domingo, 28 de junho de 2020

DO ATIRAR AREIA PARA OS OLHOS

Descontrolo nos lares, só pode. O grupo dos maiores de 80 anos teve um crescimento nos casos positivos de 138% entre os dias 15 e 27 de Junho (considerando média móvel de 7 dias). Passou de 17 casos para quase 41. Um absurdo nesta altura do "campeonato"! O crescimento global de casos foi de apenas 23%. Os grupos dos 40-49 anos (+4%) e 50-59 anos (+1%) praticamente mantiveram-se estáveis neste período. Os grupos dos «bodes expiatórios» (leia-se, os mais jovens) tiveram crescimentos modestos no número de casos positivos: 10% para o grupo dos 20-29 anos, e 16% para o grupo dos 30-39 anos. O grupo dos menores de 20 anos tiveram um crescimento agregado de 40%. No grupo dos 60-69 anos o aumento foi de 22% e no grupo dos 70-79 anos foi de 63%. Isto vai dar para o torto. O problema das últimas duas semanas foi, basicamente, não saber-se proteger os idosos. O desnorte da DGS é completo. E o Governo não vai melhor... Portanto, continuem a fechar cafés às 20 horas que é aí que resolvem o problema; é mesmo!

sábado, 27 de junho de 2020

DO NOVO DESCONTROLO NOS LARES

Perante o muro de desinformação e de falta de transparência por parte da DGS e do Governo em redor dos números da covid-19 (e que agora se está a virar contra eles), somente por inferência se pode fazer um diagnóstico isento. Aqui segue mais um.

Nos dois gráficos que apresento, com a evolução (média móvel de 7 dias) nota-se que a evolução dos casos positivos do gruipo dos 70-79 anos manteve-se estável desde início de Junho (dia 1 eram 16; dia 26 eram 19). Porém, noos maiores de 80, os casos positivos mais que duplicaram no mesmo período: eram 16 no dia 1, passaram a 34 no dia 26 de Junho. A situação piorou partcularmente na segunda quinzena. Como a maioria dos residentes em lares são maiores de 80 anos, está visto que é aqui que tem havido um descontrolo absoluto e inexplicável. temos aqui o principal problema. Com mais de 30 casos positivos nesta faixa etária é de esperar que haja 6 óbitos diários nas próximas semanas, o que ensta altura não augura nada de bom, não apenas por estas mortes, mas porque teremo o SNS insistentemente a não tratar de regressar ao "normal". 



sexta-feira, 26 de junho de 2020

DA LEI MARCIAL... E DA LÓGICA

Portanto, acabou a pedagogia. Agora é multa, a seguir cacetete, presumo. No meio disto, a mais completa falta de lógica, filha do desnorte. Há agora menos casos em desconfinamento do que houve em confinamento (Março e Abril); só as comemorações do 1 de Maio contribuíram para uma pequena subida (e nada se fez), e os casos estão estabilizados desde a segunda semana de Junho... E tomam-se agora medidas extraordinárias como o fecho de cafés e a aplicação de multas em ajuntamentos... Enfim, o único problema que vejo (tenho noutro gráfico, que colocarei mais tarde), é descontrolo nos casos positivos dos mais idosos, que se deverá sobretudo aos lares... Entretanto, a comunicação social agora comunica primeiros os casos positivos, e só mais tarde as mortes, Alimentar o pânico, mostrar acção. Eis os ingredientes para o desastre. Não de saúde pública, mas social e económico (que, aliás, também causa mortes).


quinta-feira, 25 de junho de 2020

DA DISTOPIA

Não ponho em causa a situação de alguma gravidade que enfrentámos em Abril/Maio... Mas por amor da Santa, não estamos em nenhuma segunda vaga da covid-19 nem coisa parecida. Até o grupo dos mais vulneráveis (maiores de 85 anos) apresenta níveis de mortalidade já semelhantes aos da média... E devia era ter-se feito muito mais naquele pico de Maio: uma onda de calor matou que se fartou e não vi DGS fazer coisa alguma para evitar tal sorte. O problema, continuo a defender, está sobretudo nos lares, que têm de mudar o seu modus operandi.


terça-feira, 23 de junho de 2020

DO ACORDAR TARDE, ESTREMUNHADO E RABUGENTO

Bem sei que estas análises não me fazem muito popular, mas aqui vai uma que mostra, demonstra e confirma que o Ministério da Saúde anda aos papéis e o Governo gere a pandemia para se sair bem e não para cuidar da Saúde Pública e da nossa Economia.

