segunda-feira, 13 de julho de 2020

DA BALDA, DO DESCALABRO NOS LARES DE IDOSOS E DA IGNORÂNCIA POLÍTICA EM FAZER CONTAS

Parece que o Ministério da Saúde está «satisfeito» porque «só» há 153 lares de idosos, num total de 2.526, com casos positivos de covid-19. Ora, na verdade, isto é assustador! Por duas razões: 1) o valor é elevado; 2) a DGS nem parece aperceber-se que é elevado.

Se se fizer contas, isto significa que em Julho temos 6,06% dos lares com casos de contaminação. Extrapolando para os domicílios habituais (existem,segundo o INE, 5.954.548 alojamentos familiares), se houvesse também essa taxa de contami
nação de 6,06% no «exterior»,significaria a existência de 360.845 casos positivos na população geral, e isto assumindo apenas um caso por alojamento.

Ora, como felizmente, isso não sucede (desde Março temos 43 mil casos positivos), apenas se pode concluir uma coisa: os lares, onde estão as pessoas mais vulneráveis (os muito idosos, já com muitas morbilidades), continuam sem estar devidamente protegidos. E o Ministério da Saúde parece nem sequer ter consciência da gravidade da situação. Como tenho vindo a repetir, controle-se as contaminações nos lares e as mortes vão descer para valores próximos do zero.


domingo, 12 de julho de 2020

DA CRÓNICA DAS (MUITAS) MORTES ANUNCIADAS

Estou verdadeiramente "apavorado" com aquilo que se avizinha nos próximos dias, porquanto, como se sabe, as previsões meteorológicas indicam temperaturas muito elevadas...

Estive agora a rever a evolução da mortalidade total em 2020 nos mais idosos (acima dos 85 anos) e estou estupefacto com a tendência da última semana. Em 10 de Julho (último dia da análise), a mortalidade total neste grupo etário (média de 5 dias) era de 145 óbitos, quando a média (2014-2019) é de 99. Mas o mais impressionante é a subida "agreste" que se observa nos últimos dias, e que é mesmo mais "íngreme" do que durante o surto gripal e o pico da covid em Abril.

Se se confirmar mesmo a onda de calor, prevejo, e estou a medir as palavras, uma hecatombe nos idosos! Sobretudo se a DGS e o Governo continuarem entretidos com o alcóol gel dos estaleiros.


DA OUTRA PANDEMIA QUE NUNCA ACABA

Por favor, arranjem-nos um adulto para a sala: não podemos continuar neste fenesi de covid para aqui e covid para ali, e sempre a omnipresente covid, e continuar a assistir ao completo alheamento do Governo e da DGS ao resto daquilo que é o Serviço Nacional de Saúde, que caminha para o descalabro. 2020 ameaça ser um annus horribilis, mas não por causa da covid-19 mas pela gestão (política e técnica) da pandemia.

O excesso de mortalidade continua em alta, sem parar, e não é por causa do SARS-CoV-2. Continuamos bem acima da mortalidade média em Julho (e que conta com uma onda de calor em 2013 que fez duplicar os óbitos em alguns dias), e não, não é por causa da covid. Por exemplo, no dia 10, segundo os meus cálculos, o excesso de mortalidade (média móvel de 5 dias) estava nos 46 óbitos. E nesse dia morreram 8 pessoas por covid.

Desde o início da pandemia (16 de Março, e até 10 de Julho) morreram 37.372 pessoas, das quais 1.654 por covid (4,4% do total). A média (2009-2019) é de 32.806 óbitos. Se colocar aqui intervalos de confiança (a 95%) seria expectável, neste período, que os óbitos se situassem entre os 30.949 e os 34.663.

E enquanto isto, e enquanto diagnósticos, consultas, exames, cirurgias são adiadas, e enquanto os lares estão num descontrolo (a pedir intervenção do Ministério Público), a DGS anda preocupada com o alcóol gel nos estaleiros da construção civil... Deve ser para os pedreiros desinfectarem as luvas... Deve ser aí que está a solução para o excesso de mortalidade que "vivemos".


quinta-feira, 2 de julho de 2020

DO BRUTAL EFEITO DO DESNORTE, DA HISTERIA E DO MEDO

Na última semana e meia regressou a histeria, o medo e o desnorte por causa dos casos positivos na Grande Lisboa, apesar da maior preocupação, na minha opinião, ser do recrudescimento de contaminações em lares. Os meus próprios pais, que vivem no distrito de Aveiro (fustigado pela pandemia em Março e Abril) estão agora mais preocupados, algo incompreensível porque a situação actual muitíssimo menos grave.

