domingo, 2 de agosto de 2020

DO PANDEMÓNIO EM LISBOA

Esta é coisa curta, mas ilustrativa do desnorte do Governo e da DGS: a variação da mortalidade no distrito de Lisboa mostra que o pico da gripe em Janeiro foi maior do que o da "pandemia da covid" em Março-Abril (que nem sequer registou um verdadeiro pico em Lisboa); e por sua vez o pico de Julho foi o maior de todos. Se se considerar os intervalos de confiança (vd. gráfico no primeiro comentário), então quase se pode dizer que a "pandemia da covid" não se fez sentir na região da capital. Já "pandemónio" de Julho, esse, é bem vísível e estatisticamente evidente. Mas ignorado pelo Governo e DGS.




DO JULHO, UM DESASTRE DE SAÚDE PÚBLICA (COM COMPROVATIVO ESTATÍSTICO)

Começa a ser algo irritante, mas com "remédio" eficaz, os "paraqueditas" que, de quando em vez, arremetem contra mim, quase sempre contra o meu currículo (com uma obsessão embirrenta no meu estatuto de doutorando, nem sei porquê).

Enfim, também especial atenção têm alguns dos meu queridos "atacadores" ao detalhe dos meus gráficos à cata de imprecisões. Se não apresento as linhas dos intervalos de confiança, gritam heresia!

Pois bem, se se quer intervalos de confiança (algo que sempre calculo mesmo quando não apresento por razões de maior simplificação gráfica), então aqui estão, e que a propósito mostram de uma forma ainda mais evidente como foi tenebroso o mês de Julho em termos de Saúde Pública, sem paralelo com os meses anteriores. E a culpa não foi da covid.

Passo a explicar o que fiz. Calculei a média (2009-2019) e os intervalos de confiança (a 95%) para cada mês, e comparei com o registo da mortalidade total do mês homólogio de 2020, e em seguida calculei três possíveis excessos: a) excesso de óbitos em relação ao limite inferior do intervalo de confiança (máximo expectável); b) o excesso de óbitos em relação à média; c) o excesso de óbitos em relação ao limite superior do intervalo de confiança (mínimo expectável). Por fim, deduzi as mortes por covid no respectivo mês, para assim ficar com o excesso de mortes não relacionadas directamente com a covid (no primeiro comentário, coloquei um gráfico sem as deduções da covid).

Eis então o triste retrato:

a) Março - terá ocorrido um excesso máximo de 1.046 óbitos, mas a mortalidade deduzida a covid está dentro do intervalo de confiança, pelo que pode não ter ocorrido qualquer excesso.

b) Abril - registou-se um excesso de óbitos não-covid de entre 445 e 1.377 pessoas, com um valor médio de 891 pessoas.

c) Maio - registou-se um excesso de óbitos não-covid de entre 287 e 1.162 pessoas, com um valor médio de 724 pessoas.

d) Junho - reforçando a tendência decrescente dos dois meses anteriores, registou-se um excesso de óbitos não-covid de entre apenas 14 e 930, com um valor médio de 472.

e) Julho - um desastre completo: o excesso de óbitos não-covid encontra-se entre um mínimo de 1.504 pessoas e um máximo de 2.705 pessoas. O valor médio deste excesso foi de 2.105. Em termos comparativos, entre 16 de Março e 31 de Julho morreram 1.737 pessoas por covid. O valor médio em excesso apenas no mês de Julho representa cerca de 68 caixões a mais todos os dias. O máximo diário de mortes por covid foi de 37 (dia 3 de Abril) e houve apenas 10 dias com mais de 30 mortes.