Sabemos agora que, por via de umas festarolas ilegais, os jovens foram colocados como os culpados de uma nova vaga que, hélas, coloca o Governo de pau em riste, a querer multar-nos e nos colocar novamente com restrições.

Não quero ser muito extenso, por isso quem quiser veja os gráficos que coloco em que se mostra a evolução dos casos positivos por grupo etário desde Março (usando a média móvel de 7 dias). Vou fazer uma breve síntese dos aspectos que mais se salientam:

a) há apenas um "disparo" recente de casos positivos: os maiores de 80 anos - que passam de 14 casos por dia em 13 de Junho para 32 em 22 de Junho. Porém, embora preocupante, pela rápida subida relativa, os valores são muito menores do que em pleno confinamento (Abril, por exemplo). Esta é a parte mais crítica, porque a taxa de letalidade (óbitos por casos positivos) é muito elevada (cerca de 20%)

b) os (três) grupos dos 50 aos 79 anos apersentam também subidas, mas iniciadas há mais tempo, e com níveis muito mais baixos do que em pleno confinamento em Abril. As subidas têm sido graduais e com tendência a estabilizar. No grupo dos 70-79 anos essa estabilização é aina mais evidente, o que mostra que muito provavelmente o problema dos maiores de 80 anos se está a colocar nos lares.

c) as maiores subidas, abruptas mesmo, atingindo níveis superiores ou semelhantes a Abril colocam-se nos dois grupos mais jovens (0-9 anos e 10-19 anos), mas não é nada recente, não é da última semana. Vem desde início de Maio, e resulta do desconfinamento. Não é, repito, recente. Há muito que era visível. Em todo o caso, não são valores em absoluto demasiado preocupantes, sobretudo tendo em conta que este grupo é intrinsecamente de risco nulo.

d) O grupo dos jovens dos 20-29 anos (onde se insere sobretudo os tais das festanças), a evolução no número de casos também não é recente. No início de Maio tinha cerca de 34 casos por dia; agora tem 66, mas nem sequer está no pico. O pico foi atingido no dia 8 de Junho (71 casos, na média móvel de 7 dias). Portanto, as festas da última semana não são as culpadas. Ou, se o são, começaram há mais de um mês.

e) No grupo dos 30-39 anos e 40-49 anos, as subidas relativas no último mês também são significativas mas também graduais. No entanto, mais uma vez, estão muito abaixo do período de confinamento.

Resumo: na verdade, só os maiores de 80 anos tiveram um "disparo" recente no número de casos positivos. Os restantes grupos têm vindo paulatinamente, dia após dia, desde Maio, a subir o número de casos, mas alguns até estão a estabilizar, embora nos menores de 20 anos tal não suceda.

E perante isto, qual a medida mais emblemática do Governo para os próximos dias? Fecha os cafés às 20 horas e proibe ajuntamentos de mais de 10 pessoas! Vai dar um resultado do caraças, vai, vai!.

segunda-feira, 22 de junho de 2020

DOS JOVENS, ESSE BODES!... EXPIATÓRIOS

Portanto, tiro aos jovens, esses mentecaptos acéfalos, que contrariam o milagre português, graças ao qual teremos umas jogatanas de boa bola em Agosto... Portanto, a coisa está a descontrolar-se porque esse grupo de energúmenos está a contaminar-se e a contaminar meio mundo, não é? É? Será mesmo assim? Será, claro, se continuarmos acefalamente a ir no discurso oficial, seguido pela nossa excelsa comunicação social (que cada vez me desgosta mais).

O gráfico que aqui apresento - e demorei 30 minutos a fazê-lo - recorre aos casos positivos detectados desde 4 de Maio até 21 de Junho e à população por grupo etário (estimativas populacionais do INE). Vamos lá a um raciocínio rápido. Sendo certo que há mais casos positivos nos grupos dos 20 aos 39 anos, não há, para já, indícios que estejam a «contaminar» os grupos dos seus pais (que terão até 70 anos, ou mesmo até aos 80 anos), porque aí as taxas de contaminação são bastante mais baixas. Também não estarão a contaminar os seus eventuais filhos, porque as taxas são também baixas para os grupos etários abaixo dos 20 anos.

