domingo, 29 de novembro de 2020

DOS INSONDÁVEIS CRITÉRIOS JORNALÍSTICOS

Talvez me possam acusar de andar a embirrar com o Público, mas, se assim é, deve-se sobretudo ao facto de ter "crescido" a tê-lo como uma referência de bom jornalismo (e eu trabalhei no Expresso e na Grande Reportagem). Por isso, continuo surpreendido com os seus "estranhos" critérios para a selecção das notícias sobre a pandemia no Mundo.

Ora, tenho vindo a reparar que o Público aprecia particularmente países populosos, o que dá sempre garantias de muitos mortos (absolutos), mas também reparo que a sua "apetência" em relação a outros países esmorece à medida que a evolução parece não ser muito "favorável" ao fomento do pânico.

Exemplos disso, são a Suécia (que só surge agora fugazmente se alguma restrição se faz, mas, que raio!, nunca ao nível das máscaras), a Espanha (ora, que chatice!, ainda por cima não há qualquer colapso hospitalar... segundo o último relatório, só 12% das camas-c0vid estão ocupadas e 28% das camas-UCI) e os nossos "irmãos" do Brasil.

Para tentar encontrar uma lógica (ou não) nos critérios do Público, dei-me ao trabalho de analisar a situação dos sete países que mereceram referências em notícias da edição online de hoje, a saber: Reino Unido, Itália, México, Indonésia, Índia, República Checa e Alemanha. A minha análise incidiu na mortalidade por covid no período de 18 a 27 de Novembro (10 dias). Através do gráfico, em que confronto esses países com a situação portuguesa (acrescentando ainda Suécia, Espanha e Brasil), podem ver o quão ridículo é incluir a Indonésia e a Índia sem se enquadrar as suas dimensões populacionais. Além disso, no caso do México - que está sempre a ser apontado periodicamente - nunca é referido que, além de ser menos grave do que a portuguesa (em termos relativos), a sua situação espelha um padrão quase constante de mortalidade desde o Verão, sendo que as flutuações diárias (picos) que reflectem sobretudo o método de contabilização das vítimas.

Ah, e sobre a Suécia, o Brasil e a Espanha? Bom, esqueçamos esses países: não constam já do mapa mundi do Público.

sábado, 28 de novembro de 2020

DA FALSA SEGUNDA ONDA

Muito se tem falado da "segunda onda" da covid, e há quem anuncie uma terceira ou quarta ou quinta... ou, enfim, não tantas porque seremos todos salvos pela fantástica vacina que, afinal, parece não ser eficaz para os mais idosos (o grupo mais vulnerável).

Já tenho feito análises sobre a situação europeia, mas perante uma notícia recente sobre a situação dos Estados Unidos publicada no Washington Post e amplificada pelo nosso Público, decidi olhar para o outro lado do Atlântico com mais atenção. A notícia denunciava que as mortes por c0vid estavam a atingir níveis "sinistros" (tradução sensacionalista do Público) desde o início da pandemia.

Todos estarão ainda certamente recordados dos relatos na Primavera sobre a situação de Nova Iorque. Mas estará Nova Iorque a ter uma segunda onda agora? Resposta: não! Nem Nova Iorque, nem New Jersey nem Massachusetts nem Connecticut nem Louisiana, que são os Estados que apresentam maior taxa de mortalidade acumulada nos EUA. Na maior parte dos Estados que estiveram em situação mais dramática na Primaveira, a mortalidade diária (que padronizei para 10 milhões de habitantes) em Novembro é muitíssimo inferior. Ou seja, após o impacte da primeira onda, não veio uma segunda tão ou mais forte. Esqueçam o "filme" da Gripe Espanhola.

Na verdade, neste país, tal como na maior parte dos países da Europa, as mortes estão a aumentar sobretudo nos Estados que tinham sido poupados na Primavera e que começaram a ser atingidos sobretudo a partir do Verão, como são os casos do Texas, Florida e Illinois. A situação da California é bastante interessante - até pela questão climatática com Portugal -, porque a mortalidade até atingiu o seu máximo durante o Verão, estando agora os valores diário em Novembro muito semelhantes aos da Primavera.