Espero com isto que se fique com plena consciência da enorme gravidade da situação de Saúde Pública durante o mês de Julho, sem um 'ai' nem um 'ui' do Governo e da DGS. Se há um mês de "pandemia" não foi nem Março nem Abril; foi Julho. E temo que Agosto não seja diferente.



sábado, 1 de agosto de 2020

DO RETRATO DE DUAS PANDEMIAS: A COVID E A NÃO-COVID

Eis que vos presenteio, com este gráfico, o seguinte, com dados numéricos bem explícitos:

a) a mortalidade média (2009-2019) - barra castanha;

b) a mortalidade por covid - barra roxa (obviamente a zero em Janeiro e Fevereiro)

c) o excesso ou a redução (apenas em Fevereiro) de óbitos em relação à média deduzida a mortalidade por covid (obviamente a zero em Janeiro e Fevereiro) - barra vermelha

d) a mortalidade total por mês - ponto amarelo (sendo que este valor iguala o somatório da média, da variação positiva ou negativa em relação à média e da moprtalidade por covid).

Está tudo aqui: o acaso, o impacte da covid, o impacte das políticas de saúde que se borrifaram em quase tudo o que não era covid, e ainda a situaçºao perfeitamente tenebrosa do mês de Julho.

Os bons entendedores entenderão estão gráfico; os outros continuarão a não...


DAS POLÍTICAS QUE (NOS) MATAM

Em Julho, segundo dados da DGS, morreram 150 pessoas por covid, o valor mensal mais baixo desde Março. Porém, paradoxalmente (ou não), Julho de 2020 é, entre os meses da «pandemia da covid» (Março em diante), aquele que apresenta um maior desvio da mortalidade total em relação à média (2009-2019): um acréscimo de 27,8%. Em Março último o acréscimo fora de 7,1%, em Abril de 19,6%, em Maio de 13,5% e em Junho de 7,9%.

Este acréscimo é um absurdo e um caso de Saúde Pública, mas o Governo prefere os "drinks de fim-de-tarde" da ministra da Cultura ou as bolas de berlim da praia da Lagoa do primeiro-ministro. Nem um ai se ouve do Governo, nem um ui da DGS. O "povo", esse, continua amedrontado pela covid-19, enquanto segue para o "matadouro" das outras doenças não tratadas. A imprensa nanja, enquanto manja. 

A mortalidade em Julho trucida quaisquer paninhos quentes, ou desculpas. Ultrapassa em 2.260 óbitos o valor médio do período 2009-2019; excede em mais de 1.100 óbitos (i.e., cerca de 35 caixões a mais por dia) o pior ano anterior (2013); suplanta em mais de 1.500 óbitos o máximo expectável; quase chegou a registar mais 3.000 óbitos do que os do ano mais calmo (2009).

Tudo isto (e muito mais, que referirei posteriormente) se passou em Julho de 2020. Não me venham dizer que a culpa é da covid, ou do azar, ou que o "mensageiro" manipula ou tem razões ideológicas e coisas que tais, e que blá blá blá... Areia para os olhos, ou melhor dizendo: punhais que matam. 

Suspender consultas, diagnósticos e cirurgias tinha um custo, e nem era preciso ser-se epidemiologista ou simples médico para antever consequências. Mas pior ainda, está agora a manter-se esta situação por meses a fio, alimentada ainda pelo contínuodiscurso de medo e de obsessão pela covid. E nem vidas nem Economia se salvaram. E a nossa imprensa ajudou nisto, o que me entristece e envergonha (tendo eu sido, em tempos, um jornalista). E com tudo isto se tem matado mais pessoas do que o SARS-CoV-2. Sinceramente, cada vez mais julgo que as actuais políticas de Saúde Pública são, verdadeiramente, a nossa principal pandemia. 


sexta-feira, 31 de julho de 2020

DO RESUMO DE UMA LOUCURA

Foi para evitar a "mancha amarela" que páramos a Economia, e tivemos assim um retrocesso de 14,1% do PIB no segundo trimestre de 2020... acrescido da "mancha vermelha" (2,7 vezes maior do que a "mancha amarela"), porque também parámos os tratamentos e cuidados médicos em tudo o resto... Vamos bater palmas ao Governo e à DGS pelo bom trabalho? Ou basta comemorar com um "drink de fim-de-tarde"?


