quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

DO MAU COMPORTAMENTO

Hoje foi Siza Vieira. Já são cinco ministros positivos. Taxa de incidência do Consellho de Ministros: 25%. E depos é o Povo, cuja taxa de incidência pouco ultrapassa os 5% desde o início da pandemia, que anda, supostamente, a portar-se mal? E que leva raspanetes? E que fica confinado, alguns sem salário ou sem rendimentos?

Proponho medidas urgentes para "achatar" a curva do Governo. Assim para a taxa de incidência passar a ser inferior a 5%, entram já…



terça-feira, 19 de janeiro de 2021

DA PEQUENA VANTAGEM DE SER UM PAÍS PEQUENINO MAS DA GRANDE DESVANTAGEM DE TER POLÍTICOS PEQUENINOS

Portugal tem a vantagem de ser um país pequenino. Andar apenas a tratar de pouco mais de 10 milhões de almas tem a sua vantagem. Uma desgraça nunca parece grande à escala mundial. Morrem 218 pessoas em Portugal, isso parece não ser nada se os Estados Unidos anunciarem 3.000. 

Porém, sucede que os tais 3.000 em terras do Tio Sam são menos de 100 em terras de Viriato. E, portanto, por estas e por outras, passamos despercebidos.

Foram incansáveis as notícias sobre os Estados Unidos, o Brasil, o México, até a Índia sobre os milhares de mortos. Aterradores. Nós, porém, até chegámos, supostamente, a ser (auto-)rotulados de "milagre" pela forma como nos estávamos a portar no combate á pandemia. Uma estratégia que, obviamente, se devia à extraordinária capacidade política do Governo.

Contudo, enquanto outros países apostaram numa melhoria dos seus serviços de saúde, o nosso extraordinário Governo foi a banhos, confiando que bastava suspender consultas, exames, diagnósticos e tudo o resto para ir safando o barco. Deu-se mesmo ao luxo de deixar candidamente que o número de médicos baixasse em 918 entre Janeiro e Setembro de 2020, mas fizesse o truque de destacar que houvera um aumento de 548 entre Setembro de 2019 e 2020 (vd. imagem em baixo, retirado do relatório do SNS).

A realidade é esta: em plena pandemia (que não existia em Setembro de 2019) o Governo não teve capacidade de resposta para a saída de mais de 900 médicos. Queria agora um milagre? Temos excesso de doentes ou falta de camas e de médicos?

No entanto, aquilo que mais me surpreende é a (in)capacidade de análise crítica dos portugueses, e com a  nossa conivente Imprensa à cabeça. Mortes nos Estados Unidos? Culpa do Trump. Mortes no Brasil? Culpa do Bolsonaro. Mortes na Itália? Culpa da soberba transalpina. Mortes na Índia? Culpa do subdesenvolvimento daquele desgraçado país. Mortes na Espanha? Culpa de não serem como nós.

Enfim, e foi-se olhando sempre para os outros, enquanto a população se fragilizava de meses sem assistência médica. E não se investia. E mentia-se com as supostas 17.700 camas ali prontas para qualquer coisinha, embora afinal outro documento do SNS dissesse que afinal eram apenas 2.120.

Os milagres, porém, por vezes acabam. E então revelam-se todas as fragilidades. Mas nunca as fragilidades do Governo, que nunca falha, nunca nada admite. 

E quando tudo se desmorona, culpa os portugueses. Como se a culpa de uma invasão que trucida um povo seja culpa do povo e não do Estado que não reuniu as condições para estancar o avanço do inimigo e proteger o povo. Os contratos sociais que tacitamente assinamos não é para que um Governo culpe o seu povo, como este está a fazer. Mas aquilo que me causa mais irritação é ver esse mesmo povo, pequenino, concordar com o Governo, e aceitar que este o culpe por o invasor o ter invadido.

E por agora é tudo. 

Deixo-vos apenas, para reflexão, uma análise que compara a situação de Portugal com os 10 países com mais mortes por covid em número absoluto. Mostra-se aqui o valor máximo (pico) da pandemia, medido com base na média de sete dias e em função da população portuguesa (padronização). Se Portugal (que está agora no valor máximo, com 167 óbitos diário, em média móvel) fosse um país da dimensão dos Estados Unidos ou da Índia ou do Brasil, hoje estaríamos a ser notícia a nível mundial. E duvido que ninguém achasse que o Governo era alheio a isto.