Decidi colocar no gráfico a situação portuguesa como termo de comparação. Até para ver se o Público encontra um adjectivo acima de "sinistro" para colocar em Portugal e, depois, com isso avaliar a actuação do Governo de António Costa.




terça-feira, 24 de novembro de 2020

DO FERNANDO NOBRE, DA PIMENTA NA LÍNGUA, DO POLÍGRAFO, DA ESTAGIÁRIA E DA PIMENTA A DEVOLVER EM SUPOSITÓRIOS

Isto seria cómico se não fosse trágico. O famigerado Polígrafo utilizou uma estagiária de jornalismo, de seu nome Maria Leonor Gaspar - com o extraordinária currículo de licenciada em Estudos Portugueses pela FCSH e pós-graduada em Jornalismo e Comunicação Audiovisual pela ETIC (que nem sequer é de ensino superior) -, para desmentir categoricamente Fernando Nobre, médico com longo e meritoso percurso, além de professor universitário. Em causa estavam as suas declarações na entrevista ao 'invertebrado' Unas de que "os assintomáticos não transmitem o vírus".

Mas não foi um simples desmentido. A estagiária Gaspar lá foi falar com este e mais aquelE e aqueloutro. E depois zás!, "pimenta na língua" de Fernando Nobre. Eis com que "massa" se faz um Polígrafo: fermentando-se com uma estagiária de jornalismo que, do alto da sua "cátedra de ignorância", disserta sobre assuntos complexos.

Nem de propósito, no dia anterior (dia 20) à escrita desta 'coisada', a Nature (que tem uma cotação mais elevada, parece-me, do que essa "coisa" chamado Polígrafo) publicou um artigo científico sobre um estudo em Wuhan, envolvendo quase 10 milhões de habitantes, onde se concluiu que "não houve evidência de transmissão de pessoas positivas assintomáticas para contatos próximos rastreados". Que chatice: a estagiária Gaspar não lê a Nature.

Enfim, acho que Fernando Nobre deveria devolver de imediato a pimenta ao Polígrafo sob a forma de supositórios. 

Nota: O título da estagiária pode ser consultada na Comissão da Carteira Profissional de Jornalistas (aqui). O artigo da Nature pode ser consultado aqui. O DN fez notícia no dia 22, que pode ser consultada aqui.





DA DESGRAÇA DOS LARES OU DA PERGUNTA QUE OS JORNALISTAS NÃO FAZEM NUNCA

As informações são escassas - apenas se sabe o número de surtos - e a nossa imprensa, enfim, continua a fazer vista grossa, entretida com a análise das restrições. Vejam esta evolução:

a) No dia 2 de Setembro, a DGS divulga no seu site que há 23 lares com surtos activos.

b) Cerca de duas semanas depois, no dia 16, o Observador aponta surtos em 35 lares.

c) Em 23 de Outubro, o Ministério da Saúde revela que existiam então 107 lares com surtos, afectando cerca de 1.400 utentes. 

d) Um mês depois, a 23 de Novembro, é divulgada a existência de 182 surtos em lares de idosos.

Em cerca de dois meses e meio, os surtos em lares aumentam 8 vezes, e 159 em termos absolutos

Isto pode parecer pouco, mas é imenso. É catastrófico. Por um lado, embora a DGS continue a sonegar essa informação, cada surto afecta, por norma, uma muito elevada quantidade de idosos (os mais vulneráveis), que quase apenas têm contacto com funcionários (o que revela falhas de protecção activa nessas instituições).

Por outro lado, e ainda mais importante, 182 surtos em lares significa mais de 8% do total (assumindo que, entre legais e ilegais, existirão 2.200 lares em Portugal). Mostra sobretudo uma gritante falta de protecção dos mais idosos. 

Se acham que não, vejam: se esta incidência fosse semelhante fora dos lares (na casa dos portugueses, cerca de 4 milhões de alojamentos de residência permanente) e mesmo assim só estivesse a infectar uma pessoa teríamos então, actualmente, 332.000 infectados. Ora, incluindo idosos nos lares, temos actualmente 84 mil infectados. 

Em suma, grande parte das medidas políticas (muitas absurdas) têm, em última análise, como escopo, proteger os lares de idosos. Porém, a facilidade com que a c0vid entra nos lares continua a surpreender-me, o que apenas é suplantado pela indiferença com que esta matéria é tratada a nível político e meditático. 

