sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

DA EFICÁCIA HOSPITALAR E DO COMO ISSO PODE FAZER UMA DESGRAÇA

Durante as últimas semanas, Governo e comunicação social tentaram, e conseguiram, criar a ideia da existência de uma relação directa e linear entre casos positivos, internamentos e mortes. Não é bem assim, pelo contrário, como ontem bem demonstrei. 

Com efeito, caso não haja aldrabice na contabilização dos óbitos por covid (para atenuar o excesso de mortalidade não-covid), então Portugal assistiu a uma degradação acentuada dos níveis de eficácia no tratamento hospitalar desta doença nos últimos cinco meses.

Em Setembro e Outubro (Cenário OUT), a taxa de mortalidade diária dos internados rondou 1,5%. Ou seja, sobreviviam (para o dia seguinte) 98,5% das pessoas internadas.

Em Novembro e Dezembro (Cenário DEZ), esta taxa de mortalidade diária subiu para 2,5%, significando assim um agravamento da eficácia hospitalar.

Agora, em Janeiro (Cenário JAN), a taxa de mortalidade está já a rondar os 3,5%. 

Parecendo uma subida pequena, as consequências de uma perda de eficácia hospitalar são dramáticas, mesmo quando estamos a falar de subidas aparentemente perquenas (2 pontos percentuais entre Outubro e Janeiro).

Para se ter uma ideia mais concreta em termos de óbitos, vou começar, sempre se que revelar possível e pertinente, a minha previsão de óbitos para o dia corrente (face ao número de internados do dia anterior e à taxa de mortalidade vigente), confrontando com o número de óbitos (para o mesmo número de internados) que se teriam se a eficácia de tratamento hospitalar estivesse nos níveis de Outubro e de Dezembro (Cenários OUT e DEZ, respectivamente).

Talvez isto recentre o debate: a fatalidade de uma doença, independentemente de ser covid, nunca depende apenas do doente, mas depende sim fortemente do investimento de um Estado nos cuidados de saúde destiados a curar o doente. Isto parecia evidente no passado; parece que o Governo e a Imprensa nos inculcaram a ideia que não; que a culpa é exclusivamente dos doentes que ficam doentes.

Assim sendo, amanhã, a DGS deverá divulgar que morreram ao longo do dia de hoje 160 pessoas com covid. Seriam menos 46 por covid se os hospitais estivessem com a eficácia de Dezembro; seriam menos 92 mortes por covid se estivessem com a  eficácia de Setembro.

Quem não tiver podido ir às livrarias hoje, não tendo assim nada para se entreter, tem aqui um bom ponto de reflexão.

Nota: Não faço esta previsão para me armar em, Zandinga, nem com o objectivo de acertar no Euromilhões. Reparem apenas numa coisa;: se o valor efectivo das mortes for superior ao que indico, então a eficácia do tratamento hospitalar ainda piorou; se o número de óbitos for inferior, então melhorou ligeiramente.

Fonte: Boletins diários da DGS.

DAS ELITES E DOS LIVROS

Em resumo, estamos como estamos na actual situação, má até a nível internacional, por duas simples razões: 1) as infecções na população idosa (mais de 80 anos) está descontrolada, sobretudo por causa dos lares; 2) a taxa de mortalidade dos internados está mais de 3 vezes superior à registada em Setembro (ou seja, mais mortes não se deve sobretudo à existência de mais internados, mas sim ao colapso do sistema de saúde).

No entanto, vejo muitos amigos e conhecidos daquilo que se pode chamar “elites da Cultura”, por aqui, muito ciosas da necessidade de confinamento GERAL de TODA a população, mas sem exigir medidas eficazes de controlo das infecções nos lares e sem exigir responsabilidades ao Governo por não ter reforçado o SNS (durante o Verão) na luta contra a covid sem ser à custa do adiamento de consultas e agora até cirurgias oncológicas (e nem assim será suficiente).

Vejo, no entanto, agora, essas elites tremendamente preocupadas e escandalizadas com a falta de lógica por não se deixar as livrarias abertas. As livrarias.

Porém, acham lógica em tudo o resto. 

Eu acho que, de facto, deveria manter-se as livrarias abertas. Mas só com autorização para vender uns livros de Matemática básica, de como interpretar dados e gráficos, de estratégias de Saúde Pública e sobre manipulação de massas. E esperava, depois, que as elites da Cultura fossem lá a correr em vez de continuarem a olhar para o umbigo. E para que se instruíssem. A Cultura não é só artes.

