quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

DA PERPETUIDADE

Cruzei-me com esta frase, algures por aí... Mentira! Não cruzei nada. Destaquei-a apenas, sem a caratonha do dito, porque isto ultrapassa todos os limites. Consta por aí ter havido certa pessoa que disse, sem se rir, ser um sintoma possível da covid o não ter sintomas. Este agora veio dizer que, enfim, " mesmo os assintomáticos ficaram com sequelas".

Sinceramente, eu acho tudo isto tão absurdo, os tempos tão absurdos, que muita gente nem sequer vai puxar pelos neurónios e, em vez de dar uma sonora gargalhada, aumenta ainda mais o nível de pânico.

Portanto, depois disto, quem fizer uma análise serológica e se lhe detectarem anticorpos contra o SARS-CoV-2, já sabe aquilo que lhe reserva o futuro. O triste futuro. 

Dói-lhe a cabeça? Foi o SARS-CoV-2! 

Torceu o pé? Foi por causa da covid! 

Um desarranjo intestinal? Foi o corona! 

Apanhou pé de atleta? Foi o dito! 

Ataque cardíaco? Pimba: foi o SARS-CoV-2! 

Teve AVC? Ui: foi a covid! 

Sofre de Alzhemeier? Só pode: foi por causa da covid!

Parkinson? Trema: foi o corona!

E se vier um cancro? Ora: quem acha que foi?!

Morreu de velho, em sossego, rodeado de netos e de sorriso nos lábios pela longa e rica vida? Era o que faltava: morreu por causa do "gajo" que se grudou em si para todo o sempre! Amen! E veja se não infecta depois Deus ou o Diabo, consoante o lugar para que siga.

DO FIM DO INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA, POR CERTO DESEJADO POR CARONA

O Excelentíssimo Doutor Gustavo Carona - que se jactancia de "médico intensivista", pese embora tenha apenas a especialidade de "anestesiologia" registada na Ordem dos Médicos - começou em Fevereiro de 2020 por "relativizar" a covid-19. Escrevia ele há um ano ser o SARS-CoV-2 "altamente contagioso, mas que a poucos causa doença, e aos poucos que causa doença nas piores das análises 2 a 3% vão morrer" (FB, 26/2/2020).

Na verdade, um ano depois, as suas palavras mantêm, mais ou menos, a actualidade e o rigor. Com efeito, a taxa de letalidade em Portugal é de 1,8% (nem chega, assim, aos "2 a 3%" que ele referia), apesar de nos mais idosos ser muito mais grave, estando nos 14,6%, sendo que em Janeiro esteve um pouco acima, revelando as falhas do SNS. Na verdade, desde o início, a minha posição tem estado sustentada nestas premissas.

Ora, mas agora, um ano depois, o Excelentíssimo Doutor Gustavo Carona, presumido médico intensivista mas de atestado anestesiologista, já não gosta nada que se relativize coisa alguma. Aliás, abomina. Mais, anatematiza. Melhor dizendo, quer esconjurar quem relativiza.

Assim, ontem, o Excelentíssimo Doutor Gustavo Carona, agora vedeta da rádio & TV, foi à RTP dizer tão-só isto (sic): "(...) Afinal, não há ninguém negacionista. Ninguém nega a existência do vírus. O que é perigoso é a relativização. Os relativistas. Dizer que isto não é assim tão grave, que já houve anos piores, que isto é como a gripe, todo este tipo de frases são perigosíssimas. E nós temos de as retirar da circulação pública".

Portanto, temos aqui um anestesiologista a querer o fim de tudo o que seja "relativização", qualquer comparação. Tudo isto deve ser retirado de "circulação pública". No limite acabar com o INE, presumo, que é o sítio onde mais se fazem "relativizações". Aliás, o extermínio das relativizações, proclamada pelo Excelentíssimo Doutor Gustavo Carona, acaba por ter um óbice: entra em contradição, o que nem surpreende perante o seu "histórico": é que só se relativizarmos podemos dizer em que grau (ou em quantos graus) é que a covid é pior do que outras doenças, incluindo infecções respiratórias. 