Seria muito bom sabermos, nesta fase crucial, quantos mortos por covid em Novembro eram utentes dos lares. Há por aí algum jornalista com coragem ou vontade de saber isso? Ou não?



segunda-feira, 23 de novembro de 2020

DO MILAGRE

A gripe e as outras infecções respiratórias nos primeiros 22 dias de Novembro representam apenas cerca de 30% da média dos últimos quatro anos, e registam uma descida de quase 80% em relação a 2019. Além disso, mostram uma estranha tendência de decréscimo ao longo do presente mês, em contra-ciclo com o seu padrão de sazonalidade. Há tanta coisa aqui a merecer explicações sérias...



domingo, 22 de novembro de 2020

DA ANÁLISE À MORTALIDADE DOS MAIS IDOSOS OU DA BOA NOTÍCIA E DA MÁ NOTÍCIA

Vamos a uma análise detalhda (mesmo estando em terras italianas) que, em certa medida, explica porque, em primeiro lugar, eu julgo que a histeria em redor da pandemia é injustificável, mas simultaneamente me mostro extremamente preocupado com a situação dos idosos. Não é um contra-senso, como verão. Aliás, como tenho defendido, tem sido a histeria, as medidas políticas do tipo baratas tontas e o estado comatoso do Serviço Nacional de Saúde (SNS) que é a nossa verdadeira "pandemia", estando a causar já graves efeitos colaterais imprevisíveis, que se prolongarão a médio e longo prazo.

Um ponto prévio, que raramente é alvo de análise. Em termos absolutos, seria "normal", independentemente da pandemia, que morressem mais idosos. A população com mais de 85 anos tem vindo a aumentar de forma galopante. Segundo o INE, em 2013 viviam cerca de 249 mil pessoas desta faixa etária; em 2019 eram já 316 mil. Ora, neste grupo a mortalidade é sempre elevada, estando por ano acima dos 150 óbitos por 1.000 habitantes, i.e., em cada 100 idosos desta idade é expectável que morram 15. É a lei da vida, infelizmente, que muitos se esquecem.

Posto isto, para a faixa etária dos maiores de 85 anos, considerando a mortalidade em cada ano (ano N) e cruzando com a população deste grupo do ano anterior (ano N-1), podemos assim calcular a taxa de mortalidade num determinado período. Para os menos atentos, a taxa de mortalidade MEDE o número de óbitos por 1.000 pessoas para um determinado grupo etário. Significa isso que num determinado ano pode suceder um aumento absoluto de óbitos mas observar-se uma diminuição da taxa de mortalidade, se a população alvo tiver aumentado bastante. Esse deve ser sempre o indicador de referência.

Assim, fiz cálculos da taxa de mortalidade do grupo dos maiores de 85 anos para 2014 até 2020, e nos seguintes períodos (vd. gráficos e, para os cálculos vd. dois primeiros comentários):

a) 1 de Janeiro até 20 de Novembro; 

b) 1 de Janeiro até 15 de Março (pré-pandemia);

c) 16 de Março até 30 de Junho (1ª fase da pandemia); 

d) 1 de Julho até 20 de Setembro (período entre as duas fases da pandemia, incluindo o Verão "negro" com elevada mortalidade)

e) 1 de Outubro até 20 de Novembro.

Principais conclusões, sempre referentes aos maiores de 85 anos, a população mais vulnerável à c0vid e a outras doenças, que talvez sejam surpreendentes, para quem anda desatento:

1 - Apesar de toda a histeria, a taxa de mortalidade (TM) em 2020, até 20 de Novembro, não é a mais elevada desde 2014. O ano de 2015 registou uma TM 1,5 pontos permilagem (p.p.m.) acima do valor deste ano. O valor deste ano é, porém, muito mais elevado do que 2019 (+ 7,6 p.p.m.).

2 - O agravamento da mortalidade em 2020 pode explicar-se, em grande medida, por o ano de 2019 ter sido particularmente menos mortífero para os maiores de 85 anos, e sobretudo por o período imediatamente anterior à pandemia ter tido um surto gripal pouco agressivo. Com efeito, no período de 1 de Janeiro até 15 de Março, o ano de 2020 foi o menos mortífero, com uma TM que foi 12,6 p.p.m. abaixo da de 2015 e mesmo mais baixa 5,1 p.p.m. em relação a 2019. Significa que a c0vid surgiu com um sugrupo populacional vivo mas bastante vulnerável.

