quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

DO EXTRAORDINÁRIO RESULTADO DO CONFINAMENTO NOS FERIADOS OU DOS IDOSOS QUE CONTINUAM DESPROTEGIDOS

Como tenho repetidamente defendido, desde há largos meses, interessam-me pouco os casos positivos totais, porque dependem do número de testes e da probabilidade de falsos positivos se realizados em pessoas sem qualquer sintoma. No entanto, olho com muita atenção para os casos positivos da população mais idosa (70-79 anos e mais de 80 anos), não apenas por ser o grupo mais vulnerável, mas por aí se encaixarem os casos dos lares, onde por norma não há "fumo sem fogo" (i.e., os casos positivos observam-se em grupos onde a prevalência de surtos é maior).

Ora, apesar dos dados da DGS mostrarem uma significativa  diminuição dos novos casos positivos totais desde 19 de Novembro (5.817, média móvel de 7 dias, sendo que ontem era de 3.657), na verdade os novos casos positivos na população mais idosa (mais de 70 anos) não estão a diminuir em relação a meados de Novembro, e mostram mesmo uma ligeiro aumento em relação ao início de Dezembro, quando foi imposto o recolher obrigatório nos fins-de-semana na maior parte do território. No caso da população com mais de 80 anos (alô, alô, lares), os novos casos diários têm estado em níveis bastante elevados, sempre acima dos 400.

Esta situação justifica o nível constante e elevado de mortes nas últimas semanas, e prevejo mesmo um aumento ligeiro nas próximas semanas, sendo muitíssimo provável que se venha  ultrapassar a fasquia simólica dos 100 óbitos por dia ainda este ano ou nos primeiros dias de Janeiro de 2021.

E não vai ser por causa do Natal.

E convinha mesmo saber como andam os lares...

Fonte: DGS (casos por grupo etário); Worldometers (novos casos totais)




DAS COMPOTAS

Antigamente, o horror eram as meias. Agora, serão as compotas, sugeridas pelo subdirector-geral da Saúde, Rui Portugal, a quem falta apenas a barba para ser o Pai Natal, não dá Lapónia mas da Pandemia.


DA OBSESSÃO DO PÚBLICO PELA SUÉCIA

Os jornalistas do Público continuam obcecados pela situação da covid na Suécia, patente nas incessantes tentativas para demonstrar ao "povo português" que os malvados escandinavos estão em processo de extinção porque a Autoridade sueca de Saúde Pública, hélas, tem uma estratégia anti-covid que não inclui máscaras (embora inclua medidas racionais de controlo em função da situação real em cada momento). 

O Público quer provar que não viver em constante pânico terá, para os suecos, um triste destino, do género apocalítico: "se não temes o Senhor, a Sua espada descerá dos céus e sofrerás da Sua inclemência". E serve-se tudo, menos dos factos.

A obsessão nem sequer é de um jornalista em concreto. Quase parece que a obsessão irradia por toda a redação do Público. Hoje temos a jornalista Maria João Guimarães relatando as conclusões de um inquérito na Suécia sobre a situação dos lares na primeira fase da pandemia. O Governo sueco já admitiu a existência de falhas durante a Primavera (responsável então por muito mais de metade da mortalidade por covid nesse país), e essas não parecem estar a repetir-se agora (em Portugal, a coisa é bem diferente, até porque aqui não se fazem inquéritos globais). 

Porém, a talhe de foice, nada inocente, lá coloca a jornalista Maria João Rodrigues mais relatos sobre os estragos da "peste" em terras da fria Suécia. Segundo a jornalista, "a agência de estatísticas da Suécia disse, na véspera, que Novembro tinha um total de 8088 mortes por todas as causas, o número mais alto desde o primeiro ano da gripe espanhola (1918)." Uiiii... lá andamos nós com um problema de incultura matemática aliada a maldade.

Para o Público já é inevitável fazer um piscar de olho à gripe espanhola. Já é tique. Sucede, porém, que em 1918 a Suécia tinha 5,8 milhões de habitantes, e agora tem mais de 10,3 milhões, pelo que me parece normal haver agora mais mortes. Comparar números absolutos nestas circunstâncias é uma de duas coisas: ou burrice ou manipulação; nenhuma delas abona um profissional de jornalismo. 

Por outro lado, convém salientar que a gripe espanhola, ao contrário de muitos outros países europeus (como Portugal), não afectou então a taxa de crescimento demográfico da Suécia, embora a mortalidade, nesse ano, tenha atingido os 104 mil óbitos, o que coloca a taxa de mortalidade em cerca de 18 óbitos por 1.000 pessoas. Note-se que o ano de 2020 terminará com uma mortalidade inferior  10 por 1.000 habitantes. Desde o período em análise, note-se, este país registou sempre crescimentos absolutos da sua população, e 2020 não será excepção, apesar da pandemia.

