sexta-feira, 28 de agosto de 2020

DO IMUNE REBANHO PORTUGUÊS

O Governo conseguiu, com a ajuda da sua diligente PM (Propaganda Mediática, leia-se imprensa), amestrar um povo com tais artes que nem precisa já de justificar-se com base em critérios científicos aquilo que vai fazer daqui a um dia, a uma semana, a duas semanas, a um mês, daqui a um ano. 

Esqueçam como era o passado. Não vale a pena fazermos planos individuais, familares, o que seja. Fomos vacinados pelo medo e ficámos assim sem vontade própria e sem domínio sobre as nossas vidas. Dia 15 de Setembro regressamos ao "novo normal" da contigência e a fazer continência. 

Triste viver nestes tempos que correm, sobretudo quando se sabe olhar para os dados concretos e oficiais (vd. evolução, no gráfico, dos casos positivos, dos óbitos por covid e da taxa de letalidade por mês desde Março). Por vezes, gostava de ser ignorante. Assim, metido num rebanho de gente sem reacção, sinto-me ovelha tresmalhada. E revoltada. 



quinta-feira, 27 de agosto de 2020

DO NOVO NORMAL

O Governo continua na sua INCONTINÊNCIA normativa e promete para dia 15 de Setembro mais medidas de CONTINGÊNCIA. Daqui a nada seremos obrigados a fazer CONTINÊNCIA.



DO EMBARCAR EM PATETICES

Se não há registo de passageiros no metro e no comboio, que é largamente usado, e nos aviões existe; e se nos aviões se exige (e até aceito a prudência) que se viaje agora de máscara facial, que coloca o risco de contágio para níveis bastante reduzidos, porque então a patetice do “cartão de localização do passageiro” dos aviões, estipulado pelas autoridades portuguesas, as mesmas que nem sequer sabem bem o que se passa nos lares (e aqui sim devia-se saber)? As companhias aéreas, como a Lufthansa, onde viajei de regresso a Lisboa, cumprem isto com evidente enfado, porque é evidente que isto não serve para nada. As hospedeiras entregam a papelucho com enfado e com o enfado o recolhem. O passageiro com enfado o preenche, se preenche. E se está virado para a imaginação, pode criar até uma identidade falsa. Neste momento, o meu papelucho, preenchido com imaginação, deve estar a marinar num qualquer envelope que aguarda ida para a reciclagem.



quarta-feira, 26 de agosto de 2020

DO ABSURDO

Em concelhos tão distintos como Leiria, Figueira da Foz, Guarda, Tondela, Alenquer ou Albufeira (e mais cerca de oito dezenas de outros), a mortalidade total em 2020 tem sido, até agora, inferior à média do período homólogo de 2014-2019, enquanto em muitos outros (que não vou, por agora divulgar), o excesso de mortalidade supera os 25%. Olhar para este indicador, e analisá-lo em detalhe por blocos temporais é, para mim, extremamente irritante, porque confirma que a morte e a vida, em cada concelho, em cada freguesia, em cada bairro, em cada rua e em cada casa, tem já muito pouco a ver com o vírus SARS-CoV-2 e a sua letalidade, e sim muito a ver com a estratégia seguida pelo SNS no combate à covid-19. 



DO VÍRUS QUE SABE NADAR YO, DA ESTUPIDEZ QU’ANDA A PATINAR YE

Fiquei a saber que existe rugbyb subaquático, e que é considerado um desporto de médio risco pela nossa DGS. Já a patinagem artística de pares é um desporto de alto risco.




DA DESISTÊNCIA

Eu sabia que ia ser difícil. Praticamente uma semana convivendo num país (Suécia) onde a covid é uma doença mas não A OMNIPRESENTE E OMNIPOTENTE doença, e estou agora em ressaca. Não aguento ler já certas notícias nem tenho forças para as contestar. Uma doença anda a matar duas pessoas por dia e agarram-se aos casos positivos que funcionam como "picaretas martelando na moleirinha do medo colectivo". Andamos nisto há meses. Não vai acabar tão cedo. O Público, então, anda demais. Não sabem fazer a merda de uma análise de jeito para além do pingar dos números de casos positivos. Bosta de jornalismo. Ficarão na história como um case study. Uma vergonha!




segunda-feira, 24 de agosto de 2020

DA RACIONALIDADE

Estou a ouvir nos altifalantes do aeroporto de Frankfurt o aviso para manter a máscara na face e afastar-me 1,5 metros dos outros passageiros, enquanto tiro uma selfie e uma fotografia em frente. Entretanto, quase me falta o ar e os óculos embaciam-se. Vai correr tudo bem. E a Suécia cada vez mais longe.




