quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

DA PERGUNTA PARA OS ESPECIALISTAS

Este gráfico, que vos apresento, mostra a evolução de um indicador de mortalidade no mês de Dezembro, com base nos óbitos totais na população entre 1960 e 2020, e ainda no peso da respectiva população (idosa) com mais de 65 anos. 

Não sendo uma taxa bruta de mortalidade, a sua evolução indica (é um indicador, está visto!) quais os anos, em termos comparativos, mais "perigosos" para os idosos, ou seja, onde existiu uma maior probabilidade de se finar. Ou seja, dá para comparar anos, "descontando" o efeito envelhecimento (e até porque um idoso de 65 anos nos anos 70 não é exactamente igual a um idoso da mesma idade na presente décadas)  

Assim de repente, acham que o Dezembro de 2020, o ano da pandemia, foi assim tão mau?

Têm a palavra os especialistas... e o Governo que nos vai confinar... Tipo compota.

Nota "humorística": O Dezembro de 1969 ter sido o pior da série não se deve ao facto de eu ter nascido no mês anterior. Terá sido efeito da gripe de Hong Kong que chegou então a Portugal.

DOS INQUÉRITOS EPIDEMIOLÓGICOS E DOS BRUXOS

Parece que, por falta de pessoas, não se fizeram os inquéritos epidemiológicos necessários e, portanto, os surtos andaram a engrossar à “vontadex” nas últimas semanas. Nada disto, ó Céus, foi culpa do Governo, esses Santos! A culpa foi dos doentes. Sempre.

Entretanto, temos “especialistas” que peroram com base no desconhecimento da origem de 87% dos casos de infecção. E portanto, recomendam, com ar sabichão e pesaroso, e com salário reforçado por consultadorias e eventuais alcavalas, que se meta toda a gente em casa, para que a contaminação de toda a família fique bem garantida.

Esta gente não sabe o que anda a fazer. São tão bruxos como o Zandinga.

DO NOVELO DE BELÉM

Agora é o chefe de segurança do Presidente que testou positivo. Que fazer?! Fazem-lhe mais testes como a Marcelo? Vai mais testes fazer Marcelo? Vão esses testes ser negativos? Positivos? Posinegativos? Negapositivos? Cebolas? Cebolas?! Sim! Ou sabonetes, para rimar! Ou não!

Não perca os próximos capítulos do "Novelo de Belém"...



terça-feira, 12 de janeiro de 2021

DO NOVO NORMAL EM QUE O ESTADO/GOVERNO DEIXA DE TER RESPONSABILIDADES E NOS APONTA CULPAS (E MUITOS, QUASE TODOS, ACEITAM)

* Em Julho morreram mais de 2.000 pessoas do que a média, sem que a covid estivesse particularmente activa? A culpa nunca será do Estado por não ter um plano para atenuar os efeitos de uma vaga de maior calor; foi dos velhotes que não percebem que podem morrer desidratados.

* Morrem pessoas porque foram adiados diagnósticos? A culpa não foi do Estado/Governo por não ter investido no reforço do SNS; foi das pessoas que ficaram doentes.

* Morrem pessoas por falta cirurgias? A culpa nunca será do Estado/Governo; foi das pessoas que andaram a estragar o corpo com vícios diversos.

* Morrem pessoas por má configuração e sinalização das estradas? A  culpa não é do Estado/Governo; é sempre das pessoas que conduzisse, porque se não conduzissem não havia acidentes.

* Morrem pessoas de ataques cardíacos por causa do medo incrustado e evitam hospitais? A culpa não é do Estado/Governo; é das pessoas que andaram a comer gorduras e sal.