Além disso, sendo certo que a mortalidade em Novembro é, em termos absolutos, um recorde, tal não revela uma situação dramática, tendo em consideração o aumento demográfico. Por exemplo, entre 2015 e 2019, a população sueca aumentou em quase 480 mil pessoas, i. e., 4,8% (a população portuguesa diminuiu, no mesmo período, em 46 mil pessoas).

Assim, usando os dados disponibilizados no site SCB (o INE sueco), calculando a taxa de mortalidade do mês de Novembro (em função da população estimada no final do ano anterior), os valores de 2020 (0,77 óbitos por mil pessoas) são apenas ligeiramente superiores a 2015 (0,74), 2016 (0,75) e 2017. Ou seja, do ponto de vista de Saúde Pública, a Suécia não apresenta uma situação de catástrofe, nem pouco mais ou menos.

Aliás, numa conferência de imprensa da SCB foi referido que a taxa de mortalidade de Novembro de 2010 foi superior à que se registou agora, em 2020. Mas isso não interessa nada para o Público. Aquilo que lhes interessa é pintar de negro quem recusa estratégias absurdas...

Ah, já agora: mesmo já tendo mais população que Portugal, a Suécia teve no dia 15 o seu dia mais mortífero de Novembro, com 292 óbitos, sendo que a média (2015-2019) era de 245. No mesmo dia, Portugal registou 447 óbitos, sendo que a média era de 299... 

Ah, e outra coisa: entretanto, o dia mais mortífero deste ano em Portugal foi anteontem (14 de Dezembro), com 458 óbitos. A média (2015-2019) nesse dia era de 326. O "sucesso" destes números, provavelmente diria o Público, está, como é óbvio, relacionado com o facto de o Governo português não ter seguido a estratégia da Suécia. Só pode, não é?




terça-feira, 15 de dezembro de 2020

DO SOLTAR OS CÃES

Um dos resultados mais funestos da pandemia tem sido a revelação de uma intolerância à opinião contrária, ao debate de ideias e à assumpção da inexistência de verdades absolutas. Desde o início da pandemia tornou-se claro que quem questionasse, quem duvidasse, quem tentasse perspectivar a pandemia, contextualizando-a e colocando-a num quadro mais global e integrado de políticas públicas (de saúde pública e outras), rapidamente era rotulado de negacionista, terraplanista, bolsonarista, trumpista, adepto da extrema-direita. Isto teve como condão que muita gente, e bem-dotadas de intelecto, evitasse opinar, estudar, analisar, preferindo seguir os demais, e atirando pedras como os demais às cada vez menos opiniões dissonantes. Assim se consolidou a narrativa, não dominante, antes unânime. E o unanimismo, imposto, é um dogma. E os dogmas, geralmente, são prejudiciais no imediato ou a prazo, se subsistirem com base na sua imposição, e não pela razão.

Em Portugal, quem “botou a cabeça” de fora rapidamente foi “decepado” pela imprensa e ostracizado pelas instituições. Jorge Torgal, um dos maiores especialistas de Saúde Pública, foi um deles. Maria Manuela Mota, directora do Instituto de Medicina Molecular, remeteu-se ao silêncio depois de ser “crucificada” por ter dito que o SARS-CoV-2 era um vírus “bonzinho” no sentido de que a sua letalidade e a incidência em termos de grupos etários não se equipara a outros vírus verdadeiramente mortíferos. 

Depois seguiram-se os poucos médicos com coragem para se juntaram e criar o movimento Médicos pela Verdade, que têm sido alvo do maior enxovalho e perseguição mesmo pela Ordem dos Médicos por mero delito de opinião. E convém referir que dignísimos investigadores e comunicadores exemplares, David Marçal e Carlos Fiolhais, também bons conhecedores da História da Ciência, vieram defender que esses médicos deviam ter sido já proibidos de exercer medicina. 

Depois tivemos ainda o lamentável caso do médico Fernando Nobre, também crucificado na praça pública, ainda mais às mãos de um “censor” ad-hoc, suposto comediante, de seu nome Rui Unas. 

E, por fim, agora temos Raquel Varela, que nas últimas semanas tem colocado questões pertinentes, em artigos e textos diversos, mas que se poderia resumir no seguinte: vamos discutir a pandemia sob um olhar global, não apenas clínico, não apenas médico, não apenas de saúde individual nem colectiva, mas do ponto de vista global, de saúde pública, que, na verdade, é a saúde (em todas as acepções) da sociedade.

Um dos textos mais aplaudidos contra Raquel Varela – e aplaudidos efusivamente por pessoas cultíssimas e insuspeitas de não pensarem, como Francisco Louçã – é de uma enfermeira, de seu nome Carmen Garcia, que, tal como o inenarrável intensivista Gustavo Carona, tem linha aberta no jornal Público.

