A Fundação Portuguesa do Pulmão juntou-se à Ordem dos Médicos para defender o uso obrigatório de máscaras nas ruas para reduzir o risco de contágio da covid. Acharia bem se estas duas doutas entidades fizessem uma mea culpa e confessassem que então o mesmo já deveria ter sido feito antes de Março de 2020 para reduzir os contágios e as mortes por gripes e outras infeccções respiratórias. E também deveriam propor que, para a redução das mortes por cancros e muitas outras doenças, fosse proibido o consumo de tabaco, de bebidas alcóolicas, de sal, de enchidos, de carros que lançam químicos, de tudo e de mais alguma coisa... Como assim não procederam, cheira a frete, mais ainda quando a situação da covid está longíssimo da gravidade de Março/Abril. Mas isso agora não interessa. Interessa sim que estão reunidas, social e politicamente falando, as condições propícias para nos meterem açaime e coleira. Os nossos políticos rejubilam. Nunca outros em democracia tiveram tanto poder sobre os cidadãos, controlando-lhes os passos, os actos e os tiques. Estamos a viver uma perigosa época.
sexta-feira, 14 de agosto de 2020
DA REALIDADE QUE DÓI SOBRE AS DUAS EPIDEMIAS EM PORTUGAL, UMA DELAS NÃO TRATADA E SEMPRE IGNORADA
Como tenho vindo aqui a defender, Portugal foi atingido por duas epidemias: 1) a covid; e 2) o colapso do SNS (adiamento de consultas, cirurgias, diagnósticos, etc), a par do medo e da falta de confiança das pessoas sobre a capacidade política de resposta à pandemia que as levaram a "fugir" dos hospitais.
Para a primeira epidemia (covid), não tendo sido Portugal um modelo (e.g., lares e transportes públicos), portou-se razoavelmente bem, evitando aquilo que, intimamente, se temia em Março e Abril: sermos iguais à Itália e Espanha).
Para a segunda epidemia, a desgraça tem sido completa, a começar pelo completíssimo alheamento das autoridade de Saúde (DGS) e a completíssima omissão do Ministério da Saúde em assumir que o excesso de mortes não-covid é insustentável pelos seus números absolutamente elevados. Vinco excepcionalmente os advérbios de modo. Esta é, tem sido e será, a minha maior das críticas: Suas Excelências estão borrifando-se completamente pelo excesso de mortes por outras causas; vai tudo para a covid, mesmo quase a lágrima de um secretário de Estado que é médico, e tinha, por isso, obrigação suplementar de ter outra postura perante um quadro tão negro nesta época estival.
Tenho tomado boa nota que as minhas estatísticas irritam já muita gente (preferem, talvez, o doce pingar das estatísticas da DGS, cujo seu Relatório de Situação já vai no número 164). Perante a ópera (bufa) da DGS, claro que as minhas estatísticas parecerão um concerto do Iggy Pop. Aliás, uma boa dúzia daqueles que considero amigos além-FB têm me mimoseado com críticas contundentes; muitos mais passaram a ignorar-me. E isto sem contabilizar os trools, mas para esses tenho sempre bom remédio. Curiosamente, nenhum ataca, provando, o rigor das estatísticas, até porque elas usam dados oficiais. Enfim, quanto a isto, paciência para todos. Continuo na minha: para se opinar tem de se estar munido de ferramentas. Os casos pessoais, o "achismo", a irritação porque "sim", não são a minha praia. Não estaria aqui a criticar o colapso do SNS se não houvesse um trágico output: as mortes excessivas que ultrapassam qualquer justificação esfarrapada (ou testes estatíticos).
Portanto,hoje, seguem dois gráficos que, enfim, são mais uma tentativa de "ilustrar" a nossa triste situação. Tentei caprichar na parte visual para melhor entendimento.
No primeiro gráfico, coloco a variação diária (média de 5 dias) da mortalidade ao longo de 2020 em relação à média (2009-2019). No entanto, para melhor leitura (e lembrança), essa variação está por blocos mensais, de modo a que as pessoas observem e recordem mais facilmente o que foi acontecendo desde Março.
O segundo gráfico distingue, também por mês, o contributo da covid-19 (mortes oficiais) e de outras causas para o excesso de mortalidade (i.e., mortes acima da média).