DO MORTICÍNIO DE VERÃO

O mês de Julho termina hoje. Será o primeiro mês do Verão do nosso descontentamento. A menos que haja um milagre (coisa rara de suceder, e mesmo assim, por regra, apenas em cima de azinheiras), este vai ser o primeiro mês de Julho desde que há registos (e presumo desde sempre em Portugal) sem um único dia - repito UM ÚNICO dia - com menos de 250 mortes. E o mês que conta, hélas, 27 dias (poderão ser 28, com hoje), vou repetir VINTE-E-SETE dias a ultrapassar os 300 óbitos. Nunca visto em Julho e em qualquer mês de Verão. Houve ainda três dias que chegaram às quatro centenas de óbitos.

O ano mais próximo desta desgraça foi o de 2013, com "apenas" 12 dias acima de 300 óbitos (uma onda de calor terrível de duas semanas), mas mesmo assim teve 8 dias com menos de 250 óbitos. Dos 12 anos em análise apenas estes dois, e mais 2010 (com 10), 2016 (com  8), 2012 e 2019 (ambos com 1), registaram dias com mais de 300 óbitos. 

O morticínio do Julho de 2020, com uma tenebrosa estabilidade em alta, pode ter um pequeno dedo do calor em alguns poucos dias, mas escancara sobretudo a terrível situação de fragilidade e abandono da população idosa, fruto dos continuados abandonos e suspensões dos cuidados de saúde essenciais  (73% da mortalidade em Julho foi de pessoas com mais de 75 anos).

Se esta situação se mantiver, acho que sim, que devemos usar, sim senhor, as mãos para reagir a esta "linda" actuação da DGS e do Governo (que comandam o SNS), mas não propriamente para lhes bater palmas. 


quarta-feira, 29 de julho de 2020

DA LOUCURA DA NOVA AVESTRUZ QUE EM VEZ DE ENFIAR A CABEÇA NA AREIA, A ENFIA NUMA MÁSCARA

Dizem que ontem morreram 3 pessoas por covid-19. Paz às suas almas. E também às outras 300 que se finaram de outras maleitas sem importância. 

Enquanto isto, o Governo Regional da Madeira vai obrigar o uso de máscara nas vias públicas, e temo que a "moda" venha para o Continente. Daqui a uns tempos obrigam-nos a usá-la em casa. E, enquanto isto, o mês de Julho, que termina dentro de dois dias e pouco, vai terminar ultrapassando, pela primeira vez (não vai haver milagres), a fasquia dos 10.000 mortes. A média (2009-2019) é de 8.125 óbitos. 

Não culpemos o SARS-CoV-2. A covid, neste mês, representará menos de 1,5% das mortes totais (vai agora em 146 óbitos), mas o Governo  e DGS querem-nos enfiar uma máscara, não apenas na cabeça, mas nos olhos. A impresa dá, solícita, uma ajudinha.

A mortalidade neste mês de Julho impressiona-me. É certo que houve uns dias de maior calor, mas nada que justifique termos, até agora, TODOS, repito TODOS, os santos e profanos dias do malfadado Jullho com excesso de mortalidade em relação à média, havendo nove dias em que esse excesso ultrapassou os 100 óbitos diários. Venderam-se caixões em Julho como nunca! Só o excesso não-covid na mortalidade em Julho (mês que costuma ser um dos menos letais em Portugal) será maior do que todas as mortes por covid desde Março. É assustador, e mais ainda porque nãos e ouve um pio do Governo, da DGS e da imprensa.