Na verdade, a partir do grupo dos 20-29 anos observa-se uma paulatina diminuição de casos positivos nos grupos etários seguintes, mas depois surge um grave problema: aumenta, e bastante, nos maiores de 80 anos (que suplanta mesmo o grupo dos 50-59 anos). O que está a suceder? São os netos, esses energúmenos, que estão a contaminar os avós mas não contaminam os pais? Ou será antes outra coisa?

Efectivamente, o que nos deveria preocupar nesta história da pandemia é a protecção activa dos idosos (especialmente nos lares), que são sem dúvida o grupo de maior risco. Continuamos a ter demasiada contaminação neste grupo etário, mas isso não se controla vedando a vida quotidiana a toda a população, até porque, com ou sem confinamente, teremos casos (podem ser menos) e teremos sempre que «impor» um controlo apertado nos lares de idosos. Não se discutir o que se anda a passar nos lares (veja-se Reguengos) e andar agora a culpar jovens energúmenos parece-me meio caminho andado para não resolvermos o problema. E, acreditem, os bodes expiatórios só funcionavam na Bíblia.


DAS PRIORIDADES

Haver 46 idosos contaminados num lar de Reguengos de Monsaraz é mil vezes mais grave do que, por exemplo, 4.600 jovens contaminados na Grande Lisboa. Haver 4.600 jovens contaminados dará, provavelmente, zero mortes. Haver 46 idosos contamionados dará, provavelmente, 9 mortes.

O problema está, e sempre esteve, sobretudo no controlo da contaminação nos lares de idosos. O problema das contaminações na Grande Lisboa só é preocupante, porque muitos países (e.g., Espanha e Itália, e outros mais) compreenderam que para se abrir fronteiras tinham de baixar o número oficial de contaminados. Mesmo se artificialmente.

Solução para isto? Não sei. O Governo português está preso no labirinto que criou. E a própria comunicação social agora insiste mais nas contamionações do que nos mortos. Isto está para durar.

quarta-feira, 10 de junho de 2020

DA OUTRA PANDEMIA QUE NÃO PÁRA

Começa a ser exasperante ver os dias a passar, o número de vítimas da covid-19 a reduzir, mas não há volta a dar:a mortalidade continua elevada. E não há uma palavra do Ministério da Saúde sobre isto. Não há perguntas dos jornalistas em conferências de imprensa que tratam de falar ad nauseum de 3% ou 4% das mortes em Portugal. Acordem: a vida & morte também é covid. Mas é muito mais. E para esse muito mai há muito para fazer.

Nota: O excesso de mortalidade desde 16 de Março (com referência à média de 2010-2019) é de 3.776 óbitos. Houve 1.492 vítimas por covid. Restam, para explicar o excesso, 2.284 óbitos, de maleitas diversas. Um importante foi a onda de calor de Maio (vejam aquele alto no gráfico).


terça-feira, 9 de junho de 2020

DAS NÃO-INTERMITÊNCIAS DA MORTE

"No dia seguinte ninguém morreu", assim iniciava José Saramago o seu romance, publicado em 2005, que contava a história da senhora Morte que decidira tirar férias. A realidade, contudo, ao contrário, tem-nos dado, quotidianamente, sob a forma de conferência de imprensa técnico-governamental, desde Março, a actividade da Morte, a contínua contabilização da acção da Morte. Mas toda? Não! Só daquelas almas ceifadas com a foice chamada covid-19. As outras foices e as outras almas não interessam, nem aquelas que anonimamente se quedaram na canícula de finais de Maio.

Enfim, se a Morte no romance de Saramago meteu férias, eu não sei agora quando haverá férias nas conferências de imprensa da covid. O Governo está num labirinto. Como terminá-las agora, tendo em conta os casos positivos mais recentes e o tempo médio para os desfechos mais trágicos? É certo, basta fazer contas simples, que vamos ter mortes por covid-19 pelo Verão adentro. Hoje cinco, amanhã seis, depois quatro, depois sete... Sempre assim, sob a forma de longa conferência de imprensa, a caírem sobre nós. Como um flagelo. Para todo o sempre?