DO REGRESSO E DO CHOQUE

Rápida visita ao Museu do Vasa. À saída, ultrapassado um casal, percebo sons familiares. Portugueses. Faço a parvoíce do costume, dos lusitanos abanando a cauda ao cheirar patrícios em terras longínquas: “Então, bom dia!” Ficamos ali a falar dois minutos sobre incontornável tema: a liberdade em terras suecas de uns basbaques sem máscara. “Já nem queremos regressar. Aqui não sentimos medo”, diz-me a senhora. “Regresso esta tarde”, lamento. “Estou com medo. Do choque entre a ponderação daqui e o absurdo de lá”. Entretanto, apanho o comboio para o aeroporto, onde revejo a ponderação. Estou ainda sem máscara.




DO MEDO

Ontem, durante, toda a tarde, enquanto andava pela cidade, fui tentando encontrar pessoas com máscara facial. Em Estocolmo é mais raro encontrar uma pessoa de máscara do que uma agulha em palheiro. Encontrei três em mais de cinco horas de caminhada. E aquilo que mais me impressiona, e sucede em Portugal, é um estranho paradoxo: as máscaras parece não darem a quem as usa e defende em todas as situações (eu defendo apenas em transportes com aglomerados e em aglomerações inevitáveis) nem segurança nem confiança. Geralmente, nessas pessoas vislumbra-se, através dos olhos, apenas medo, como se vê nesta senhora (sueca?), uma das três que vi de máscara. Ou seja, a máscara tem um efeito psicológico não irrelevante do ponto de vista da saúde: pespega-nos na cara esse papão omnipresente, a morte, toldando a racionalidade. Passamos a viver com a morte agarrada à boca.



domingo, 23 de agosto de 2020

DO TIRO PELA CULATRA

Sei bem, porque fui jornalista em importantes órgãos de comunicação social (como o Expresso), que as conversas em “off” dos políticos, ainda por cima a dizer mal de alguém, e que não abordaram na entrevista ou conversa, nunca eram desabafos de conversa de café. Eram sobretudo uma tentativa de condicionar, amestrar e/ou influenciar a opinião do jornalista. Aqueles segundos nunca eram um acaso, um despropósito... 

Portanto, independentemente de se saber como vazou a conversa em “off” da gravação do Expresso, desta vez saiu a António Costa o tiro pela culatra.



DAS CARGAS VIRAIS

Li por aí que (mais) um estudo (pouco conclusivo) indica que as crianças podem ter cargas virais de SARS-CoV-2 superiores aos adultos. Mais medo. O pânico habitual. Isto sem tal significar maior capacidade de transmissão, até porque a esmagadora maioria das crianças são assintomáticas... No entanto, até eu me “refugiei” neste parque de Estocolmo, não me juntando demasiado aos baloiços: ali as cargas virais serão lançadas das vias respiratórias da pequenada que nem punhais...

Ver vídeo aqui:

https://www.facebook.com/1322691913/videos/10217647320717804/?extid=50NtNAECWizDrnL0

sábado, 15 de agosto de 2020

DOS TOLOS (QUE TODOS NÓS SEREMOS)

A Fundação Portuguesa para o Pulmão quer agora que seja obrigatório o uso de máscaras na via pública. Esta fundação agrupa especialistas que já lidaram com vírus mais letais que o SARS-CoV-2. Lidam com a pneumonia que mata 16 pessoas por dia em Portugal, contas redondas, quase 6.000 pessoas por ano. Sabem do que falam. Porém, em Março, o seu VICE-PRESIDENTE, Professor Doutor Agostinho Marques, eminente pneumologista, catedrático jubilado da Faculdade de Medicina do Porto e actual director clínico do Hospital Santa Isabel, disse tão-só o seguinte numa entrevista ao jornal local A VERDADE (ironia, acrescento):

“Quem não está doente, não deve usar máscara. O que está a acontecer com a corrida desenfreada às máscaras é um ATO TOLO E INCONVENIENTE. A pessoa usa uma máscara, convencido de que está protegida e não está, arrisca-se a expor-se mais do que deve, porque é criada uma sensação de falsa segurança”.

Portanto, em breve, seremos todos tolinhos. Obrigados, mas tolinhos, não é, senhor Professor Doutor Agostinho Marques?



DO VERÃO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO... OU DA NOVA VISÃO DE UM DESASTRE IGNORADO

Acreditem: sou o maior crítico das minhas análises, sobretudo quando fogem do "mainstream", e/ou quando surgem dúvidas exteriores sobre as minhas habilitações para abordar um tema (por mais que as tenhas, eu sei: nunca serão suficientes).