Porém, se a covid-19 está matar menos, o desnorte, a histeria e o medo estão a substituí-la. Com efeito, Junho estava a ser um mês de regresso à normalidade em termos de mortalidade, como há dias até escrevi. Mas neste país sem política de Saúde Pública (que inclui gestão psicológica), tudo pode mudar repentinamente por via dos desnortes políticos. 

De facto, como pode observar no gráfico que apresento, em redor do dia 22 de Junho (quando a mortalidade em 2020 estava finalmente ao nível da média), começou a histeria na Grande Lisboa. Muito provavelmente por isso (não houve outro evento justificável, como ondas de calor), a mortalidade total disparou, como podem observar no gráfico em anexo. Só entre o dia 22 e 30 de Junho (média móvel de 5 dias), o excesso de óbitos em relação à média foi de 245 mortes, sendo que a covid-19 apenas justificou 39 mortes neste período. 

Tenho a certeza que um dia se farão estudos científicos sobre os efeitos do desnorte, do medo e da histeria em redor da pandemia, e provavelmente se concluirá que mataram mais do que o SARS-CoV-2. Mas isso não ressuscitará esses mortos.


terça-feira, 30 de junho de 2020

DO ANDAR A DORMIR NA FORMA

Ao longo destes meses de acompanhamento da covid-19 em Portugal, não páro de me admirar como tantos epidemiologistas, técnicos de saúde pública, investigadores, políticos e jornalistas não conseguem detectar situações atempadamente, e parecem sempre ser apanhados desprevenidos, tratando depois de arranjar justificações esdrúxulas e bodes expiatórios.

Eu, que não sou especialista em saúde pública, nem epidemiologista, sempre que me dou ao trabalho de olhar para os números (e sou só uma pessoa, com informação limitada, até porque a DGS se recusa a conceder-me acesso aos microdados anonimizados sobre a covid-19), descubro sempre que a Estatística "grita a plenos pulmões", sempre a tempo e horas, mas não há nunca nenhum responsável disponível a ouvi-la.

Isto apenas como intróito, ou lamento, sobre aquilo que o quadro, em anexo, mostra: a evolução do número médio diário de casos positivos por período desde Abril na Grande Lisboa.

Na primeira semana de Junho houve uma "explosão" de casos no concelho de Sintra, que passou para 63 por dia, quando na 2ª quinzena de Maio tivera apenas 20. Ninguém viu isto? Que intervenções da Saúde Pública houve?

Curiosamente, só na última semana (22-28 de Junho) se tem vindo a verificar um aumento nos concelhos de Cascais, Lisboa, Odivelas e Oeiras.


domingo, 28 de junho de 2020

DO ATIRAR AREIA PARA OS OLHOS

Descontrolo nos lares, só pode. O grupo dos maiores de 80 anos teve um crescimento nos casos positivos de 138% entre os dias 15 e 27 de Junho (considerando média móvel de 7 dias). Passou de 17 casos para quase 41. Um absurdo nesta altura do "campeonato"! O crescimento global de casos foi de apenas 23%. Os grupos dos 40-49 anos (+4%) e 50-59 anos (+1%) praticamente mantiveram-se estáveis neste período. Os grupos dos «bodes expiatórios» (leia-se, os mais jovens) tiveram crescimentos modestos no número de casos positivos: 10% para o grupo dos 20-29 anos, e 16% para o grupo dos 30-39 anos. O grupo dos menores de 20 anos tiveram um crescimento agregado de 40%. No grupo dos 60-69 anos o aumento foi de 22% e no grupo dos 70-79 anos foi de 63%. Isto vai dar para o torto. O problema das últimas duas semanas foi, basicamente, não saber-se proteger os idosos. O desnorte da DGS é completo. E o Governo não vai melhor... Portanto, continuem a fechar cafés às 20 horas que é aí que resolvem o problema; é mesmo!

sábado, 27 de junho de 2020

DO NOVO DESCONTROLO NOS LARES

Perante o muro de desinformação e de falta de transparência por parte da DGS e do Governo em redor dos números da covid-19 (e que agora se está a virar contra eles), somente por inferência se pode fazer um diagnóstico isento. Aqui segue mais um.