segunda-feira, 8 de junho de 2020

DO HISTERISMO E DA VONTADE DE MOSTRAR SERVIÇO

 / Lembram-se que o confinamento serviu para, não apenas encontrar uma estratégia adequada para proteger os mais vulneráveis, "achatar" a curva epidemiológica, de modo a não sobrecarregar os serviços de saúde. Ora, ninguém garantia que a covid-19 desaparecia por completo, mesmo se a sua actividade claramente tem diminuído em toda a Europa com o aproximar do Verão.
Ora, aquilo que está a suceder em Portugal é uma situação perfeitamente normal e dentro do previsto. Actualmente, os casos positivos (sobretudo por via de uma corrida desenfreada á realização de testes, que mais não fazem do que aumentar a ponta do icebergue, tendo em conta que assim se apanham mais positivos assintomáticos) são em muito menor número do que na primeira quinzena de Abril, quando estávamos em pleno confinamento. Mais importante ainda: o grupo dos idosos, os mais vulneráveis, estão em termos absolutos e relativos a ser menos contaminados.
Na primeira quinzena de Abril foram contabilizados no grupo dos maiores de 80 anos cerca de 127 casos positivos por dia; na primeira semana de Junho foram apenas 15 por dia. Significa que, tendo em conta a taxa de letalidade para este grupo etário, os casos na primeira quinzena de Abril originaram 27 óbitos por dia neste grupo etário. Os casos positivos desta primeira semana de Junho previsivelmente originarão, em breve cerca de 3 óbitos por dia, Pode-se consegui melhor? Claro, com muitos custos económicos. Mas com menores custos económicos podemos salvar muitas mais de outras afecções, se o SNS não continuar obsessivamente a olhar para a covid julgando que alguma vez vamos conseguir zero mortes por esta causa.
Deixo-vos em baixo um gráfico que mostra a proporção de casos positivos por grupo etário durante a primeira semana de Junho e a proporção de óbitos expectáveis em função das actuais taxas de letalidade (por grupo etário).
Nota 1: Bem sei que 42 mortes que, previsivelmente, estes contaminados originarão são 42 vidas perdidas e muitas família em sofrimento. Sim, é verdade. Tal como as cerca de 2.000 vidas perdidas em média por semana por outras doenças. A vida não é justa.

domingo, 7 de junho de 2020

DO PAÍS DO FAZ DE CONTA, DE SEU NOME PORTUGAL

Há dias, o ministro Santos Silva, com aquele seu conhecido ar, escandalizou-se por Espanha ter anunciado que iria reabrir as suas fronteiras com França e Portugal em 22 de Junho.

Obviamente que a situação espanhola foi muito, mas foi mesmo muito pior do que a nossa. Porém, reparem: usei o pretérito perfeito do verbo ser. Foi. Mas já não é. E, na altura de se abrirem fronteiras, isso é que conta.

De facto, olhando para a evolução dos dois países no último mês, acho decisão temerária do Governo de Espanha.

Basta comparar a evolução da mortalidade por covid nos dois países no último mês: entre 8 de Maio e 6 de Junho, Portugal registou 36 óbitos por milhão de habitantes contra 14 óbitos por milhão de habitantes em Espanha. As comunidades de Castela e La Rioja ainda estão se destacam, mas as restantes (algumas que estiveram bastante mal), estão muito melhor do que as nossas regiões Norte (45 óbitos por milhão) e Lisboa e Vale do Tejo (44). Esta ideia de sermos um milagre europeu só engana, porque, enfim, temos uma imprensa acrítica que alimenta o suposto milagre lusitano.

Nota: O gráfico mostra os óbitos por milhão de habitantes. Os dados da mortalidade em Portugal são da DGS; os de Espanha do Ministerio da Sanidad relativos ao período de 8 de Maio a 6 de Junho. Para o cálculo deste indicador utilizarm-se as estimativas para cada região (portuguesa e espanola) dos respectivos Institutos Nacionais de Estatística.



sábado, 6 de junho de 2020

DO MEDO E DAS CONSEQUÊNCIAS LETAIS

A crescente onda de histérica preocupação em redor do aumento de casos positivos de covid-19 - e que teve, como consequência política a irresponsável decisão de suspender consultas ditas não urgentes na região de Lisboa - só pode dar para o torto. E não por causa do SARS-CoV-2.

Vamos ser claros: sabemos que o coronavírus não vai desaperecer completamente, mesmo se sensível ao tempo quente e raios UV. Nem as gripes desaparecem por completo no Verão. Aqulo que nos deve preocupar é o controlo dos mais idosos e, particularmente dos maioers de 80 anos.

A obsessão de se querer salvar toda a gente da covid-19, além de uma quimera, pode desencadear mais mortes do que aquelas que potencialmente se salva do vírus por uma copncentração desmesurada de meios humanos, técnicos e financeiros.