Nota: Em anexo, por ser público, coloco o registo de Gustavo Carona na Ordem dos Médicos, bem como o de outros médicos, para atestar que um médico pode ter simultaneamente a especialidade de anestesiologia e de medicina intensiva. Gustavo Carona só tem a primeira.



terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

DOS PARABÉNS À TIA OU DO COMO O INFERNO ESPANHOL SE PASSOU PARA CÁ NUM ÁPICE

Em Junho de 2020, a deputada socialista Joana Sá Pereira declamava na Assembleia da República: "Tal como noutros períodos da nossa longa história, há fortes motivos de orgulho para os portugueses. Não foi sorte. O vírus teve, diria, talvez o azar de encontrar pela frente um povo experimentado e um Governo capaz."

Oito meses depois, Portugal ultrapassou a Espanha em mortes por milhão, encontra-se em 11º lugar no ranking mundial, neste critério, de entre os Estados com mais de 1 milhão de habitantes.

Eis o Governo capaz. Eis o azar do vírus.

Bem sei que muitos amigos (e inimigos) dirão que aí está a confirmação de a covid ser terrível. Leiam-me. Sempre disse que era muito perigosa para os mais idosos e alertei para os lares. Sabe-se o que se está a passar nos lares portugueses, nos legais e ilegais? Claro que não! Eu posso saber o que se passa em imensos países nos seus lares, aqui é top secret. Lamentável. Todos os meus indicadores apontam que andam a alimentar as morgues.




DA COLABORAÇÃO

Portanto, Portugal desinveste décadas a fio no Serviço Nacional de Saúde, e, perante o caos e a aflição, pede agora ajuda internacional. A Alemanha dispõs-se a enviar-nos médicos e ventiladores (onde estão os que comprámos aos chineses?). Entretanto, a ajuda de um terceiro transforma-se, na boca da ministra da Saúde, em colaboração. Portugal está a colaborar com a Alemanha.

A partir de agora, quando virem um pedinte na rua, ele não está a pedir-vos ajuda. Deseja colaborar convosco. Na verdade, não é um pedinte; é um (vosso) colaborador. Colaborem, sff.

DOS CROMOS

Há uns meses, o CM fez uma “colecção de cromos” com as fotos de idosos vítimas da covid. Agora está a fazer uma colecção de cromos de casos polémicos relacionados com as tomas de vacinas. Neste casos, estamos mesmo perante cromos.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

DOS SINAIS DE DEGRADAÇÃO DO SNS

Mais um indicador do colapso do Serviço Nacional de Saúde: desde o fim do Verão, com a estabilização dos procedimentos de tratamento e o aumento da testagem (e dos doentes), a taxa de letalidade nos mais idosos (maiores de 80 anos) tem estado sempre a piorar.

Em Outubro situou-se nos 8,3% (o valor mais baixo desde o início da pandemia), depois subiu para os 13,2% em Novembro e em Janeiro já foi para os 15,4%.

Em termos concretos, se se conseguisse manter a eficácia de Outubro (cerca de 8 óbitos por 100 casos positivos), teríamos quase metade dos óbitos que se registou em Janeiro de 2021 (mais de 15 óbitos por 100 casos). 

O nosso drama não é apenas a doença; é a qualidade da cura, que se foi perdendo.

DAS PRIORIDADES DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Para investigar chico-espertices, para as quais bastaria a censura social e sanções disciplinares e políticas, o Ministério Público vai a correr. Sobre investigar aquilo que se anda a passar nos lares: ora!, está quieto! 



DAS NOTÍCIAS AUTOMÁTICAS

O Público continua a bater teclas sem noção já daquilo que é UMA notícia. Está em piloto automático. As “notícias” sobre a pandemia na Índia são já cómicas, no sentido patético do termo: anteontem morreram em Portugal 303 pessoas, e o Público destaca as 118 que morreram na Índia... Contas feitas, e face à população de cada país, a situação portuguesa é 337 vezes pior do que a da Índia... Amanhã saberemos como será: o Público dir-nos-à. Sempre.

