quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

DA SUÉCIA, ESSE PAÍS COM EPIDEMIOLOGISTAS A SÉRIO, QUE NÃO USOU MÁSCARAS, QUE NÃO CONFINOU, QUE DIZIAM QUE MATAVA VELHOS, QUE... AFINAL ESTÁ JÁ MELHOR QUE PORTUGAL NA COVID E EM TUDO O RESTO

O título é grande, mas é propositado. Não há muito a dizer. Apenas  relembrar que nem sempre aquilo que parece, é. Não é por um Governo andar num corrupio de declarações televisivas, num  frenesim de papel que nos leva a um Estado autoritário, não é por se criar condições psicológicas colectivas que impelem as pessoas a ser polícias de costumes dos outros, não é com estratégias absurdas que se consegue vencer uma pandemia.

A Suécia bem avisou que a pandemia não era um sprint, mas sim uma maratona. Portugal andou a vestir-se de lebre, quando não passa de um caracol com um SNS tão sólido como a casca do gastrópode.

Além disso, a Suécia não está com sobremortalidade não-covid, ao contrário de Portugal. 

Ah, e já agora, o Brasil e a França, em mortes-covid por mihão, já estão atrás de Portugal. 





DO CONTÍNUO E MORTÍFERO CAOS

Como sabem tenho apresentado previsões diárias sobre a mortalidade-covid, com base em dois modelos expeditos, um dos quais baseado na taxa diária de mortalidade dos internados.

A degradação da eficácia do tratamento é evidente e assustadora. O gráfico que vos apresenta mostra que a taxa está a subir ininterruptamente desde o início do ano, agravando ainda muito mais o crescimento dos internados. Está, neste momento, no máximo, o que vai garantir, infelizmente, uma mortalidade elevadíssima nas próximas semanas.

Basicamente, o que o gráfico mostra é, por exemplo, que no início de Janeiro, morriam 24 pessoas por cada mil internados-covid; mas ontem morreram 45 pessoas por cada mil internados-covid. Isto é um claro sinal de colapso: não é só o vírus que está a matar; é a perda repentina de eficácia do SNS.

As minhas previsões para hoje indicam uma manutenção da mortalidade-covid acima dos 300 óbitos: 301, segundo o modelo da taxa de miortalidade; 305, segundo o modelo da linha de tendência.


quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

DO ENFADO AO NEFANDO

DO ENFADO AO NEFANDO / Eu sei, a culpa é minha. Toda minha. Quando se escolhe como contendor um tipo que aos 31 anos ficou na 248ª posição no internato de Medicina Geral e Familiar (e que, cinco anos antes, terminara a licenciatura num honroso 422º lugar, ex-aequeo, de entre 1.379 finalistas) não se pode augurar um debate lúcido, íntegro e justo. Levantei uma pedra e, em vez de sair de lá um lacrau (menos mal), saiu-me uma poia, que nem exoesqueleto possui, quanto mais coluna vertebral.

No boteco do Nefando não se destila só ódio requentado. Refina-se requintada maledicência, lapida-se as mais puras mentiras.

Que interessa ao Nefando se eu, desde Março, assumo que a covid é uma doença perigosa para os mais idosos, e que o grande problema, nunca controlado, se encontra sobretudo nos lares? 

Que interessa ao Nefando que eu tenha feito um "statement" em Maio de 2020, manifestando a minha posição, e que se mostra inalterada e inatacável? 

Que interessa ao Nefando que em 4 de Novembro eu tenha, além de recordado esse "statement" (para manifestar que nada mudara na minha posição), alertado para a degradação da situação portuguesa em relação à covid e aos efeitos de um SNS comatoso, como agora se encontra patente? 

Que interessa ao Nefando que todas as minhas análses e opiniões tenham sido no sentido de um enquadramento da doença num contexto de Saúde Pública, nunca tendo embandeirado em arco sobre o suposto "milagre lusitano" na contenção da primeira vaga?

Que interessa ao Nefando que eu integre uma equipa multidisciplinar de académicos que está a estudar os impactes da pandemia nos lares?