DO ONDE SE PERDE UMA GUERRA

Sempre assumi, praticamente desde o início da pandemia, ser evidente que a covid era uma doença infecciosa que constituía um perigo efectivo, do ponto de vista da Saúde Pública, apenas para a população mais idosa (maiores de 80 anos), e marginalmente para uma franja de pessoas vulneráveis (com determinadas comorbilidades).

Foram também incontáveis os alertas que fui fazendo, ao longo dos meses, sobre a imperiosa necessidade de encontrar uma estratégia sólida e eficaz para os lares, onde vivem cerca de 100 mil pessoas com uma média de idade a rondar os 85 anos. Também me foi sendo cada vez mais evidente que esse grupo etário dos maiores de 80 anos (que tem constituído cerca de 2/3 do total das mortes com covid) não estavam a ser infectado pelos grupos etários mais jovens segundo uma lógica geracional, isto é, serem os filhos ou netos a contaminarem os pais ou avós.

Na verdade, olhando agora para a taxa de incidência dos casos positivos por grupo etário - que já não actualizava há alguns meses (e houve um pulo enorme deste Novembro) -, mais se confirma um padrão associado à mobilidade e à sociabilidade (vd. gráfico, sobretudo as barras vermelhas). Quem se movimenta mais e socializa mais tem maior probabilidade de se infectar. Com efeito, a incidência dos casos positivos cresce  do grupo etários dos 0-9 anos para os 10-19 anos, e atinge um topo (7,2%) no grupo dos 20-29 anos (estudantes e jovens adultos). A seguir há um contínuo decréscimo nos grupos etários mais velhos, até chegar aos 3,3%, no grupo dos 70-79 anos, a primeira faixa dos reformados. Porém, depois não continua a descer para o grupo seguintes (maiores de 80 anos), e isso é um grandíssimo problema. 

De facto, é a partir dos 80 anos que, claramente, se está a perder a guerra. Numa idade com menores contactos sociais e mobilidade (até em comparação com o grupo dos 70.79 anos), os maiores de 80 anos apresentam actualmente uma taxa de incidência acumulada de 6,8%, a segunda maior, pouco atrás do grupo líder (20-29 anos). Em comparação mais uma vez com o grupo antecessor, o crescimento desde Novembro é colossal, passando de 1,8% para 6,3% (mais 4,5 pontos percentuais), enquanto  na faixa etária dos 70-79 anos se passou dos 0,9% para 3,3% (subida de 2,4 pontos percentuais).

Como é de admitir que a esmagadora maioria das pessoas do grupo dos 70-79 anos não é institucionalizada (ou seja, não vive em lares), enquanto cerca de 15% das cerca de 670 mil pessoas com mais de 80 anos vive em lares, será de admitir fortemente que é nos lares que está a raiz do problema. Ou seja, são os cerca de 100 mil idosos institucionalizados em lares que estarão a "empurrar" para cima a elevada taxa de incidência dos maiores de 80 anos.

Quanto? Ninguém sabe porque as informações sobre a situação dos lares continua sem ser validada e conhecida com rigor. Custa a DGS divulgar esses dados com detalhe, e nem parece que haja medidas no terrenos para inverter esta elevadíssima taxa de incidência (só desde o início do ano, em 13 dias apenas, subiu ,2 pontos percentuais).

Vejam que é aqui que estamos a perder a guerra (como, aliás, uma parte importante dos países do mundo ocidental). E não devia acontecer. Numa estratégia eficaz, seria, digo eu, aceitável e até exigível que a taxa de incidência dos maiores de 80 anos fosse (não digo já menor) similar à da faixa dos 70-79 anos, isto é, 3,3%, em vez dos 6,3%. Se assim fosse, significava que em vez de se contabilizarem 42.057 casos positivos desde o ínicio da pandemia, se teria afinal 22.374 casos, o que significava menos 19.683 infecções. E isto é muito.

Se em populações jovens, mais mil menos mil casos positivos, e mesmo mais 20 mil ou menos 20 mil, vai dar ao mesmo (ou seja, níveis nulos ou quase nulos de mortalidade), nos maiores de 80 anos essas diferenças contam. E muito.

