domingo, 10 de janeiro de 2021

DO CHOVER NO MOLHADO COM MAIS UM GRÁFICO QUE A IMPRENSA "STRAIGHT" NUNCA COMPREENDERÁ

Falar na mortalidade em ano de pandemia sem considerar, por exemplo:

a) que em 1960, Portugal tinha 8,85 milhões de habitantes, e agora tem 10,27 milhões (+ 16%);

b) que em 1960, Portugal tinha 711 mil pessoas com mais de 65 anos (8% do total), e agora tem 2,3 milhôes (22% do total), ou seja, aumentou cerca de três vezes o número da sua população idosa.

c) que em 1960, a esperança média de vida era de 63 anos, e que agora aproxima-se dos 82 anos (aumento de 19 anos de vida;

dizia eu, que falar dos efeitos da pandemia sem considerar isso (e contabilizando apenas mortes absolutas e ficando chocado com a quantidade de idosos que perde a vida; e perdem a vida cada vez mais de outras doenças não-covid), é ostentar um atestado de ignorância. 

Se quiserem ter uma percepção do efectivo impacte da pandemia da covid num contexto histórico (vá lá, de 60 anos), um indicador interessante é o índice de mortalidade total face à população idosa (neste casos de mais de 65 anos). Atenção: não é uma taxa directa de mortalidade, mas sim um indicador da incidência da mortalidade que permite "atenuar" o efeito envelhecimento num eventual aumento da taxa de mortalidade.

Ou seja, mesmo que haja uma tendência de aumento absoluto da mortalidade, se essa situação ocorrer sobretudo por via do envelhecimento da população (e por um menor número de nascimentos), este indicador pode perfeitamente mostrar uma "saudável" tendência decrescente. Ou seja, um aumento da taxa de mortalidade nem sempre corresponde a um agravamento das condições de vida (e de morte). Aliás, será estúpido achar que estamos agora pior por termos uma taxa de mortalidade de 12 por mil do que nos anos 80 quando estava abaixo dos 10...

Sendo assim, vejam como evoluiu este índice de mortalidade entre 1960 e 2020, e sobretudo o pequeníssimo crescimento causado pela pandemia (covid e efeitos colaterais) em 2020 face ao anos imediatamente anteriores. Houve apenas um pequeno aumento de 48,9 óbitos totais por 1.000 idosos em 2019 para 53,8 em 2020, mas esse valor está ao nível do verificado em 2010. A subida em 2020 está longe de ser catastrófica, e nem pouco mais ou menos. Aliás, amanhã falarei dos meses mais mortíferos desde 1960...

Mas sobretudo notem como estavam os valores na primeira década do presente século, ou nos anos 90. Isto já sem falar nos anos do Estado Novo.

Achar que vivemos um período jamais visto, é sobretudo mostrar ignorância sobre a História. Vivemos na melhor das épocas para vencer uma pandemia, com recurso à Racionalidade e à Ciência, mas infelizmente, com a ajuda da Imprensa, os Governos lançaram-nos numa deriva típica da Idade das Trevas onde o pânico e medidas obtusas matarão mais do que a doença.

Fonte: Eurostat (mortalidade mensal em Portugal entre 1960-2018) e SICO-eVM (mortalidade em Portugal em 2019 e 2020); Banco Mundial (população total e população com mais de 65 anos entre 1960 e 2019).



DA NARRATIVA DE CATÁSTROFE OU DO INCITAMENTO AO PÂNICO PELA IMPRENSA

Lá continua a nossa Imprensa com o seu trabalho "nojento", preguiçoso  e irresponsável (não sei como muitos ainda bons jornalistas não se insurgem) na propagação do pânico, nesta fase para fazer a "cama" a mais um absurdo confinamento (e desaconselhável, vejam lá, até pela Organização Mundial da Saúde). Quem ouvir as notícias incessanets dos últimos duas fica com a certeza absoluta de que o fim do Mundo vem aí, sendo que a ruptura (inédita() claro das Urgências hospitalares é um forte sinal.

Será assim? Vamos meter aqui um "Pológrafo" à Imprensa.