Mas como somos um país pequenino com governantes pequeninos, a culpa disto é só dos portugueses, que merecem o devido castigo: manterem-se pequeninos e serem governados por governantes pequeninos.


DA TEMPESTADE PERFEITA PARA O DESASTRE HUMANO E A DERIVA DITATORIAL

Há uma estranha atmosfera que se vive em Portugal. A ultrapassagem da fasquia das 200 mortes num só dia em Portugal atribuídas quase alegra as pessoas que defendem estarmos a viver uma verdadeira hecatombe que justifica todas as derivas totalitárias do Governo, e que essas pessoas abraçam como salvíficas, ao mesmo tempo que culpam o vizinho, que visitou a família no Natal, pelo descalabro.

Eu, enfim, continuo a lamentar todas as mortes de ontem - as 218 atribuídas à covid e mais as 419 por outras causas. E também lamentar o completo descontrolo do SNS (e do Governo) que "conseguiu" criar bodes expiatórios (o Povo) para uma estratégia errada que permitiu criar a "tempestade perfeita" que desencadeou a actual mortandade: 

a) população débil por meses sem assistência médica, 

b) atravessando uma vaga de frio invernal 

c) dentro de um sistema de saúde em degradação (menos 918 médicos em Setembro de 2020 em comparação com Janeiro de 2020)

d) perante um vírus sazonal bastante agressivo para a população idosa;

e) grande parte dela vivendo em lares, onde o controlo das infecções foi sempre ténue.

Bem sei que estas evidências não colhem na esmagadora maioria da população, que já está "formatada" e que, por ela, sobretudo para quem é funcionário público, se fecharia o país, e se controlaria tudo para se salvar a pele.

Bem sei que, formatadas pelo medo, essas pessoas não se irão questionar sequer sobre os motivos para a Portugal ter apenas 35% de casos positivos a mais do que a Espanha (média móvel de sete dias) mas contabilizar agora uma mortalidade mais de 250% superior. 

Qual a justificação para essa diferença, já que a Espanha (ao contrário da Suécia) é aqui ao lado? Será que a diferença está na Espanha ter aprendido com a Primavera de 2020 e politicamente houve empenho posterior para fortalecer os serviços de saúde? A resposta que deveríamos dar era SIM. E o nosso Governo fez o mesmo? E a resposta deveria ser um rotundo NÃO.

No momento em que o primeiro-ministro pede um "soberessalto cívico", para justificar mais restrições e tirar a água do capote (desresponsabilizando-se), eu também humildemente gostaria de o pedir. Pensem, analisem. Vejam o que nos podia estar a suceder mesmo perante um crescimento nos internamentos. 

Se estivéssemos com um SNS capaz, provavelmente morreriam hoje 79 pessoas com covid (um pouco mais do que com as pneumonias), conforme podem ver nos meus cálculos. Assim, com o SNS no estado que está, muito provavelmente teremos mais um dia com mais de 200 mortos. A minha previsão aponta para valores entre 193 e 223. 

É triste pensar-se que tudo isto se deve a um vírus e aos portugueses. E não ao vírus e ao Governo.

DOS RESULTADOS DO COLAPSO - ANÁLISE E PREVISÃO DOS ÓBITOS-COVID EM 18/01/2021

Só agora é possível apresentar a previsão que tenho vindo a fazer para a mortalidade-covid para o dia (neste caso, dia 18, cujos valores serão apresentados dentro de horas pela DGS).

Infelizmente, não prevejo boas notícias. E diria que se baterá novo máximo de óbitos. Um dos modelos (baseada na taxa de mortalidade diára) aponta-me para um valor próximo dos 176. O outro modelo, baseado na linha de tendência, atira para valores já na casa dos 190 óbitos.

Pelos dados já recolhidos, não me parece que, nas actuais circunstâncias do SNS, seja possível ter uma mortalidade por covid abaixo dos 150 enquanto estivermos com mais de 4.000 internados, o que significa que vamos ter este cenário por mais algumas semanas. 

Quero, no entanto, salientar um aspecto fundamental. O crescimento das mortes por covid está a ser exacerbado pelo colapso do SNS, porque se se estivesse com a eficácia de tratamento em grande parte de Outubro seria previsível termos apenas 73 óbitos, e se fosse com a eficácia de Dezembro de 122 óbitos.