Vivemos, enfim, uma verdadeira loucura, Tudo para a covid, pouco ou nada para o resto. O resultado está à vista. Enquanto se está a morrer que nem tordos, o Governo quer-nos avestruzes, enfiando-nos máscaras pelos olhos dentro. Por mim, acho que nos fazem de patos. Ou de parvos.



segunda-feira, 27 de julho de 2020

DO BALANÇO DA PANDEMIA FEITA PANDEMÓNIO

Quando se fizer, verdadeiramente, sem “ideologites”, o balanço do impacte da covid e destes tempos distópicos, deve ter-se em consideração análises e reflexões como estas que se seguem:

1) A covid-19 matou, entre Março e finais de Junho, 1.579 pessoas, tendo o coronavírus sido detectado em 42.523 pessoas.

2) Em virtude das medidas de confinamento e distanciamento social, entre Março e finais de Junho de 2020, o SNS detectou menos 46% episódios de gripe e menos 66% de episódios de infecções respiratórias do que a média de 2017-2019 em período homólogo.

3) Entre Março e Junho dos anos de 2017 e de 2018 (anos com dados oficiais disponíveis), a taxa de letalidade por infecções respiratórias (mortes por estas causas por total de casos de gripes e infecções respiratórias) rondou os 1,64%.

4) Significa isso que este ano de 2020, entre Março e Junho, em virtude das medidas de confinamento e distanciamento, terão morrido cerca de 700 pessoas por infecções respiratórias "comuns" (715, na minha estimativa), ou seja, menos - repito, menos - cerca de 1.300 pessoas daquilo que seria expectável (e que ocorreriam, certamente, se não houvesse covid, porque não haveria assim confinamento nem distanciamento social).

5) Resulta assim que, em termos de balanço, por causa da covid terão morrido mais cerca de 300 pessoas do que seria expectável morrerem por infecções respiratórias entre Março e Junho de 2020. Ou seja, explicando em detalhe o raciocínio. Sem SARS-CoV-2, assume-se que teriam morrido, nestes meses, por infecções respiratórias, cerca de 2.000 pessoas (como nos outros anos). Ora, directamente pela covid morreram 1.579 pessoas , a que se tem de acrescentar mais 715 óbitos (estimativa) por outras infecções respiratórias para este ano, no período em análise, dando assim quase 2.300 óbitos. Deduzindo as tais 2.000 mortes "habituais" por infeccções respiratórias, temos então o impacte líquido da covid: 300 óbitos a mais. 

6 - Porém, temos o outro lado da “moeda”. Também pelo forte contributo das (erradas, na minha opinião) decisões políticas na luta “obsessiva” contra a covid (adiamento de cirurgias, exames, consultas, e da fuga por pânico e medo das urgências hospitalares), o excesso de mortalidade foi assustador entre Março e Junho (e piorou mais em Julho). Considerando a média de 2009-2019, o excesso de óbitos entre Março e Junho este ano é de 4.182, com um intervalo de confiança (a 95%) entre 2.311 e 6.053 óbitos), o que torna a situação particularmente trágica.

7) Em tom de conclusão: parece-me evidente que o pandemónio em redor da covid terá causado muitas mais mortes do que a própria pandemia. E o mês de Julho tem confirmado, e temo que a situação possa tornar-se mais dramática. E nem sequer estou a meter ao barulho a Economia.

Nota 1: Links de bases de dados oficiais usadas:
a) Mortalidade em Portugal (DGS) - https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiOGRhNjdjYzgtOGZmNy00NDZjLWI1YTctNWQyNzRiMDg3NzJiIiwidCI6IjQyOTc3ZjkwLWE1NjItNDk1OS04ZjJjLTE4NDE2NjI1Zjc2NiIsImMiOjh9&mnredir=1&lnc=6047AAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

b) SICO (DGS) - https://evm.min-saude.pt/#shiny-tab-q_total

c) Monitorização da gripe e outras doenças infecciosas (DGS) - https://www.sns.gov.pt/monitorizacao-do-sns/servicos-de-urgencia/caracterizacao-urgencias/?fbclid=IwAR22DhJxh8R42-krtfppvYBVRJ9gtD57udtBOl2O8tLww2d18TME7rvoCNk