Um dos argumentos de Carmen Garcia, logo a abrir, vai no sentido do famoso “reductio ad Hitlerum”, usando uma frase apócrifa (ou seja, nunca dita) por Estaline: “a morte de uma pessoa é uma tragédia; a de milhões uma estatística”. Colando assim, não inocentemente, a ideia de se ser um Estaline quando se quer debater Saúde Pública, onde indubitavelmente se tem de se munir de estatísticas de mortalidade (porque em Saúde Pública se faz um compromisso entre o menor dos males, já que se tem de assumir que haverá sempre mortes), o que inquina qualquer possibilidade de uma conversa séria e construtiva. 

A enfermeira Carmen Garcia que mostra tanta comiseração pelas 1.620.823 mortes por covid (citação dela), também deveria mostrar similar comiseração por todas as 56.388.795 pessoas que, em todo o Mundo, terão já morrido por diversas causas ao longo do 2020. 

A enfermeira Carmen Garcia, que mostra comiseração pela morte de jovens internados em “decúbito ventral” por covid (embora, até aos 20 anos foram dois em Portugal), devia ter mostrado também similar comiseração pelos jovens que em anos anteriores (e abaixo dos 20 anos) morreram por pneumonias e infecções afins em maior número. 

A enfermeira Carmen Garcia, que critica a Suécia pelas falhas (assumidas pelas autoridades suecas) nos lares, também deveria saber que a situação dos lares portugueses só é melhor por uma razão: o Governo não fornece dados fidedignos nem nunca assumiu a gravidade da covid e sobretudo de outras afecções que estão a causar uma mortalidade sem precedentes nestas instituições. O Verão foi, aliás, uma hecatombe que merecia investigação do Ministério Público. O lar de Reguengos de Monsaraz foi a ponta do icebergue que se vislumbrou, porquanto muitos outros casos sucederam de mortes por uma simples razão: por abandono dos mais básicos cuidados médicos e humanos, incluindo dar água aos idosos.

Enfim, podia continuar a argumentar, mas tudo isto já me cansa, tudo isto me irrita, tudo isto é lamentável. A pandemia está a ser penosa sobretudo pelo lastro de intolerância e sobretudo pelas consequências para o nosso futuro como sociedade. Mais do que as mortes “secundárias” (por supressão de actos médicos e pelo medo exacerbado), esta pandemia está a mostrar o lado mais negro da Humanidade.





segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

DO MUNDO QUE NÃO É IGUAL

Aproxima-se o Natal e, como esperado, política e imprensa salivam, com ar pesaroso, para mostrar serviço no ano de todos os pânicos. E de restrição em restrição, chegaram eles finalmente ao supremo patamar de definirem quantas pessoas entram numa casa (como se as pessoas, mentecaptas, deixassem de poder exercer o livre arbítrio mesmo no interior das suas anteriores "sagradas" paredes), e até quantas podem ir à casa de banho ao mesmo tempo (vd. Bélgica). Argumenta-se que a situação em Dezembro é horrível, nunca vista, vai piorar e assim se justificam. Mas... será que está mesmo o mês de Dezembro a ser o pior da pandemia? Fui ver...

Numa análise rápida (não assim tão rápida, porque tive de analisar a evolução de quatro dezenas de países), fui confrontar a situação do dia 13 de Dezembro (e deste mês) com os períodos anteriores (Março-Junho; Julho-Setembro e Outubro-Novembro). Escolhi os 40 países com mais de 1 milhão de habitantes que apresentam a maior mortalidade acumulada por milhão de habitantes. De entre este, 24 são países da Europa, 7 da América do Sul, 5 da América do Norte, 3 da Ásia e 1 da África.

Tendo como referência a média móvel de 7 dias referente a 13 de Dezembro, mas considerando também os valores ao longo do mês de Dezembro, mostro assim, para cada um destes países, se a situação actual está melhor (Verde), pior (Vermelho) ou sensivelmente igual (Amarelo, sendo que tal significa uma variação para cima ou para baixo de cerca de 15%) quando comparado com  os três períodos anteriores: Março-Junho, Julho-Setembro e Outubro-Novembro. Por outro lado, analisei se os valores de Dezembro constituem, para casa país, um pico (valor mais elevado de mortalidade).

Deixo o quadro para cada um, por si, analisar. Em todo o caso, aqui vos deixo algumas indicações: 

a) Apenas em 15 dos 40 países, o mês de Dezembro é aquele com maior mortalidade, Com excepção dos Estados Unidos, esses países tinham sido poupados na primeira fase da pandemia na Primavera. Em todo o caso, se se analisar a situação dos Estados Unidos, existem muitas diferenças entre os diversos Estados, sendo que os que agora estão a ser mais fustigados tinham sido poupados na Primavera e Verão.

b) Apenas em 12 dos 40 países a situação do mês de Dezembro está a ser claramente pior do que no período Outubro-Novembro Em 15 a situação é relativamente similar, e em 13 a situação é melhor. 

c) Em 14 países a situação em Dezembro (mesmo com o Inverno à porta) é menos gravosa do que foi em Março-Junho. Neste lote de países encontram-se Bélgica, Peru, Itália, Espanha, Reino Unido, França, Chile, Equador, Bolívia, Suécia, Suíça, Holanda, República da Irlanda e Canadá. Estes 14 países estão no top 20, significando assim que a maioria das mortes durante a pandemia ocorrerem na Primavera.