Nos dois gráficos que apresento, com a evolução (média móvel de 7 dias) nota-se que a evolução dos casos positivos do gruipo dos 70-79 anos manteve-se estável desde início de Junho (dia 1 eram 16; dia 26 eram 19). Porém, noos maiores de 80, os casos positivos mais que duplicaram no mesmo período: eram 16 no dia 1, passaram a 34 no dia 26 de Junho. A situação piorou partcularmente na segunda quinzena. Como a maioria dos residentes em lares são maiores de 80 anos, está visto que é aqui que tem havido um descontrolo absoluto e inexplicável. temos aqui o principal problema. Com mais de 30 casos positivos nesta faixa etária é de esperar que haja 6 óbitos diários nas próximas semanas, o que ensta altura não augura nada de bom, não apenas por estas mortes, mas porque teremo o SNS insistentemente a não tratar de regressar ao "normal". 



sexta-feira, 26 de junho de 2020

DA LEI MARCIAL... E DA LÓGICA

Portanto, acabou a pedagogia. Agora é multa, a seguir cacetete, presumo. No meio disto, a mais completa falta de lógica, filha do desnorte. Há agora menos casos em desconfinamento do que houve em confinamento (Março e Abril); só as comemorações do 1 de Maio contribuíram para uma pequena subida (e nada se fez), e os casos estão estabilizados desde a segunda semana de Junho... E tomam-se agora medidas extraordinárias como o fecho de cafés e a aplicação de multas em ajuntamentos... Enfim, o único problema que vejo (tenho noutro gráfico, que colocarei mais tarde), é descontrolo nos casos positivos dos mais idosos, que se deverá sobretudo aos lares... Entretanto, a comunicação social agora comunica primeiros os casos positivos, e só mais tarde as mortes, Alimentar o pânico, mostrar acção. Eis os ingredientes para o desastre. Não de saúde pública, mas social e económico (que, aliás, também causa mortes).


quinta-feira, 25 de junho de 2020

DA DISTOPIA

Não ponho em causa a situação de alguma gravidade que enfrentámos em Abril/Maio... Mas por amor da Santa, não estamos em nenhuma segunda vaga da covid-19 nem coisa parecida. Até o grupo dos mais vulneráveis (maiores de 85 anos) apresenta níveis de mortalidade já semelhantes aos da média... E devia era ter-se feito muito mais naquele pico de Maio: uma onda de calor matou que se fartou e não vi DGS fazer coisa alguma para evitar tal sorte. O problema, continuo a defender, está sobretudo nos lares, que têm de mudar o seu modus operandi.


terça-feira, 23 de junho de 2020

DO ACORDAR TARDE, ESTREMUNHADO E RABUGENTO

Bem sei que estas análises não me fazem muito popular, mas aqui vai uma que mostra, demonstra e confirma que o Ministério da Saúde anda aos papéis e o Governo gere a pandemia para se sair bem e não para cuidar da Saúde Pública e da nossa Economia.

Sabemos agora que, por via de umas festarolas ilegais, os jovens foram colocados como os culpados de uma nova vaga que, hélas, coloca o Governo de pau em riste, a querer multar-nos e nos colocar novamente com restrições.

Não quero ser muito extenso, por isso quem quiser veja os gráficos que coloco em que se mostra a evolução dos casos positivos por grupo etário desde Março (usando a média móvel de 7 dias). Vou fazer uma breve síntese dos aspectos que mais se salientam:

a) há apenas um "disparo" recente de casos positivos: os maiores de 80 anos - que passam de 14 casos por dia em 13 de Junho para 32 em 22 de Junho. Porém, embora preocupante, pela rápida subida relativa, os valores são muito menores do que em pleno confinamento (Abril, por exemplo). Esta é a parte mais crítica, porque a taxa de letalidade (óbitos por casos positivos) é muito elevada (cerca de 20%)

b) os (três) grupos dos 50 aos 79 anos apersentam também subidas, mas iniciadas há mais tempo, e com níveis muito mais baixos do que em pleno confinamento em Abril. As subidas têm sido graduais e com tendência a estabilizar. No grupo dos 70-79 anos essa estabilização é aina mais evidente, o que mostra que muito provavelmente o problema dos maiores de 80 anos se está a colocar nos lares.

c) as maiores subidas, abruptas mesmo, atingindo níveis superiores ou semelhantes a Abril colocam-se nos dois grupos mais jovens (0-9 anos e 10-19 anos), mas não é nada recente, não é da última semana. Vem desde início de Maio, e resulta do desconfinamento. Não é, repito, recente. Há muito que era visível. Em todo o caso, não são valores em absoluto demasiado preocupantes, sobretudo tendo em conta que este grupo é intrinsecamente de risco nulo.

