domingo, 24 de janeiro de 2021

DA INTERPRETAÇÃO SOBRE AQUILO QUE SE ESTÁ A PASSAR EM JANEIRO DE 2021

Depois de resolver problemas de aúdio, vou reiniciar vídeos explicativos, com detalhe, sobre a pandemia,.

Desta vez, explico como se deve olhar para o extraodinário aumento da mortalidade em Portugal durante estas últimas três semanas.

DO BRASIL, ONDE SUPOSTAMENTE HÁ UM PRESIDENTE CRIMINOSO, EMBORA PORTUGAL JÁ ESTEJA PIOR

No dia em que Portugal utrapassa o Brasil no número de mortes por covid por milhão de habitantes, e sabendo também que há mais casos positivos acumulados por milhão de habitantes no nosso país, é muito curioso, e revelador da acefalia crítica do jornalismo lusitano, este tipo de notícias. 

Em Portugal, como se sabe, tudo correria bem se os portugueses não se portassem mal. O Governo tem uma "estratégia", os portugueses é que não se encaixam nela. A "estratégia" de António Costa baseava-se apenas em exigir que os portugueses não ficassem doentes; se não houvesse doentes, não havia mortes. A chatice foi os portugueses não se encaixaram nesta douta estratégia governamental. E só por isso, enfim, muitos morreram.


sábado, 23 de janeiro de 2021

DA COVID PORTUGUESA E DA COVID DA EUROPA

Vejam o gráfico. Vejam bem mesmo.

Actualmente, a situação em Portugal, em relação à covid, é complicada. Mas também é bom inculcar-se que o "sucesso" da invasão de um inimigo, mesmo que seja um vírus, depende das nossas capacidade de organização e de defesa.

E vamos ser claros. Portugal é agora, de longe, o país que está em pior situação da UE se considerarmos a mortalidade por covid padronizada à população portuguesa (cerca de 10,2 milhões de habitantes). Está com uma média móvel de 7 dias de 212 óbitos.  Um absurdo. Se excluirmos o Reino Unido, já não pertencente à UE, os países mais próximos são de Leste (a rondar os 140), que não tiveram primeira vaga.

De resto, estamos com mais do dobro das mortes (padronizadas) de países como a Alemenha e a Irlanda, que tiveram um forte aumento de intensidade da covid nas últimas semanas. Estamos com quase o triplo da Itália. Com quase 4 vezes mais do que a Espanha, Nem vale a pena falar da Suécia, que mesmo com as actualizações não ficará acima do nível de Espanha. Da Finlândia então nem vale a pena falar, mas mostra bem como a realidade da covid não é a mesma ao longo da Europa.

Diria que, sendo certo haver um recrudescimento da pandemia (por via da sazonalidade), seria "aceitável" que Portugal estivesse a registar 100-140 óbitos por dia. Mas nada disto está a suceder nas últimas duas semanas, e andamos agora com dias sucessivos a ultrapassar os 200 óbitos diários e a aproximar-se dos 300.

Portugal, o seu Governo e o nosso SNS, estão a falhar rotudamentente ao nível da assistência aos doentes-covid. Não culpem o inimigo, quando as defesas miliares estão a mostrar-se paupérrimas. 

Outros países, no início da pandemia, falharam. Mas aprenderam. Nós não. Não aprendemos e achámos que bastava rezar à Nossa Senhora de Fátima. E o Governo achou que desaparecerem mais de 900 médicos durante o ano passado, ou não investir em mais camas hospitalares, ou em reforço de estudos epidemiológicos, não trazia consequências nefastas.

Além de tudo isto, quase todos os países da UE estão com tendência decrescente, ou seja, o pico desta segunda vaga verificou-se em Dezembro, e estão agora a descer. Portugal está no auge. O dia de ontem atingiu o máximo de sempre e op máximo da média de 7 dias. 

Seria bom que se assumisse que está tudo mal, porque se não servir para remediar este "terramoto", terá de servir para evitar o seguinte. Com outras políticas. Com outros políticos.