Estive a "divertir-me" na última meia hora a pesquisar a situação online das urgências, em tempo real, de um vasto conjunto de hospitais espalhados pelo país (vd. link em baixo). Deixo aqui, em tempo real, a informação sobre o número de pessoas nos serviços de Urgência em 12 hospitais e centros hospitalares (CH), sendo que a informação foi retirada entre as 19h00 e as 19h30:

Santa Maria (Lisboa) - 13 pessoas

São José (Lisboa) - 2 pessoas

São João (Porto) - 2 pessoas

Garcia da Horta (Almada) - 6 pessoas

C.H. Vila Nova de Gaia-Espinho - 12 pessoas

C.H. Baixo Vouga (Aveiro) - 11 pessoas

Pombal - 1 pessoa

Amadora-Sintra - 44 pessoas (talvez o único com número elevado)

São Teotónio (Viseu-Tondela) - 9 pessoas

Setúbal - 17 pessoas

C.H. Tâmega e Sousa - 4 pessoas

Beatriz Ângelo (Loures) - 12 pessoas

Se isto é o caos; digam-me o que é o caos.

Esta "cultura" do medo, falseando a situação, provocando pânico injutificado, orquestrado pela Imprensa não é apenas irreponsabilidade. É deplorável do ponto de vista deontológico. E devia ser criminalizado,. A Imprensa começa a dar-me asco. E ninguém lhes mete travão.






DA INDIFERENÇA AOS VELHOS DOS LARES E DO ESTADO DA DEMOCRACIA

A Rádio Renascença, mui católica e solidária, está muito preocupado com as criancinhas, e vai daí acompanha  a par-e-passo os casos positivos nas escola. Sucede que, por agora, a covid matou duas pessoas com menos de 20 anos (ambas com graves comorbidades), pelo que a pneumonia até é mais grave (antes da pandemia, matava geralmente mais de uma dezena de crianças por ano).

Quanto a informação sobre a situação dos idosos, e particularmente, dos idosos nos lares (que são SÓ o grupo mais vulnerável á covid), népia. Nem a Rádio Renascença nem nenhum outro órgão de comunicação social se preocupam em apurar, com rigor, quantos idosos em lares vão sendo contaminados, quantos funcionários, quantos destes vão morrendo, etc., etc., etc.. Fazem-se algumas notícias de casos isolados, aqui e ali, mas dados concretos, rigorosos, fiáveis, nanja!

Não se sabe nem ao dia de hoje, nem ao dia de ontem, nem ao dia da semana passada nem ao dia do mês passado, quantos idosos foram infectados, quantos ainda estão positivos, quantos morreram, etc. Nada. Nem a imprensa quer saber, nem a DGS se sente na obrigação de divulgar nem o Governo parece muito interessado que se saiba. A ministra da Saúde anuncia quando e como quier uns dados desactualizados e nunca validados, mesmo se supostamente existe uma base de dados oficial com essa informação.

Isto causa-me pasmo, porque existem indícios de a situação dos lares em Portugal estar caótica, e sobretudo porque, ao contrário de Portugal, em muitos países se mostra muito fácil saber aquilo que se passa nos seus lares. Basta uma consulta na Internet.

Um exemplo passa-se  nos Estados Unidos, onde a American Association of Retired Persons (AARP) - uma organização com 58 milhões de membros - possui uma interactiva base de dados onde constam, a nível nacional e por Estado, a situação mensal dos lares ao nível dos casos positivos, de mortes, de surtos, de funcionários infectados e até de material de protecção (vd. aqui).

Esta transparência, mesmo quando se tem de mostrar casos poucos agradáveis, é o que destaca uma verdadeira democracia. 

Podemos não ter, como os Estados Unidos, invasões selváticas da Assembleia da República, mas falta-nos ainda uns bons "centímetros" de transparência para que sejamos uma verdadeira democracia. 


sábado, 9 de janeiro de 2021

DA COVID QUE ESCONDE TUDO O RESTO

Seria muito interessante que o Governo divulgasse as mortes por covid em cada distrito, porque de repente, nestes dias de frio de início de Janeiro de 2021, está tudo baralhado, sobretudo quando se olha para o que aconteceu em Dezembro. 

No Alentejo, nos primeiros oito dias de 2021 registam-se acréscmos de óbitos superior a 60% (face à média). Isso não sucedeu em Dezembro, que incluiu o Natal. Nos distritos de Braga e Porto, particularmente flagelados em Dezembro, estão agora com aumentos mais modestos.