Entretanto: 

* nos 11 primeiros dias de Janeiro um total de 5.741 pessoas contra 4.358 pessoas que morreram, em média, nos cinco anos anteriores homólogo;

* ontem, dia 11 de Janeiro, morerram 636 pessoas, ultrapassando pela primeira vez a fasquia dos 600 óbitos num dia (desde que há registos, a partir de 2014);

* contabilizando hoje, estamos com 8 dias consecutivos com mais de 500 óbitos (diários), sendo que no período 2009-2020 apenas tinham ocorrido três dias a ultrapassar a fasquia dos 500 óbitos;

* ontem, pela primeira vez desde que há registos diários, morreram mais de 400 pessoas nos hospitais (402).

NADA DISTO, repito: nada disto é culpa do Estado/Governo, que não tinha de investir no SNS; não tinha de ter um plano de contingência para a vaga de frio desta última semana; não tinha de ter um plano eficaz de controlo da pandemia nos lares (onde morreram mais de 33% das vítimas por covid, apesar de só lá viverem menos de 1% da população portuguesa). Não tinha de fazer nada.

A CULPA DE TUDO é apenas das pessoas. SOBRETUDO daquelas que andaram em mundanos festejos de Natal e de Anio Novo. Incluindo mesmo as monjas do Mosteiro da Imaculada Conceição de Campo Maior. E só não incluio o Presidente da República, porque afinal não está infectado (ou afinal estava, segundo o Doutor Simas).

A partir daqui, minhas senhoras e meus senhores, o Estado/Governo nunca terá culpa de NADA. Desemerdem-se. E agradeçam cada açoite do Estado/Governo, porque a culpa será sempre vossa.

DO MALABARISTA SIMAS, TAMBÉM CONHECIDO POR PEDRO SIMAS

No início da pandemia. confesso-vos que apreciei bastante a postura do virologista Pedro Simas, pela forma descontraída, e até pedagógica, como abordava a "vida" dos vírus entre os humanos, colocando em correcta perspectiva os "estragos" da pandemia até à fase em que o SARS-CoV-2 se tornaria endémico (mesmo que continuando a matar pessoas, como sucede com o H3N2, que nos "visita" periodicamente desde que causou a gripe de Hong Kong, que, apenas no período 1968-1969´, matou entre 1 e 4 milhões de pessoas).

Porém, com a crescente atenção pública e política sobre si, deslumbrou-se (vejam a sua felicidade há uns tempos quando foi convidado para cozinhar no programa da Cristina Ferreira), além de ainda ter tido tempo para se meter em "negócios" de feitura de máscaras anti-covid nos intervalos de perpétuo comentador da imprensa.

Ver alguém mudar de forma tão drástica de postura, passando a alguém que defende agora confinamentos e restrições a torto e a direito, já é um pouco lamentável. Vê-lo a aldrabar, já passa dos limites. 

Disse ele hoje na SIC que os falsos positivos são raros (coisa que revistas internacionais mostram que não são nada, pela simples aplicação do Teorema de Bayes), afirmando ainda que, no caso do teste positivo (seguido de vários negativos) de Marcelo Rebelo de Sousa, seria pouco provável que se estivesse perante um "falso positivo", alegando que laboratórios de investigação que realizam este tipo de testes têm elevado controlo de qualidade.

Sucedem, porém, duas coisas. Em investigação não há a pressão de fazer testes à pressa nem se analisa as quantidades que se andam a fazer nos últimos meses. O erro humano na recolha e processamento das amostras (que determina os falsos positivos) é incomensuravelmente superior nos laboratórios que agora analisam os PCR em relação a laboratórios de investigação. Além disso, os laboratórios que processam dezenas de milhares de testes por dia não estão, pelo que sei, a ser alvo de qualquer vistoria e/ou controlo de qualidade. Mais: há agora no mercado uma quantidade enorme de tipos de testes PCR de empresas distintas (há largas centenas), algumas sem garantias de qualidade. Por exemplo, a FDA (uma espécie de Infarmed norte-americano, em ponto melhor) tem vários casos de testes PCR retirados do mercado por falta de qualidade (vd. aqui). Ignoro se algumas destas marcas estejam presentes em Portugal.