De facto, se a taxa de incidência nos maiores de 80 anos fosse de 3,3%, em vez de 6,3%, uima redução dos tais 19.683 casos positivos significaria, à actual taxa de letalidade de 15%, menos cerca de 2.950 vidas perdidas.

Vejam bem. Vejam porque tenho insistido na questão dos lares, e considerado ser um esforço inglório, inútil e contraproducente (de todos os pontos de vista) as tentativas de controlar todas as infecções por covid na população, perante a baixíssima gravidade para a esmagadora maioria da população portuguesa. A guerra contra a covid está nos lares, onde sim é bastante mortífera, sobretudo por via das debilidades quer dos utentes quer das próprias instituições. 

Confesso que as mudanças estruturais para reformar os lares teriam de ser hercúleas, mas não seria melhor isso do que assistirmos a estúpidos confinamentos, ao colapso da vida social, da Economia, da própria Saúde Pública? Torna-se premente tratar esta pandemia com racionalidade, de contrário continuará a causar (ou causará) mais mortes colaterais do que o próprio vírus. E não salvaremos os velhos.



quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

DO GOVERNO DO POVO E DOS CONFINAMENTOS

Faz todo o sentido que, desde Outubro, um Governo com uma taxa de incidência de covid de 15,0% (3/20 ministros) desde Outubro mande confinar o Povo que, em igual período, regista uma taxa de incidência de 4,3%, porque se andou a portar mal. O povo! Não os ministros!

N.B. - Agora com dados: desde 1 de Outubro registaram-se 437.741 casos positivos, correspondentes a 4,3% da população. Se a taxa de incidência da população fosse similar à dos membros do Governo (15%), entâo haveria 1.527.003 casos positivos. Muito bem se anda a portar os governados face aos governantes.



DAS REVELAÇÕES OU DA HISTÓRIA DO ACERTO NA PREVISÃO E OUTRAS COISAS MAIS IMPORTANTES

O prometido é devido.  E gostaria muito que esta longa explicação fosse lida pelo maior número possível de pessoas.

Vou explicar como esta madrugada, previamente acertei, até à unidade, na mortalidade por covid anunciada esta tarde pela DGS.

Porém, mais importante do que isso, desejo demonstrar que estamos perante um de dois cenários:

Cenário 1 – O tratamento dos doentes-covid piorou assustadoramente desde Setembro, e sobretudo a partir de Janeiro.

Cenário 2 – Sobretudo com a vaga de frio deste Janeiro, a DGS está a manipular as estatísticas da mortalidade por covid para “mascarar” acréscimos de mortalidade não-covid, que denunciariam o colapso do SNS na assistência de outras doenças com repercussões nos óbitos totais.

Talvez a melhor forma de compreenderem será através de uma analogia.

Imaginem que têm um café e eu vos empresto 100 copos para servir 100 clientes. No dia a seguir, vocês dizem-me que um se partiu. Posso dizer que 1% dos copos se partiram. Aplicando aos internamentos da covid (e sempre com base nos dados da DGS), dir-vos-ei que em Setembro, em cada 100 internados num determinado dia, observava-se sensivelmente uma morte no dia a seguir. Ou seja, tal como nos copos, a taxa de mortalidade nos internamentos era de 1% (vd. nota 1 em baixo).

Imaginem agora que o fluxo de clientes do café (ou internados covid) aumentam para 1.000 clientes e, portanto, eu vos empresto 1.000 copos. Por causa desse aumento em 10 vezes do número de copos, já eu sabendo que se partia 1 em cada 100, eu esperava que se partissem 10 copos. Porém, no dia a seguir vocês avisam-se que se se tinha partido 25 copos. Ou seja, partiram-se 15 copos a mais do que seria expectável, e portanto a “taxa de mortalidade” dos copos passou de 1% para 2,5%. Este valor de 2,5% corresponde à taxa de mortalidade que, efectivamente, se passou a observar entre a segunda metade de Novembro e todo o mês de Dezembro nos hospitais com internados por covid.

Isto é, a mortalidade absoluta por covid decorreu do aumento de pessoas internadas (a média diária de pessoas em internamento em Setembro foi de 491; e na segunda metade de Novembro e em Dezembro subiu para uma média de 3.119), mas também houve um agravamento porque se passaram a partir mais copos, ou seja, a não sobreviverem em cada dia do último mês do ano tantas pessoas,  em proporção, como sucedia em Setembro.