DA DESGRAÇA EM DESGRAÇA

Não vale a pena negar: a covid descontrolou-se em Portugal, na mesma linha que se descontrolou na Espanha e na Itália, sobretudo durante a Primavera de 2020, e na Europa de Leste, neste Outono e Inverno. Estamos a bater recordes de mortes em dias sucessivos, a par também de um incremento das mortes não-covid. E temo que Portugal venha a ser um dos países da Europa mais afectados pela pandemia, ultrapassando em muita a própria Espanha. Pior ainda: está com níveis de mortalidade elevada para outras causas.

De facto, o descontrolo é absoluto, msotrando-se evidente no contínuo crescimento da taxa diária de mortalidade nos internados, que começou no início de Janeiro em 2,6% e agora vai nos 4,7%. O perfil dos internados pode agora ser diferente, mas tem reflexos catastróficos no aumento de mortos, que presumo estar a ocorrer sobretudo nas enfermarias. Falta informação, porque em tudo a DGS e o Goveno sonegam informação para que não se revele ainda mais o caos em todo o seu esplendor.

A minha previsão de ontem, embora apontando para novo máximo, falou por bastante (tinha indicadi 241, registaram-se mais 33), revelador do aumento do caos. Para o dia de hoje (resultados a saber amanhã), o modelo da tendência polinomial aponta-me para 244 (mas os resultados de hoje não ajudam para uma previsão) e o modelo da taxa de mortalidade para 281, o que significaria novo recorde.

Não me admiraria nada, caso os internamentos se mantenham em crescimento, mesmo que ligeiro, que cheguemos em breve aos 300 óbitos.

A forma como o SNS não se preparou, fez muito por isto. 

Fonte: DGS


sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

DAS PREVISÕES OU DA TRISTEZA EM ACERTAR SOBRE O CAOS

Desde o dia 12 de Janeiro, depois de encontrar dois modelos que me parecem expeditos mas rigorosos (taxa de mortalidade diária dos internados e  uma regressão polinomial grau 2 que relaciona internados com óbitos), tenho apresentado previsões diáriasn sobre os óbitos por covid.

Mais do que andar a ser Zandinga, estes modelos têm-me ajudado (e espero que também a quem me segue) a melhor percepcionar o "grau de caos" do SNS. Por um lado, comparando com as taxas de mortalidade em Outubro e em Dezembro, mostra-se que, se se tivessem mantido esses níveis de qualidade no tratamento dos doentes-covid, estaríamos agora com cerca de menos 100 mortes no segundo caso (Dez), e cerca de 150 mortes no primeiro caso (Out).

Por outro lado, os dois modelos permitem observar que o incremento das mortes por covid não estão apenas relacionado com o número de internamentos, mas sim muito relacionado com o agravamento da taxa de mortalidade diária dos internados, que passou de 2,6% no dia 1 de Janeiro para quase 4,2% ontem. Isto constitui um crescimento brutal, e prevejo que, se isso se mantiver, será preciso descer os internados para níveis inferiores a 5.250 (estão em 5.779) para se conseguer baixar a fasquia dos 200 óbitos diários. Isto demorará muitos e muitos dias, até porque o fluxo de novas entradas (internados) continua a ser superior aos das mortes e aos que recebem alta.

No entanto, cada vez se mostra mais evidente que a "estabilidade" do SNS no tratamento da covid, perante a débil capacidade actual de resposta, só se encontrará quando os internamentos baixarem dos 3.500 internados. Somente nessa altura começaremos a ver menos de 100 óbitos por dia.

Significa que o nível de mortalidade por covid vai-se manter por mais algumas semanas bastante elevado [para amanhã prevejo um novo máximo, em redor de 240 óbitos], não tanto pelo número total de casos positivos (que nada representam sobretudo na população jovem, até pela metodologia e rigor dos testes PCR) mas sim pelo grande número de contaminados com mais de 80 anos, que suspeito (imenso) provenham sobretudo dos lares.

Nos gráficos, mostro-vos o confronto entre as minhas previsões e os registos contabilizados pela DGS desde o dia 13 de Janeiro, bem como os habituais gráficos da previsão do dia de hoje (22/1).