Nota 2: A mortalidade por infecções respiratórias para os anos de 2017 e 2018 são oficiais; para os anos de 2019 e 2020 são estimativas com base com base na taxa de letalidade média para os anos de 2017 e 2018 (1,64%). Foram calculados, para os anos de 2017 e 2018, as taxas de letalidade mensais (Março a Junho) que variam entre 1,49% e 1,84% em 2017, e entre 1,48% e 1,78% em 2018.



domingo, 26 de julho de 2020

DO DEVE E DO HAVER

Estive uns bons pares de horas a analisar o impacte das medidas de confinamento e distanciamento social na redução dos episódios de gripe e infecções respiratórias desde Março, comparando depois com anos anteriores, e fazendo estimativas das "vidas salvas" em função das taxas de letalidade das infecções respiratórias (que ronda os 1,6%, com base nas mortes por infecções respiratórias no período em análise em relação aos episódios de gripes e infecções respiratórias no período). Isto parece-me fundamental para colocar a pandemia numa outra perspectiva, e sobretudo tentar compreender o que se passa com o excesso de mortalidade que se anda a observar.

Bem sei que uma análise deste género deveria ser feita com mais dados actualzados dos óbitos deste ano (a DGS até os tem, mas enfim, só daqui a uns dois anos os divulgará), mas esta estimativa que fiz entretanto serve sobretudo para mostrar que se a covid, com todas as medidas profilácticas, talvez tenha matado apenas tantas pessoas como aquelas que morreriam por "inofensivas" gripes, pneumonias e bronquites bacterianas e virais sem quaisquer medidas profilácticas especiais (que é o que se geralmente sucede em anos anteriores)

Amanhã apresento os dados com mais detalhe, que agora se faz já tarde.

Apenas uma pista: as infecções respiratórias entre Março e Junho deste ano foram apenas 32% das que se contabilizaram, no mesmo período, em 2018.


sábado, 25 de julho de 2020

DA IGNORADA PANDEMIA CHAMADA VERÃO DE 2020, JÁ PIOR DO QUE A COVID

Os números são aquilo que são. O Verão começou a 20 de Junho e estão aí os resultados de meses de suspensão de cuidados médicos básicos, à conta de "tudo para a covid", de uns dias de maior calor. Contas feitas, e usando dados oficiais da DGS, o excesso de mortes no Verão de 2020 (em apenas 35 dias) já terá ultrapassado o número de mortes pelo SARS-CoV-2 em quarto meses (desde 16 de Março)! .

Não é uma opinião. É um facto. Considerando o período 20Jun-24Jul, o excesso de mortes (acima da média de 2009-2019) é já de 1.970 óbitos (já deduzidas as 188 mortes por covid nesse período). As mortes totais por covid, desde Março, é de 1716.

(no gráfico apresento o intervalo de confiança a 95%. Ou seja, esse excesso estará a variar entre 1.318 e 2.623 óbitos).

E ainda só agora terminámos o primeiro mês de Verão.

Sobre isto, a nossa imprensa de referência (tv, jornais e rádios, quase em geral), NANJA. Parabéns à DGS e ao Governo por terem conseguido amestrar quase generalidade da comunicação social sem sequer gastar lápis azuis. E de conseguirem uma população tão obsessivamente medrosa e acéfala de raciocínio. É obra!