Como espero que já tenham percebido a mecânica, abandono a analogia dos copos, e centro-me no que aconteceu em Janeiro com os doentes-covid. Apesar de um aumento diário do stock diário de internados (resultante dos internados do dia anterior e dos fluxos de entradas e saídas), que levou a uma subida de 2.858 em 1 de Janeiro parar 4.368 no dia 14 de Janeiro – e que, por si só, resultaria num acréscimo de mortalidade, aquilo que se observou foi um nova e impressionante escalada na taxa de mortalidade dos internados, de sorte que, num pulo, se passou a situar próximo dos 3,5%, se considerada, como fiz, a média móvel de sete dias. Ou seja, indica uma redução de taxa de sobrevivência diária nos internados de 96,5% no dia de ontem, o que contrasta com cerca de 99% em Setembro. 

Isto pode parecer uma coisa de pormenor, mas tem um efeito brutal na mortes por covid. Com efeito:

a) Se eu aplicar uma taxa de mortalidade de 3,5% aos internados do dia 12 de Janeiro (4.220), eis que obtenho os 148 óbitos para o dia 13 (ontem), o valor que adivinhei (AQUI ESTÁ A REVELAÇÃO MUI SIMPLES).

b) Se eu aplicar uma taxa de mortalidade de 2% (que era a que tinha, com muito ligeiras variações, entre a segunda metade de Novembro e o final de Dezembro) aos internados do dia 12 de Janeiro (4.220), teria então 106 óbitos. Ou seja, menos 42 pessoas mortas apenas num só dia pelo efeito exclusivo da taxa de mortalidade. 

c) Se eu aplicar uma taxa de mortalidade entre 1% e 1,5% (que foi a que se registou em grande parte de Setembro e Outubro) aos internados do dia 12 de Janeiro (4.220), teria então entre 42 óbitos (taxa de 1%) e 63 óbitos (taxa de 1,5%). Ou seja, entre menos 85 e 106 pessoas mortas apenas pelo efeito da taxa de mortalidade. 

Reparem não são valores irrelevantes, mesmo nada irrelevantes, e recentram, na minha opinião, a discussão em termos da eficácia do SNS na resposta à epidemia. Sendo certo que existe uma relação entre maior número de internados por causa do aumento de casos positivos, existe um efeito importantíssimo na eficácia dos serviços hospitalares. 

Este brutal e muito repentino agravamento da taxa de mortalidade pode ter várias explicações (entre as quais a maior debilidade dos internados por causa da repentina vaga de frio), mas também pode resultar na incapacidade do Governo no reforço do SNS para o atendimento dos doentes-covid, não ainda ao nível de camas, mas nos recursos humanos. Ou seja, não podemos continuar a aceitar que o ónus do problema fique sistematicamente do lado dos infectados, quando, na verdade, está muito no lado do SNS, na sua capacidade de resposta ao afluxo de internados.

Porém, e seria bom que os médicos dos hospitais (e a su Ordem) se pronunciassem, e que nos digam se sim ou se não estão a conseguir salvar, proporcionalmente agora, tantas pessoas como em Setembro. E se não estão, porquê. 

Porque se afinal estão a salvar a mesma proporção (isto é, a taxa de mortalidade não se mexeu), então tem de se concluyir que a DGS anda a manipular dados para não mostrar que há excesso não-covid (Cenário 2); só que, fazendo-o, deixa um “rabo” de fora. 

Na verdade, não há grande escapatória: se não está a suceder um acréscimo de óbitos não-covid por causa da ruptura do SNS, está então a ocorrer um acréscimo não natural de mortes por covid por causa da ruptura do SNS. Não há mesmo escapatória possível. A não ser andar a culpar os portugueses, tornado-os bodes expiatórios, mas sem a parte do expiatório.

Nota 1: O número de internados anunciados é o “stock” ao final do dia decorrente do número de internados no dia anterior, adicionados aos novos internamentos e deduzidas as saídas, que podem ser por duas vias: os doentes que receberam alta e aqueles que faleceram. A taxa de mortalidade do dia N é, assim, a divisão dos óbitos nesse dia pelo todos os internados do dia anterior (que era a população susceptível de morrer). Noutro prisma, por exemplo, uma taxa de mortalidade no dia N pode ser “transformada” em taxa de sobrevivência dos internados do dia N-1 no dia N, quer porque continuavam internados quer porque tinha recebido alta. 