d) O grupo dos jovens dos 20-29 anos (onde se insere sobretudo os tais das festanças), a evolução no número de casos também não é recente. No início de Maio tinha cerca de 34 casos por dia; agora tem 66, mas nem sequer está no pico. O pico foi atingido no dia 8 de Junho (71 casos, na média móvel de 7 dias). Portanto, as festas da última semana não são as culpadas. Ou, se o são, começaram há mais de um mês.

e) No grupo dos 30-39 anos e 40-49 anos, as subidas relativas no último mês também são significativas mas também graduais. No entanto, mais uma vez, estão muito abaixo do período de confinamento.

Resumo: na verdade, só os maiores de 80 anos tiveram um "disparo" recente no número de casos positivos. Os restantes grupos têm vindo paulatinamente, dia após dia, desde Maio, a subir o número de casos, mas alguns até estão a estabilizar, embora nos menores de 20 anos tal não suceda.

E perante isto, qual a medida mais emblemática do Governo para os próximos dias? Fecha os cafés às 20 horas e proibe ajuntamentos de mais de 10 pessoas! Vai dar um resultado do caraças, vai, vai!.

segunda-feira, 22 de junho de 2020

DOS JOVENS, ESSE BODES!... EXPIATÓRIOS

Portanto, tiro aos jovens, esses mentecaptos acéfalos, que contrariam o milagre português, graças ao qual teremos umas jogatanas de boa bola em Agosto... Portanto, a coisa está a descontrolar-se porque esse grupo de energúmenos está a contaminar-se e a contaminar meio mundo, não é? É? Será mesmo assim? Será, claro, se continuarmos acefalamente a ir no discurso oficial, seguido pela nossa excelsa comunicação social (que cada vez me desgosta mais).

O gráfico que aqui apresento - e demorei 30 minutos a fazê-lo - recorre aos casos positivos detectados desde 4 de Maio até 21 de Junho e à população por grupo etário (estimativas populacionais do INE). Vamos lá a um raciocínio rápido. Sendo certo que há mais casos positivos nos grupos dos 20 aos 39 anos, não há, para já, indícios que estejam a «contaminar» os grupos dos seus pais (que terão até 70 anos, ou mesmo até aos 80 anos), porque aí as taxas de contaminação são bastante mais baixas. Também não estarão a contaminar os seus eventuais filhos, porque as taxas são também baixas para os grupos etários abaixo dos 20 anos.

Na verdade, a partir do grupo dos 20-29 anos observa-se uma paulatina diminuição de casos positivos nos grupos etários seguintes, mas depois surge um grave problema: aumenta, e bastante, nos maiores de 80 anos (que suplanta mesmo o grupo dos 50-59 anos). O que está a suceder? São os netos, esses energúmenos, que estão a contaminar os avós mas não contaminam os pais? Ou será antes outra coisa?

Efectivamente, o que nos deveria preocupar nesta história da pandemia é a protecção activa dos idosos (especialmente nos lares), que são sem dúvida o grupo de maior risco. Continuamos a ter demasiada contaminação neste grupo etário, mas isso não se controla vedando a vida quotidiana a toda a população, até porque, com ou sem confinamente, teremos casos (podem ser menos) e teremos sempre que «impor» um controlo apertado nos lares de idosos. Não se discutir o que se anda a passar nos lares (veja-se Reguengos) e andar agora a culpar jovens energúmenos parece-me meio caminho andado para não resolvermos o problema. E, acreditem, os bodes expiatórios só funcionavam na Bíblia.


DAS PRIORIDADES

Haver 46 idosos contaminados num lar de Reguengos de Monsaraz é mil vezes mais grave do que, por exemplo, 4.600 jovens contaminados na Grande Lisboa. Haver 4.600 jovens contaminados dará, provavelmente, zero mortes. Haver 46 idosos contamionados dará, provavelmente, 9 mortes.

O problema está, e sempre esteve, sobretudo no controlo da contaminação nos lares de idosos. O problema das contaminações na Grande Lisboa só é preocupante, porque muitos países (e.g., Espanha e Itália, e outros mais) compreenderam que para se abrir fronteiras tinham de baixar o número oficial de contaminados. Mesmo se artificialmente.