Além disso, não duvidem que a mortalidade por covid (além da questão da metodologia de atribuição de causa de óbito) está aumentar por via da grande debilidade das pessoas idosas que, ao longo dos últimos meses tiveram fraca assistência médica por via da estratégia seguida pelo SNS.








DOS MÉDICOS PELA MENTIRA

O deputado do PSD, e também médico, Ricardo Baptista Leite, aproveitando ser voluntário (e assim granjear prova de testemunha presencial), apresentou anteontem um compungido video descrevendo o caos no Hospital de Cascais, com mortes a rodos, profissionais num banho de lágrimas. O Apocalipse. 

Veio entretanto a própria secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, negar este discurso: afinal, nesse dia, morreram três pessoas no “covidário” de Cascais. Três pessoas mortas são três vidas perdidas mas não é um cenário de guerra que ponha médicos e enfermeiros a carpir sem remissão.

Tudo isto é lamentável, mas fez-se tudo para isto. A falta de informação e de enquadramento permitem todo o tipo de manipulação, desinformação e histeria. Mas o Governo está a provar a sua própria estratégia de ocultação de informação. Se disponibilizasse informação diária sobre os óbitos covid por concelho (só a ULS do Norte Alentejano faz), este tipo de figurinhas de um médico-politico de ética questionável não aconteceriam.



DO CAOS OU DA MENTIRA

Alguém me explique como, em Outubro, o Governo garantiu, via comunicado do SNS, que havia “17.700 para assistência à pandemia”, mas depois há um outro documento do SNS que refere que afinal são só 2.120 camas para doentes-covid (ver imagens), e entretanto o sistema entra em ruptura a partir das 3.500 camas. Estamos agora com 5.165 internados, e está tudo caótico e em cenário de guerra.
O Governo mentiu em relação às camas? Pensou que bastava fazer compras no IKEA e não era necessário pessoal médico? Ou andamos aqui a brincar com a vida das pessoas e num passa-culpas?
E como é possível ter gastado em testes infindáveis milhões em vez de reforçar as UCI ao longo do ano, onde parece estar o maior défice? 
[cada cama UCI custa entre 50 mil e 150 mil euros a ser implementada, equivalente ao que se gasta a fazer entre 1.000 e 3.000 testes PCR por dias, mas com mais trabalho)
Pasmo com a airosa forma como o Governo, com a ajuda da Imprensa, arranjou uma estratégia para nos tornar bodes expiatórios e perante a sua incapacidade de gestão da pandemia. E vamos todos pagar: os que morrem por esta incúria, e os que ficam.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

DA SUÉCIA, ONDE (AFINAL) OS VELHOS MORREM MENOS, APESAR DA PANDEMIA

Eu sei que vai haver muita gente a estrebuchar, mas eu não posso fazer nada: os números insistem em contrariar as "teses" apocalípticas.

O SCB (o INE sueco) divulgou finalmente os dados totais de 2020, e portanto, já podemos comparar Portugal com o famigerado país nórdico, que tanta "urticária" causa a muita gente.

A Suécia, aquele país que não quis usar máscara nem fechou o país nem teve derivas totalitaristas, mas que é acusado de matar velhos, a dando-lhes morfina, e que, portanto, teve 9.804 óbitos por covid... afinal viu a sua taxa de mortalidade (por todas as causas, obviamente) dos maiores de 65 anos baixar em 2020 comparativamente à média (2015-2019). 

No período 2015-2019, a média situa-se nos 39,1 óbitos por 1.000 habitantes deste grupo etária, e desceu no ano passado para 38,7. 

Ou seja, sem prejuízo de se ter verificado um aumento da mortalidade em termos absolutos no grupo dos mais idosos (+13,2%), o incremento da população na mesma faixa etária foi superior (+14,5%), logo proporcionalmente morreram menos. A maior mortalidade incidiu, além disso, nas faixas etárias onde, infelizmente, já se morria muito [por muito que se ignore], sendo aqui evidente um efeito directo da covid. Por exemplo, da população sueca com mais de 90 anos em 2019, cerca de 22,1% morreram. No ano da pandemia (2020), esse valor foi maior: subiu para 24,3%. Uma subida mas nem sequer catastrófica numa faixa etária já naturalmente muito débil.