Em Lisboa, o distrito que regista mais mortes (maior população e elevada taxa de envelhecimento), nos primeiros oito dias de 2021 morreram 836 pessoas, contra uma média de 616. São 220 pessoas a mais no período; 28 pessoas a mais todos os dias. Morreram todas por covid? Que se anda a passar neste pobre país? Convinha esclarecer.

E sobretudo precaver. Temo que a onda de frio vá causar um morticínio durante os próximos dias (previsivelmente, hoje será mais um dia a superar os 500 óbitos), mas será ignorado. Desconfio que oficialmente não haverá excesso de mortes por doenças relacionadas com o frio (e por ausência de medidas), porque vai tudo parar à covid. O Governo já viu que o número de mortes por covid não lhe afecta a popularidade (pelo contrário, porque a Imprensa já tratou de culpabilizar os portugueses), pelo que sempre pode "turbinar" a contabilidade das vítimas da pandemia, de modo a eliminar na "secretaria" qualquer sinal de coplapso do SNS. O SARS-CoV-2, está visto, pode ser microscópico, mas tem as costas largas. E os portugueses vendas nos olhos.

Fonte: SICO-eVM


DO DESCALABRO DE NOVEMBRO DE 2020 QUE COMEÇOU NO PORTO E BRAGA ENQUANTO NOS ACONSELHAVAM A OFERTAR COMPOTAS

O Governo e a sempre colaborativa Imprensa, mais os especialistas de serviço (Froes, Simas, Mexia, etc.), têm tratado de culpar os malvados portugueses por, no Natal e Ano Novo, se terem portado mal.

O Governo, neste passa-culpas, continua no seu  corrupio de restrições legais, mas sempre às cegas, como barata-tonta. Confia que, quanto mais pareça que faz, não se note que, na realidade, faz pouco e mal. E por isso se abalança para mais um confinamento que destruirá a Economia sem quaisquer vantagens para a Saúde Pública e, sobretudo, para a nossa saúde individual. 

Entretanto, eu, simples "não-especialista", quanto mais análises faço, mais constato que o Governo e mais os seus especialistas em R0 e modelos matemáticos XPTO não sabem aquilo que andam a fazer, por andarem obcecados em testes PCR, em R0, em casos positivos totais e modelos de previsão XPTO, em vez de se focarem em indicadores objectivos, mais simples e eficazes para detectar quando e onde começam os problemas. 

Para mim, o indicador dos indicadores é a mortalidade total, porque, cruzando com outras variáveis, dá uma imagem quase perfeita da realidade.

Estou a fazer outras análises mais complexas e detalhadas, mas deixo aqui uma pequena parte que mostra como o descontrolo não surgiu com as festividades natalícias e de Ano Novo, mas muito antes, em Novembro.

Com efeito, pegando na evolução da mortalidade ao longo dos meses, sabemos que houve em Portugal um repentino salto dos óbitos em Novembro, mas ignora-se (porque a DGS continua a recusar divulgar óbitos por covid em cada distrito) em que regiões tal se verificara com maior magnitude.

Pois bem, de forma indirecta, analisando a mortalidade total por distrito, fica patente que há sobretudo dois distritos que se evidenciaram subidas abruptas em Novembro: Braga e Porto, que registam crescimentos de mortalidade neste mês superiores a 50% em relação à média (2014-2019). No mês de Outubro, os crescimentos eram de 16% e 28% face à média em período homólogo, praticamente em linha com a maior parte dos outros distritos.

Noutros distritos da região Centro (Aveiro, Coimbra, Leiria, Viseu, Castelo Branco e Viseu), o crescimento também foi considerável, sobretudo tendo em conta o mês anterior (Outubro). Por exemplo, no distrito de Coimbra o mês de Outubro até tinha sido menos mortífero do que a média (-1%), mas em Novembro passara a ser 22% mais mortífero do que a média.

Mas apesar desta evolução preocupante, que fez o Governo em concreto nestas regiões ainda em Novembro (porque o SICO permite um acompanhamento em tempo real) e em Dezembro? Analisou se se devia à covid ou a outros factores? Que fez que se tenha sabido? Nada de muito concreto que não fosse as restrições bacocas ao fim-de-semana e o recolher obrigatório genérico. 

Como nada se fez, vejam aquilo que sucedeu em Dezembro. Neste mês (e não foi só na pelo que aconteceu na última semana do ano), 9 distritos tinham excesso de mortalidade face à média superior a 25%, quando em Outubro eram apenas dois. E ter mais de 25% de óbitos num mês já mortífero é bastante em termos absolutos. 