[Já agora, a FDA tem uma excelente explicação sobre a probabilidade dos falsos positivos, sobretudo para os testes de antigénio, impingindo por cá pela Cruz Vermelha, que deveriam levar a que se deitasse tudo ao lixo, cf. se pode observar aqui]

No entanto, o mais surpreendente de Pedro Simas foi vê-lo a encontrar uma obtusa hipótese para o caso Marcelo, enquanto descartava o "falso positivo" ou uma infecção inicial (que determinaria uma "recomendação" de quarentena). Disse ele que tudo apontaria para que Marcelo estivesse na "fase final da infeção".

Desculpem: Pedro Simas está a brincar com o pagode ou com as pessoas com alguns neurónios. Marcelo, já se sabe, é talvez o português que mais testes à covid fez, de tal modo que arrisca a ficar com as narinas á Savimbi por causa de tantas zaragatoas pelo nariz dentro. Como pode assim estar em numa fase final de infecção sem nunca ter sido testado?

O malabarista Simas responderia, por certo, já o estou a imaginar: "porque os testes negativos anteriores afinal estavam errados. Ou seja, os seus testes negativos eram 'falsos negativos; Marcelo estava doente mas não sabia por estar assintomático, E assim por causa dos falsos negativos é bom confinarmos toda a gente". 

A Ciência é agora isto.

P.S. Mas para saber se Marcelo está na fase final de uma infecção, há uma prova dos 9: fazer um teste serológico. Porém, só se fosse num laboratório de Marte, porque a confiança que eu tenho agora aos nossos laboratórios está abaixo de zero.


DOS FILHOS E DOS ENTEADOS

Afinal, sempre parece conveniente repetir um teste que deu positivo quando a “vítima” não apresenta sintomas. 

Como se fez, e muito bem, ao Presidente.

Pergunto-me, assim, a quantas pessoas se fez isso? 

Poucas, deduzo, pela amostra já bastante significativa de pessoas que no Correio da Manhã, na celebérrima coluna “Eu tive covid”: relatam confinamentos sem qualquer sintoma. Sem um Brufem sequer. Sem um meio Ben-u-rim. Sem testes de confirmação, são metidos em casa. 

E apenas com o stress de supostamente estarem doentes, e literalmente encarceradas sem justa causa. Apenas a Bem da Nação! É isto o Novo Normal. É isto o Novo Normal que nos vai confinar de novo só porque o Governo não preparou o SNS para o Inverno e estamos agora com uma vaga de frio e um vírus sazonal que, em termos de impacte na sociedade, é um pouco pior do que o influenza. [atenção, FB, um pouco pior é admitir que é pior; não é ser negacionista, mas sim realista].

DA DOENÇA ESPECIAL OU DO "FIQUE COMO ESTÁ"

A covid é mesmo uma doença especial. Mesmo quando se está sem sintomas pode sempre receber-se desejos de "melhoras" e "votos de rápida recuperação". 

Na verdade, são desejos e votos de "fique como está".

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

PARA ENQUADRAR UMA PANDEMIA, QUE É GRAVE, MAS NÃO CATASTRÓFICA, E QUE TEM OUTROS FACTORES QUE NÃO APENAS O VÍRUS

Considerem, primeiro, que Portugal, com 10,3 milhões de habitantes, tinha em 2020 mais de 2,2 milhões de pessoas com mais de 65 anos, das quais quais quase 520 mil com idade acima da esperança média de vida (82 e mais anos).

Considerem também que a população com mais de 85 anos (que tem a "mania" de querer morrer mais do que os outros) triplicou entre 1994 e 2020.

Agora, vamos enquadrar a pandemia que nos vai "enclausurar" uma segunda vez, para dar tanto cabo do vírus como da Economia necessária para acabar com o víris. Foi ver, recorrdendo a dados do Eurostat, quais foram os anos com mais óbitos, em NÚMERO ABSOLUTOS, entre 1960 e 2020.