Ao invés, em Portugal - o país da histeria colectiva, do tudo para a covid, e nada para o resto, e que deixou assim a população idosa que não morreu do tempo um pouco mais quente no Verão, chegar ao Inverno presa por arames, até ser "presa fácil" da vaga de frio e de infecções por SARS-CoV-2 em lares -; em Portugal, dizia, a taxa de mortalidade nos maiores de 65 anos cresceu de 43,8 óbitos por 1.000 habitantes para 49,4. Uma subida de meter medo. E isto tendo morrido com covid 6.972 pessoas, menos 2.872 do que na Suécia.

Ou seja, como já se sabia, nem só de covid se morre. E a Suécia mostra aqui que, perante uma pandemia, que sempre provocará mortes, conta mais a estratégia e a racionalidade do que a histeria e a irracionalidade.

Quanto à taxa bruta de mortalidade (para toda a população), Portugal cresceu de 10,8 para 12,0, uma subida que mesmo assim não é catastrófica, enquanto que a Suécia subiu de 9,1 para 9,5, um aumento pouco significativo.

Obviamente que todas as mortes são lamentáveis, e se lamentam,. mas uma sociedade tem de saber enfrentar as leis naturais da Vida. E a estratégia sueca salvou mais vidas a prazo do que a estupidez portuguesa que agora tem uma população débil, tanto em termos de saúde (colectiva e individual) como a nível socioeconómico.

Fonte: SCB (Suécia); SICO-eVM e INE (Portugal).


DO ZERO EM PORTUGAL OU DOS EPIDEMIOLOGISTAS DESENCARTADOS

Dez meses depois do início da pandemia deu-me para consultar a base de dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), com informação vinda da Ordem dos Médicos, para saber a evolução do número de profissionais de saúde em Portugal. 

Existem dados discriminados, desde 2011 até 2019, contendo o número de médicos pelas 91 diferentes especialidades, subespecialidades ou competências.

Informo o País que não há sequer UM ÚNICO médico na especialidade de electrofisiologia clínica e... de EPIDEMIOLOGIA.

Fui consultar directamente o registo da Ordem dos Médicos, que lista a nome de todos os médicos, de acordo com a especialidade. E nada. Nenhum (vd. imagem em baixo). No caso da Ordem dos Médicos, o registo é o actual.

Aquelas sumidades que se apresentam como tal,  na verdade não têm a especialidade. São epidemiologistas "desencartados". E isso talvez explique muita coisa desde o início da pandemia.

O mais trágico-cómico é existir um Departamento de Epidemiologia no Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), mas sem qualquer médico com especialidade em Epidemiologia. E temos até uma Associação Portuguesa de Epidemiologia, embora presidida por uma investigadora doutorada em Saúde Publicas mas com formação inicial em Ciências da Nutrição. Um epidemiologista na Direcção-Geral de Saúde? Nada, claro.

Em 2009 tivemos uma pandemia (H1N1), felizmente sem consequências relevantes.

Em mais de 10 anos acharam os Governos que não havia necessidade de termos UM, pelo menos UM, vá lá, DOIS ou TRÊS epidemiologistas a sério (e não de brincar)...

Eis Portugal em todo o seu esplendor.

Nota: As imagens mostram o output da base de dados do INE. Para seguir directamente para os resultados pode usar este link e fazer a selecção pretendida e descarregar dados.






DA ÚNICA VANTAGEM DO ACTUAL CONFINAMENTO: COMPRAR CHÁ ÀS 9 E MEIA DA NOITE DE UM DOMINGO

Antes deste confinamento, as sumidades epidemiológicas achavam muito bem encerrar supermercados à 1:30 da tarde nos fins-de-semana, o que proporcionava temerárias enchentes matutinas sabáticas e dominicais.

Agora, pode visitar-se em plena noite um supermercado, vazio e seguro. Por exemplo, para comprar chá, que é coisa que bem falta faz ao Doutor Scimerdas que, durante a manhã, veio aqui, nos comentários do meu mural, vociferar uma asquerosa diarreia figadal com origem em neurónios desarranjados. Falta-lhe chá. Mesmo.





DO PONTO DA SITUAÇÃO - ANALISE E PREVISÃO PARA 17/1/2021

Como tenho dito, nos últimos dias tenho estado a fazer previsões sobre a mortalidade por covid com base na taxa de mortalidade e no número dos internados-covid, não para me armar em Zandinga (embora tenha acertado uma vez na mouche), mas sobretudo para acompanhar o estado do SNS. 