DO NOVO NORMAL

Como a vacina não eliminará jamais o vírus - ou pelo menos num futuro próximo (vd. varíola) -, prevejo que tenhamos um Novo Normal em curso. Viver com risco zero será não-viver; será sobreviver; será morrer cheio de saúde.  

domingo, 31 de janeiro de 2021

DA ANALOGIA

O Governo português quis controlar uma cheia rezando para Nossa Senhora controlar as nuvens. E foi alegremente construindo no vale. Até que chegou Janeiro de 2021.

DA DESGRAÇA DO AMAZONAS EUROPEU

Continuem a achar que o Governo não tem de nos dar satisfações sobre o que se passa nos lares. Continuem a achar que o Serviço Nacional de Saúde (SNS), enfim, está a trabalhar bem, e que era suficiente se não fosse o Natal, se não fosse a variante inglesa, se não fosse o mau comportamento dos vizinhos, se não fosse a existência de doentes... 

Lancem loas ao Governo. Cantem ditirambos ao António Costa. Teçam elegias aos mortos, mas só se forem covid. Componham acrósticos em louvor de Marta Temido. E não se esqueçam também de uma odes ao Prof. António Costa Silva por ter dedicado 3 páginas de generalidades sobre Saúde de entre as 142 páginas da Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030, com que o Governo nos entreteve durante o Verão enquanto NÃO reforçava o SNS.

Enterrem a cabeça na areia, enquanto se enterram e cremam muitos que não deveriam morrer se tivêssemos um Estado decente. 

Hoje já alcançámos o México. Amanhã seguir-se-á a Espanha. E mais a Croácia e o Perú. Nos seguintes, logo se verá; porém, sempre a subir.

Amanhã, segundo as minhas previsões, bateremos um novo recorde diário. A culpa não é do Governo. É dos mortos. E dos vivos. Mas nunca do Governo. Culpar Governos, só nos confins da Amazónia. E, contudo, Portugal está pior do que Manaus. Não parece, mas está.





DA AREIA PARA OS OLHOS, DOS FRETES DA IMPRENSA E DO DESCALABRO NOS LARES

A culpa foi do Natal, diz a Imprensa. A culpa é da variante inglesa, diz a Imprensa. E diz agora ainda, a Imprensa, que a variante inglesa está a atacar mais as crianças (vd. em baixo, notícia do inenarrável Público). 

Vá! Praticamente não há crianças a morrer de covid (até agora morreram três pessoas com menos de 20 anos, o que é 0,00015% de taxa de mortalidade), mas isso não interesssa nada. Também não interessa que num Janeiro de descalabro total, com dias sucessivos de mais de 700 mortes por todas as causas, o grupo etário dos menores de 25 anos até esteja com uma taxa de mortalidade abaixo da média. Isso não interessa. Ponha-se aí mais pânico. Em tudo. Ponham mais medo. Em todos. Ponham as pessoas a nem sequer questionar porque existem tantas mortes em Portugal por covid, quase todos idosos; a nem sequer reparar que estamos agora com níveis de mortalidade cinco vezes superiores ao Brasil; e que mesmo em Manaus (Amazonas), onde a situação é tenebrosa, afinal a mortalidade é semelhante à do nosso país. 

Existem dois motivos para o descalabro português. Primeiro, o colapso do SNS. Tenho aqui apresentado evidências da perda de eficácia no tratamento da covid. Em Dezembro morriam 25 pessoas por cada mil internados; agora morrem quase 45 por cada mil internados. Todos os dias são mais de 120 mortes a mais por causa desse colapso.

O segundo motivo é insusportavelmente silenciado: os lares, cujos utentes integram (diria quase na totalidade) o grupo dos maiores de 80 anos. Estive entretanto a calcular a taxa de incidência em Janeiro de 2021 (até dia 29) dos novos casos positivos por grupo etário. Pasmo! 