Sobretudo da leitura do segundo gráfico, advêm as minhas maiores críticas à gestão da pandemia da covid e da (não) resposta do SNS às outras doenças. Notem que, mesmo em Março e Abril, e quando a covid era verdadeiramente um problema de Saúde Pública (e também por então ainda se desconhecer o verdadeiro impacte), o excesso de mortes derivadas de outras causas foi sempre maior. Em Março, a covid representava 38% do excesso, em Abril subiu para os 45%. Portanto, já havia uma segunda epidemia desde Março.
Em Maio observou-se uma manutenção do peso relativo da covid (39%) e em Junho desceu significativamente (apenas 23%). Neste último mês era já evidente que o SARS-CoV-2 não representava do ponto de vista clínico um problema suficientemente grave que justificasse a manutenção da suspensão dos serviços do SNS para as outras maleitas.
Porém, a receita do Ministério da Saúde manteve-se: tudo para a covid; já não bastava achatar a curva, era necessário "matar" todos os vírus. Objectivo oficial implícito: zero casos positivos, zero mortes por covid.
Nesta obsessão oficial, os resultados estão à vista: em Junho, um mês geralmente de poucas mortes, continuou a ter um excesso de mortalidade muito elevado por outras causas; e em Julho atingiu níveis absurdos. Esse excesso de mortes foi geral, mesmo em regiões sem onda de calor (como Lisboa) ou nos dias sem onda de calor. Aliás, como também referi aqui, o Índice Ícaro do INSA apenas indicava o dia 17 de Julho como de risco.
Agosto, entretanto, vai pelo mesmo caminho, talvez não como a hecatombe de Julho, mas porque as temperaturas têm estado mais amenas. E andamos nisto. E as pessoas irritam-se porque apresento estatísticas e gráficos. E pior: dou opiniões, e até já prevejo (como fiz em na primeira quinzena de Julho) grandes desgraças para as semanas. Bem sei, nunca se gostou de Cassandras.
quinta-feira, 13 de agosto de 2020
DO DESÂNIMO... OU COMO VEM AÍ A OBRIGAÇÃO DE MÁSCARAS NAS VIAS PÚBLICAS
Para quem tinha esperança de o "circo da covid" parar no Verão, desengane-se. Da ideia inicial de achatar a curva passou-se rapidamente para a peregrina ideia de zero mortes por covid-19, como se isso fosse possível, ainda mais no curto prazo, e mesmo com vacina.
Enfim, olhando para os números de Agosto das contaminações nos mais idosos (acima dos 70 anos, e sobretudo dos maiores de 80 anos) parece-me, primeiro, que os lares continuam a ser um problema. E a evolução nos maiores de 80 anos nos dois últimos dias "cheira" a mais descontrolos em lares.
Segundo, por tudo isto, está praticamente garantido (segundo as probabilidades com base nas taxas de letalidade) a existência de quatro a cinco mortes diárias por covid nas próximas semanas. Isto está a um nível lamentável pelas vidas, mas "aceitável" do ponto de vista da Saúde Pública, até porque este número estará abaixo das mortes por infecções respiratórias virais e bacterianas (cuja mortalidade estará este ano a níveis muito mais baixos). Além disso, esta minha estimativa para as mortes por covid-19 aproxima-se do número médio diário registado em Junho e em Julho, dando assim sinais de um certo "endemismo".
Porém, isso pouco interessará aos políticos e aos "covideiros". Só este valor para os óbitos por covid, pingando diariamente quatro ou cinco vítimas, independentente da insignificância estatística face às outras causas de morte, vai ser "suficiente" para continuar a alimentar ad nauseum o "circo". Direi mesmo que, face à manutenção da mortalidade por covid, está praticamente garantido, para muito em breve, a imposição do uso de máscaras nas vias públicas. Viver nos próximos tempos não vai ser fácil para manter a mente sã.
quarta-feira, 12 de agosto de 2020
DA INSTALAÇÃO DO MEDO: DA INDIFERENÇA AO PÂNICO EM DOIS PASSOS E ALGUMA ESTATÍSTICA
Não nego que a covid-19 seja uma doença perigosa para os mais idosos... mas imaginemos que, em 2018 (uso esse ano, porque ainda não estão disponíveis os dados de 2019), o Ministério da Saúde fazia conferências de imprensa a anunciar as mortes por pneumonias e por bronquites virais e bacterianas.