Fiz umas estimativas, que apresento no quadro em baixo, para perceber o impacte futuro deste aumento de casos positivos, tendo em conta as diferentes taxa de letalidade (óbitor por casos positivos) por faixa etária e os casos positivos nas duas últimas semanas por faixa etária.

Ora, o aumento dos casos tem incidido, nas últimas duas semanas, na faixa dos mais novos, sobretudo entre os 20 e 40 anos. Nas últimas duas semanas, o número de casos positivos nos maiores de 80 anos foi de apenas 16 por dia, muito longe dos 127 casos por dia na primeira quinzena de Abril, em pleno confinamento, diga-se.
Ora, se os casos da primeira quinzena de Abril resultaram num desfecho trágico de 27 mortes por dia (127*21,32%), no caso actual será expectável que tenhamos, para este nível de casos, apenas três óbitos. Fazendo os cálculos para todos os grupos etários, será expectável, num futuro próximo, termos 6 mortes diárias por covid-19... São estes os valores que temos de ter em consideração quando se fazem opções políticas e se continua a suspender exames, consultas e cirurgias... E a manter o stress e o medo de idas aos hospitais. Acho que isso anda a matar muito mais do que seis pessoas por dia. Basta ver o excedente de mortalidade que temos vindo a assistir. Na política, como na vida, têm de se tomar opções que não são o óptimo (zero mortes), mas o segundo óptimo. Lembremo-nos do adágio popular: quem tudo quer, tudo perde. Que no caso da covid, significa: quem quer salvar toda a gente do SARS-CoV-2 arrisca-se a perder muito mais por outras doenças.

DA REFLEXÃO SOBRE O DESEMPENHO PORTUGUÊS

Eu, que sou ideologicamente de esquerda, tenho-me sentido extremamente incomodado por ver apenas pessoas da área da direita a não "embandeirarem em arco" com o desempenho do Governo português no combate à pandemia e seus efeitos. Pior ainda, se venho dizer que o rei, embora não nu, anda algo mal-vestido, saltam-me logo em cima alguns "alfaiates" do regime, alguns mais papistas do que o papa, e tenho alguns amigos/as que olimpicamente me ignoram. Ossos do ofício, paciência.

Na imprensa então, nem ser fala. Não há uma crítica. É um amen absoluto. Opinadores elogiam a acção governamental porque sim. Há jornais que, pela sua ausência de análise crítica ao Governo vão pagar caro. Não aprendem com os erros do passado, que os levou à perda paulatina de leitores (não é só a Internet). Quando estou a falar em análise critica, não estou a dizer que se critique o Governo; estou sim a dizer que a imprensa deve fazer análises com sentido crítico para, em seguida, concluir algo... favorável ou desfavorável.

Sinceramente, gostava que se encontrassem critérios para se avaliar. Nem falo já no excesso de mortes por afecções não-covid, num claro sinal de que o SNS não tem sabido dar resposta à situação actual. E isto eu não consigo compreender porque a imprensa em geral não questiona a DGS e o Governo. Ainda há pouco mais de uma semana a pequena onda de calor fez subir a mortalidade e não se ouviu uma pegunt sobre esta matéria. Salvar vidas não é só salvar as pessoas de morrerem de covid. Mostrar serviço, não é só controlar o número de mortes por covid.

Falo, pois, de critérios de avaliação, objectivos e comparativos. Bem sei que as pessoas estão aliviadas por não termos tido a mortandade de Espanha, nem andarmos no absurdo caos brasileiro. Mas não estamos em nenhuma situação milagrosa, e os próximos tempos vão ser dramáticos para uma franja muito grande da população por causa do colapso económico que, sendo já evidente, temo que venha a ser catastrófico se não se abrir a actividade para o "antigo normal".

Deixo-vos apenas, para reflexão, dois indicadores para se comparar objectivamente Portugal no seu quadro regional a nível mundial: Dentro dos países da UE-27, em termos de mortes covid por milhão habitantes, estamos na 9ª pior posição, com 144 óbitos, apenas atrás da Bélgica (827), Espanha (580), Itália (559), Suécia (460), França (446), Holanda (351), Irlanda (338) e Luxemburgo (176). Isto não inclui o excesso de mortes não-covid.

