sábado, 2 de maio de 2020

DA REALIDADE, DO QUE NOS ANDAM A DIZER E DO FIM DO CONFINAMENTO

Bem sei que há quem se irrite comigo por andar, nos últimos dois meses, a escrevinhar e a fazer análises estatísticas a torto e a direito. Faço isso por mim, mais do que por vós, confesso, porque sempre preferi pensar por mim do que aguardar que o Estado me imponha a sua "interpretação". Também sei, nestes tempos de pandemia global, que a maioria da pessoas ignorava, ou desejava ignorar, que em Portugal, mesmo em "situações normais", morrem tantas pessoas em três dias por doenças gerais como em mês e meio de covid-19. E que em fenómenos de ondas de calor no Verão (como em 2018) morrem, por vezes, em apenas dois dias, tantas como em mês e meio de covid-19. Mas, pronto, isso agora não interessa nada, não é? O pânico retira a capacidade de raciocínio a muita gente. 

Bom, mas vamos à análise diária. Já todos sabemos das máscaras que passaram de não recomendáveis para obrigatórias, com "direito" a choruda multa a dirigir-se para os depauperados cofres do Estado. E todos se recordarão também de sermos metralhados com o tal "planalto" e orografias diversas sobre a covid. E agora temos o levantamento do confinamento, mas com tantas regras que teremos de andar de cábula na rua, para além da máscara (aquela que não era recomendável, mas agora é obrigatória). Ora, este intróito para (me) perguntar se o levantamento do confinamento, e passagem para estado de calamidade, nas actuais circunstâncias de medo, terá sido no timing mais adequado ou não. Para responder a isto, não apresento um palpite mas sim uma análise. 

O gráfico que agora apresento, com as médias móveis de 5 dias, tanto para este ano como para a média da última década e a média do último quinquénio), é bastante elucidativo sobre o seguinte: a) a covid-19 (juntamente com outros factores) teve um contributo muito forte para a mortalidade, mas em vez de um planalto, tivemos claramente um pico (dia 4 de Abril),seguindo-se uma forte descida que parece ainda não ter paradao (espera-se). De uma forma mais do que evidente, estamos perante uma situação muito típica em surtos gripais, independentemente das restrições que se verificaram desde 16 de Março. b) entre 16 de Março e 30 de Abril, a mortalidade este ano foi cerca de 18% acima da média da década anterior, mas apenas 4,8% acima da média se considerarmos os quatro primeiros meses (Abril a Janeiro). 

No entanto, o surto gripal deste ano tinha sido menos mortífero do que na média dos últimos cinco anos, pelo que o agravamento da mortalidade pela covid-19 pode ter sido influenciada por esse efeito. c) apesar da tendência de elevado decréscimo da mortalidade este ano,descendo a partir do dia 4 de Abril dos 389 óbitos (média móvel de 5 dias) para 299 óbitos (também média móvel), ainda estamos algo longe da média da última década (que em 30 de Abril se situa nos 280 óbitos). 

Tudo isto ponderado, julgo que seria mais prudente que se aguardasse por um sinal mais concreto do fim do surto para colocar um fim ao confinamento. Ou seja, preferia que se começasse a levantar restrições (e faseadas regionalmente) apenas quando se baixasse a mortalidade para níveis mais próximos da média da última década (estamos ainda 7% acima dessa fasquia; pode ser pouco, mas talvez aguardar mais uns dias pela confirmar a tendência de fim do surto). 

Por fim, julgo que se anda a fazer futurologia (e a alimentar o pânico) quando, estando nós no início de Maio, se anda já a falar em ir a banhos com dois metros de distância do vizinho veraneante. Uma situação como a que vivemos deve ser seguida usando indicadores precisos, verificados em tempo real, e implementando uma gestão que tenha em conta as expectativas e os medos das pessoas. 

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