3 - A primeira fase da pandemia (16 de Março até 30 de Junho) teve um impacte na mortalidade nos mais idosos, mas não exagerada. Com efeito, apesar de ser 2020 ter sido o ano com mais elevada TM, esteve apenas 1,1 p.p.m. acima de 2015, mas já 4,2 p.p.m. acima de 2019. Note-se, porém, que mesmo assim, a TM acumulada em 30 de Junho era então ainda ligeiramente menor em 2020 (83,5 por mil) do que em 2019 (84,5). Ou seja, a primeira fase da pandemia não trouxe um efeito relevante na mortalidade dos mais idosos.

4 - O período estival (Julho a Setembro), quando a c0vid estava a matar pouco, a TM em 2020 foi a mais elevada no período em análise, estando 1,5 p.p.m. acima do ano mais próximo (2016) e 5,6 p.p.m. acima de 2019. Este foi o período que, de forma inequívoca, demonstrou o colapso do Serviço Nacional de Saúde (SNS), que se mostrava já evidente durante a primeira fase da pandemia.

5 - O período outonal (1 de Outubro até 20 de Novembro), correspondente à segunda fase da pandemia, mostra um reforço da tendência de uma TM mais elevada em 2020 do que nos anos anteriores, estando com valores 2,0 p.p.m e 2,8 p.p.m. acima dos anos de 2016 e 2019, respectivamente. São valores elevados, mas ainda não catastróficos, se se considerar que, mesmo assim, como se indicou no ponto 1, a TM de 2020 ainda não é a mais elevada. Contudo, a tendência é preocupante, pois parece evidente que, mais do que a c0vid, subsiste o estado comatoso do SNS, que atinge com particular gravidade os mais idosos, que, mesmo não tendo c0vid, estão sujeitos a mil e um problemas que necessitam de acompanhamento médico quase contínuo. Não o tendo, simplesmente morrem mais.











sexta-feira, 20 de novembro de 2020

DO BRASIL E DA SUÉCIA... E DESSE MILAGRE CHAMADO PORTUGAL

Lembram-se de a Suécia estar na berlinda durante a Primavera? Pois bem, Portugal está, neste momento, com o triplo da sua taxa de mortalidade por covid-19. Lembram-se também do Brasil estar na berlinda durante o Verão? Pois bem, no mês de Novembro, Portugal está com uma taxa diária de mortalidade que supera os piores valores brasileiros daquele período, e está também com o triplo da taxa de mortalidade durante o presente mês.

É esta a situação do "milagre" português. De quem é a culpa? Dos portugueses, claro. Do Governo nem da DGS de Saúde não é.

Enquanto isso, continuamos sem saber a situação dos lares em Portugal, essa autêntica fábrica de cadáveres. A prioridade do Governo é saber e divulgar nauseam o que se passa nas escolas, onde até agora houve 0 mortes... Entretenimento para ninguém se lembrar dos lares.



sábado, 14 de novembro de 2020

DA SUÉCIA, COM AMOR, PARA A NOSSA IMPRENSA ABUTRE E PARA OS COVIDEIROS COVEIROS

Por cada dia com um pouco mais de mortes na Suécia, a nossa imprensa e os covideiros do regime rejubilam. Por cada medida e recomendação que, de forma racional, as autoridades sanitárias e políticas da Suécia tomam face a uma infecção que mostra um perfil de agravamento sazonal, a nossa imprensa e os covideiros do regime rejubilam, considerando que a estratégia sueca estava errada. E apontam sempre o fracasso da Suécia face aos vizinhos da Noruega, Finlândia e Dinamarca. 

Isto, enfim, parece coisa de rejubilos dos fanáticos do Alguidares de Baixo, que milita na terceira divisão distrital, perante um fracasso do Tottenham face aos colossos do Manchester City ou do Liverpool. Só que vai inculcando a ideia de que países como Portugal é que estão a fazer as coisas bem. E não: estão a fazer as coisas mal.

É verdade que a mortalidade por covid da Suécia, nas últimas duas semanas, de acordo com os dados do European Centre for Disease Prevention and Control (EDCC), é 8 vezes superior à Noruega e Finlândia e quase o triplo da Dinamarca. Mas... mas vamos lá a ser sérios: a Suécia apresenta uma mortalidade de 1,7 óbitos por 100.000 habitantes nos últimos 14 dias; é o sétimo melhor país europeu em 31. Está melhor do que a Alemanha, que é o país, de entre todos aqueles que embarcaram em lockdowns e tudo e mais alguma coisa, que se está a portar menos mal.