DA IGREJA DA SANTA CACHIMANA OU DA CIÊNCIA A MARTELO

O Excelentíssimo Senhor Doutor João Júlio Milheiro Cerqueira, Omnipotente Pastor da Igreja da Santa Cachimana, vulgo Scimed - Ciência Baseada na Evidência, é homem de Fé, mas com dúvidas. 

Ontem questionou, retoricamente, os seus fiéis sobre em quem confiar: se em "hereges" ou se no European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC); se em "hereges" (onde me incluiu) ou em políticos dos Governos europeus que impuseram lockdowns.

Do alto do seu cachinguento pedestal, trescalou o Excelentíssimo Senhor Doutor a prova irrefutável contra o impenitente "herege", vulgo eu, que consta, enfim, do printscreen de uma notícia do Jornal de Negócios. Bem sabemos que o Jornal de Negócios, tal como outros distópicos órgãos, é a Evidência que faz Luz na Igreja da Santa Cachimana, onde o seu Maioral-Presbítero até consegue, como se confirmou há dias, ler por antecipação relatórios demográficos produzidos no futuro, e não a ser feitos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), como costumeiro, mas sim pelo Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). 

Ora, manifesta-se patente que o Sumo-Sacerdote da Igreja da Santa Cachimana não necessita jamais de ir à Fonte da Sabedoria: neste caso, ler mesmo o relatório do ECDC. Basta-lhe o Jornal de Negócios. E assim faz escusa em ler sequer a página 6 do dito relatório que refere tão-só isto: "Portugal has observed a notable increase in the number of all reported cases of COVID-19 in recent weeks. This increase HAS BEEN ATTRIBUTED [destaques meus] mainly to the relaxing of the NPIs during the end-of-year festive season but also, to a lesser extent, to the spread of the VOC 202012/01 in some regions of the country" (vd. aqui).

Ó pá, deixemo-nos de pormenores gramaticais. O Excelentíssimo Senhor Doutor, também Doutrinador-Mor da Igreja da Santa Cachimana, não é obrigado a ler aporrinhantes relatórios de 29 páginas do ECDC para dar sentenças aos fiéis. Nem tão-pouco tem necessidade em saber línguas de povos bárbaros, de sorte que se mostra irrelevante, excepto ao aporreado Rigor, saber que se uma entidade diz que "tem sido atribuído" uma determinada causa a um certo efeito, não significa que essa entidade a esteja a atribuir ou sequer confirmar qualquer relação. Não digam vós, seguidores do demo, que, se assim pretendesse estabelecer inequívoca relação, o ECDC teria escrito "is attributed" ou "was attributed", em vez de "has been attributed", ou sido ainda mais explícito  com um simples "is", assumindo assim clara relação causa-efeito... Mas, adiante, homens de pouca Fé! Acreditem no Excelentíssimo Senhor Doutor, o Supremo Girigote da Igreja da Santa Cachimana..

De igual modo, o Excelentíssimo Senhor Doutor, com funções de Tanateiro-Chefe da Igreja da Santa Cachimana, não precisa sequer de ler absolutamente nada para garantir que os lockdowns são a Supimpa Maravilha criada por políticos rectos a bem do indisciplinado Povo. Quem não achar ser a primícia maravilha do mundo civilizado é um "herege" que deve morrer na fogueira, com direito a ventilador de uma UCI a bombar por debaixo das brasas.

Aliás, que se cuide o etíope  Tedros Adhanom Ghebreyesus, director-geral da Organização Mundial de Saúde, pelo ímpio comunicado do passado dia 31 de Dezembro de 2020 onde se refere o seguinte: "However, these measures [lockdowns] can have a profound negative impact on individuals, communities, and societies by bringing social and economic life to a near stop. Such measures disproportionately affect disadvantaged groups, including people in poverty, migrants, internally displaced people and refugees, who most often live in overcrowded and under resourced settings, and depend on daily labour for subsistence. (vd aqui).