E vejam como essa disseminação do problema tem uma base regional, tendo como "epicentro" Braga e Porto, e irradando a partir daí para outras regiões. Por agora, em Dezembro, o acréscimo fazia-se sentir em toda a região Centro, mas não muito ainda no distrito de Lisboa (onde o acréscimo de mortalidade anda presente, mas não demasiado variável desde o início da pandemia).

No meio disto, nota-se que Beja e Faro estão, por agora, livres dos efeitos directos e indirectos da pandemia, tendo apresentado mortalidade em linha ou abaixa da média. Mas pode ser sol do pouca dura: em Outubro, o distrito de Évora também apresentava mortalidade abaixo da média. Em Dezembro já estava 21% acima.

Em suma, precisamos urgentemente de alguém que, em termos de estratégia de Saúde Pública, saiba mais do que aconselhar ofertas de compotas.



DA BOTA E DA PERDIGOTA

Pelo quarto dia consecutivo, Portugal teve mais de 500 óbitos num dia. Pelo sexto dia consecutivo houve mais de 200 óbitos entre a população com mais de 85 anos. Pelo quarto dia consecutivo, os hospitais registam muito mais de 300 óbitos por dia. 

Desde que existem registos, tal nunca sucedera. Em apenas  oito dias deste ano houve mais dias superando os 500 óbitos do que em todos os dias do período entre 1 de Janeiro de 2014 e 31 de Dezembro de 2020.

Entretanto, as urgências em Janeiro de 2021 estão nos níveis mais baixos para período homólogo desde que há regstos. Estão mesmo abaixo da afluência às urgência dos mais amenos dias de uma luminosa Primavera ou das suaves semanas de um sereno Setembro.

E estamos agora a passar por uma vaga de frio intenso. 

Não bate a bota com a perdigota.

O Governo e o seu SNS continuam a olhar para isto como se tudo se explicasse pelas mortes SARS-Cov_2, "manejando" os casos positivos e os óbitos a seu bel-prazer.

Dava um doce a quem me dissesse a mortandade que está a ocorrer nos lares neste Janeiro, tanto por covid como por outras causas.




sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

DA GRIPE E DA METODOLOGIA COVID

Em média, em anos anteriores, durante o mês de Janeiro morrem cerca de 12 mil pessoas por todas as causas, das quais aproximadamente mil são por infecções respiratórias. Em anos anteriores, o mês de Janeiro é também o período “natural” das gripes. Grande parte delas não chega ao hospital nem são registadas, curando-se em casa ou “auto-curando-se”.

Imaginem, porém, que em anos anteriores decidira-se dar “caça” às gripes com testes PCR à farta, a sintomáticos e não sintomáticos.

Quantas mortes por gripe teriam sido então registadas no certificado de óbito de pessoas que faleceram após ataques cardíacos, AVC, cancros e outras tantas mazelas... só porque tinham tido um teste positivo à gripe?


DAS PRIORIDADES DO BLOCO DE ESQUERDA

Em vez de exigir que o Governo (ou DGS) divulgue relatórios da situação da covid (e da mortalidade em geral) nos lares de idoso (cuja situação estará tenebrosa), o B,loco de Esquerda está mais interessado em que se coloquem lá mesas de voto para as Presidenciais, "evitando que [aqueles] tivessem de sair dos lares para votar". Com a vaga de frio e o desmazelo reinante, incluindo na Oposição, desconfio que até às Presidenciais muito idosos vão sair dos lares. Mas não propriamente para votar...

BOLSONARO & DO COSTA E OUTROS APONTAMENTOS

Quatro apontamentos muito importantes:

1 - Portugal ultrapassou pela primeira vez a centena de óbitos (118) por covid. A culpa, claro, foi dos portugueses. Nunca do Governo, e muito menos de António Costa, que anda a assobiar para o ar em relação à situação dos lares (quantos destes mortos eram utentes de lares?). Como a culpa é dos portugueses, não podemos assim fazer o que a nossa imprensa andou a fazer com o Brasil. De facto, como sabemos, foi Bolsonaro [de quem não tenho simpatia nenhuma] o culpado por o Brasil ter atingido um pico de 1.554 óbitos (29 de Julho). Ah, já agora, 1.554 óbitos no Brasil correspondem a 75 óbitos em Portugal [o Brasil tem cerca de 20 vezes mais população]. Ontem, repito, houve 118 em Portugal. E já tivemos quase 30 dias, desde 11 de Novembro, com mais de 75 óbitos por covid. António Costa não tem culpa nenhuma disto.