Fonte: Worldometers.

DO CAMPEONATO DOS MEDICAMENTOS CONTRA A “PESTE

Tenho acompanhado, com horror, as traumáticas experiências transmitidas, com dor e pavor, na secção “Eu tive covid”, no Correio da Manhã. Há também uma parte aliciante nesses compungidos depoimentos sobre os milagrosos tratamentos que salvaram estes sobreviventes da pandemia. Nos ultimos quatro dias contabilizo 2 Ben-u-ron, 1 Brufen e 1 Nada. Não podíamos estar mais agradecidos à Ciência Médica. Sem ironia.






DO BICHO QUE JÁ ANDA PELA EUROPA HÁ UM ANO E HÁ UM ANO NÃO SE PASSAVA NADA

Um estudo italiano, publicado em revista científica, sugestivamente intitulado “Unexpected detection of SARS-CoV-2 antibodies in the prepandemic period in Italy”, revela que o SARS-COV-2 se encontrava já bastante disseminado em Itália pelo menos desde Setembro. Afinal, parece que o bicho SARS-COV-2 é o oposto da pescada (que antes de ser pescada já era pescada), porquanto antes de ser perigoso não era perigoso. Afinal, parece que o SARS-COV-2 andava já por aqui alegremente, supostamente sem matar e sem dar nas vistas. O que aconteceu para que depois começasse a matar? Tornou-se mais agressivo? Terá sido o método de cura? Estará a matar mais pelo susto? Tantas perguntas e ninguém quer dar resposta?

Em tradução livre, eis as principais conclusões (vd. artigo integral aqui): “Investigamos a presença de anticorpos de SARS-CoV-2 em amostras de sangue de 959 indivíduos assintomáticos inscritos num estudo prospectivo de triagem de cancro de pulmão entre setembro de 2019 e março de 2020 para rastrear a data de início, frequência, e variações temporais e geográficas nas regiões italianas. Os anticorpos específicos foram detectados em 111 de 959 (11,6%) indivíduos, a partir de setembro de 2019 (14%), com um grupo de casos positivos (> 30%) na segunda semana de fevereiro de 2020 e o maior número (53,2%) na Lombardia. Este estudo mostra uma circulação inesperada muito precoce de SARS-CoV-2 entre indivíduos assintomáticos na Itália, vários meses antes do primeiro paciente ser identificado, e esclarece o início e a propagação da pandemia de covid-19”.

domingo, 13 de dezembro de 2020

DO "BRUTAL" IMPACTE DA COVID NA SUÉCIA

Como não tenho os mesmos dados para Portugal, faço esta análise para a a omnipresente Suécia, que como se sabe está (ainda) com mais mortes por covid do que Portugal.

Vejamos então o que se passa na Suécia com a pandemia. O Statistiska centralbyrån (SCB), o homólogo do nosso INE na Suécia, reportou, pelo 10º mês consecutivo de 2020 um aumento populacional naquele país escandinavo. No início do ano estimava-se a existência de 10.336.399 pessoas; em Outubro contabilizavam-se 10.377.781. Deduzo que em Portugal, o saldo natural vai ser negativo, mas não por culpa da covid. Na Suécia, todos os meses de 2020 registam aumentos em relação ao mês anterior e ao mês homólogo do ano anterior. A covid trouxe consequências? Sim, Até 25 de Novembro houve um acréscimo de 4,9% dos óbitos em relação à média dos cinco anos anteriores, pese embora os cerca de 7.500 óbitos por covid, mas esse valor é inferior ao peso da covid no total da mortalidade no ano (8,4%), o que evidencia que o seu sistema nacional de saúde não colapsou; pelo contrário. Falarei melhor sobre isso, comparando com Portugal, muito em breve.

Mas vamos lá apresentar alguns dados, e "desenhos" (leia-se gráficos) para ver o impacte da covid na Suécia, e deduzir assim o motivo pelo qual as suas autoridades não entraram em pânico nem em esquizofrenia impondo medidas absurdas. 

Gráfico 1 (G1) - Mostra o impacte absoluto da mortalidade por covid na população sueca (estimada em 2019) por faixa etária. Em termos globais, sendo a Suécia um dos países com maior mortalidade por milhão de habitantes por covid, esta doença matou 0,07%. Daí que nem sequer se veja bem as barras vernelhas no gráfico, sendo que até aos 30 anos é zero. Recordemo-nos com a gripe espanhola, dependendo da fonte, matou entre 1,0% e 5,4% da população mundial no período 1918-1920.