Quem não souber traduzir, sempre pode ir perguntar ao presumido Mandraqueiro-Gunga da Igreja da Santa Cachimana, o Excelentíssimo Senhor Doutor João Júlio Milheiro Cerqueira. E levem-lhe 248 caixas de Alka-Seltzer, se faz favor.





DOS NÚMEROS DE 21/1/2021

Seguindo os cálculos que tenho vindo a apresentar em função dos internamentos, da taxa diária de mortalidade dos internados e da linha de tendência entre óbitos e internados, para o dia 21 (ontem), tenho as seguintes previsões:

* Mortalidade entre 226 e 229 óbitos, podendo-se atingir um novo máximo.

A taxa diária de mortalidade dos internados (4,02%) está francamente alta (mas com tendência a estabilizar). Se estivesse ao nível de Outubro, para o actual número de internados, seria previsível a ocorrência de 84 óbitos. Se se considerar a taxa diária em Dezembro seria previsível 141 óbitos.


DOS ESCROQUES

Toda a imprensa nacional, como o Público, divulgou hoje, triunfantemente que o Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC) liga o  recente incremento de casos positivos "ao relaxamento no Natal e variante inglesa do vírus".

Mentira pegada. Aldrabice consumada. Criminiosa manipulação. Comensal asco.

O relatório do ECDC, conforme se pode ver na página 6 (vd. aqui),  diz somente isto: "This increase has been attributed mainly to the relaxing of the NPIs [Nonpharmaceutical Interventions] during the end-of-year festive season but also, to a lesser extent, to the spread of the VOC 202012/01 in some regions of the country."

O "tem sido atribuído" não é nem nenhuma certeza, nem o ECDC andou a investigar o caso português nem confirma nem desmente essa associação, que Governo, os consultores da DGS (que não sabem a origem de 87% das infecções) e a Imprensa forçam em atribuir ao Natal e ao suposto mau comportamento das pessoas aquilo que se tornou sobretudo um problema de caos no SNS. 

Tenho a mais completa vergonha deste nosso jornalismo de sarjeta. Shame on you, senhores jornalistas!


quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

DO POST DIDÁCTICO PARA ESTIMAR O GRAU DO ACTUAL CAOS

Quando se deseja estimar rapidamente o excesso de mortalidade, geralmente calcula-se a média de óbitos num determinado período (asumindo ser o valor expectável)  e compara-se com o valor observado. Se fizermos isso para os primeiros 20 dias de Janeiro, verificamos que já se contabilizaram 11.849 óbitos, o que contrasta com 7.905 óbitos na média dos últimos cinco anos (2016-2020).

Nesta óptica, e tendo conta os óbitos atribuídos à covid (2.714), teríamos um excesso de mortalidade de 3.944 óbitos, dos quais 1.230 óbitos por causas não-covid.

Tanto um número (covid) como outro (não-covid) já são bastante elevados, mas a não-covid (numa altura em que a vaga de frio parece ter já passado), tem assumido valores elevadíssimos, como se pode constatar nos 721 óbitos totais no dia de ontem (143 óbitos a mais do que o recorde até finais de 2020).

Porém, a mortalidade não-covid será ainda muitíssimo suiperior. Terrível, na verdade, porque demonstrativo dos efeitos colaterais de um SNS comatoso há meses. 

Sigam o meu raciocínio.

No Inverno, é comum, mesmo antes da covid, surgirem surtos gripais mais agrestes nuns anos do que noutros. Por exemplo, pegando nos primeiros 20 dias de Janeiro dos anos de 2009 a 2020 (antes da covid), encontram-se variações entre 6.726 óbitos (2016) e 8.870 óbitos (2017). A diferença, enorme (2.144 óbitos de diferença) é muito simples de explicar: o surto gripal em 2016 foi fraco; em 2017 foi forte.

Ora, a actividade gripal é um dos factores mais determinantes para as variações da mortalidade no Inverno. E sabemos também que a actividade gripal em 2021 é fraca, porque a covid tem sido muito forte e os casos de gripe e doenças respiratórias estão a níveis até mais baixos do que em 2016. Na verdade, mesmo assim, pode-se dizer, para efeitos deste meu raciocínio, que o ano de 2021 deveria estar a ser como o ano de 2016 a que se acresce a covid (o que não é pouco).