Tentarei agora apresentar diariamente dois gráficos actualizados aos dia: um com a previsão com base na linha de tendência (polinomial) e outra com base na taxa de mortalidade do dia anterior, confrontando também com a mortalidade expectável se o SNS estivesse com desempenhos similares a Dezembro (TM 2,5%) e a Outubro (1,5%).

O segundo gráfico é de dispersão dos internamentos com os óbitos, actualizado ao dia), servindo também para aferir se o SNS se encontra em colapso, algo que, de forma clara se começa a observar a partir dos 3.000 internamentos e se exacerba acima dos 3.500. Faço notar acima desse número de internamentos, a amplitude de valores (óbitos) pode ser bastante grande, revelador também de um completo descontrolo.

Obviamente que existe um factor que me parece determinante nos próximos dias: o aumento da temperatura ambiente, que pode condicionar, positivamente, o desempenho do SNS. Aliás, tudo indica que o dia 17 poderá ser baixar a fasquia dos 600 óbitos. Mesmo assim, será o 13º dia consecutivo com mais de 500 óbitos por todas as causas, um valor bastante elevado mesmo deduzindo os óbitos-covid. 

Mais uma vez chamo a atenção que o Governo indicava que existiriam mais de 17 mil camas para fazer face à pandemia. Como se vê, o sistema entra facilmente em ruptura a partir dos 3.500 internamentos.



domingo, 17 de janeiro de 2021

DOS BODES EXPIATÓRIOS OU DA CULPA DE BOLSONARO NO BRASIL E DOS PORTUGUESES EM PORTUGAL

Disclaimer: Não aprecio absolutamente nada Jair Bolsonarp, do ponto de vista ideológico e das suas intervenções (irresponsáveis, quase sempre), quer em geral quer em particular na gestão política da covid. Posto isto, vamos a factos

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Durante a pandemia, o Brasil atingiu um pico de óbitos por covid em 28 de Julho, durante o seu “Inverno” (hemisfério sul): 1.554 mortes. Entre Maio e finais de Agosto, a média móvel (7 dias) esteve sempre a rondar os 900 mortos por dia, tendo depois decrescido e aumentou de novo a partir de Novembro. Actualmente, os óbitos diários estão próximos de 1.000.

Ora, como se sabe, disto tudo, a responsabilidade e a culpa é de Bolsonaro. Nenhuma responsabilidade ou culpa existe para os Governos Estaduais. Muito menos é culpa ou responsabilidade da população.

Mas, vamos lá fazer um exercício simples. Olhemos para o Brasil e para Portugal com olhos decentes e sem estrabismo ideológico e sem miopias emotivas. O Brasil tem 211.755.692 habitantes (segundo o IBGE); Portugal apenas 10.286.263 habitantes. Portanto, o Brasil tem 20,59 mais pessoas do que Portugal.

Sigam então o meu raciocínio (alguns jornalistas já se vão perder): o pico de 1.553 brasileiros mortos naquele pico de Julho corresponde, proporcionalmente, à morte de 75 portugueses. Eh pá! Já tivemos dias acima de 75 mortes? Resposta: já. Tivemos 42 dias acima de 75 mortes. A sério? Claro que sim! E 32 desses dias foram desde 1 de dezembro último.

Pois é, isto de contar sem ter a noção das proporções dá erros destes. Notem: desde 1 de Dezembro, o Brasil (que vive o seu “Verão”) contabilizou 35.488 óbitos por covid, enquanto Portugal conta 4.132. Um jornalista dirá: morreram por covid, neste período, quase 9 vezes mais brasileiros do que portugueses. E assim é, se tivermos a inteligência de um cangalheiro a contar caixões.

Porém, se tivermos neurónios, também nos podemos aperceber que, afinal, os 35.488 óbitos no Brasil correspondem a 1.724 portugueses. Ou seja, afinal a mortalidade por covid desde 1 de Dezembro é 2,4 vezes superior em Portugal. E o nosso pico de mortes (166 no dia 15 de Janeiro) corresponderia a 3.417 mortes no Brasil. Alem disso, na última semana, os óbito diários em Portugal estão, por norma, mais de três vezes superior aos do Brasil.