Nada lhe interessa. Nada lhe interessa sobre que escrevo, e como escrevo, e sobretudo como analiso. Nada interessará ao Nefando, cuja cabeça tem tantos neurónios como o seu umbigo.

Só lhe interessa meter debates em chafurdeiros, onde se sente como peixe na água. 

Eu já tinha aceitado, enfim, conviver com um tipo que faz queixinhas (como os putos), mas já não tolero que deturpe vergonhosamente as minhas posições e que, não satisfeito, altere o sentido daquilo que escrevo, como fez com um post recente. Onde aviso que os dados da Suécia estão sujeitos a alteração, mas que não deveriam, depois dessa operação, ultrapassar os valores da Espanha, contrapôs ele uma montagem malfeita de um gráfico onde surge a Suécia com uma média de 97. Mentira. Os dados da Suécia foram rectificados, como avisei, mas passaram dos 19 (inicialmente indicados por mim) para os 23 (imagem 3, agora retirada do Worldometer).

Perante isto, já não há irritação possível. Apenas enfado.

Deixou de ter piada, para mim, ter como entretém o Nefando e mais suas torresmadas. Desisto. Deixo a serpente sozinha, mais as suas crias e a sua língua. Que cuide dos dentes. Não por causa de cáries, mas para não se morder, 

Adeus. Nem mais uma linha para o Nefando.



DOS INCÊNDIOS E DA PANDEMIA

Ciclo encerrado no meio da locura pandémica, e enquanto em simultâneo preparo o doutoramento: com a apresentação da tese, terminei hoje o Mestrado em Gestão e Conservação dos Recursos Naturais, no Instituto Superior de Agronomia e Universidade de Évora. Esta última já era a minha alma mater (Engenharia Biofísica), e a primeira junta-se ao ISEG (Economia e Gestão). Seguir-se-à, agora, o ISCTE.

Pode causar confusão a muitos que, ponderado tudo isto, ainda esteja agora a "botar postas de pescada", segundo alguns, sobre os efeitos da pandemia e sobre políticas públicas na Saúde, e estar mesmo no projecto com ligações ao ISCTE sobre estas matérias.

Na verdade, aquilo que todas estas formações me têm ajudado é sobretudo uma melhor compreensão do mundo, e como ele funciona em repetição.

Por exemplo, cada vez encontro um maior paralelismo sobre os incêndios florestais - tema do meu mestrado e área sobre o qual me estou a debruçar no doutoramento - e a pandemia da covid.

Se nos incêndios, quando algo corre mal, os Governos culpam o tempo quente e seco do Verão; 

                    agora, na pandemia culpa-se o Inverno e o vírus.

Se no Verão, um incêndio se descontrola, a culpa é atribuída ao vento e não á incapacidade do combate e das estratégias de prevenção; 

                    agora, na pandemia, a culpa é dos doentes e nunca da incapacidade do SNS em se preparar para surtos e aguentar minimamente a sobrecarga de doentes com exigências de logística distintas da "normalidade"

Se no Verão, ocorrem grandes incêndios que chamam a atenção até internacional, o Governo culpa os supostos incendiários e nunca as falhas de um sistema corroído de interesse de capela;

                    agora, na pandemia, a culpa é dos portugueses que se deixaram infectar (mesmo se o Consellho de Ministros têm uma taxa de incidiência 6 vezes supeerior ao do povo; 35% vs. 6%) e não de um SNS que entrou em completo colapso quer para tratamento dos doentes covid quer dos outros.

Tanto num caso como no outros, estamos apenas perante um só problema: gestão. Ou mehor, ainda outro: incapacidade de assumir responsabilidades.

E sabem numa outra coisa que há também paralelismo? Nos incêndios também se pensa que as coisas se resolvem no futuro com diplomas legais. E já não falo apenas na gestão da pandemia que anda a produzir mais normas do que acções; falo sim na quantidade de diplomas que serão produzidos para anunciar um SNS melhor e mais eficaz. Isso geralmente é feito após anos catastróficos nos fogos. E resultam? Claro que não. Resultam até á próxima catástrofe.