Simplificando, a mortalidade para 2021, no período em análise, deveria ser o seguinte:

M2021 = M2016 + Mcovid = 6.726 + 2.714 = 9.440 óbitos.

Porém, aquilo que se registou, até ao dia 20 de Janeiro, foram 11.849 óbitos. Isto é, uma diferença de 2.409 óbitos entre aquilo que seria expectável e o que se observa.

Em suma, estamos a ter, num período em que a covid está a matar quase três vezes mais do que em Outubro (a taxa de mortalidade diária dos internados passou de 1,5% para os actuais 4%), por causa do caos nos hospitais, e em simultâneo, esse mesmo caos, resulta numa mortalidade acrescida por outras causas da ordem dos 2.409 óbitos. E ainda por cima distribuídos por todas as idades acima dos 45 anos, embora com maior particularidade naqueels com mais de 85 anos (os tais que se queria proteger da covid).

Em suma, este é o triste resultado de uma estratégia política de conter a pandemia sem qualquer aposta num investimento reforçado no SNS, antes pelo contrário: assistiu-se a uma redução do número de médicos e à suspensão de consultas, diagnósticos e cirúrgias, deixando uma franja enorme de pessoas em grande vulnerabilidades neste Inverno, tanto para enfrentar uma infecção pelo SARS-CoV-2 como ourtra qualquer mazela ou doença.

O resultado está assim à vista, e só surpreende quem fez ouvidos moucos ao que eu e alguns outros foram alertando desde o início da pandemia: bastaram 20 dias de 2021 para termos um excesso de mortalidade de 2.714 óbitos por covid e 2.409 óbitos por causas não-covid. 

E a tudo isto, o Governo limpa as mãos, limpa as mãos por estas 5.123 vidas perdidas, culpando simplesmente as próprias vítimas e todos os portugueses. E sobretudo colocando os portugueses uns contra os outros. 

E o mais lamentável deste desastre é que vai continuar. E o "circo" também.

Fonte: SICO-eVM.



DO "TENHAM MUITO MEDO" OU DA PANDEMIA CHAMADA CAOS, AGORA QUE ULTRAPASSÁMOS AS 700 MORTES DIÁRIAS E 500 SÃO NÃO-COVID

O SICO-eVM contabiliza, para o dia de ontem, e por agora, 711 óbitos. Com rectificações, o número deve aumentar. Destas, 221 foram covid. Significa que cerca de 500 serão não-covid. Nos anos em que a gripe é fraca (p. ex., 2016), a mortalidade total por dia, neste período, ronda os 370. Vejam em que pé estamos, e não é só pela covid. Nem é sobretudo pela covid.

Para quem andou a defender que a covid é que era importante, e que o resto podia esperar, eis o lindo resultado: a estratégia do Governo (de gerir a imagem e culpando a população,, de andar a mentir sobre os meios disponíveis, e cingir-se a atacar uma pandemia com base em testes e produção de legislação sobre restrições) não só não impediu um aumento da letalidade nos doentes covid como implicou uma mortandade nas afecções não-covid neste Janeiro do nosso decontentamento e de pessoas descompensadas por meses de falta de assitência médica decente.

Minhas senhoras e meus senhores, se têm mais de 45 anos, cuidem-se. Rezem. Os primeiros 20 dias de Janeiro têm sido um caos, com aumento inusitado da mortalidade em todas as faixas etárias a partir da meia-idade. Mesmo naquelas em que a covid apresenta baixa letalidade.

Embora nos menores de 45 anos, a mortalidade em relação à média registe uma variação pouco significativa (e até aos 24 anos até diminuiu), nos primeiros 20 dias de Janeiro disparou para quase 60% na faixa dos maiores de 85 anos. E também subiu muitíssimo logo a partir dos 45 anos, com subidas entre os 34% e os 48%. E isto não é explicado, nem pouco mais ou menos, directamente pelo SARS-CoV-2.