DA MAGIA DOS NÚMEROS

Garanto-vos que não tive esta madrugada (6h30) acesso antecipado à base de dados da DGS sobre as mortes por covid. Mas como podem ver (e não fiz acertos, como basta observar nas edições do post, para quem não o leu) acertei na "mouche" há 9 horas quando adiantei que iriam ser anunciadas estas tarde 148 mortes por covid.

Adivinhei? Nã! Descobri apenas como se consegue prever as mortes que o Governo vai anunciando. E não dependem sequer do número de casos positvos. 

Mais tarde explico a "magia"...




DAS ESCOLHAS

Há pessoas que gostariam que não vivêssemos para não morrermos.


DO PORTUGUÊS E MEIO OU DO RIDÍCULO

O Público continua a desbobinar números como uma máquina acéfala. Como sabemos, algum jornalista engraçou com a Índia e, mesmo existindo máquinas de calcular, não as sabe sequer usar. Publica tudo. Porta-se como muitos copistas da Idade Média que, na verdade, nem sabiam ler: apenas copiavam o formato das letras de um livro para as páginas de outro.

Hoje lá vem mais um número merecedor de destaque noticioso: ontem, morreram de covid 198 indianos. Como a Índia tem cerca de  1,353 mil milhões de habitantes, isto corresponde cerca de um português e meio. Ontem, em Portugal, o Governo disse-nos que morreram, por cá, morreu-se proporcionalmente 100 vezes mais.

P.S. Estou a imaginar alguém na Índia a escrever um post: “vejam lá que em Portugal, um minorca país no extremo da Europa, no dia 12 de Janeiro deixou-se morrer 156 pessoas com covid numa população de apenas 10,3 milhões; se tivéssemos essa proporção então em vez dos nossos 198 compatriotas mortos iríamos lamentar 20.492”.

DA PREVISÃO

Não sou o Zandinga, mas direi que esta tarde a DGS indicará 148 óbitos por covid (mais coisa menos coisa). 

Eu, mais tarde, virei aqui explicar que deveriam ser 64 (valor aproximado), se o SNS estivesse a trabalhar como em Setembro e parte de Outubro; ou 106 (valor aproximado), se o SNS esttivesse a trabalhar como em parte de Novembro e Dezembro. Depois explico... com contas e gráficos. Com base em dados oficiais, como sempre. Aqui nada se inventa.



quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

DA “PANDEMIA” DO FRIO

Em Setembro morrem em média cerca de 250 pessoas por dia. Em Dezembro, por causa da gripe e do frio, em ano normal é expectável que esse valor seja de 400. Significa que gripe+frio causam, grosso modo, directa e indirectamente 150 óbitos. 

Ontem e anteontem morreram, em cada dia, qualquer coisa como 650 pessoas. Destas, sabemos agora que 150 morreram de covid, que substituiu completamente a gripe e sobretudo doenças mortíferas associadas (pneumonias e afins). 

Então, se acrescentarmos aos 150 óbitos a tal mortalidade base (250), devíamos estar a ter 400 óbitos. Porém, tivemos 650! Donde significa que o frio é a “pandemia” ignorada por estes dias: matou, grosso modo, directa e indirectamente, 250 pessoas em cada um destes dois dias. Uma coisa não falada, obviamente, pela ignara Imprensa. E isto, não tenho dúvida, se deveu muito por o SNS estar em colapso.

DA PERGUNTA PARA OS ESPECIALISTAS

Este gráfico, que vos apresento, mostra a evolução de um indicador de mortalidade no mês de Dezembro, com base nos óbitos totais na população entre 1960 e 2020, e ainda no peso da respectiva população (idosa) com mais de 65 anos. 

Não sendo uma taxa bruta de mortalidade, a sua evolução indica (é um indicador, está visto!) quais os anos, em termos comparativos, mais "perigosos" para os idosos, ou seja, onde existiu uma maior probabilidade de se finar. Ou seja, dá para comparar anos, "descontando" o efeito envelhecimento (e até porque um idoso de 65 anos nos anos 70 não é exactamente igual a um idoso da mesma idade na presente décadas)  

Assim de repente, acham que o Dezembro de 2020, o ano da pandemia, foi assim tão mau?