Análise feita, em ano de pandemia (2020), bateram-se recordes em:


* Abril - 10.431 óbitos (anterior recorde: 1963, com 9.816)

* Maio - 9.593 óbitos (anterior recorde: 2011, com 8.993)

* Julho - 10.430 óbitos (anterior recorde: 2013, com 9.172)

* Setembro - 9.014 óbitos (anterior recorde: 1961, com 8.533)

* Outubro - 9.888 óbitos (anterior recorde: 1961, com 9.167)

* Novembro - 11.495 óbitos (anterior recorde: 1974, com 10.282)


N.B. 1: Nos meses de Julho e Setembro, o efeito da pandemia foi praticamente nulo. O recorde de óbitos em Julho de 2020 suplantou o anterior em mais de 1.200 óbitos, e não foi por culpa do SARS-CoV-2.

N.B. 2 - Nos meses em que houve efeito mais directo do SARS-CoV-2, o recorde é suplantado, no máximo, em 12% (Novembro)

N.B. 3 - Entretanto, o mês mais mortífero em 2020 foi Dezembro, com 13.002 óbitos. Porém, não foi batido o funesto recorde deste mês que ocorreu em 1969, com uma mortalidade total de 13.553 óbitos, que se terá devido provavelmente à gripe de Hong Kong (cuja mortalidade total se estima, em todo o Mundo, entre 1 e 4 milhões de pessoas).

N.B. 4 - Desde 1960, o mês mais mortífero ocorreu em Janeiro de 1999, com 14.709 óbitos, o que equivale a quase 475 mortes por dia. Este recorde poderá vir a ser ultrapassado por Janeiro de 2021 que contabiliza, para já, uma média de 505 óbitos por dia nos primeiros 10 dias do mês. Continuo a considerar que o efeito "vaga de frio" está a exacerbar, e muit, e muito pela falta de resposta do SNS, a mortalidade desde o dia 4 de Janeiro. Muito provavelmente, pelos dados até agora disponíveis, o dia de hoje (11) baterá o recorde diário desde 2014.

Amanhã apresentarei a mesma análise mas enquadrada em função da população idosa ao longo das décadas, o que relativo ainda mais a visão catastriofista que muitos colocam na actual pandemia.

Fonte: Eurostat (1960-2018) e SICO-eVM (2019-2020)

DO CONFINAMENTO

Claro que os confinamentos resultam: basta ver as 16 monjas do Mosteiro da Imaculada Conceição de Campo Maior, que por regra são de clausura muito restrita (independentemente da pandemia). Estão agora 14 com casos positivos. 

Ah! suas mundanas. Em que festanças andaram metidas?! O António Costa vai dar-vos já um raspanete!

DO ESTRANHO CASO DO DESAPARECIMENTO DO EXCESSO DE MORTALIDADE NÃO-COVID

Hoje, pelo que vejo no SICO, iremos ultrapassar novamente os 500 óbitos diários. Será o 7o. dia consecutivo acima dessa fasquia. É uma sequência inédita, desde que se conhecem registos diários, mas que está a ser exclusivamente associada pelo Governo à subida de mortes por covid. 

E eu continuo a achar que o excesso de mortes advém muito da completa ausência de resposta do SNS à vaga de frio, tal como o SNS não deu resposta ao calor mais intenso (sem ser ondas de calor em grande parte do território português) no passado mês de Julho. O ano de 2020 teve o mês de Julho mais mortífero de sempre, quando a covid estava a matar 3 pessoas por dia.

Na verdade, cada vez me parece mais que a covid (sem prejuízo da sua incidência perigosa na população acima dos 80 anos e mais vulnerável) se tornou o bode expiatório para a ineficácia do SNS. Reparem que a partir de Outubro (vd. gráfico do INE em baixo), e especialmente a partir de Dezembro, o excesso de mortes não-covid (um indicador infalível de falhas no SNS) praticamente desapareceu, quando até ao Outono representava 2/3 do total. 

