Nos últimos dois meses do ano morreram em Portugal, oficialmente, 4.428 pessoas com covid. Este valor é anormalmente elevado e tem-se mantido, diariamente, em níveis consideráveis não denunciando sequer a existência de um perfil típico dos surtos epidémicos (em pico ou onda).
Porém, o mais estranho é constatar que o excesso de mortalidade (face à média), sempre presente desde Março, sofreu uma estranha variação a partir de Outubro, com especial incidência em Novembro e Dezembro. Nos primeiros oito meses da pandemia (Março-Outubro) as causas não-covid explicaram a maioria do excesso de mortalidade (71%), chegando no Verão a explicar praticamente todo o excesso (vd. gráfico).
Porém, em Novembro e sobretudo em Dezembro tal modificou-se profundamente. Em Novembro, a não-covid só representou 20% do excesso e em Dezembro menos de 4%. Coisas destas são demasiado estranhas, sobretudo porque o SNS sofreu nova retracção nas suas habituais funções.
Em simultâneo a isto, a partir de Outubro intensificaram-se os testes PCR. Antes raramente ultrapassavam os 20 mil por dia, e passaram a ser quase sempre superiores a 30 mil. Em cerca de metade dos dias de Novembro realizaram-se acima dos 40 mil por dia. Os casos positivos dispararam, obviamente, até tendo em conta a velha questão dos falsos positivos (que até a OMS agora admite). Só no caso dos maiores de 80 anos entre Outubro e Dezembro foram detectados 26.178 "infectados" (quase 285 por dia), enquanto nos sete meses anteriores apenas 7.671 (apenas 36).
Ora, bem sabemos o que sucede a quem tem a infelicidade de morrer com um teste PCR positivo: para a DGS morreu de covid (não importando se não morreu da covid).
E aqui está o busílis. A taxa de mortalidade da população acima dos 80 anos é de 10% por ano (acima dos 85 passa a ser de 15%; depois dessa idade ainda é muito maior), o que significa que rondará os 2,5% no conjunto de Outubro, Novembro e Dezembro.
Chegados aqui, seguindo o meu raciocínio, fácil será deduzir que dos 26.178 casos positivos dos mais idosos registados no último trimestre do ano seria expectável que cerca de 650 estivessem destinados pela Natureza a morrerem nesse curto espaço de tempo. Ou seja, um número desta ordem de grandeza é imenso.
Se se aplicar o mesmo raciocínio para o grupo dos 70-79 anos (taxa de mortalidade no último trimestre de cerca de 0,6%) obtenho mais 160 óbitos, tendo em conta os cerca de 26.770 casos positivos neste período.
Penso, contudo, que estes valores serão talvez muito mais elevados, sobretudo se os casos positivos forem muito significativos, como prevejo, em lares (onde a mortalidade tem sido maior e onde a falta de transparência também tem sido maior).
Podem sempre questionar o que ganha o Governo e a DGS com isto? Eu respondo, muito! Parece ser já evidente que a "opinião pública" e a imprensa já aceitam e “assimilam” com naturalidade tanta morte supostamente causada pelo SARS-CoV-2. Além disso, os números continuamente elevados dos casos positivos e das mortes por covid continuam a justificar a deriva totalitária que se espraia por aí, e a auxilia na estratégia de "imposição" da vacina através do medo. Além disso, tirar excesso de mortalidade não-covid e colocá-lo na covid é politicamente interessante porque elimina parte de um problema delicado para o Governo: as falhas do SNS e o erro da estratégia covid. E atenção que nem estou aqui a supor que haja manipulação de estatísticas.
O drama, porém, é que, depois de tudo isto passar (com ou sem covid), a mortalidade excessiva vai continuar a agravar-se, porque os problemas do SNS se tornaram estruturais. Mas então o Governo inventará outra coisa qualquer para desviar o problema. Até porque, depois da covid, a sensibilidade para se ouvir falar de mortos em excesso por cancros e outras mais mazelas será nula. O Governo quererá que festejemos o seu sucesso e que coloquemos uma pedra no assunto.
Nota 1: As barras verdes representam um "défice" de mortalidade em janeiro e Fevereiro, ou seja, a mortalidade esteve abaixo da média. O excesso de moprtalidade foi calculado em relação à média do período 2015-2019.
Fonte: SICO-eVM, DGS e INE.