2 - Pela primeira vez desde que há registos diários (a partir de 2014), estamos com três dias sucessivos de mais de 500 óbitos no total. Antes de 2021, apenas existiam três dias com mais de 500 óbitos (dois em 2017 e um em 2018).

3 - No ano de 2015, de acordo com a Plataforma da Mortalidade, o mês de Janeiro teve 1.232 óbitos por infecções respiratórias (sobretudo pneumonias), que este ano praticamente desapareceram. Ou seja, em média houve 41 óbitos por dia nesse mês. Actualmente, estamos com uma média de 88 óbitos por covid, isto é um pouco mais do dobro. O país vai "fechar" de novo, e não é para melhorar a situação.

4 - Se não estiver a existir manipulação de números (e eu cada vez ando mais desconfiado), a situação de Portugal em Janeiro de 2021 assemelha-se à de Espanha em Março e Abril de 2020. Naqueles dois meses, a covid foi responsável por 17% e 27%, respectivamente, das mortes totais em Espanha. Nos sete primeiros dias de Janeiro, a covid terá sido responsável (se assim for) por 22% do total das mortes em Portugal. Isto durante uma vaga de frio intensa e num período em que a taxa de letalidade (e de sobrevivência) é muito mais favorável do que era no início da pandemia.





DOS HOSPITAIS PORTUGUESES, ONDE SE DEVE IR APENAS SE FOR PARA MORRER

Na mais cretina campanha possível, e face aos adiamentos sucessivos de consultas e exames no SNS para que tudo vá para a covid, a DGS decidiu este Inverno recomendou  aos portugueses que não corressem para as urgências se ficassem doentes. Os portugueses, obedientes ovelhas e carneiros, têm seguido o "conselho".

Por exemplo, olhando para o dia 6 de Janeiro de 2021, mesmo com a vaga de frio (e suas implicações para a saúde), e comparando-o com o mesmo dia entre os anos de 2017 e 2020. verificamos que foi o de mais baixa afluência às urgências. Apenas 12.887, que confronta com uma média de 16.550 dos quatro anos anteriores, ou seja, menos 22%.

Só houve uma chatice neste dia 6 de Janeiro de 2021: desde que existem registos (a partir de 2014), foi o dia com mais óbitos ocorridos em meio hospitalar. Foram 361-trezentos e sessenta e 1-361! Um absurdo! Uma parte considerável, acredito, terá estado a aguentar até às últimas. Muitos devem ter ido algo contrariados por incumprirem a recomendação da DGS.

Sugiro, por isso, qie a DGS modifique um pouco o seu cartaz, com o acrescento que graciosamente fiz. Assim, as pessoas podem passar a ir morrer ao hospital sem peso na consciência.

Fonte: SICO e SNS (Monitorização Diária dos Serviços de Urgência).


DOS NÚMEROS

Somos metralhados todos os dias com números de casos positivos (a partir de testes PCR de duvidosa fiabilidade), mas não se sabem, porque a DGS recusa ostensivamente divulgar, números tão básicos como:

1 - óbitos por concelho e/ou distrito, o que constitui informação básica para avaliar o mais fulcral impacte da pandemia;

2 - número de casos positivos em lares (valores diários e acumulados), bem como taxas de internamento e de assintomáticos;

3 - número de óbitos em lares (utentes) por distrito (no Reino Unido têm por concelho) e por dia;

4 - número de internados em enfermaria e em UCI por grupo etário e por dia, mas incluindo novos internados, altas, transferências (enfermaria para UCI, e vice-versa) e óbitos (se de enfermaria ou se de UCI), de modo a permitir cálculos de fluxos e ter uma ideia mais precisa sobre letalidade (e perigosidade).

Mas, como se sabe, há números que ao Governo não interessa dar aos cidadãos, para assim se continuar a Grande Manipulação. Vem dos livros.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

DO FRIO

Ontem, dia 6 de Janeiro, terão morrido 535 pessoas em Portugal (número ainda provisório), o valor mais elevado dos últimos quatro anos, dos quais 95 com covid. O número da covid pode parecer-vos elevado, mas a outra parte é que se mostra aterradora.