Têm a palavra os especialistas... e o Governo que nos vai confinar... Tipo compota.

Nota "humorística": O Dezembro de 1969 ter sido o pior da série não se deve ao facto de eu ter nascido no mês anterior. Terá sido efeito da gripe de Hong Kong que chegou então a Portugal.

DOS INQUÉRITOS EPIDEMIOLÓGICOS E DOS BRUXOS

Parece que, por falta de pessoas, não se fizeram os inquéritos epidemiológicos necessários e, portanto, os surtos andaram a engrossar à “vontadex” nas últimas semanas. Nada disto, ó Céus, foi culpa do Governo, esses Santos! A culpa foi dos doentes. Sempre.

Entretanto, temos “especialistas” que peroram com base no desconhecimento da origem de 87% dos casos de infecção. E portanto, recomendam, com ar sabichão e pesaroso, e com salário reforçado por consultadorias e eventuais alcavalas, que se meta toda a gente em casa, para que a contaminação de toda a família fique bem garantida.

Esta gente não sabe o que anda a fazer. São tão bruxos como o Zandinga.

DO NOVELO DE BELÉM

Agora é o chefe de segurança do Presidente que testou positivo. Que fazer?! Fazem-lhe mais testes como a Marcelo? Vai mais testes fazer Marcelo? Vão esses testes ser negativos? Positivos? Posinegativos? Negapositivos? Cebolas? Cebolas?! Sim! Ou sabonetes, para rimar! Ou não!

Não perca os próximos capítulos do "Novelo de Belém"...



terça-feira, 12 de janeiro de 2021

DO NOVO NORMAL EM QUE O ESTADO/GOVERNO DEIXA DE TER RESPONSABILIDADES E NOS APONTA CULPAS (E MUITOS, QUASE TODOS, ACEITAM)

* Em Julho morreram mais de 2.000 pessoas do que a média, sem que a covid estivesse particularmente activa? A culpa nunca será do Estado por não ter um plano para atenuar os efeitos de uma vaga de maior calor; foi dos velhotes que não percebem que podem morrer desidratados.

* Morrem pessoas porque foram adiados diagnósticos? A culpa não foi do Estado/Governo por não ter investido no reforço do SNS; foi das pessoas que ficaram doentes.

* Morrem pessoas por falta cirurgias? A culpa nunca será do Estado/Governo; foi das pessoas que andaram a estragar o corpo com vícios diversos.

* Morrem pessoas por má configuração e sinalização das estradas? A  culpa não é do Estado/Governo; é sempre das pessoas que conduzisse, porque se não conduzissem não havia acidentes.

* Morrem pessoas de ataques cardíacos por causa do medo incrustado e evitam hospitais? A culpa não é do Estado/Governo; é das pessoas que andaram a comer gorduras e sal.

Entretanto: 

* nos 11 primeiros dias de Janeiro um total de 5.741 pessoas contra 4.358 pessoas que morreram, em média, nos cinco anos anteriores homólogo;

* ontem, dia 11 de Janeiro, morerram 636 pessoas, ultrapassando pela primeira vez a fasquia dos 600 óbitos num dia (desde que há registos, a partir de 2014);

* contabilizando hoje, estamos com 8 dias consecutivos com mais de 500 óbitos (diários), sendo que no período 2009-2020 apenas tinham ocorrido três dias a ultrapassar a fasquia dos 500 óbitos;

* ontem, pela primeira vez desde que há registos diários, morreram mais de 400 pessoas nos hospitais (402).

NADA DISTO, repito: nada disto é culpa do Estado/Governo, que não tinha de investir no SNS; não tinha de ter um plano de contingência para a vaga de frio desta última semana; não tinha de ter um plano eficaz de controlo da pandemia nos lares (onde morreram mais de 33% das vítimas por covid, apesar de só lá viverem menos de 1% da população portuguesa). Não tinha de fazer nada.

A CULPA DE TUDO é apenas das pessoas. SOBRETUDO daquelas que andaram em mundanos festejos de Natal e de Anio Novo. Incluindo mesmo as monjas do Mosteiro da Imaculada Conceição de Campo Maior. E só não incluio o Presidente da República, porque afinal não está infectado (ou afinal estava, segundo o Doutor Simas).