Gráfico 2 (G2) - Mostra a taxa de mortalidade (por 100 habitantes) por faixa etária. Coloquei duas casas decimais para que não se pensasse que não houve mortes até aos 70 anos. Só a partir dos 90 anos a taxa de mortalidade supera os 1%. Julgo que, a partir dessas idades, a morte já era frequente, mesmo antes da covid.

Gráfico 3 (G3) - Mostra a taxa de letalidade por faixa etária na Suécia, ou seja, óbitos por 100 casos positivos, onde mais uma vez se evidencia que a covid é sobretudo uma doença perigosa para idades avançadas, e portanto as medidas de saúde pública e os protocolos clínicos devem ter isso em elevada consideração. Considerando a população sueca, significa que a doença só constitui um problema relevante para 15% da população, aspecto relevante na definição das estratégias de combate ao vírus.

Gráfico 4 (G4) - Mostra a taxa de internamento por faixa etária na Suécia (em Portugal ignora-se). Como se pode observar os valores são globalmente muito baixos, notando-se também aqui um padrão interessante: as maiores percentagens não se observam no grupo dos mais idosos (80-89 e mais de 90 anos). Cruzando com a taxa de letalidade, isto mostra sobretudo que uma grande parte das mortes advém de um estado clínico (sobretudo em idades muito avançadas) que já era grave antes do surgimento da covid. Em suma, muitas das pessoas que faleceram por covid teriam, infelizmente, morido mesmo com uma simples pneumonia, caso  a tivesse contraído.

Em suma, estes quatro gráficos, olhados sem paixões exacerbadas e pânicos esquizofénicos, são utéis para compreender a visão racional da Suécia. É certo que todos lamentamos (e lamentaremos ainda mais se forem pessoas chegadas... ou nós próprios) as mortes por covid, mas como sociedades temos obrigação de ponderar de forma racional os impactes de uma determinada doença no contexto socio-económico e de saúde público. Não podemos continuar a querer acabar com uma dor de cabeça da sociedade, estrangulando-lhe a goela. 

Fonte: Agência de Saúde Pública da Suécia (dados da covid, aqui) e SCB (dados populacionais, aqui e aqui).






sábado, 12 de dezembro de 2020

DA ANEDOTA OU DA ALDRABICE

Começa a ser cada vez mais difícil defender uma base científica que explique como, de repente, mantendo-se os casos positivos de covid ainda tão em alta, as outras infecções respiratórias (maioritariamente pneumonias e bronquites, mas também gripes) estejam em níveis tão baixos e ainda a regredir nesta época do ano. E não é coisa pouca: estamos em pleno Dezembro, às portas do Inverno, e nem no pico de um Verão ensolarado e seco alguma vez se teve tão poucas infecções respiratórias. É um autêntico milagre trazido pelo SARS-CoV-2 (ironia!).

Vejam um exemplo recente. Segundo o registo diário do SNS, em 10 de Dezembro houve 4 episódios de gripe !quatro!) e mais 176 outras infecções repiratórias. Total: 180. Em 2019, no mesmo dia, foram registados pelo SNS 418 episódios de gripe e outras 1.925 infecções respiratórias. Em relação á média de 2016-2019, para este dia, o ano de 2020 teve 10% das infecções. Uma queda de 90%... Deixei de hever infecções respiratórias: agora há covid. Deixou de se morrer de pneumonia, bronquites e broncopneumonias: agora só se morre de covid.  

Isto faz-me lembrar as aldrabices que o Ministério da Administração Interna fazia há uns anos com as estatísticas dos incêndios e da área ardida, cujos números eram então bastante "martelados" durante as crises dos fogos florestais. Depois, passada a "tempestade", já com tudo esquecido na opinião pública, sabia-se a verdade. 

Caramba, mas isto não é uma floresta. São aspectos que colidem com a vida em socidade, com a saúde colectiva, com a saúde individual. Convinha não se aldrabar tanto. Convinha saber a verdade. O SARS-CoV-2 é um vírus, microscópico, nem sequer tem costas, e muito menos costas largas. Contem a verdade. A aldrabice, quando mal feita, dá demasiado nas vistas! E raiva. E desconfiança para o futuro. Se querem convenver as pessoas de que a vacina é fundamental, comecem primeiro a falar verdade e a dar informação correcta e de forma transparente.





DOS INTERNAMENTOS

A covid não é doença “comum”, sobretudo do ponto de vista clínico e psicológico. Tornou-se sobretudo traumática porque, ignorando-se o que se passa nos internamentos de outras infecções respiratórias, ficou desde Março as imagens e sons das unidades de cuidados intensivos dos hospitais italianos. 