Claro que se a situação no Brasil fosse agora similar à de Portugal, a culpa era do Bolsonaro. Aqui é dos portugueses. Quando as coisas correm mal no Brasil (e muito menos mal nos últimos tempos em comparação com Portugal), a nossa Imprensa pede a cabeça de Bolsonaro; quando começam a correr mal em Portugal, a nossa Imprensa pede a cabeça dos portugueses. 

E António Costa é um santo homem. A ministra da Saúde idem. E mesmo os quatro ministros que já se infectaram, são umas vítimas do desleixo do Povo.

Deixo-vos, por fim, para se entreterem a ver as diferenças, uma análise diária, desde 1 de Dezembro até 15 de Janeiro, sendo que os óbitos padronizados estão com uma média móvel de 7 dias, tendo em consideração a metodologia brasileira do registo.

E lembrem-se: a situação portuguesa é da culpa dos portugueses.  Repitam isso mil vezes. 

Fonte: Worldometers, INE e IBGE.


DA MORTE E DO PÂNICO

Na última semana tem ocorrido uma situação deveras estranha num país dito desenvolvido: um pico de mortes em meio hospitalar não é acompanhado por um crescimento no afluxo às urgências hospitalares. Julgo que apenas num cenário de terramoto é que seria suposto isto suceder: as pessoas que seguiriam para o hospital estavam já em tão mau estado que uma parte significativa acabaria por morrer; e as outras tão apavoradas ficam pelas réplicas que, mesmo sentindo problemas, não arredam pé dos escombros.

Reparem: nas duas primeiras semanas de Janeiro deste ano, apesar da existência simultânea de uma pandemia (que veio substituir, nesta época, os habituais surtos gripais) e de uma intensa vaga de frio, o afluxo de urgência reduziu-se 32,5% em comparação com o período homólogo dos últimos quatro anos (165.464 vs. 245.290).

Ao invés, a ocorrência de óbitos em meio hospitalar pelas mais variadas causas foi, para o mesmo período deste ano, de 4.922. Houve dias com mais de 400 óbitos, coisa inédita deste que existem registos. O pior ano anterior, para este período, era 2017 com 3952 óbitos em meio hospitalar. 

Temos obviamente que contabilizar, em 2021, o contributo dos óbitos por covid, mas deveríamos também deduzir os óbitos que previsivelmente ocorreriam de pneumonias decorrentes da gripe (que praticamente desapareceram), bem como as mortes que deveriam ser atribuídas a outras causas mas que pela metodologia covid acabam por ser culpa do SARS-CioV-2.

Mas a questão é essencialmente esta: em anos anteriores, as variações da intensidade dos surtos gripais e as vagas de frio tinham uma relação directa com o afluxo às urgência. Significa que se usarmos uma métrica (atenção: uma métrica é um indicador que fornece informação sobre variáveis não necessariamente correlacionadas) que cruze os óbitos em meio hospitalar com a afluência às urgência, essa métrica deve ser constante. 

Porém, vejam o que sucede nos anos de 2017, 2018, 2019 e 2020. Esta métrica sofre ténues variações quer entre anos, quer entre dias do mesmo ano: Comparando estes anos, está relativamente estável entre os 13 e os 17 (óbitos diários nos hospitais por 1.000 utentes atendidos nas urgências). Normal, portanto.

Que sucede em 2021?  Dispara 30 óbitos por 1.000 utentes, tanto por causa do aumento significativo de mortes como pela redução do afluxo às urgência. Mais que duplica em comparação com quase todos os anos. Na segunda semana chega a ter dias com o índice em 37.

Estes valores mostram uma significativa anormalidade do SNS que reflecte o estado do país: perdeu o controlo da pandemia e das outras doenças, ganhou em pãnico da população. O resultado está num lamentável aumento das receitas dos cangalheiros. 

Fonte: SNS e SICO-eVM


DA BOLA DE CRISTAL DE UM ALDRABÃO

O Doutor Scimerdas ( Scimed - Ciência Baseada na Evidência) diz que apenas se equivocou porque viu “o relatório relativo a 4 semanas e não o relatório completo sobre o excesso de mortalidade associado à covid”. E diz ainda que citou na entrevista esse estudo, colocando mesmo o link para uma notícia. Sucede que essa notícia refere-se a um relatório do INE de 11 de Dezembro de 2020 (vd. aqui). A notícia também é de 11 de Dezembro de 2020 (vd. aqui).