Em termos de evolução económica, comparando o último trimestre de 2019 com o 1º trimestre de 2020 (e a procissão ainda vai no adro), Portugal registou a 8ª pior prestação, com uma queda do PIB de 2,66%, estando atrás da Espanha (-5,4%), Itália (-5,2%), França (-4,4%), Eslovénia (-4,2%), Bélgica (-4,0%), Estónia (-3,9%) e Grécia (-2,71%). Nem todos tiveram reduções, diga-se. Seis países registaram aumento do PIB, a saber: Irlanda (+1,5%), Polónia (+1,2%), Bulgária e Hungria (ambos, + 0,5%), Suécia (+0,4%) e Chipre (+0,2%).

sexta-feira, 5 de junho de 2020

DA AVALIAÇÃO DO CONFINAMENTO - A PROVA DOS 9

A Direcção-Geral da Saúde (DGS) continua sem me conceder acesso à base de dados sobre a vigilância da covid-19, mas isso não me impediu (quando era jornalistas sofri bloqueios similares) de fazer análises, mesmo que com muito mais trabalho. Hoje apresento uma parte de uma análise (a parte integral incluirei num trabalho de uma UC do doutoramento no ISCTE) sobre os efeitos do confinamento e desconfinamento, tendo em contas as seguintes datas, que surgem nos gráfios em baixo:

A - Declaração do Estado de Emergência (EE) com confinamento (18 de Março)
B - Segunda declaração do EE (2 de Abril)
C - Terceira declaração do EE (17 de Abril)
D - Primeira fase do desconfinamento e Estado de Calamidade (EC) - 4 de Maio
E - Segunda fase do desconfinamento e prorrogação do EC - 18 de Maio 
F - Terceira fase do desconfinamento e segunda prorrogação do EC - 1 de Junho

Apresento apenas três gráficos. O primeiro mostra a evolução da mortalidade diária (média móvel de 7 dias) apenas a partir do dia 30 de Março (apenas a partir de 24 de Março a DGS começou a discriminar os óbitos por grupos decenais). Como se mostra visível, a faixa dos maiores de 80 anos é o grupo mais sensível, representando ao longo do tempo uma fatia de cerca de 67%, ou seja, cerca de dois em cada três óbitos são de idosos desta faixa etária Saliente-se que, por norma (e sem covid-19), em termos de mortalidade total cerca de 40% dos óbitos são de pessoas com mais de 80 anos. Conclui-se facilmente que a protecção dos idosos é a "chave-mesta" para evitar mortalidades elevadas.

O segundo gráfico mostra a variação dos casos positivos nos maiores de 80 anos, porque foi aqui que mais se falhou. Com efeito, mostra-se por demais evidente que as medidas de confinamento não deram resultado para este grupo dos mais idosos, durante longas semanas: o pico foi atingido apenas no dia 11 de Abril (com 159 casos positivos), ou seja, 24 dias após o primeiro confinamento. Para se ter um termo de comparação, deixo aqui os picos de casos positivos e a data para os outros grupos etários:

0-9 anos - 11 de Abril (17 casos positivos) - apresento o gráfico para se evidenciar a diferença.
10-19 anos - 22 de Abril (25 casos)
20-29 anos - 23 de Abril (85 casos)
30-39 anos - 2 de Abril (115 casos) 
40-49 anos - 2 de Abril (144 casos)
50-59 anos - 2 de Abril (144 casos) - Nota: esta faixa etária foi muito similar à anterior
60-69 anos - 1 de Abril (106 casos)
70-79 anos - 1 de Abril (82 casos)

E é tudo por agora.




quinta-feira, 4 de junho de 2020

DO TENHAM MUITAAAAA MÉDDDDOOOOOOO!!!!

Tem andado por aí, incluindo na Visão online, um gráfico dinâmico, onde se vê a evolução da mortalidade por covid-19 ao longo dos meses, vendo-se a dita doença a ultrapassar uma série de causas de mortes até estancar no topo! 

Uma aldrabice, porque não estão incluídas as principais causas de morte.

Com efeito, seguindo as estimativas do Worldometer, terão morrido este ano cerca de 25 milhões de pessoas pelas mais diversas causas. Destas, cerca de 389 mil foram por covid-19. Fazendo contas simples, que se aprendem na escola primária, a covid-19 não chega a atingir 1,6% das mortes este ano. A situação causada pela SARS-CoV-2 pode ser grave - e é para os idosos -, mas... que merda de gráfico é este? E que raio de papel anda a fazer a comunicação social?