DO TUDO VAI BEM NA REPÚBLICA SEM NÚMEROS

Já são 13 os dias consecutivos de mortalidade total em Portugal durante o período de Verão sempre acima de 300 óbitos. Não são 20 seguidos porque no dia 11 de Julho “só” morreram 297 pessoas, interrompendo assim uma série catastrófica. A média de óbitos em Julho no período 2009-2019 é de apenas 264. O pior ano a seguir ao actual é o de 2013 com 10 dias acima de 300 óbitos (houve então uma onda de calor de quase três semanas, com alguns dias acima de 40 graus mesmo no Centro e Norte). A covid, entretanto, tem estado a matar menos de seis pessoas por dia. Mas como somos um país pouco dado a matemáticas, só se fala de covid.

sexta-feira, 24 de julho de 2020

DAS SUBTILEZAS DA NOSSA IMPRENSA PARA ALIMENTAR O MEDO

O Público continua em "grande" na sua campanha de agudização do pânico. Agora até se aproveita de artigos da Reuters e traduz o título para português dando-lhe tons alarmistas. Neste caso em concreto, o título é "Nos EUA, a covid-19 mata diabéticos a um ritmo alarmante".

Lê-se o texto, escrito por jornalistas da Reuter, e fica a saber-se, entre outras coisas, que «manter a diabetes sob controlo [nos Estados Unidos] — uma das melhores defesas contra a covid-19 — tornou-se difícil, já que a pandemia interrompeu os cuidados médicos, os exercícios e rotinas alimentares saudáveis.» (sic).

'Pera aí! Então afinal, o que mata não é a covid! É ter covid e não ter tratamento adequado para a diabetes! Quer dizer: deduz-se que se houvesse tratamento adequado para a diabetes em tempos de pandemia, os diabéticos não morreriam tanto de covid se a tiverem. Certo? Ou seja, a culpa não é propriamente do SARS-CoV-2. É da diabetes e é de não se dar um tratamento e condições adequados aos diabéticos. Certo? Ent-ao, sendo assim, que raio de título é aquele?

Fui ainda pesquisar como estava titulada a mesma notícia em versões inglesas. Pois bem, está assim: "Why COVID-19 is killing U.S. diabetes patients at alarming rates". Pois, é uma coisa completamente diferente e que reflecte o conteúdo. Lá fora faz-se jornalismo sem se ser alarmista. Os jornalistas remetem-se ao seu papel de... jornalistas.

Enfim, o Público parece ser um case-study sobre como se aniquila a crediblidade de 30 anos com uma pandemia.



DO CALOR QUE DESGRAÇA AINDA MAIS UMA DESGRAÇA

Hoje tenho um gráfico um pouco mais complexo de análise (embora simplificado), mas que mostra bem a nossa triste realidade. Este pode vir a ser "o Verão do nosso descontentamento"

Como alguns talvez saibam, os nossos serviços de Meteorologia (IPMA) têm um modelo que calcula (como previsão) o Índice Ícaro, que permite saber se será expectável, nos dias seguintes, um excesso de óbitos por causa do calor.

Desde o dia 5 de Julho, este indicador (barras amarelas) tem estado positivo (e em alguns dias com valor algo elevado), o que fez disparar as mortes (parece que os avisos para a DGS servem de pouco). Porém, aquilo que uma análise mais detalhada mostra, conforme se visualiza no gráfico, é um persistente excesso de mortalidade desde início de Maio, e com variações ainda mais para cima, de forma exacerbada, quando o Índice Ícaro fica positivo mesmo em valores pequenos, como no final de Maio (área a rosa indica as variações diárias, sendo que valores acima de 0 significam excesso de óbitos em relação à média; a linha vermelha é a média móvel de 5 dias para o ano de 2020).

Mesmo quando se usam intervalos de confiança (não coloco aqui os gráficos, porque ficaria de difícil leitura; poderei colocar em comentário se assim desejarem), continua a ser bastante visível um grande excesso de mortalidade no período.

O EXCESSO de mortalidade total desde 1 de Maio até 23 de Julho é de 3.538 óbitos (com intervalo de confiança, a 95%, entre 2.219 e 4.857 óbitos). A covid é apenas responsável por 705 mortes neste período.