Vamos imaginar mas ser realistas e colocar mesmo dados reais (e oficiais). Em Março de 2018 ter-se-ia anunciado, em média, 24 óbitos por dia de pneumonias e bronquites (foram seis por covid por dia nesse mesmo mês, este ano). Em Abril de 2018 mais 19 mortes por dia de pneumonias e bronquites (27 por covid no mês homólogo de 2020). Em Maio seriam mais 16 mortes diárias por bronquites e pneumonias (13 mortes por covid nesse mês de 2020). Em Junho outras 14 mortes diárias por pneumonias e bronquites (apenasn cinco por dia em mês homólogo deste ano à conta da covid). E, por fim, em Julho de 2018 ter-se-ia anunciado 11 mortes diárias por pneumonias e bronquites (apenas cinco por dia por covid no mês homólogo deste ano).
Se se fizesse o balanço em termos relativos, anunciar-se-ia em 2018 que, entre Março e Julho, as mortes por pneumonias e bronquites virais e bacterianas representavam 5,6% das mortes totais. A covid, este ano, para o período homólogo, representou 3,5% do total das mortes.
Aquilo que deixo aqui como reflexão é o seguinte: que mudou entre 2018 e 2020 para se ter passado da indiferença total em relação às mortíferas pneumonias e bronquites (e que matam ainda mais no Inverno) para um exacerbado pânico por causa da covid? Foi a (des)informação ou a deturpação da informação?
Nota 1. Ainda não existem dados de mortalidade por pneumonias e bronquites para os meses em análise para o ano de 2020, embora seja previsível uma redução da ordem dos 2/3 em linha com a reduçãos dos casos notificados destas doenças na DGS.
segunda-feira, 10 de agosto de 2020
DA ANÁLISE NECESSÁRIA: O "MILAGRE PORTUGUÊS" IGUALA O "DESASTRE SUECO", MENOS NA ECONOMIA
Ainda há poucos dias, o Público (outrora jornal de referência) noticiava que «o PIB sueco cai[u] 8,2% no segundo trimestre», como se Portugal estivesse num mar de rosas (o PIB do nosso país caiu um "poucachinho" mais: uns estonteantes 16,5% no mesmo período).
Enfim, já todos sabem: desde Março, a imprensa (e a portuguesa em grande destaque) atacou ferozmente a estratégia sueca de um "lockdown" suave. A narrativa da nossa imprensa foi sempre de mostrar a Suécia como um país irracional e egocêntrico. Pouco valia a "defesa" das autoridades suecas sobre o facto de se estar perante uma maratona e não um sprint.
Bom, na verdade, acho que ainda estamos a meio da maratona, mas como encontrei dados estatísticos sobre a mortalidade total da Suécia, fui fazer comparações com Portugal.
Pois bem, contabilizando a mortalidade desde 1 de Março até 31 de Julho, basicamente estamos praticamente iguais neste aspecto, mas com uma tendência pior para Portugal. A Suécia, embora tenha tido um pico bastante significativo na mortalidade total até meados de Abril, começou de forma consistente a reduzir os números, de sorte que desde Julho os óbitos totais estão abaixo da média dos últimos cinco anos.
Por sua vez, Portugal não se teve um pico de mortalidade total tão exacerbado em Abril, mas tirando um par de dias em Junho,tem estado sempre bastante acima da média, ou seja, sempre com excesso de óbitos, com particular evidência em finais de Maio e durante todo o mês de Julho.
Resultado disto, somando tudo: a Suécia registou, entre Março e Julho, um excesso de mortalidade de 13,5% em relação à média; Portugal um excesso de mortalidade de 12,9%. Em termos absolutos,o excesso de mortalidade em Portugal é já superior (também por força de um maior envelhecimento populacional). No nosso país, entre Março e Julho morreram mais 5.667 pessoas do que a média; na Suécia mais 4.912.
Conclusão: a meio da maratona, estamos a ficar pior do que a Suécia em termos de mortos. Do ponto de vista da Economia nem se fala. E do ponto de vista da Saúde Pública (e Mental) é melhor estar calado. Quem ainda continua a achar que somos um "milagre"?
