quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

DO FIM DO INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA, POR CERTO DESEJADO POR CARONA

O Excelentíssimo Doutor Gustavo Carona - que se jactancia de "médico intensivista", pese embora tenha apenas a especialidade de "anestesiologia" registada na Ordem dos Médicos - começou em Fevereiro de 2020 por "relativizar" a covid-19. Escrevia ele há um ano ser o SARS-CoV-2 "altamente contagioso, mas que a poucos causa doença, e aos poucos que causa doença nas piores das análises 2 a 3% vão morrer" (FB, 26/2/2020).

Na verdade, um ano depois, as suas palavras mantêm, mais ou menos, a actualidade e o rigor. Com efeito, a taxa de letalidade em Portugal é de 1,8% (nem chega, assim, aos "2 a 3%" que ele referia), apesar de nos mais idosos ser muito mais grave, estando nos 14,6%, sendo que em Janeiro esteve um pouco acima, revelando as falhas do SNS. Na verdade, desde o início, a minha posição tem estado sustentada nestas premissas.

Ora, mas agora, um ano depois, o Excelentíssimo Doutor Gustavo Carona, presumido médico intensivista mas de atestado anestesiologista, já não gosta nada que se relativize coisa alguma. Aliás, abomina. Mais, anatematiza. Melhor dizendo, quer esconjurar quem relativiza.

Assim, ontem, o Excelentíssimo Doutor Gustavo Carona, agora vedeta da rádio & TV, foi à RTP dizer tão-só isto (sic): "(...) Afinal, não há ninguém negacionista. Ninguém nega a existência do vírus. O que é perigoso é a relativização. Os relativistas. Dizer que isto não é assim tão grave, que já houve anos piores, que isto é como a gripe, todo este tipo de frases são perigosíssimas. E nós temos de as retirar da circulação pública".

Portanto, temos aqui um anestesiologista a querer o fim de tudo o que seja "relativização", qualquer comparação. Tudo isto deve ser retirado de "circulação pública". No limite acabar com o INE, presumo, que é o sítio onde mais se fazem "relativizações". Aliás, o extermínio das relativizações, proclamada pelo Excelentíssimo Doutor Gustavo Carona, acaba por ter um óbice: entra em contradição, o que nem surpreende perante o seu "histórico": é que só se relativizarmos podemos dizer em que grau (ou em quantos graus) é que a covid é pior do que outras doenças, incluindo infecções respiratórias. 

Nota: Em anexo, por ser público, coloco o registo de Gustavo Carona na Ordem dos Médicos, bem como o de outros médicos, para atestar que um médico pode ter simultaneamente a especialidade de anestesiologia e de medicina intensiva. Gustavo Carona só tem a primeira.



2 comentários:

  1. A personagem quer trazer uma questão que é cientifica para o debate ético entre o relativismo e absolutismo moral. isto começa a ser cristalino. Nada de ciência mas apenas visões subjetivas do que é certo e errado à luz de uma conceção de valores morais. Negar o perigo da doença é sempre errado, independentemente das circunstâncias, porque assim obriga o juízo ético de um prócere do absolutismo. O debate começa a ter um forte viés filosófico...

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  2. Deve querer acabar com o INE, ou então torna-lo de âmbito secreto, com categorização de informação classificada, suponho, para que o cidadão com 2 dedos de testa não possa ter acesso à informação estatística e poder efectuar comparações e cruzar dados e ver o que se passa realmente. Isto vai de encontro ào absolutismo totalitário da censura que está em marcha��

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