Num dia de Verão ameno, sem demasiado calor e também sem gripes, a Ceifeira leva 250 vidas das mais diversas causas. Esta é a “nossa” base, aquilo com que infelizmente temos de contar. Geralmente, ao avançar o Inverno, tudo o que está acima desse valor está associado aos surtos gripais e ao frio. Ora, mas este ano deixámos de ter gripe, e temos agora “apenas” a covid, o frio... e o SNS em estado comatoso. Da covid sabemos (ao contrário dos surtos gripais, onde há apenas estimativas) os efeitos directos: ontem, como referi, a DGS indica oficialmente 95 óbitos.

Daí vejam, e sigam o meu raciocínio: aos 535 retirem 95 da covid e 250 da mortalidade base. Ficam com 190 apenas por frio e por um SNS comatoso. Mas vamos então esquecer admitir que é só por causa do frio. Então quer dizer que, perante temperaturas que chegam apenas a poucos graus negativos, no pior dos casos, o SNS não consegue dar uma resposta eficaz, deixando que só o frio leve 190 pessoas? E isto depois de um ano de forte mortalidade? 

Eis o que tem sido para mim mais aterrador: a fragilidade e vulnerabilidade actuais da população portuguesa, sobretudo dos idosos, são anormais. Não é por causa da covid; é por causa da estratégia da covid. Quem não for da doença, seguirá rapidamente pela “cura”, se isto se mantiver.

DA HISTÓRIA MAL CONTADA DO COLAPSO OU DA ESPANHA QUE NÃO É PORTUGAL

Em 23 de Outubro passado, a ministra Marta Temido garantia (e está transcrito no site do SNS, vd. link em baixo) que "a capacidade máxima de resposta dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para assistência na pandemia de covid-19 é de cerca de 17.700 camas", acrescentando ainda que, além das camas de cuidados intensivos (UCI), existiam 1.891 ventiladores. 

Hoje sabemos que, supostamente, há hospitais quase sem camas disponíveis e em estado de "catástrofe" (Amadora-Sintra) ou próximo disso.

Portugal tinha, no dia 5 de Janeiro, internadas 3.076 doentes covid, sendo que se encontravam 493 em UCI. E, portanto, estará em pré-ruptura, o que não encaixa com os discursos ao longo do Outono.

Independentemente do crescimento dos casos positivos num vírus de características sazonais, constata-se que o Governo português andou a dormir, confiando na sorte. Vejam que de Espanha não surgem agora notícias, mas não porque a covid tenha desaparecido, mas sim porque o Governo espanhol (bem "queimado" com o que sucedeu na Primavera) se precaveu.

De acordo com o mais recente relatório do Ministerio da Sanidad, em 4 de Janeiro, a Espanha contava ciom 13.841 camas de covid ocupadas e 2.220 camas UCI com doentes covid. Se considerarmos a população espanhola (quase 4,6 vezes mais do que Portugal), significa que tinha o equivalente a 3.029 portugueses internados e 486 portugueses em UCI. Ou seja, em termos proporcionais, a Espanha apresenta uma pressão hospitalar praticamente similar á portuguesa.

Porém, estes doentes espnhóis estão a ocupar apenas 11,4% das camas destinadas à covid e 23,1% das camas de UCI destinadas à covid. E porquê? A Espanha aprendeu com os erros e fez um reforço muito apreciável de camas e equipamentos durante os últimos meses para aguentar do ponto de vista clínico o previsível aumento de internamentos por uma infecção de características sazonais, o que lhe permite estar agora com uma grande folga.

Ao invés, Portugal está num incompreensível aperto, porque como em muita coisa, o Governo deu-se em ares de bazófia (estava tudo sob controlo, em Outubro), confiou na Virgem e... não tratou das camas.

Fonte: Dados covid de Espanha (Ministerio de Sanidad, aqui); SNS (comunicado de 23 de Outubro,  aqui).



DO DESCONTROLO DE QUEM NÃO QUE SER CONTROLADO

Por estranho que possa parecer, sabe-se todos os casos positivos de covid por concelho - e servem até para impor restrições legais -, mas ignora-se o número de mortes por covid por concelho e nem se por distrito.

Sobre os lares, segredo absoluto. Nem casos positivos (diário e acumulados), nem internamentos, nem mortes. De quando em vez há uma divulgação mas parcelar, incompleta e quase oficiosa. No Reino Unido, por exemplo, sabe-se os óbitos nos lares por dia e município. Desde o início da pandemia.

