O Governo e a sempre colaborativa Imprensa, mais os especialistas de serviço (Froes, Simas, Mexia, etc.), têm tratado de culpar os malvados portugueses por, no Natal e Ano Novo, se terem portado mal.
O Governo, neste passa-culpas, continua no seu corrupio de restrições legais, mas sempre às cegas, como barata-tonta. Confia que, quanto mais pareça que faz, não se note que, na realidade, faz pouco e mal. E por isso se abalança para mais um confinamento que destruirá a Economia sem quaisquer vantagens para a Saúde Pública e, sobretudo, para a nossa saúde individual.
Entretanto, eu, simples "não-especialista", quanto mais análises faço, mais constato que o Governo e mais os seus especialistas em R0 e modelos matemáticos XPTO não sabem aquilo que andam a fazer, por andarem obcecados em testes PCR, em R0, em casos positivos totais e modelos de previsão XPTO, em vez de se focarem em indicadores objectivos, mais simples e eficazes para detectar quando e onde começam os problemas.
Para mim, o indicador dos indicadores é a mortalidade total, porque, cruzando com outras variáveis, dá uma imagem quase perfeita da realidade.
Estou a fazer outras análises mais complexas e detalhadas, mas deixo aqui uma pequena parte que mostra como o descontrolo não surgiu com as festividades natalícias e de Ano Novo, mas muito antes, em Novembro.
Com efeito, pegando na evolução da mortalidade ao longo dos meses, sabemos que houve em Portugal um repentino salto dos óbitos em Novembro, mas ignora-se (porque a DGS continua a recusar divulgar óbitos por covid em cada distrito) em que regiões tal se verificara com maior magnitude.
Pois bem, de forma indirecta, analisando a mortalidade total por distrito, fica patente que há sobretudo dois distritos que se evidenciaram subidas abruptas em Novembro: Braga e Porto, que registam crescimentos de mortalidade neste mês superiores a 50% em relação à média (2014-2019). No mês de Outubro, os crescimentos eram de 16% e 28% face à média em período homólogo, praticamente em linha com a maior parte dos outros distritos.
Noutros distritos da região Centro (Aveiro, Coimbra, Leiria, Viseu, Castelo Branco e Viseu), o crescimento também foi considerável, sobretudo tendo em conta o mês anterior (Outubro). Por exemplo, no distrito de Coimbra o mês de Outubro até tinha sido menos mortífero do que a média (-1%), mas em Novembro passara a ser 22% mais mortífero do que a média.
Mas apesar desta evolução preocupante, que fez o Governo em concreto nestas regiões ainda em Novembro (porque o SICO permite um acompanhamento em tempo real) e em Dezembro? Analisou se se devia à covid ou a outros factores? Que fez que se tenha sabido? Nada de muito concreto que não fosse as restrições bacocas ao fim-de-semana e o recolher obrigatório genérico.
Como nada se fez, vejam aquilo que sucedeu em Dezembro. Neste mês (e não foi só na pelo que aconteceu na última semana do ano), 9 distritos tinham excesso de mortalidade face à média superior a 25%, quando em Outubro eram apenas dois. E ter mais de 25% de óbitos num mês já mortífero é bastante em termos absolutos.
E vejam como essa disseminação do problema tem uma base regional, tendo como "epicentro" Braga e Porto, e irradando a partir daí para outras regiões. Por agora, em Dezembro, o acréscimo fazia-se sentir em toda a região Centro, mas não muito ainda no distrito de Lisboa (onde o acréscimo de mortalidade anda presente, mas não demasiado variável desde o início da pandemia).
No meio disto, nota-se que Beja e Faro estão, por agora, livres dos efeitos directos e indirectos da pandemia, tendo apresentado mortalidade em linha ou abaixa da média. Mas pode ser sol do pouca dura: em Outubro, o distrito de Évora também apresentava mortalidade abaixo da média. Em Dezembro já estava 21% acima.
Em suma, precisamos urgentemente de alguém que, em termos de estratégia de Saúde Pública, saiba mais do que aconselhar ofertas de compotas.