Nota 1: Esta nota serve para anunciar a nota. A tese ficou-se pelo 18; a média pelo 17. Não é a perfeição, mas é o melhor que se vai conseguindo.

Nota 2: Agradecimentos especiais aos meus orientadores da tese: Teresa Ferreira e Francisco Moreira.

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

DA SIMPLES CAUSA E ESPERADO EFEITO DO CAOS

Isto é muito simples de ver: em 1 de Outubro havia um pouco mais de 600 internados e morreram 6 pessoas nesse dia.

Hoje, que temos 10 vezes mais internados do que no dia 1 de Outubro, não estão a morrer 10 vezes mais pessoas do que no dia 1 de Outubro.

Se assim fosse, estariam a morrer 60 pessoas.

Estão sim a morrer quase 300. 

Quase 5 vezes mais. Se formos complacentes, quase o dobro do que se esperaria com a eficácia duante o mês de Dezembro, quando se tinha cerca de 3.000 internados.

Não consta que o vírus se tenha tornado mais letal. Aquilo que está a suceder é a consequência da falta de investimento do SNS, a falta de médicos, de enfermeiros, enfim, a falta de preparação do Governo. 

Veja como foi evoluindo perigosamente a taxa de mortalidade diária dos internamentos, até ao colapso absoluto a partir do início de Janeiro.

Fonte: DGS (cálculos meus; média móvel de 7 dias)

DA BIPOLARIDADE, DO CHERRY PICKING E DA VELHA QUESTÃO DOS ASSINTOMATICOS

Para se ser Nefando ajuda ser bipolar. Por exemplo, há dias em que o Nefando acorda e acha que uma revista científica, peguemos na BMJ como exemplo, é óptima como "arma" para chamar dealer a um digno professor catedrático jubilado, especialista em Saúde Pública (e que não deve ter ficado no 248º lugar do seu internato, presumo). 

Noutros dias estremunha, porém, o Nefando. e vai de zurzir num editor da mesma BMJ, Peter Doshi, também professor da Universidade de Maryland, só porque, enfim, este coloca reservas sobre a eficácia das vacinas da Pfizer e da Moderna, e exige mais dados (vd. aqui).

Também sucede ao Nefando, além da bipolaridade, ser propenso ao famigerado "cherry picking", i.e., lê o que lhe interessa; suprime o que o incomoda. 

Há dias, no tal ataque ao digníssimo professor catedrático jubilado, o Nefando cita um artigo da BMJ ("Asymptomatic transmission of covid-19"), da autoria de Allyson M Pollock e James Lancaster (vd. aqui), transcrevendo até um parágrafo inteirinho em inglês. Nesse parágrafo, efectivamente refere-se que uma parte (49%) dos assintomáticos acabam por desenvolver sintomas. Embrulha lá, Torgal!

Sucede, contudo, que, no mesmíssimo artigo, e logo nos cinco parágrafos seguintes, surgem informações que, enfim, colocam em causa toda a teoria "nefandesca" em redor dos "perigosos assintomáticos" e dos testes PCR, a saber:

a) a única forma de detectar o vírus é através de cultura viral, e que os testes PCR (e outros) não distinguem se o vírus está activo (live vírus);

b) uma pessoa com um resultado positivo num teste PCR pode ou não ter uma infecção activa e pode ou não ser infecciosa;

c) são feitos alertas muito consistentes sobre os ciclos (Ct) dos testes PCR e como estes estão sujeitos a erros;

d) não apenas por não terem sintomas (como tosse), os autores afirmam que a duração de libertação de RNA viral é mais curto em pessoas assintomáticas, decorrendo daí que estas são provavelmente menos infecciosas do que aquelas que apresentam sintomas;

e) os autores destacam um estudo de prevalência na cidade de Wuhan (10 milhões de habitantes) onde não se encontrou evidências de transmissão assintomática;

f) e, last but not the least, os autores alertam para a necessidade de cuidados suplementares para os assintomáticos e os pre-sintomárticos (o que, na prática, coloca todas as pessoas que não apresentem sintomas de doença) a terem especial cuidado na lavagem das mãos e na distância social. Não referem as máscaras faciais. 