Em Portugal não há planos integrados de Saúde Pública. Compotas deve haver. Tudo é para a covid, mas de forma atabalhoada, e apenas com recurso a restrições legais. Tudo o que foge da esefra da covid, ignora-se. E por isso mesmo tivemos em 2020 o mês de Julho mais mortífero desde que há registo, porque ninguém ligou ao tempo um pouco mais quente.

Agora, também não se conhece qualquer plano de contingência da DGS para a vaga de frio que está em curso. Pelo contrário, há uma campanha a aconselhar as pessoas a não irem ao hospital se se semntirem doentes. A mortalidade, entretanto, está a subir em flecha (a culpa será toda da covid?). Ontem (6 de Janeiro) ultrapassou-se os 500 óbitos totais (512, por agora; valor deverá subir com as habituais rectificações), o que é um número avassalador, mesmo que a covid seja responsável por cerca de uma centena (saber-se-á esta tarde). É já o valor mais elevado desde 2 de Janeiro de 2017 (no pico de um quase ignorado surto de gripe).

Mas isso pouco interessa. Se existe um plano, neste momento, é de culpar apenas o SARS-CoV-2 e o povo sobre o suposto descontrolo do Natal e do Ano Novo. A imprensa "come"; o povo "engole".

Porém, sempre que "esgravato" um pouco mais a fundo (e não posso ir a todas a todo o tempo), desenterro mais sinais que indiciam não haver estratégia, não se usarem indicadores expeditos para controlar a pandemia e os seus efeitos secundários (p. ex., excesso de mortes não-covid).

Por exemplo, acabei ontem à noite por verificar que o distrito de Braga (que até é o menos envelhecido de Portugal Continental) registou um acréscimo da mortalidade total de quase 60% (em relação à média de 2014-2019) no passado mês de Novembro. Não foi coisa de Natal ou de Ano Novo. É uma subida perfeitamente anómala.

Por sua vez, Dezembro teve um acréscimo homólgo de 43%, e só não foi pior porque a mortalidade começou a decrescer a partir da segunda quinzena desse mês. Porém, ninguém da DGS jamais mostrou publicamente preocupação, durante o mês de Novembro e metade de Dezembro, o que, na verdade, não admira porquanto em Julho a mortalidade também aumentou 44% (sem covid) e também houve indiferença. Não se sabe, porque tudo o que é mortes por covid é segredo. Não se sabe se esta situação (muito anterior ao Natal e Ano Novo) está relacionado apenas com o recrudescimento da pandemia, se atingiu sobretudo lares ou a população na comunidade, se se deve especialmente a mortes por outras causas, e quais as causas e os grupos etários mais afectados, e etc., etc., etc...

Não se sabe nada, e eu acho que não tem a ver com o gosto pelo secretismo e pela ausência de uma cultura de comunicação por parte da DGS. Não se sabe porque não há, no meio desta pandemia, uma estratégia integrada de Saúde Pública. Não há trabalho analítico, o que não admira sabendo-se que até para um boletim da covid se tem de contratar uma empresa externa para o produzir. Há apenas descontrolo. Puro. Duro. Mortífero.

DO EXTRAORDINÁRIO ESFORÇO DO GOVERNO OU DO MANDAR CAMAS PARA A REFORMA EM PLENA PANDEMIA OU DO SER MAIS FÁCIL ARRANJAR BODES EXPIATÓRIOS

Dos cinco principais centros hospitalares de Portugal (Coimbra, Lisboa Central, São João do porto, Lisboa Norte e Algarve), apenas um tinha mais camas em Novembro de 2020 do que no mesmo mês de 2015. Todos os outros perderam. E muito.

Entretanto, se compararmos com Novembro de 2019 (poucos mesers antes da pandemia), em Novembro de 2020 estes centros hospitalares tinham perdido um total de 261 camas. Extraordinário: há uma pandemia e em vez de um reforço de camas, "atiram-se" com camas para a "reforma". Em Coimbra "perderam-se" 152 camas, cerca de 10% durante a pandemia.

O Governo está mesmo de parabéns!

É mesmo muito mais fácil encontrar bodes expiatórios - ou fazer do povo bodes - do que investir em Saúde e em Saúde Pública.

Fonte: SNS (Taxa de Ocupação Hospitalar, aqui).