Eis o caos em todo o seu esplendor. Achavam que só se morria de covid? Apoiaram o Governo para que só pensasse em covid, e que "tudo o mais vá pró inferno", como naquela canção do Roberto Carlos? Pois bem, o Inferno está instalado. A culpa é da covid, não é? Dos mal comprtados, não é? Dos doentes, não é? Pois é! É dos doentes; de todos os doentes; e só dos doentes. Se morrem por uma qualquer doença, por falta de assistência médica, a culpa só pode ser dos doentes; nunca do Governo/Estado. Onde já se viu exigir a um Governo que crie condições para tratar da saúde dos seus cidadãos? 

A culpa, vão dizer muitos, é indirectamente daqueles que, portando-se mal, se deixaram infectar pelo SARS-CoV-2 e que  entupiram o SNS. Claro que sim. Nunca jamais é do Governo que nada fez perante a diminuição de mais de 900 médicos no SNS em plena pandemia, e que dizia ter mais de 17.000 camas para uma segunda vaga, quando afinal só tinha pouco mais de 2.000... Sim, o Governo não tem culpa. Durmam descansados... até ao sono eterno, que provavelmente não será de covid, mas de outra mazela tratável mas que se torna intratável num SNS feito em cacos.

Fonte: SICO-eVM.




DA CURA E DA INCÚRIA

O problema é, mostra-se cada vez mais, na incapacidade do SNS em salvar os doentes. Nos maiores de 80 anos a taxa de letalidade era, no início da pandemia, de 20%. Com a melhoria dos conhecimentos na melhor terapêutica foi conseguindo-se baixar até rondar os 15%. De repente, dispara para os 34%. Mais do que duplicou. Isto explica porque andam a morrer mais de 200 pessoas por dia, em vez de menos de 100, como tenho tentado referir nas minhas previsões.

A culpa não é dos médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde.

A culpa é de um um Sistema e de uma estratégia que desinvestiu na Saúde durante anos (políticos de todos os quadrantes), que deixou diminuir em mais de 900 o número de médicos em plena pandemia, que mentiu no número de camas disponíveis, que não implementou um plano de contingência para a vaga de frio.

Os médicos nem sempre fazem milagres. Os políticos, esses, nunca. Na generalidade, fazem merda. E desta vez apanhamos com ela nas fuças. E muitos ainda agradecem. E criticam quem anuncia que o rei vai nu.

DAS VACINAS

 E o motorista que se *oda! O importante é a carga.

Iin Público)

DA NOVA PREVISÃO E DA CONFIRMAÇÃO DO COLAPSO DO SNS

Enquanto se discute encerramento de escolas, parece que os lares continuam a alimentar os hospitais e as morgues. E ninguém parece interessado em saber porque hoje previsivelmente morrerão entre 218 e 227 pessoas (cf. actualização em baixo). 

Ontem "falhei" por quatro óbitos (no modelo da taxa de mortalidade), mas para mim mais importante do que acertar é destacar que existem sobretudo três razões para esta hecatombe:

a) número de internados acima de 3.500 (a partir do qual o sistema entra em colapso), muito abaixo das propaladas 17.000 camas que o Governo dizia existir em Outubro;

b) a população idosa estar numa situação de elevada fragilidade face ao abandono da assistência médica ao longo de mais de 10 meses;

c) o descontrolo completo nos lares, onde se continua sem ter números diários porque Imprensa e Governo não querem saber, e que estão a lançar para os hospitais os idosos para morrerem.

Estamos a viver um período complicado, mas não se culpe o SARS-CoV-2 nem se olhe agora para as escolas como o problema. São manobras de diversão do Governo. 

Estamos a deixar morrer os velhos e a "matar" uma sociedade. Portugal é o único país da Europa Ocidental, a par do Reino Unido, que está num pico de mortalidade. E isso não se deve à covid mas ao falhanço no tratamento da covid. Quem não quiser olhar para a Suécia, então olhe agora para a Espanha. 