Analisando tudo o que se tem passado, e reflectindo sobre o que tenho escrito, considero que a grande fragilidade física e emocional, sobretudo dos mais idosos, e decorrente de um mau planeamento da assitência médica na obsessiva luta contra a covid, está a contribuir para um exacerbamento da mortalidade em tempo quente, O sol apenas é assim a última gota que faz transbordar o copo de muitos... até à tumba.


quinta-feira, 23 de julho de 2020

DO INSUSTENTÁVEL SILÊNCIO

Por agora, até ao dia 22, o acréscimo de óbitos totais em Julho de 2020 é de 28,4% (acima da média). Para os idosos com mais de 85 anos, as mortes estão 48,9% acima da média. Um lindo serviço!

Eis aqui os resultados que conseguimos com lockdowns, confinamentos, adiamentos de consultas e cirurgias, e ausência completa de investimento no SNS e de planeamento estratégico para preparar cuidados de saúde no Verão

Os contributos diários da covid-19 para a morte dos idosos em Julho são aquelas barrinhas azuis. As barras vermelhas são tudo o resto. As quantidades diárias acima da linha amarela (média) representam os idosos que não era suposto terem já morrido, mas morreram, e não de covid. São já uns bons centos. Na verdade, são 985 pessoas. Bom, que sejam: são estatísticas esquecidas para a DGS, porque nem sequer morreram de covid. Certo?


DA FÁBRICA DE FAZER MORTOS

Bem sei: aqui vai mais um sermão aos peixes. Mais um post que irritará uns quantos. Mais uma minha perplexidade nestes tempos distópicos. Mas segue.

Ora, tenho para mim, que os hospitais são locais para salvar vidas; não apenas para registar últimos suspiros. Tenho também para mim que nos hospitais existem várias funções: médicos, enfermeiros e outro pessoal fundamental para a gestão da saúde individual e pública. Os dois primeiros grupos devem (e sabem fazê-lo) salvar vidas. Não se lhes peça mais O outro vasto grupo deve fazer funcionar a «máquina», o que também salva vidas, ou as deixar morrer prematuramente se houver desleixo.

Tenho para mim, continuando, que neste último vasto grupo deveria haver pelo menos uma "alminha" que monitorizasse o que se anda a passar quotidiamente no conjunto dos hospitais. É tarefa que não é complicada, porque felizmente até existe moderna monitorização (e Portugal está na vanguarda). Porém, a tecnologia não é tudo. Tem de ser usada, olhada e depois tem de existir acção. Ou seja, eu gostava que houvesse uma "alminha" que olhasse para os números; ou então que um qualquer informático lhe pusesse uma buzina na orelha para o alertar em situações anómalas.

Tudo isto para dizer que não consigo, sinceramente, compreender como é possível que a DGS, o SNS ou alguém dos raio que nos parta não veja que desde a última semana de Junho esteja a ocorrer um incremento absurdamente elevado de mortes em unidades hospitalares, que atingiu, até agora o ponto mais alto em 20 de Julho, e nada se diz, nada se faz, nada. Tudo na paz do Senhor. Como se, na verdade, não estivessemos a viver uma siruação completamente anormal, e que não tem a ver com a covid. Uma situação de calamidade que, na verdade, está a ser pior do que a registada no pico da covid em Março-eAbril.

Não, não estou, infelizmente, a exagerar. Vejam o gráfico: em Julho, nas unidades de saúde devia estar a registar-se menos de 170 óbitos diários. Já ultrapassámos os 230, acima mesmo dos valores do pico da covid, e a cois começou a ser detectável ainda em Junho. Estamos hoje, em Julho, senhores!, com níveis de mortalidade em unidades de saúde que são típicas de Janeiro, o que é tudo menos normal.E não: não é por causa da covid.

Digam-me: o que anda a suceder nos hospitais? Colapsaram? Levam para lá agora apenas os moribundos, as pessoas que estão nas últimas? Os hospitais servem apenas agora para registar mortes? E ninguém acha isto estranho? Ninguém investiga? Todos acham a coisa "normal", não o sendo?