É certo que o excesso de óbitos se manteve e o seu nível se agudizou na última semana, mas está sempre agora associado às variações dos óbitos atribuídos à covid, o que é incrível, e também altamente improvável, sobretudo porque o frio intenso descompensa o sistema imunitário dos mais vulneráveis e agrava muitas doenças.

Enfim, se tudo isto fosse verdade (ausência de  acréscimo significativo de mortes  não-covid) significava que o SNS, que não estava a conseguir dar resposta às outras doenças até Novembro, tinha tudo agora controlado. Significava que nenhum efeito estava a ocorrer pela fuga às urgências, mesmo daqueles com doenças agudas graves (pulseiras vermelhas e laranjas da triagem de Manchester). Significava que nenhum efeito negativo estava a suceder pelo adiamento de cirurgias, exames e consultas no SNS desde Março de 2920. E significava que, afinal, o Pai Natal existe, e que afinal o SNS pode deixar de correr atrás do prejuízo porque basta confiar na Virgem.

Na verdade, aquilo que sinto é que os números das mortes COM covid são a almofada (ou amortecedor) que serve de justificação para a mortandade da última semana. Até porque o Governo os relaciona directamente com o crescimento dos casos positivos (mas não com o que sucede nos lares). E como sabemos, o crescimento dos casos positivos é culpa exclusiva dos portugueses. Por isso mesmo vão de “castigo” de novo, com mais um confinamento proclamado por quem não tem culpa nenhuma disto: o Governo! É assim, não é?

domingo, 10 de janeiro de 2021

DO CHOVER NO MOLHADO COM MAIS UM GRÁFICO QUE A IMPRENSA "STRAIGHT" NUNCA COMPREENDERÁ

Falar na mortalidade em ano de pandemia sem considerar, por exemplo:

a) que em 1960, Portugal tinha 8,85 milhões de habitantes, e agora tem 10,27 milhões (+ 16%);

b) que em 1960, Portugal tinha 711 mil pessoas com mais de 65 anos (8% do total), e agora tem 2,3 milhôes (22% do total), ou seja, aumentou cerca de três vezes o número da sua população idosa.

c) que em 1960, a esperança média de vida era de 63 anos, e que agora aproxima-se dos 82 anos (aumento de 19 anos de vida;

dizia eu, que falar dos efeitos da pandemia sem considerar isso (e contabilizando apenas mortes absolutas e ficando chocado com a quantidade de idosos que perde a vida; e perdem a vida cada vez mais de outras doenças não-covid), é ostentar um atestado de ignorância. 

Se quiserem ter uma percepção do efectivo impacte da pandemia da covid num contexto histórico (vá lá, de 60 anos), um indicador interessante é o índice de mortalidade total face à população idosa (neste casos de mais de 65 anos). Atenção: não é uma taxa directa de mortalidade, mas sim um indicador da incidência da mortalidade que permite "atenuar" o efeito envelhecimento num eventual aumento da taxa de mortalidade.

Ou seja, mesmo que haja uma tendência de aumento absoluto da mortalidade, se essa situação ocorrer sobretudo por via do envelhecimento da população (e por um menor número de nascimentos), este indicador pode perfeitamente mostrar uma "saudável" tendência decrescente. Ou seja, um aumento da taxa de mortalidade nem sempre corresponde a um agravamento das condições de vida (e de morte). Aliás, será estúpido achar que estamos agora pior por termos uma taxa de mortalidade de 12 por mil do que nos anos 80 quando estava abaixo dos 10...

Sendo assim, vejam como evoluiu este índice de mortalidade entre 1960 e 2020, e sobretudo o pequeníssimo crescimento causado pela pandemia (covid e efeitos colaterais) em 2020 face ao anos imediatamente anteriores. Houve apenas um pequeno aumento de 48,9 óbitos totais por 1.000 idosos em 2019 para 53,8 em 2020, mas esse valor está ao nível do verificado em 2010. A subida em 2020 está longe de ser catastrófica, e nem pouco mais ou menos. Aliás, amanhã falarei dos meses mais mortíferos desde 1960...