O ambiente hipocondríaco, alimentado pela imprensa, dá uma ênfase exacerbada aos internamentos, não contextualizando sequer que uma grande parte se refere a internamentos “sociais” ou por precaução. 

Nesse aspecto, julgo ser verdadeiramente esclarecedores os depoimentos numa pequena secção do CM intitulada “Eu tive covid”. Por exemplo, hoje ficou a saber-se que Maria Conceição Freire, reformada de 73 anos, esteve internada 15 dias no Hospital Amadora-Sintra... a tomar ben-u-ron...

Pior, muito, foi o aspecto psicológico: “quando soube que estava infectada chorei muito, cheguei a pensar que já não ia ver os meus netos”. Ou seja, a covid está ao nível de uma cancro há umas décadas: um diagnóstico é percepcionado como quase uma sentença de morte.


sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

DAS BOAS NOTÍCIAS, MY ASS! OU DOS JORNALISTAS QUE NEM AS PENSAM

Os escritos dos nossos jornalistas estão cada vez mais patéticos, no sentido de dar pena. Agora, andam mais preocupados com os internamentos do que até com as mortes. No dia em que se anuncia o recorde de óbitos por covid, os jornalistas do Expresso, Cristina Pombo e João Diogo Correia (vou começar a colocar aqui sistematicamente os nomes), viram “boas notícias”. Ah, sim? Onde estão? 

Os jornalistas do Expresso respondem: “As boas notícias chegam dos hospitais, onde há hoje menos 74 pessoas internadas (3230) e menos duas em unidades de cuidados intensivos (507).” Ora aí está! Só lamento não terem agradecido aos 95 internados do dia anterior que, patrioticamente, contribuíram para a “boa notícia”... falecendo, e saindo das camas.

DO ANNUS HORRIBILIS

O ano de 2020 já será, garantidamente, o mais mortífero de que há registo. Até dia 10 de Dezembro foram contabilizados 114.810 óbitos, e o ano que mais se aproxima (e até 31 de Dezembro) teve 113.594 (ano de 2018). Pelas minhas estimativas, e tendo em consideração que, desde Novembro se está a registar um acréscimo de 30% na mortalidade total, prevejo que a mortalidade de 2020 até 31 de Dezembro venha a suplantar os 124 mil. Nesta linha, teremos então um acréscimo absoluto de cerca de 13 mil óbitos em relação à média do último quinquénio, e superior a 15 mil face média da última década. Em termos relativos será um acréscimo de 11,5% e 14,3%, respetivamente.

Foi tudo culpa da covid? Claro que não. Mesmo admitindo que se venha a chegar ao final do ano com valores acima de 7.000 óbitos (muito provável, tendo em conta os infectados com mais de 70 anos e sobretudo com mais de 80 anos), a covid representará pouco mais de 5,5% de todas as causas de morte. 

Ou seja, se fosse a covid o único e fundamental motivo para o acrécimo de mortalidade teríamos cerca de 117 mil óbitos até ao final do ano de 2020. ATENÇÃO: Na verdade, até muito menos, porque geralmente não se anda a contabilizar o "efeito" indirecto da covid na prevalência de outras infecções respiratórias. 

Com efeito, estimo que, apenas com o efeito covid, e sem colapso do SNS, teríamos  114 mil óbitos no final do ano, e afirmo isto porque, em virtude da pandemia, se registou um número anormalmente baixo de infecções respiratórias (e.g. pneumonias), que apresentam, em situação normal, cerca de 1,5% de taxa de letalidade. Essa redução "poupou" vidas de pessoas, sendo certo que uma parte foi, depois, vítima da covid (e signifia isto também que, se não houvesse covid, a pneumonia teria matado mais gente, como habitualmente) 

Este valor não é atirado ao ar. Por exemplo, em 2018, ano em que se registaram 432 mil episódios de infecções respiratórias que resultaram em 6.547 óbitos (dados da Plataforma da Mortalidade do SNS), então a mortalidade por esta causa será inferior em pelo menos 3.000 óbitos em 2020, visto que até 10 de Dezembro se contabilizou apenas pouco mais de 187 mil episódios de infecções respiratórias (ou seja, menos de metade de 2018).

Em suma, e em termos de balanço líquido, confirmando-se os números que agora estimo (mortalidade total e por covid), direi que a pandemia do SARS-Cov-2 será responsável por 4.000 óbitos a mais (deduzida a menor mortalidade por pneumonias indirectamente relacionada com as medidas anti-pandemia), e que, por outro lado, as outras causas não-covid (decorrentes do colapso conjuntural do SNS, e, temo, já estrutural) representarão um acréscimo de 9.000 óbitos em relação à média do útimo quinquénio, ou de cerca de 11.000 óbitos face à média da última década.

