por amor da Santa!, são coisas aterradoras, bem piores do que o SARS-CoV-2. Sejamos sensatos e racionais. Sigamos, por exemplo, a Suécia, onde a sensatez e a racionalidade imperaram.

Logotipo do reality Big Brother e retrato do escritor George Orwell

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