Minhas senhoras e meus senhores, o grupo etário mais atingido durante o mês de Janeiro é o dos maiores de 80 anos (35,7 casos por mil pessoas deste grupo etário), ligeiramente superior ao grupo dos 20-29 anos (35,6 por mil). 

Notem que a taxa de incidência, a partir dos 20-29 anos, se reduz nos grupos etários subsequentes até estancar nos 19,7 casos por mil no grupo dos 70-79 anos, o que se relaciona com questões de mobilidade e grau de contacto social. Assim, seria suposto que o grupo seguinte (maiores de 80 anos) tivesse uma incidência ainda menor; porém, em vez disso, apresenta a maior incidência de todos os grupos etários. Isso indicia, sem dúvida, que o problema advém dos lares, que, neste momento, serão autênticos "antros de covid", em descontrolo absoluto. E ninguém quer saber. 

O Governo não divulga o que se passa nos lares, a Imprensa não pergunta. Não se sabe quantos idosos dos lares estão infectados, quantos destes morrem em cada dia. Nada se sabe. Os velhos mortos dos lares, esses, vão-se somando, anonima e silenciosamente, e servindo somente para alimentar o pânico, de modo a se aceitarem todas as restrições e imposições de um Governo responsável por uma das gestões mais vergonhosas da pandemia a nível mundial. 

Portugal, por causa do caos do SNS e da falta de protecção eficaz dos lares, arrisca a tornar-se em breve um dos piores países afectados pela covid. Está, neste momento em 16º lugar (excluindo pequenas nações com menos de 1 milhão de habitantes), mas em menos de uma semana entrará no lamentável top-10. E se tudo continuar como está só pode piorar. Perdeu-se o controlo de uma doença controlável. 

O Ministério Público, se não estiver manietado, deveria abrir um processo de averiguações à gestão da pandemia nos lares. Já. E ja se faz tarde.



sábado, 30 de janeiro de 2021

VÍDEO 5 - DA EVOLUÇÃO DAS TAXAS DE MORTALIDADE EM PORTUGAL O IMPACTE DA PANDEMIA EM 2020 /

 


DA LÓGICA DA BATATA

A médica Isabel do Carmo, 80 anos, com um passado político conhecido, foi entrevistada na SIC, depois de um artigo de opinião no Público, que relatava a sua experiência de internamento de 10 dias no hospital depois de ter sido infectada pelo SARS-COV-2 num encontro familiar de Natal. No mesmo encontro, fica-se a saber, foi infectado também o seu ex-marido, Carlos Antunes, seu "companheiro de armas", 82 anos, que acabaria por falecer. Tinha, pelo que ela disse, um cancro no fígado.

Aquilo que sucedeu à sua família foi uma fatalidade, embora o seu tom não transparecesse - até por na parte final da entrevista ela se ter quase regozijado se ter lembrado de meter livros na mochila para o internamento. Mas, na verdade, a única coisa ilógica que assisti na entrevista foi o jornalista Miguel Ribeiro rematar:

"Isabel, muito obrigado por ter partilhado connosco a sua experiência, e que nos sirva de lição, também a muitos que têm andado distraídos porque as ruas ainda estão com gente e mais".

Sinceramente, não entendo esta lógica da batata. Este incitamento às pessoas para não andarem na rua é completamente absurda. Mais ainda sabendo o caso concreto que acabara de ser relatado.

Link para a entrevista na SIC, aqui.

DA NOVA PREVISÃO (29/1/2021)

Aqui segue a habitual previsão diária. Tendo em consideração que ontem o valor indicado pela DGS foi menor do que a minha previsão, significa um sinal menos negativo. O aumento dos internamento, conjugando com essa situação, leva a um aumento da variação possível no número de óbitos entre 281 e 315 óbitos. Se ficar abaixo dos 281 será um reforço para uma tendência de decréscimo (e melhoria da eficácia do tratamento do SNS, que bem é necessário.

O segundo gráfico mostra, porém, que estamos ainda muito longe de ficar abaixo dos 200 óbitos.