Pois bem, sobre a "anormalidade" do excesso de óbitos neste Verão, houve já quem tenha apontado o calor (que o houve em Julho, embora o INSA apenas para um dia tenha alertado para risco), outros que foi uma situação semelhante a outros anos (e.g., 2013 e 2018).

Enfim, regressei aos dados da mortalidade, para nova análise, noutra perspectiva. Eis aqui o que vi.

Desde que o Verão começou, em 20 de Junho, passaram 55 dias (até 13 de Agosto). Ora, comparando dia-a-dia, contabilizei 52 dias sucessivos com a mortalidade sempre acima da média de referência (2009-2019). Esta série começou no dia 22 de Junho e apenas terminou anteontem. É uma sequência e uima quantidade de dias acima da média que não encontra pararelo com anos anteriores, mesmo com aqueles que registaram fortes e mortíferas ondas de calor, como 2013 e 2018. Além disso, essa constância e persistência de dias com mortalidade acima da média não é típico de ondas de calor, que apresentam sempre picos bruscos de óbitos, mas rapidamente descem para valores abaixo da média, algo que nunca aconteceu em 2020 no período em análise (Verão)..

Tal como se observa no 1º gráfico, em 2013, marcado por a onda de calor que se intensificou em Julho, registaram-se "apenas" 19 dias sucessivos de mortalidade acima da média, sendo que no total do período se chegaram aos 30. Em 2018 (que registou no início de Agosto uma onda de calor particularmente mortífera) teve como sequência máxima acima da média 6 dias, terminando o período em análise com um total de 28. O ano de 2016 teve também um Verão de mortalidade acima da média, embora com uma sequência máxima de 10 dias acima da média e um total de 41 dias acima da média.

Porém, se neste indicador já se mostra que o Verão de 2020 é absolutamente atípico, perla persistência da mortalidade acuma da média, o segundo gráfico reforça e mostra que não se deveu à covid, e nem encontra justificação em pretensas ondas de calor (já abordei essa temática, particularizando para os distritos de Lisboa e Braga).

Com efeito, o excesso total de mortalidade no Verão de 2020 (até 13 de Agosto) atingiu os 2.918 óbitos, sendo que apenas 242 se deveram à covid. Antes, o pior Verão fora o de 2013, que registou uma fortíssima onda de calor de duas semanas, mas o excesso de óbitos, para o período em causa, acabou por ser de "apenas" 1.018 óbitos. Os outros anos com um número de óbitos acima da média (2010, 2016, 2018 e 2019) não chegaram ao milhar de mortes a mais.

Neste momento - enfim, eu sei que é cansativo estar a repetir -, a covid não é o maior problema de Saúde Pública em Portugal. Pode ser um problema importante, mas não é o principal. Dá-me raiva ver o completo alheamento político e público perante esta hecatombe. E já não falo só do Governo, do Ministério da Saúde e da DGS, mas também dos médicos, dos especialistas em epidemiologia, dos pneumologistas e dos especialistas em covid (da imprensa ou dos partidos da oposição nem falo). Gostava imenso que deixassem de olhar para o umbigo, que olhassem para o problema da mortandade que se está a passar neste Verão em frente aos seus narizes. E que só não grita a plenos pulmões porque às vítimas, mais de 2,500, já nada lhe sairá dos pulmões.



sexta-feira, 14 de agosto de 2020

DO NOVO NORMAL

A Fundação Portuguesa do Pulmão juntou-se à Ordem dos Médicos para defender o uso obrigatório de máscaras nas ruas para reduzir o risco de contágio da covid. Acharia bem se estas duas doutas entidades fizessem uma mea culpa e confessassem que então o mesmo já deveria ter sido feito antes de Março de 2020 para reduzir os contágios e as mortes por gripes e outras infeccções respiratórias. E também deveriam propor que, para a redução das mortes por cancros e muitas outras doenças, fosse proibido o consumo de tabaco, de bebidas alcóolicas, de sal, de enchidos, de carros que lançam químicos, de tudo e de mais alguma coisa... Como assim não procederam, cheira a frete, mais ainda quando a situação da covid está longíssimo da gravidade de Março/Abril. Mas isso agora não interessa. Interessa sim que estão reunidas, social e politicamente falando, as condições propícias para nos meterem açaime e coleira. Os nossos políticos rejubilam. Nunca outros em democracia tiveram tanto poder sobre os cidadãos, controlando-lhes os passos, os actos e os tiques. Estamos a viver uma perigosa época.


DA REALIDADE QUE DÓI SOBRE AS DUAS EPIDEMIAS EM PORTUGAL, UMA DELAS NÃO TRATADA E SEMPRE IGNORADA

Como tenho vindo aqui a defender, Portugal foi atingido por duas epidemias: 1) a covid; e 2) o colapso do SNS (adiamento de consultas, cirurgias, diagnósticos, etc), a par do medo e da falta de confiança das pessoas sobre a capacidade política de resposta à pandemia que as levaram a "fugir" dos hospitais.