Talvez, sejamos benevolentes, o nosso Nefando tenha feito este "cherry picking" de modo involuntário. Talvez só consiga ler um parágrafo em inglês de mês a mês, Pode ser que no próximo mês leia o seguinte, de sorte que, lá para o Verão, entenderá o artigo. 



DO DESASTRE LUSITANO - O VÍDEO

Um vídeo explicativo sobre a situação portuguesa no contexto da União Europeia e dos países com maior mortalidade por covid desde o início da pandemia. Um desastre.

Entretanto, se assim desejarem, podem subscrever o meu canal do Youtube. Tentarei com frequência colocar vídeos explicativos com questões relacionadas com a crise actual.

DO DESASTRE LUSITANO

O nosso Governo e a nossa fantástica Imprensa continuam unidos na construção da Narrativa: tentam agora convencer-nos que a pandemia se descontrolou em todo o lado. E que a culpa é dos casos positivos e dos portugueses. É assim? Não.

Está sobretudo descontrolada em Portugal, e poucos são os países da União Europeia em crescimento da mortalidade. E aqueles que se encontram nessa situação (e.g. Dinamarca, Irlanda e Espanha) estão com níveis proporcionalmente muitíssimo mais baixos.

Estamos com níveis absurdos de mortalidade or covid (o pico já suplantou 5 vezes o pico do Brasil e quase 3 vezes o pico dos Estados Unidos), porque o nosso SNS entrou em colapso absoluto, tanto no tratamento da covid como no das outras doenças. As análises e previsões que tenho feito comprovam isso, com as taxas de mortalidade diária dos internados a mais que triplcarem em relação a Outubro.

Havia 17.700 camas prometidas para a covid? Não havia nada.

Reforço do SNS com um plano Outono-Inverno? Qual quê! Saíram do SNS mais de 900 médicos ao longo de 2020.

Queriam milagres? Saiu-nos o Inferno.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

DA PREVISÃO ACTUALIZADA DE 24/1/2021

Em função do crescimento dos internados, entre os dias 23 e 24, bem como dos óbitos do dia 23, prevejo a possibilidade da mortalidade por covid-19 no dia 24 possa atingir valores em redor dos 284 óbitos, embora o modelo da tendência polinomial (que tem falhado quase sempre por valores abaixo do observado) aponte para valores mais baixos (258 óbitos). 

Chamo, mais uma vez a atenção, que os óbitos estarão bem acima (mais de 100) do que seria expectável se o SNS não tivesse colapsado. Ou seja, se a taxa de mortalidade diária dos internados se tivesse mantido nos 2,5%, como em Dezembro, seria expectável a ocorrência de 150 óbitos. Esta taxa está, actualmente, nos 4,6%.

Continuam as previsões pessimistas para os próximos dias. A taxa diária de mortalidade dos internados continua manifestamente alta, e com a contínua subida dos internamentos, não há qualquer possibilidade de se descer abaixo dos 200 óbitos nos próximos dias. Só por milagre. Baixar os 100 óbitos diários será ainda mais demorado. Mesmo que não entrassem mais internados (impossível, claro), tal objectivo demoraria mais de duas semanas.

O caos do SNS paga-se caro.


domingo, 24 de janeiro de 2021

DO COMPORTAMENTO POVO VS. CONSELHO DE MINISTROS

Desde o início da pandemia, o Povo está com uma incidência acumulada de 6% de casos positivos.

Desde o início da pandemia, o Conselho de Ministros conta já com 7 casos positivos. São 20 ministros (incluindo o Primeiro-Ministro). Contas feitas, é uma taxa de incidência de 35%. Ou seja, quase 6 vezes superior à do Povo.

Quem se anda a portar mal?