Quanto a Janeiro de 2021, mantenho o meu pessimismo: o mês de Janeiro costuma ser o mês mais mortífero em qualquer ano. E também sobretudo pela evolução da curva da mortalidade total desde  Outubro, que não parece típica de "surtos". Sobre isso escreverei em breve.

Fonte. SICO-eVM e SNS (Plataforma da Mortalidade e Monitorização da Gripe e Outras Infecções Respiratórias)

DA ESCOLA PRIMÁRIA

O Público continua com jornalistas a necessitarem de aprender o bê-á-bá da Matemática, que isto de jornalismo não é só saber juntar letras. Continuam insistentemente a dar “novas” sobre a Índia. Esta manhã lá continuam com o relambório: 414 mortes por covid na Índia. Que horror! O descontrolo!... São o equivalente a 3 mortes em Portugal, país, o nosso, que anda com 80 óbitos diários (média móvel de 7 dias), o que é equivalente a mais de 10.600 óbitos na Índia. Mas eles, os jornalistas (do Público e não só) continuarão... Já não sabem fazer outra coisa. Acham já que informação e pânico são sinónimos.



quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

DO PENOSO INVERNO QUE SE AVIZINHA

Muito cedo, nesta pandemia, e as publicações aqui e no meu blog servem de prova, fui manifestando, muito antes até de muitos médicos, a minha preocupação por a estratégia anti-covid apenas olhar para esta doença e não a enfrentar como um problema de Saúde Pública integrando-a no contexto global. Ou seja, as zero mortes por covid seriam uma utopia, e seria errado apostar todas as "fichas" para reduzir ao máximo das mortes por covid, sobretudo havendo o risco das vidas eventualmente poupadas acabarem sucumbindo de outras maleitas pelo colapso do SNS e pela falta de assistência médica para outras afecções.

Desde cedo, e sobretudo no Verão, já existiam indicadores preocupantes, sobretudo aquando da grande mortandade de Julho, sobre os efeitos dos desequilíbrios na assistência e acompanhamento médico aos mais idosos. A situação não se alterou ao longo dos meses, mesmo quando no Verão a covid deu descanso, e está agora a agravar-se para níveis alarmantes. E não se culpe a covid. Pelo contrário.

Pegando apenas na mortalidade dos maiores de 85 anos, o grupo mais vulnerável à covid MAS também muitíssimo vulnerável ao colapso do SNS (adiamento de consultas, diagnósticos, cirurgias, etc.), mostra-se tenebroso observar a evolução da mortalidade desde o Verão para o ano de 2020 quando confrontado com os anos anteriores (2014 a 2019). Por exemplo, no dia 30 de Junho, mesmo depois da primeira vaga da covid, a taxa de mortalidade (por 1.000 habitantes desse grupo etário) em 2020 era o terceiro mais baixo desde 2014, sendo os valores os seguintes:

2020 - 83,5 óbitos por 1.000 hab.

2019 - 84,1 óbitos por 1.000 hab.

2018 - 88,6 óbitos por 1.000 hab.

2017 - 85,6 óbitos por 1.000 hab.

2016 - 83,2 óbitos por 1.000 hab.

2015 - 93,0 óbitos por 1.000 hab.

2014 - 82,5 óbitos por 1.000 hab.

E isto, repita-se, após a primeira vaga da covid, Reparem no valor de 2015, em grande destaque, muito por via do período gripal nos primeiros meses do ano (sem covid, claro).

O grande problema de Saúde Pública este ano manifestou-se não pela resposta política à covid, mas sim pela opção política de secundarizar todas as outras doenças e até "esfregar as mãos de satisfação" (figura de estilo) por as pessoas terem "fugido" das urgências por medo de infecção. Ora, juntando o que sucedeu no Verão com a suspensão do SNS para tudo o que não era covid, conseguiu-se como resultado um aumento da mortalidade dos mais idosos e "fomentou" uma maior vulnerabilidade para o Inverno que se avizinha. 

Uma prova evidente disso obtém-se através da observação dos diferentes gráficos que apresento em baixo (sempre confrontando a evolução da taxa de mortalidade acumulada desde 1 de Janeiro até 9 de Dezembro). O ano de 2020 tornou-se para os mais idosos, enfim, o mais mortífero em termos absolutos (número total de óbitos) e agora também relativos (taxa de mortalidade acumulada) não apenas pelo que está a suceder desde Novembro, mas também pelo que se fez e não fez no Verão. E não se culpe apenas a covid, repito, até porque, neste momento, as infecções respiratórias (pneumonias e afins) praticamente terão desparecido e, portanto, deixaram de "criar" mortos.

Neste momento, estou particularmente pessimista sobre o Inverno, não apenas por agora ser evidente a existência tanto de um excesso de mortalidade absoluta como relativa. Na verdade, a covid até pode diminuir, mas o "perfil" de 2020 (e o lastro das opções políticas) evidenciam problemas "estruturais" criados por uma conjuntura politica e clinica mal conduzidas. 