Para a primeira epidemia (covid), não tendo sido Portugal um modelo (e.g., lares e transportes públicos), portou-se razoavelmente bem, evitando aquilo que, intimamente, se temia em Março e Abril: sermos iguais à Itália e Espanha).

Para a segunda epidemia, a desgraça tem sido completa, a começar pelo completíssimo alheamento das autoridade de Saúde (DGS) e a completíssima omissão do Ministério da Saúde em assumir que o excesso de mortes não-covid é insustentável pelos seus números absolutamente elevados. Vinco excepcionalmente os advérbios de modo. Esta é, tem sido e será, a minha maior das críticas: Suas Excelências estão borrifando-se completamente pelo excesso de mortes por outras causas; vai tudo para a covid, mesmo quase a lágrima de um secretário de Estado que é médico, e tinha, por isso, obrigação suplementar de ter outra postura perante um quadro tão negro nesta época estival.

Tenho tomado boa nota que as minhas estatísticas irritam já muita gente (preferem, talvez, o doce pingar das estatísticas da DGS, cujo seu Relatório de Situação já vai no número 164). Perante a ópera (bufa) da DGS, claro que as minhas estatísticas parecerão um concerto do Iggy Pop. Aliás, uma boa dúzia daqueles que considero amigos além-FB têm me mimoseado com críticas contundentes; muitos mais passaram a ignorar-me. E isto sem contabilizar os trools, mas para esses tenho sempre bom remédio. Curiosamente, nenhum ataca, provando, o rigor das estatísticas, até porque elas usam dados oficiais. Enfim, quanto a isto, paciência para todos. Continuo na minha: para se opinar tem de se estar munido de ferramentas. Os casos pessoais, o "achismo", a irritação porque "sim", não são a minha praia. Não estaria aqui a  criticar o colapso do SNS se não houvesse um trágico output: as mortes excessivas que ultrapassam qualquer justificação esfarrapada (ou testes estatíticos).

Portanto,hoje, seguem dois gráficos que, enfim, são mais uma tentativa de "ilustrar" a nossa triste situação. Tentei caprichar na parte visual para melhor entendimento.

No primeiro gráfico, coloco a variação diária (média de 5 dias) da mortalidade ao longo de 2020 em relação à média (2009-2019). No entanto, para melhor leitura (e lembrança), essa variação está por blocos mensais, de modo a que as pessoas observem e recordem mais facilmente o que foi acontecendo desde Março.

O segundo gráfico distingue, também por mês, o contributo da covid-19 (mortes oficiais) e de outras causas para o excesso de mortalidade (i.e., mortes acima da média).

Sobretudo da leitura do segundo gráfico, advêm as minhas maiores críticas à gestão da pandemia da covid e da (não) resposta do SNS às outras doenças. Notem que, mesmo em Março e Abril, e quando a covid era verdadeiramente um problema de Saúde Pública (e também por então ainda se desconhecer o verdadeiro impacte), o excesso de mortes derivadas de outras causas foi sempre maior. Em Março, a covid representava 38% do excesso, em Abril subiu para os 45%. Portanto, já havia uma segunda epidemia desde Março.

Em Maio observou-se uma manutenção do peso relativo da covid (39%) e em Junho desceu significativamente (apenas 23%). Neste último mês era já evidente que o SARS-CoV-2 não representava do ponto de vista clínico um problema suficientemente grave que justificasse a manutenção da suspensão dos serviços do SNS para as outras maleitas.

Porém, a receita do Ministério da Saúde manteve-se: tudo para a covid; já não bastava achatar a curva, era necessário "matar" todos os vírus. Objectivo oficial implícito: zero casos positivos, zero mortes por covid. 

Nesta obsessão oficial, os resultados estão à vista: em Junho, um mês geralmente de poucas mortes, continuou a ter um excesso de mortalidade muito elevado por outras causas; e em Julho atingiu níveis absurdos. Esse excesso de mortes foi geral, mesmo em regiões sem onda de calor (como Lisboa) ou nos dias sem onda de calor. Aliás, como também referi aqui, o Índice Ícaro do INSA apenas indicava o dia 17 de Julho como de risco.

Agosto, entretanto, vai pelo mesmo caminho, talvez não como a hecatombe de Julho, mas porque as temperaturas têm estado mais amenas. E andamos nisto. E as pessoas irritam-se porque apresento estatísticas e gráficos. E pior: dou opiniões, e até já prevejo (como fiz em na primeira quinzena de Julho) grandes desgraças para as semanas. Bem sei, nunca se gostou de Cassandras.