Nota: Os dados da mortalidade na Suécia podem ser consultados aqui: https://www.scb.se/en/finding-statistics/statistics-by-subject-area/population/population-composition/population-statistics/ . Os dados da mortalidade em Portugal podem ser consultados aqui: https://evm.min-saude.pt/#shiny-tab-a_total . Para ambos os valores médios foram calculados para o período 2015-2019 (período disponível nas estatísticas suecas). O excesso de óbitos foi calculado deduzindo os óbitos totais no período de 2020 com a média. Para a elaboração do gráfico considerou-se a média móvel de 5 dias, tendo-se padronizado a mortalidade de Portugal (em relação à Suécia). A padronização permite uma correcção muito ligeira face à estimativa da população de ambos os países (10.295.909 habitantes em Portugal em 2019, segundo estimativas do INE; e 10.336.510 habitantes, segundo estimativas do CBS de Janeirode 2020). A maior mortalidade média em Portugal deve-se a uma maior taxa de mortalidade, por via de um maior envelhecimento. Note-se, contudo, que a leitura do gráfico deve ser feita comparando sobretudo os valores de 2020 com a média respectiva para cada país).
sexta-feira, 7 de agosto de 2020
DA ALDRABICE DO MILAGRE PORTUGUÊS E DA SUA PERNA CURTA
Em 26 de Abril, quando Portugal era elogiado na Europa pelo baixo impacte da covid na mortalidade total (e Marcelo e Costa se congratulavam do putativo "milagre português"), eu denunciei aqui, no post "Do milagre português aldrabado", que os dados enviados para o sistema europeu EuroMomo não estavam correctos, que estavam subcontabilizados. Enfim, que o "milagre português" era aldrabado.
Entretanto, estamos no Verão, e Portugal é agora notícia na Europa exactamente por ser o único país com excesso de mortalidade. Decidi então ir ver os valores enviados para o EuroMomo e reparei que os dados de Março e Abril estão agora correctos. Foram entretanto alterados, o que significa que aumentaram os óbitos aí registados. Note-se que, no final de Abril, segundo as minhas análises, Portugal reportara ao EuroMomo menos 1.164 mortas do que aquelas que se tinham efectivamente verificado entre 15 de Março e 23 de Abril. E só por isso Portugal conseguira estar com níveis de mortalidade mais baixos e a receber elogios. Apenas a título de exemplo (e a prova de um dia), cf. fotos, vejam os óbitos enviados para o EuroMomo de 4 de Abril (na primeira foto, que usei no meu post de 26 de Abril) e o valor que agora consta no histórico tirado hoje: de 389 passou para 421 (que era o valor que deveria sempre ter lá constado). Esta subcontabilização foi feita sistematicamente ao longo de Março e Abril,todos os dias, durante mais de um mês.
E conseguiu-se com esta aldrabice elogios internacionais. Mas como se sabe, a mentira tem perna curta. E aquilo que se andou a fazer e, sobretudo, a não fazer desde o início da pandemia, e quando já havia excesso de mortalidade não-covid, anda agora a perseguir-nos.
quinta-feira, 6 de agosto de 2020
DOS BODES EXPIATÓRIOS (UMA ANÁLISE DETALHADA SOBRE O EFEITO DA ONDA DE CALOR DE JULHO)
quarta-feira, 5 de agosto de 2020
DA AREIA (OU DO SOL) PARA OS NOSSOS OLHOS
DA EVIDÊNCIA ESTATÍSTICA, HÉLAS, DO COLAPSO DO SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE
DA LOUCURA EM TERRA DE LOUCOS
DA ESTUPIDEZ QUE TAMBÉM MATA
terça-feira, 4 de agosto de 2020
DA FALTA DE EMOÇÃO PARA O EXCESSO DE MORTES
domingo, 2 de agosto de 2020
DO FALACIOSO SILOGISMO
1 - As medidas rigoríssimas contra a covid (suspensão de aulas, máscaras em todo o lado, regras apertadas em espaços comerciais, etc., etc., etc.) eram, são e serão necessárias porque, caso contrário, ocorreria e ocorrerá um geral morticínio não quantificável mas sempre elevado;
2 - Nunca seria possível prever que a suspensão de consultas, exames e cirurgias pelo SNS viesse a causar um morticínio no Verão, não havendo, além disso, provas de esse excesso de óbitos se dever a tais situações
3 - Donde se deve concluir que, havendo certezas de que sempre haveria morticínio elevados, mesmo não quantificável, sem medidas anti-covid, e não havendo certezas de as suspensões de serviços do SNS resultam em mortes, devemos todos bater palmas ao Governo e continuar como estamos. A Bem da Nação.
E andamos nisto, morrendo gente em demasia, porque a segunda proposição é falsa.