Um dos grandes dramas da estratégia portuguesa foi, na verdade, numa primeira linha, os epidemiologistas terem convencido os políticos de a covid ser o único problema de Saúde Pública. Numa segunda linha por os médicos de Saúde Pública não terem gritado "alto e pára o baile", tendo entrado afinal no baile. E, numa linha contínua, por a comunicção social ter fomentado a manutenção do dito baile por comodismo, benefício, negócio e ignorância, tudo misturado. No meio disto, os políticos nada mais fizeram que animar o baile. 

E, quando falo em baile, estou referir-me à "silenciosa carnificina de velhos", sobretudo dos que não morrem por covid. 

Fonte: SICO








DO BRASIL DO MAU BOLSONARO E DO PORTUGAL DO BOM COSTA, OU DA ANÁLISE ENTRE O SUPOSTO INFERNO E O ALEGADO PARAÍSO

O Brasil de Bolsonaro - ou melhor, o Brasil por causa do Bolsonaro, que pessoal e ideologicamente não aprecio nada - esteve na berlinda noticiosa durante meses. As notícias sobre a covid e a sua mortalidade atroz durante o final da Primavera e o Verão foram constantes. O Brasil era apontado como o paradigma do que não devia ser feito, como um antro de políticos irresponsáveis. Pelo contrário, Portugal, para consumo interno da máquina de Propaganda Mediática (leia-se, imprensa nacional) era olhado como o exemplo "evidente" de políticas responsáveis. 

Sendo certo que mantenho a opinião que houve uma política irresponsável do Governo de Bolsonaro, na mesma linha de análise isenta, e em oposição, jamais embarquei na narrativa do "milagre lusitano". E mais: nunca suportei as análises delicodoces da nossa imprensa, que, cantando como um cisne, nos levava a acreditar na tese montada pelo Governo de Costa: se algo correr mal, a culpa é das pessoas; se algo correr bem, deve-se aos políticos.

Como se sabe, a Estatística, em particular, e a Ciência, em geral, têm a "imperfeição" de desmontar ficções. Ora, tendo em conta o padrão sazonal que o SARS-CoV-2 mostra - além de outros que ainda desconhecemos -, quando se olhava para o Brasil em Maio, em Junho e nos meses seguintes, não se devia esquecer que, embora tenha um clima muito diversificado e distinto do nosso clima europeu (mediterrânico e atlântico), as estações do ano estão invertidas. Grosso modo, o Carnaval deles em Fevereiro é como se fosse no nosso Agosto. E isso conta muito para infecções de padrão sazonal.

Posto isto, decidi fazer uma comparação mensal da mortalidade média diária por covid entre Portugal e o Brasil, padronizado para a população portuguesa (10,2 milhões de habitantes vs.  213,2 milhões), mas confrotando meses de características similares. Ou seja, o nosso Março corresponde ao Setembro brasileiro, o Abril ao Outubro, e assim sucessivamente. Como a pandemia não fez ainda um ano, esse paralelismo impede que se cruze o nosso Verão (meses de Julho a Setembro), de baixa mortalidade por covid, com o Verão brasileiro (Janeiro a Março). No caso do nosso Dezembro (que compara com o Junho brasileiro) considerei apenas os primeiros sete dias.

O resultado deste confronto - que em certa medida compara sete pares de meses, i.e., sobretudo os desempenhos na Primavera e no Outono - parecem-me muito interessante. E nada abonatório para Portugal. Com efeito, se nos meses correspondentes à nossa Primavera (com transição do Inverno, em Março; e para o Verão, em Juho), Portugal apresentou um desempenho globalmente melhor do que o Brasil (com excepção de Abril, correspondente ao Outubro brasileiro), o Outono está a ser bem pior em Portugal.

Assim, em Outubro, a mortalidade média diária em Portugal foi de cerca de 18 óbitos, enquanto no Brasil (padronizado à população portuguesa) foi um pouco menos de 10 no mês paralelo (Abril). Sempre se pode dizer que em Abril estava a começar a pandemia no Brasil. E é verdade: no mês de Maio de 2020, as mortes diárias por covid mais que triplicaram em relação ao mês anterior (36,4 óbitos padronizados), e ainda subiria emn Junho. Porém, quando confrontamos Maio e Junho do Brasil com os correspondentes meses simétricos de Portugal (Novembro e Dezembro), a nossa situação é extremamente desfavorável.

Mas, obviamente, como somos um país pequeno (10 milhões) passamos despercebidos no desastre, Já o Brasil não só tem mais de 200 milhões de pessoas, mas tem também Bolsonaro, o que dá sempre jeito para aplicar a máxima: enquanto se criticam os defeito dos outros, não se criticam os meus. Ter uma imprensa globalmente acrítica também ajuda.