Fonte: DGS 


quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

DA MORFINA OU DA SUÉCIA, CLARO, E TAMBÉM DAS ESCOLAS

No momento em que Portugal se aproxima da Suécia na mera contabilização das mortes causadas pela covid, causa-me cada vez mais estranheza que se insista que foi o nosso "simples" mau comportamento no Natal (eu, por exemplo, antecipei-o uma semana e estive apenas com parte da família) e no Ano Novo que espoletou a desgraça que vivemos. E que tudo isto é só culpa da covid, e não da incapacidade de resposta do SNS e da sua crónica debilidade exacerbada pelo pânico e a histeria. 

Causa-me também estranheza que muitos ainda acenem com os erros (confessados) pelas autoridades suecas, que contam com verdadeiros epidemiologistas de formação e não com uns quantos feitos ad hoc ou porque fizerem estudos sobre epidemias, como é o caso português. 

Causa.-me também estranheza que não olhem para a suposta estratégia de Portugal, que farta-se de combater a pandemia com papel (leis) e testes, mas não tem gente no terrenos para sequer saber o que se anda a passar (onde estão estudos epidemiológicos, de risco a nível local; se vissem o que a Suécia tem caíriam de vergonha; veja, a este respeito o recente post do Tiago Franco).

Para todos aqueles que apontam para a Suécia, e depois os comparam aos outros países escandinavos, digo-vos: é verdade que a Suécia apresenta resultados menos bons que a Noruega, a Finlândia e até a Dinamarca. Mas aqueles países fecharam. Querem assim? Mas a questões centrais são duas. Primeiro, querem agora viver uma vida sem risco e dar em troca a própria possibilidade de viver e conviver? Segunda, mas os resultados da Suécia foram maus? Foram anormais ao longo de 2020?

Há dias mostrei aqui um simples gráfico que comparava a taxa de mortalidade dos maiores de 65 anos na Suécia em 2020 e comparava com a taxa de mortalidade média (média dos óbitos dos cinco últimos anos a dividir pela média da população desse período).

Decidi, no entanto, desagregar esses cálculos por ano e por grupo etário, para evitar qualquer viés. E sobretudo mostrar como, antes da covid, eram (e continuarão a ser) bem diferentes as probablidades de se morrer aos 65 anos ou aos 90 anos. Parece que se anda a esquerecer que, por exemplo, alguém com mais de 90 anos já tinha a probabilidade em 20% de se finar ao longo de um ano, enquanto aos 65 é de menos de 2%. Portanto, uma pessoa de 65 anos não deveria entrar em pânico porque sabe que há muitas pessoas de 90 anos a morrer. Com ou sem SARAS-CoV-2. É a infeliz Lei de uma Vida Feliz.

Posto isto, olhem para os gráficos. Qualquer pessoa sem vendas ideológicos ou sociológicas poderão constatar que a taxa de mortalidade em todos os grupos etários na Suécia em 2020 foi praticamenrte semelhante aos anos anteriores, tanto no grupo dos 65-79 anos, no grupo dos 80-89 anos e no grupo dos maiores de 90 anos. Em alguns casos, o ligeiríssimo aumento entre 2019 e 2020 decorre de uma pequena descida da taxa entre 2018 e 2019. A maior subida (se assim se pode chamar) foi nos maiores de 90 anos [quem nos dera a todos chegar a essa idade], onde 2020 teve uma taxa superior em 0,7 pontos percentuais em relação ao anterior máximo no período (2017, que tinha uma taxa de 23,6%). [não é possível comprarar com Portugal, porque no SICO só há a classe dos maiores de 85 anos]

Ou seja, efectivamente morreram mais suecos idosos (em termos absolutos) durante o ano da pandemia, mas porque também a Suécia contava mais idosos do que nos anos anteriores. A proporção manteve-se. Factualmente, não se vê o impacte da pandemia como se vê em Portugal. 

Os resultados da estratégia da Suécia, apesar de todo o histerismo e de acusações de eutanásia (com base em relatos sobre injecções de morfina [aqui em Portugal é mais morrerem os velhos à sede], é uma estratégia que apresentou bons resultados, porque não parou a sociedade, a Economia, as relações sociais, nem andou em derivas totalitárias. Foi a melhor estratégia. Eu sei que muitos não querem admitir, mas é essa a realidade. 