A entrevista do Doutor Scimerdas é do dia 1 de Dezembro, ou seja, 10 dia antes.

Começo a ter medo do Doutor Scimerdas. Ele vê o futuro. Ele lê o futuro. Ele vê e lê relatórios hoje que serão escritos e publicados no futuro. Por isso, já viu que todos vamos morrer...

Lá diz o povo: mais fácil apanhar um mentiroso do que um coxo.



DO ESPUMAR DE RAIVA

O Doutor Scimerdas (vd. post anterior aqui) ficou danado por lhe ter posto o rigor com tanta pilosidade como a envolvente da caixa que lhe transporta o vácuo entre as orelhas. Prometeu-me guerra, mas para primeiro tiro foi fraquinho... Diz ainda que circula por aí que tenho a alcunha de Professor Pardal. Um elogio, neste caso. Escolho assim um dos meus heróis de infância como foto de perfil.

DA PATETICE TRAVESTIDA DE RIGOR

Há um médico que, nos últimos meses, zurze com termos pouco meigos em todas as posições e opiniões não-apocalípticas sobre a covid. É "dono" de uma página chamada  Scimed - Ciência Baseada na Evidência, e ainda há dias deu forte e feio na Joana Amaral Dias por ter dito na televisão que, no passado, houve um dia em que morreram 500 pessoas de gripe.

Teve toda a razão o Senhor Doutor Scimed, chamemos-lhe assim, em dar cacetada na psicóloga: efectivamente, nunca houve um dia com tantas mortes por gripe; houve sim alguns dias (p. ex., 2017), em pleno surto gripal, que ultrapassaram os 500 óbitos no total de todas as causas (a média em Setembro, o mês menos mortífero é de 270 óbitos totais por dia). E já houve também anos (Outubro-Maio) com cerca de 8.500 óbitos atribuídos a um surto gripal.  

Eu gosto muito de pessoas rigorosas e não suporto alguns erros. E outras coisas que também não suporto é ver ferreiros com espeto de pau; ou trolhas com telhados de vidro. 

Ora, deu-se o feliz caso de ter esbarrado entretanto com uma extraordinária entrevista, a todos os títulos, do dito médico (acompanhado pelo impagável doutor Gustavo 'vão tudo morrer' Carona), feita em 1 de Dezembro. Regressarei a ela, talvez, porque é um manancial. 

A páginas tantas, o Doutor Scimed responde a uma pergunta (ao minuto 10:10, vd. aqui) sobre o excesso de mortalidade então anunciada pelo Instituto Nacional de Estatística em finais de Outubro, da seguinte forma (sic, mas podem e devem confirmar no link).

"É assim. Segundo as contas do INEM (sic), o (sic) covid ficou com mais de 80% das mortes em excesso. OK, isto são contas do INEM (sic). Eu não olhei para as contas ainda. Percebo que as contas, olhando de uma forma simplista, aponta para esses valores que estão aqui a ser falados, mas de facto o INEM (sic) fez o estudo que diz que 80% são atribuídos ao (sic) covid".

Eu já desculpo que o senhor Doutor Scimed se refira à doença causada pelo SARS-CoV-2 colocando-lhe substantivo masculino. Ele não é obrigado a perceber de gramática. 

Já torço um bocadinho o nariz - mentira: acho divertidíssimo, digno de risota - quando o Doutor Scimed se refere por três-3-três vezes ao INEM (acrónimo de Instituto Nacional de Emergência Médica) como entidade responsável pelo estudo, quando os estudos demográficos são, em geral, e neste em concreto, feitos pelo INE (acrónimo de Instituto Nacional de Estatística). Portanto, estou muito interessado em saber se, mês e meio depois, o Doutor Scimed já olhou as tais "contas do INEM".

Por fim, e isto é objectivamente pior, o Doutor Scimed, assumindo-se que nem passou os olhos pela análise do INE (porque nem o acrónimo conhece), não mostrou o rigor que exige ao outros, e disse mais do que um disparate. Com efeito, a análise do INE referia - e bastava ler o primeiro parágrafo (vd. aqui) - que até 18 de Outubro a covid apenas explicava 27,5% do excesso de óbitos. No final do ano acabaria por rondar os 50%. Em todo o caso, muitíssimo longe dos "mais de 80%" atirados vergonhosamente ao ar pelo Doutor Scimerda.