DA INTERPRETAÇÃO SOBRE AQUILO QUE SE ESTÁ A PASSAR EM JANEIRO DE 2021

Depois de resolver problemas de aúdio, vou reiniciar vídeos explicativos, com detalhe, sobre a pandemia,.

Desta vez, explico como se deve olhar para o extraodinário aumento da mortalidade em Portugal durante estas últimas três semanas.

DO BRASIL, ONDE SUPOSTAMENTE HÁ UM PRESIDENTE CRIMINOSO, EMBORA PORTUGAL JÁ ESTEJA PIOR

No dia em que Portugal utrapassa o Brasil no número de mortes por covid por milhão de habitantes, e sabendo também que há mais casos positivos acumulados por milhão de habitantes no nosso país, é muito curioso, e revelador da acefalia crítica do jornalismo lusitano, este tipo de notícias. 

Em Portugal, como se sabe, tudo correria bem se os portugueses não se portassem mal. O Governo tem uma "estratégia", os portugueses é que não se encaixam nela. A "estratégia" de António Costa baseava-se apenas em exigir que os portugueses não ficassem doentes; se não houvesse doentes, não havia mortes. A chatice foi os portugueses não se encaixaram nesta douta estratégia governamental. E só por isso, enfim, muitos morreram.


sábado, 23 de janeiro de 2021

DA COVID PORTUGUESA E DA COVID DA EUROPA

Vejam o gráfico. Vejam bem mesmo.

Actualmente, a situação em Portugal, em relação à covid, é complicada. Mas também é bom inculcar-se que o "sucesso" da invasão de um inimigo, mesmo que seja um vírus, depende das nossas capacidade de organização e de defesa.

E vamos ser claros. Portugal é agora, de longe, o país que está em pior situação da UE se considerarmos a mortalidade por covid padronizada à população portuguesa (cerca de 10,2 milhões de habitantes). Está com uma média móvel de 7 dias de 212 óbitos.  Um absurdo. Se excluirmos o Reino Unido, já não pertencente à UE, os países mais próximos são de Leste (a rondar os 140), que não tiveram primeira vaga.

De resto, estamos com mais do dobro das mortes (padronizadas) de países como a Alemenha e a Irlanda, que tiveram um forte aumento de intensidade da covid nas últimas semanas. Estamos com quase o triplo da Itália. Com quase 4 vezes mais do que a Espanha, Nem vale a pena falar da Suécia, que mesmo com as actualizações não ficará acima do nível de Espanha. Da Finlândia então nem vale a pena falar, mas mostra bem como a realidade da covid não é a mesma ao longo da Europa.

Diria que, sendo certo haver um recrudescimento da pandemia (por via da sazonalidade), seria "aceitável" que Portugal estivesse a registar 100-140 óbitos por dia. Mas nada disto está a suceder nas últimas duas semanas, e andamos agora com dias sucessivos a ultrapassar os 200 óbitos diários e a aproximar-se dos 300.

Portugal, o seu Governo e o nosso SNS, estão a falhar rotudamentente ao nível da assistência aos doentes-covid. Não culpem o inimigo, quando as defesas miliares estão a mostrar-se paupérrimas. 

Outros países, no início da pandemia, falharam. Mas aprenderam. Nós não. Não aprendemos e achámos que bastava rezar à Nossa Senhora de Fátima. E o Governo achou que desaparecerem mais de 900 médicos durante o ano passado, ou não investir em mais camas hospitalares, ou em reforço de estudos epidemiológicos, não trazia consequências nefastas.

Além de tudo isto, quase todos os países da UE estão com tendência decrescente, ou seja, o pico desta segunda vaga verificou-se em Dezembro, e estão agora a descer. Portugal está no auge. O dia de ontem atingiu o máximo de sempre e op máximo da média de 7 dias. 

Seria bom que se assumisse que está tudo mal, porque se não servir para remediar este "terramoto", terá de servir para evitar o seguinte. Com outras políticas. Com outros políticos.