Mas sobretudo notem como estavam os valores na primeira década do presente século, ou nos anos 90. Isto já sem falar nos anos do Estado Novo.

Achar que vivemos um período jamais visto, é sobretudo mostrar ignorância sobre a História. Vivemos na melhor das épocas para vencer uma pandemia, com recurso à Racionalidade e à Ciência, mas infelizmente, com a ajuda da Imprensa, os Governos lançaram-nos numa deriva típica da Idade das Trevas onde o pânico e medidas obtusas matarão mais do que a doença.

Fonte: Eurostat (mortalidade mensal em Portugal entre 1960-2018) e SICO-eVM (mortalidade em Portugal em 2019 e 2020); Banco Mundial (população total e população com mais de 65 anos entre 1960 e 2019).



DA NARRATIVA DE CATÁSTROFE OU DO INCITAMENTO AO PÂNICO PELA IMPRENSA

Lá continua a nossa Imprensa com o seu trabalho "nojento", preguiçoso  e irresponsável (não sei como muitos ainda bons jornalistas não se insurgem) na propagação do pânico, nesta fase para fazer a "cama" a mais um absurdo confinamento (e desaconselhável, vejam lá, até pela Organização Mundial da Saúde). Quem ouvir as notícias incessanets dos últimos duas fica com a certeza absoluta de que o fim do Mundo vem aí, sendo que a ruptura (inédita() claro das Urgências hospitalares é um forte sinal.

Será assim? Vamos meter aqui um "Pológrafo" à Imprensa.

Estive a "divertir-me" na última meia hora a pesquisar a situação online das urgências, em tempo real, de um vasto conjunto de hospitais espalhados pelo país (vd. link em baixo). Deixo aqui, em tempo real, a informação sobre o número de pessoas nos serviços de Urgência em 12 hospitais e centros hospitalares (CH), sendo que a informação foi retirada entre as 19h00 e as 19h30:

Santa Maria (Lisboa) - 13 pessoas

São José (Lisboa) - 2 pessoas

São João (Porto) - 2 pessoas

Garcia da Horta (Almada) - 6 pessoas

C.H. Vila Nova de Gaia-Espinho - 12 pessoas

C.H. Baixo Vouga (Aveiro) - 11 pessoas

Pombal - 1 pessoa

Amadora-Sintra - 44 pessoas (talvez o único com número elevado)

São Teotónio (Viseu-Tondela) - 9 pessoas

Setúbal - 17 pessoas

C.H. Tâmega e Sousa - 4 pessoas

Beatriz Ângelo (Loures) - 12 pessoas

Se isto é o caos; digam-me o que é o caos.

Esta "cultura" do medo, falseando a situação, provocando pânico injutificado, orquestrado pela Imprensa não é apenas irreponsabilidade. É deplorável do ponto de vista deontológico. E devia ser criminalizado,. A Imprensa começa a dar-me asco. E ninguém lhes mete travão.






DA INDIFERENÇA AOS VELHOS DOS LARES E DO ESTADO DA DEMOCRACIA

A Rádio Renascença, mui católica e solidária, está muito preocupado com as criancinhas, e vai daí acompanha  a par-e-passo os casos positivos nas escola. Sucede que, por agora, a covid matou duas pessoas com menos de 20 anos (ambas com graves comorbidades), pelo que a pneumonia até é mais grave (antes da pandemia, matava geralmente mais de uma dezena de crianças por ano).