A partir daqui, minhas senhoras e meus senhores, o Estado/Governo nunca terá culpa de NADA. Desemerdem-se. E agradeçam cada açoite do Estado/Governo, porque a culpa será sempre vossa.

DO MALABARISTA SIMAS, TAMBÉM CONHECIDO POR PEDRO SIMAS

No início da pandemia. confesso-vos que apreciei bastante a postura do virologista Pedro Simas, pela forma descontraída, e até pedagógica, como abordava a "vida" dos vírus entre os humanos, colocando em correcta perspectiva os "estragos" da pandemia até à fase em que o SARS-CoV-2 se tornaria endémico (mesmo que continuando a matar pessoas, como sucede com o H3N2, que nos "visita" periodicamente desde que causou a gripe de Hong Kong, que, apenas no período 1968-1969´, matou entre 1 e 4 milhões de pessoas).

Porém, com a crescente atenção pública e política sobre si, deslumbrou-se (vejam a sua felicidade há uns tempos quando foi convidado para cozinhar no programa da Cristina Ferreira), além de ainda ter tido tempo para se meter em "negócios" de feitura de máscaras anti-covid nos intervalos de perpétuo comentador da imprensa.

Ver alguém mudar de forma tão drástica de postura, passando a alguém que defende agora confinamentos e restrições a torto e a direito, já é um pouco lamentável. Vê-lo a aldrabar, já passa dos limites. 

Disse ele hoje na SIC que os falsos positivos são raros (coisa que revistas internacionais mostram que não são nada, pela simples aplicação do Teorema de Bayes), afirmando ainda que, no caso do teste positivo (seguido de vários negativos) de Marcelo Rebelo de Sousa, seria pouco provável que se estivesse perante um "falso positivo", alegando que laboratórios de investigação que realizam este tipo de testes têm elevado controlo de qualidade.

Sucedem, porém, duas coisas. Em investigação não há a pressão de fazer testes à pressa nem se analisa as quantidades que se andam a fazer nos últimos meses. O erro humano na recolha e processamento das amostras (que determina os falsos positivos) é incomensuravelmente superior nos laboratórios que agora analisam os PCR em relação a laboratórios de investigação. Além disso, os laboratórios que processam dezenas de milhares de testes por dia não estão, pelo que sei, a ser alvo de qualquer vistoria e/ou controlo de qualidade. Mais: há agora no mercado uma quantidade enorme de tipos de testes PCR de empresas distintas (há largas centenas), algumas sem garantias de qualidade. Por exemplo, a FDA (uma espécie de Infarmed norte-americano, em ponto melhor) tem vários casos de testes PCR retirados do mercado por falta de qualidade (vd. aqui). Ignoro se algumas destas marcas estejam presentes em Portugal.

[Já agora, a FDA tem uma excelente explicação sobre a probabilidade dos falsos positivos, sobretudo para os testes de antigénio, impingindo por cá pela Cruz Vermelha, que deveriam levar a que se deitasse tudo ao lixo, cf. se pode observar aqui]

No entanto, o mais surpreendente de Pedro Simas foi vê-lo a encontrar uma obtusa hipótese para o caso Marcelo, enquanto descartava o "falso positivo" ou uma infecção inicial (que determinaria uma "recomendação" de quarentena). Disse ele que tudo apontaria para que Marcelo estivesse na "fase final da infeção".

Desculpem: Pedro Simas está a brincar com o pagode ou com as pessoas com alguns neurónios. Marcelo, já se sabe, é talvez o português que mais testes à covid fez, de tal modo que arrisca a ficar com as narinas á Savimbi por causa de tantas zaragatoas pelo nariz dentro. Como pode assim estar em numa fase final de infecção sem nunca ter sido testado?

O malabarista Simas responderia, por certo, já o estou a imaginar: "porque os testes negativos anteriores afinal estavam errados. Ou seja, os seus testes negativos eram 'falsos negativos; Marcelo estava doente mas não sabia por estar assintomático, E assim por causa dos falsos negativos é bom confinarmos toda a gente". 

A Ciência é agora isto.

P.S. Mas para saber se Marcelo está na fase final de uma infecção, há uma prova dos 9: fazer um teste serológico. Porém, só se fosse num laboratório de Marte, porque a confiança que eu tenho agora aos nossos laboratórios está abaixo de zero.