DA DESGRAÇA EM DESGRAÇA

Não vale a pena negar: a covid descontrolou-se em Portugal, na mesma linha que se descontrolou na Espanha e na Itália, sobretudo durante a Primavera de 2020, e na Europa de Leste, neste Outono e Inverno. Estamos a bater recordes de mortes em dias sucessivos, a par também de um incremento das mortes não-covid. E temo que Portugal venha a ser um dos países da Europa mais afectados pela pandemia, ultrapassando em muita a própria Espanha. Pior ainda: está com níveis de mortalidade elevada para outras causas.

De facto, o descontrolo é absoluto, msotrando-se evidente no contínuo crescimento da taxa diária de mortalidade nos internados, que começou no início de Janeiro em 2,6% e agora vai nos 4,7%. O perfil dos internados pode agora ser diferente, mas tem reflexos catastróficos no aumento de mortos, que presumo estar a ocorrer sobretudo nas enfermarias. Falta informação, porque em tudo a DGS e o Goveno sonegam informação para que não se revele ainda mais o caos em todo o seu esplendor.

A minha previsão de ontem, embora apontando para novo máximo, falou por bastante (tinha indicadi 241, registaram-se mais 33), revelador do aumento do caos. Para o dia de hoje (resultados a saber amanhã), o modelo da tendência polinomial aponta-me para 244 (mas os resultados de hoje não ajudam para uma previsão) e o modelo da taxa de mortalidade para 281, o que significaria novo recorde.

Não me admiraria nada, caso os internamentos se mantenham em crescimento, mesmo que ligeiro, que cheguemos em breve aos 300 óbitos.

A forma como o SNS não se preparou, fez muito por isto. 

Fonte: DGS


sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

DAS PREVISÕES OU DA TRISTEZA EM ACERTAR SOBRE O CAOS

Desde o dia 12 de Janeiro, depois de encontrar dois modelos que me parecem expeditos mas rigorosos (taxa de mortalidade diária dos internados e  uma regressão polinomial grau 2 que relaciona internados com óbitos), tenho apresentado previsões diáriasn sobre os óbitos por covid.

Mais do que andar a ser Zandinga, estes modelos têm-me ajudado (e espero que também a quem me segue) a melhor percepcionar o "grau de caos" do SNS. Por um lado, comparando com as taxas de mortalidade em Outubro e em Dezembro, mostra-se que, se se tivessem mantido esses níveis de qualidade no tratamento dos doentes-covid, estaríamos agora com cerca de menos 100 mortes no segundo caso (Dez), e cerca de 150 mortes no primeiro caso (Out).

Por outro lado, os dois modelos permitem observar que o incremento das mortes por covid não estão apenas relacionado com o número de internamentos, mas sim muito relacionado com o agravamento da taxa de mortalidade diária dos internados, que passou de 2,6% no dia 1 de Janeiro para quase 4,2% ontem. Isto constitui um crescimento brutal, e prevejo que, se isso se mantiver, será preciso descer os internados para níveis inferiores a 5.250 (estão em 5.779) para se conseguer baixar a fasquia dos 200 óbitos diários. Isto demorará muitos e muitos dias, até porque o fluxo de novas entradas (internados) continua a ser superior aos das mortes e aos que recebem alta.

No entanto, cada vez se mostra mais evidente que a "estabilidade" do SNS no tratamento da covid, perante a débil capacidade actual de resposta, só se encontrará quando os internamentos baixarem dos 3.500 internados. Somente nessa altura começaremos a ver menos de 100 óbitos por dia.

Significa que o nível de mortalidade por covid vai-se manter por mais algumas semanas bastante elevado [para amanhã prevejo um novo máximo, em redor de 240 óbitos], não tanto pelo número total de casos positivos (que nada representam sobretudo na população jovem, até pela metodologia e rigor dos testes PCR) mas sim pelo grande número de contaminados com mais de 80 anos, que suspeito (imenso) provenham sobretudo dos lares.

Nos gráficos, mostro-vos o confronto entre as minhas previsões e os registos contabilizados pela DGS desde o dia 13 de Janeiro, bem como os habituais gráficos da previsão do dia de hoje (22/1).