Quanto a informação sobre a situação dos idosos, e particularmente, dos idosos nos lares (que são SÓ o grupo mais vulnerável á covid), népia. Nem a Rádio Renascença nem nenhum outro órgão de comunicação social se preocupam em apurar, com rigor, quantos idosos em lares vão sendo contaminados, quantos funcionários, quantos destes vão morrendo, etc., etc., etc.. Fazem-se algumas notícias de casos isolados, aqui e ali, mas dados concretos, rigorosos, fiáveis, nanja!

Não se sabe nem ao dia de hoje, nem ao dia de ontem, nem ao dia da semana passada nem ao dia do mês passado, quantos idosos foram infectados, quantos ainda estão positivos, quantos morreram, etc. Nada. Nem a imprensa quer saber, nem a DGS se sente na obrigação de divulgar nem o Governo parece muito interessado que se saiba. A ministra da Saúde anuncia quando e como quier uns dados desactualizados e nunca validados, mesmo se supostamente existe uma base de dados oficial com essa informação.

Isto causa-me pasmo, porque existem indícios de a situação dos lares em Portugal estar caótica, e sobretudo porque, ao contrário de Portugal, em muitos países se mostra muito fácil saber aquilo que se passa nos seus lares. Basta uma consulta na Internet.

Um exemplo passa-se  nos Estados Unidos, onde a American Association of Retired Persons (AARP) - uma organização com 58 milhões de membros - possui uma interactiva base de dados onde constam, a nível nacional e por Estado, a situação mensal dos lares ao nível dos casos positivos, de mortes, de surtos, de funcionários infectados e até de material de protecção (vd. aqui).

Esta transparência, mesmo quando se tem de mostrar casos poucos agradáveis, é o que destaca uma verdadeira democracia. 

Podemos não ter, como os Estados Unidos, invasões selváticas da Assembleia da República, mas falta-nos ainda uns bons "centímetros" de transparência para que sejamos uma verdadeira democracia. 


sábado, 9 de janeiro de 2021

DA COVID QUE ESCONDE TUDO O RESTO

Seria muito interessante que o Governo divulgasse as mortes por covid em cada distrito, porque de repente, nestes dias de frio de início de Janeiro de 2021, está tudo baralhado, sobretudo quando se olha para o que aconteceu em Dezembro. 

No Alentejo, nos primeiros oito dias de 2021 registam-se acréscmos de óbitos superior a 60% (face à média). Isso não sucedeu em Dezembro, que incluiu o Natal. Nos distritos de Braga e Porto, particularmente flagelados em Dezembro, estão agora com aumentos mais modestos.

Em Lisboa, o distrito que regista mais mortes (maior população e elevada taxa de envelhecimento), nos primeiros oito dias de 2021 morreram 836 pessoas, contra uma média de 616. São 220 pessoas a mais no período; 28 pessoas a mais todos os dias. Morreram todas por covid? Que se anda a passar neste pobre país? Convinha esclarecer.

E sobretudo precaver. Temo que a onda de frio vá causar um morticínio durante os próximos dias (previsivelmente, hoje será mais um dia a superar os 500 óbitos), mas será ignorado. Desconfio que oficialmente não haverá excesso de mortes por doenças relacionadas com o frio (e por ausência de medidas), porque vai tudo parar à covid. O Governo já viu que o número de mortes por covid não lhe afecta a popularidade (pelo contrário, porque a Imprensa já tratou de culpabilizar os portugueses), pelo que sempre pode "turbinar" a contabilidade das vítimas da pandemia, de modo a eliminar na "secretaria" qualquer sinal de coplapso do SNS. O SARS-CoV-2, está visto, pode ser microscópico, mas tem as costas largas. E os portugueses vendas nos olhos.

Fonte: SICO-eVM


DO DESCALABRO DE NOVEMBRO DE 2020 QUE COMEÇOU NO PORTO E BRAGA ENQUANTO NOS ACONSELHAVAM A OFERTAR COMPOTAS

O Governo e a sempre colaborativa Imprensa, mais os especialistas de serviço (Froes, Simas, Mexia, etc.), têm tratado de culpar os malvados portugueses por, no Natal e Ano Novo, se terem portado mal.

