O Público continua a sua campanha sobre a Suécia, com mais um extenso artigo sobre o quão mal anda aquele país escandinavo. Não encontro, sinceramente, nenhuma outra explicação para este interesse do Público que não seja por este país ter adoptado uma estratégia flexível e racional, apostando em recomendações em vez de imposições, não ter embandeirado nas máscaras e, hélas, ter admitido erros nos lares. A Suécia, insisto, não é o Paraíso em termos de resultados mas está longuíssimo de ser um qualquer Inferno; e pelo menos não está a colapsar socialmente, nem tem autoridades de saúde que tomam a vez de comediantes.
O curioso é ver que o Público não olha sequer para Portugal com um décimo do olhar crítico que dispõe para a Suécia, o que é estranho sendo um jornal português... Que está a acontecer com a mortalidade total em Portugal, senhor Público? Silêncio! E com os lares portugueses? Silêncio! E as mortes nos lares em Julho e agora no Outono? Silêncio! E a mortalidade por covid no Outono que até está em níveis superiores aos máximos do Brasil? Silêncio! E, etc., etc.. Caramba, será que ninguém no Público sabe olhar sequer para gráficos básicos?
Porém, hoje o Público mostra também o seu lado simultaneamente esquizofrénico e ignorante. Disponibilizou-se, aleluia!, a dar voz a um português emigrante na Suécia, Tiago Franco, que de forma muito incisiva e equilibrada expõe a filosofia de vida dos suecos que justifica a sua estratégia e as reações até do rei. E também denuncia o abuso dos media internacionais nas descrições sobre a situação da Suécia, por descontextualização ou utilização de fontes sensacionalistas. Aliás, até esclarece, fazendo de tradutor, que quando o rei sueco disse (o que chocou muitas almas europeias) que a situação era “tråkigt” não significava que para ele era “trágica” (como pareceria à primeira vista pela parecença das palavras) mas sim “aborrecida” (já agora, o Google Tradutor até traduz para o simples “chata”).
Contudo, a jornalista do Público Andrea Cunha Freitas - que obviamente não é obrigada a saber sueco, a usar o Google Tradutor, a ler artigos de opinião no seu próprio jornal, a evitar copiar notícias sensacionalistas da imprensa sueca e, desconfio, que também não se verá obrigada a ser verdadeiramente uma jornalista - decidiu que o rei sueco classificou a situação de “terrível” em vez de “chata”. Pessoalmente, eu acho que é um bocado “chato” o Público ter ficado como está. E também “terrível “.