Solução para isto? Não sei. O Governo português está preso no labirinto que criou. E a própria comunicação social agora insiste mais nas contamionações do que nos mortos. Isto está para durar.

quarta-feira, 10 de junho de 2020

DA OUTRA PANDEMIA QUE NÃO PÁRA

Começa a ser exasperante ver os dias a passar, o número de vítimas da covid-19 a reduzir, mas não há volta a dar:a mortalidade continua elevada. E não há uma palavra do Ministério da Saúde sobre isto. Não há perguntas dos jornalistas em conferências de imprensa que tratam de falar ad nauseum de 3% ou 4% das mortes em Portugal. Acordem: a vida & morte também é covid. Mas é muito mais. E para esse muito mai há muito para fazer.

Nota: O excesso de mortalidade desde 16 de Março (com referência à média de 2010-2019) é de 3.776 óbitos. Houve 1.492 vítimas por covid. Restam, para explicar o excesso, 2.284 óbitos, de maleitas diversas. Um importante foi a onda de calor de Maio (vejam aquele alto no gráfico).


terça-feira, 9 de junho de 2020

DAS NÃO-INTERMITÊNCIAS DA MORTE

"No dia seguinte ninguém morreu", assim iniciava José Saramago o seu romance, publicado em 2005, que contava a história da senhora Morte que decidira tirar férias. A realidade, contudo, ao contrário, tem-nos dado, quotidianamente, sob a forma de conferência de imprensa técnico-governamental, desde Março, a actividade da Morte, a contínua contabilização da acção da Morte. Mas toda? Não! Só daquelas almas ceifadas com a foice chamada covid-19. As outras foices e as outras almas não interessam, nem aquelas que anonimamente se quedaram na canícula de finais de Maio.

Enfim, se a Morte no romance de Saramago meteu férias, eu não sei agora quando haverá férias nas conferências de imprensa da covid. O Governo está num labirinto. Como terminá-las agora, tendo em conta os casos positivos mais recentes e o tempo médio para os desfechos mais trágicos? É certo, basta fazer contas simples, que vamos ter mortes por covid-19 pelo Verão adentro. Hoje cinco, amanhã seis, depois quatro, depois sete... Sempre assim, sob a forma de longa conferência de imprensa, a caírem sobre nós. Como um flagelo. Para todo o sempre?


segunda-feira, 8 de junho de 2020

DO HISTERISMO E DA VONTADE DE MOSTRAR SERVIÇO

 / Lembram-se que o confinamento serviu para, não apenas encontrar uma estratégia adequada para proteger os mais vulneráveis, "achatar" a curva epidemiológica, de modo a não sobrecarregar os serviços de saúde. Ora, ninguém garantia que a covid-19 desaparecia por completo, mesmo se a sua actividade claramente tem diminuído em toda a Europa com o aproximar do Verão.
Ora, aquilo que está a suceder em Portugal é uma situação perfeitamente normal e dentro do previsto. Actualmente, os casos positivos (sobretudo por via de uma corrida desenfreada á realização de testes, que mais não fazem do que aumentar a ponta do icebergue, tendo em conta que assim se apanham mais positivos assintomáticos) são em muito menor número do que na primeira quinzena de Abril, quando estávamos em pleno confinamento. Mais importante ainda: o grupo dos idosos, os mais vulneráveis, estão em termos absolutos e relativos a ser menos contaminados.
Na primeira quinzena de Abril foram contabilizados no grupo dos maiores de 80 anos cerca de 127 casos positivos por dia; na primeira semana de Junho foram apenas 15 por dia. Significa que, tendo em conta a taxa de letalidade para este grupo etário, os casos na primeira quinzena de Abril originaram 27 óbitos por dia neste grupo etário. Os casos positivos desta primeira semana de Junho previsivelmente originarão, em breve cerca de 3 óbitos por dia, Pode-se consegui melhor? Claro, com muitos custos económicos. Mas com menores custos económicos podemos salvar muitas mais de outras afecções, se o SNS não continuar obsessivamente a olhar para a covid julgando que alguma vez vamos conseguir zero mortes por esta causa.
Deixo-vos em baixo um gráfico que mostra a proporção de casos positivos por grupo etário durante a primeira semana de Junho e a proporção de óbitos expectáveis em função das actuais taxas de letalidade (por grupo etário).
Nota 1: Bem sei que 42 mortes que, previsivelmente, estes contaminados originarão são 42 vidas perdidas e muitas família em sofrimento. Sim, é verdade. Tal como as cerca de 2.000 vidas perdidas em média por semana por outras doenças. A vida não é justa.