O Governo, neste passa-culpas, continua no seu  corrupio de restrições legais, mas sempre às cegas, como barata-tonta. Confia que, quanto mais pareça que faz, não se note que, na realidade, faz pouco e mal. E por isso se abalança para mais um confinamento que destruirá a Economia sem quaisquer vantagens para a Saúde Pública e, sobretudo, para a nossa saúde individual. 

Entretanto, eu, simples "não-especialista", quanto mais análises faço, mais constato que o Governo e mais os seus especialistas em R0 e modelos matemáticos XPTO não sabem aquilo que andam a fazer, por andarem obcecados em testes PCR, em R0, em casos positivos totais e modelos de previsão XPTO, em vez de se focarem em indicadores objectivos, mais simples e eficazes para detectar quando e onde começam os problemas. 

Para mim, o indicador dos indicadores é a mortalidade total, porque, cruzando com outras variáveis, dá uma imagem quase perfeita da realidade.

Estou a fazer outras análises mais complexas e detalhadas, mas deixo aqui uma pequena parte que mostra como o descontrolo não surgiu com as festividades natalícias e de Ano Novo, mas muito antes, em Novembro.

Com efeito, pegando na evolução da mortalidade ao longo dos meses, sabemos que houve em Portugal um repentino salto dos óbitos em Novembro, mas ignora-se (porque a DGS continua a recusar divulgar óbitos por covid em cada distrito) em que regiões tal se verificara com maior magnitude.

Pois bem, de forma indirecta, analisando a mortalidade total por distrito, fica patente que há sobretudo dois distritos que se evidenciaram subidas abruptas em Novembro: Braga e Porto, que registam crescimentos de mortalidade neste mês superiores a 50% em relação à média (2014-2019). No mês de Outubro, os crescimentos eram de 16% e 28% face à média em período homólogo, praticamente em linha com a maior parte dos outros distritos.

Noutros distritos da região Centro (Aveiro, Coimbra, Leiria, Viseu, Castelo Branco e Viseu), o crescimento também foi considerável, sobretudo tendo em conta o mês anterior (Outubro). Por exemplo, no distrito de Coimbra o mês de Outubro até tinha sido menos mortífero do que a média (-1%), mas em Novembro passara a ser 22% mais mortífero do que a média.

Mas apesar desta evolução preocupante, que fez o Governo em concreto nestas regiões ainda em Novembro (porque o SICO permite um acompanhamento em tempo real) e em Dezembro? Analisou se se devia à covid ou a outros factores? Que fez que se tenha sabido? Nada de muito concreto que não fosse as restrições bacocas ao fim-de-semana e o recolher obrigatório genérico. 

Como nada se fez, vejam aquilo que sucedeu em Dezembro. Neste mês (e não foi só na pelo que aconteceu na última semana do ano), 9 distritos tinham excesso de mortalidade face à média superior a 25%, quando em Outubro eram apenas dois. E ter mais de 25% de óbitos num mês já mortífero é bastante em termos absolutos. 

E vejam como essa disseminação do problema tem uma base regional, tendo como "epicentro" Braga e Porto, e irradando a partir daí para outras regiões. Por agora, em Dezembro, o acréscimo fazia-se sentir em toda a região Centro, mas não muito ainda no distrito de Lisboa (onde o acréscimo de mortalidade anda presente, mas não demasiado variável desde o início da pandemia).

No meio disto, nota-se que Beja e Faro estão, por agora, livres dos efeitos directos e indirectos da pandemia, tendo apresentado mortalidade em linha ou abaixa da média. Mas pode ser sol do pouca dura: em Outubro, o distrito de Évora também apresentava mortalidade abaixo da média. Em Dezembro já estava 21% acima.

Em suma, precisamos urgentemente de alguém que, em termos de estratégia de Saúde Pública, saiba mais do que aconselhar ofertas de compotas.