Ah, e a Suécia não fechou escolas com a fúria dos europeus. E porquê? Porque estudos epidemiológicos, feitos por epidemiologistas à séria, com base em ciência empírica (e não em ciência feita em auditórios) concluiu que o risco era irrelevante. Aliás, um estudo sueco, publicado este mês numa revista inglesa (The New England Journal of Medicine, vd. aqui) aponta para zero mortes entre as crianças e um risco mínimo, mínimo para os professores. E tudo sem máscaras.

Fonte: SCB (o INE da Suécia)




DO LAXISMO EM LAXISMO ATÉ À LÁSTIMA FINAL

Era bom que as pessoas acordassem e não pensassem que a subida de mortes nas últimas semanas é só por causa da covid, e que foi tudo por causa dos convívios natalícios. Não sejam ingénuos. O SARS-CoV-2 está a fazer o seu curso, independentemente de lockdowns e restrições. Meter gente em casa, com a prevalência em 5% vai só piorar todos nas próximas semanas. 

Daqui a poucos dias, para nosso triste lamento, Portugal vai ultrapassar a Suécia em mortes de covid por milhão de habitantes. A Suécia, o patinho feio, que, bem vistas as coisas, geriu a pandemia com racionalidade, com erros mas com resultados muito satisfatórias (escreverei mais detalhadamente ainda hoje). A partir dessa quero saber a opinião daqueles que sempre julgaram assassina e iresponsável a estratégia gizada por epidemiologistas com formação à séria. Nós, não temos epidemiologistas de formação e acção; temos apenas investigadores de epidemiologia, e muitos ad hoc.

Neste momento, confesso, que não tenho qualquer proposta para solucionar um beco sem saída. Espero que a meteorologia ajude. Espero que venha algum bom senso (optando-se por soluções como as propostas pelo ex-bastonário da Ordem dos Médicos, de reduzir os internamentos com base em decisões clínicas e não por testes PCR).

Mas tem de ser feito mais, e sobretudo pels outras doenças. Tem de se ganhar a confiança para as pessoas regressarem às urgências em caso de necessidade. Morrem pessoas por medo de irem às urgências. Isrto é terrível, e foi o discurso de medo da Imprensa com a satisfação do Governo. 

Não se pode continuar a assistir impávido a uma carnificina atroz, entre mortos por covid e por aquilo que calhar. Ontem à noite estive a actualizar os gráficos da evolução da mortalidade desde io início de 2020, e é impressionante a escalada dos óbitos a partir do Natal (ou seja, antes de eventuais infecções resultarem em casos positivos). A rampa criada em Janeiro, sem fim à vista, faz as ondas da Primavera e do Verão pareceram planas. 

Não pensem jamais que a culpa é do SARS-CoV-2 ou dos beijos e abraços. A culpa é da falta de estrutura para encaixar um surto invernal da covid, acrescido das debilidades exacerbadas pelo Inverno, ainda mais este que trouxe uma vga de frio. O Governo disse que tinha 17.000 camas para a covid. Não tinha. Não teve um plano de contingência para a vaga de frio. Andaram velhotes a morrerem como tordos. Desde o início do ano, só daqueles que tinham mais de 85 anos foram mais de 5.000; mais de três mil com idades entre os 75 e 84 anos. Nos primeiros 19 dias de Janeiro temos uma média de cerca de 580 óbitos por dia. Reparem que o mês de Setembro, o menos mortífero, tem uma média de 270 óbitos,. Considerem que quase não há gripes e pneumonias. Considerem também que o frio fragiliza qualquer doente, e que a eficácia do tratamento nos hospitais em relação à covid está três vezes pior do que em Outubro.

Não acordem. Não exijam ao Governo responsabilidades,. Continuem a pensar que tudo foi culpa dos abraços e beijos no Natal. Continuem assim que vamos ter todos um lindo "enterro". Ou nem isso.