Sem toda a parafernália de máscaras e confinamentos e restrições, mas sim apenas com medidas sensatas, a Suécia teve 22% da mortalidade registada por Portugal no mesmo período, e um pouco menos de casos positivos. Sem toda parafernália de máscaras, sem red zones, sem tudo e mais alguma coisa fechada a sete chaves, a Suécia está com 1,7 óbitos por 100.000 habitantes enquanto Portugal está com 7,6; a Itália está com 9,6; a Espanha com 10,4; a Bélgica com 22,7; e a República Checa com 26,7.

Notem também a situação de outros três países que não têm, por regra geral, a obrigatoriedade de máscara na sua estratégia anti-covid (Finlândia, Noruega e Estónia). Note-se que, por exemplo, na Noruega só é obrigatória em situações de transporte em caso de deslocação para o período de quarentena, e só para maiores de 12 anos (vd. link em baixo). 

Ninguém, jamais, dos Governos a Europa da histeria - leia-se Europa continental abaixo da Escandinâvia e Báltico - quererá sequer avaliar o verdadeiro impacte (provavelmente muito negativo) das medidas de confinamento e de uso de máscaras (sobretudo na rua), nem sequer quererão revelar com demasiado detalhe aquilo que se passa nos lares, cujo desempenho constitui a pedra basilar na mortalidade por covid e no efectivo impacte da pandemia.  

Isto tudo, enfim, é uma canseira. Pode-se não morrer da covid, mas esta situação mata-nos aos poucos. Ou mata mesmo se, como em Portugal, os serviços nacionais de saúde adiarem atendimentos supostamente não urgentes. Na verdade, em Portugal os cemitérios andam a encher-se de doentes "não urgentes". E vai piorar.

Nota: Este e outros textos podem ser lidos no meu blog: https://noscornosdacovid.blogspot.com/

Fonte: ECDC, vd. aqui

Link das máscaras na Noruega, vd.aqui



quinta-feira, 12 de novembro de 2020

DAS DUAS PANDEMIAS

A covid está agora a bater forte? Está, sim! Está a matar mais do que as pneumonias em período homólogo. É uma evidência. Morre mais gente só por causa disso? Claro que não. O excesso não-covid continua em grande, estabilizando em torno das 33 mortes diárias.

Conclusão: apostar todas as "fichas"na covid não evitou aquilo que agora anda a suceder e ainda deixou o SNS de pantanas. Foi a estratégia lost-lost, porque tem faltado tudo o resto: planeamento, estudo e intervenções racionais. Neste momento, estamos com duas pandemias a matar bem. Nos últimos 11 dias houve sete dias em que o excesso de mortalidade em relação á média excedeu a centena. Nos 10 primeiros dias de Novembro, o excesso de mortalidade vai já em 953, sendo que 559 são de covid e 394 por não-covid. 

P.S. A reacção da DGS relativizando a pobre qualidade dos seus dados criticados por investigadores da Universidade de Porto (já sem falar na recusa em fornecer informação sobre os lares) é revelador da fraquíssima qualidade do nosso país. O estudo é menorizado, a análise é ostracizada. Aliás, se a DGS até se vê obrigada a contratar uma empresa externa para fazer um miserável relatório diário com informação quase irrelevante e que mais não é do que somatórios...



DA CIÊNCIA E DA PRESCIÊNCIA

Têm algumas parecenças físicas, além de ambos defenderem não ser recomendável o uso de máscaras, apesar do primeiro ser português, e o segundo sueco; apesar do primeiro ser médico “crucificado” na praça pública por passar 13 atestados de dispensa de uso de máscaras em Portugal, e o segundo passar normas que dispensam o uso de máscaras a mais de 10 milhões de pessoas na Suécia. 

Ladies & gentlement, eis Gabriel Branco, português, e Anders Tegnell, sueco, sendo que se o primeiro fosse sueco não seria “perseguido” pela imprensa, e se o segundo fosse português estaria agora com queixas na Ordem dos Médicos. Eis a nossa presciência.




quarta-feira, 11 de novembro de 2020

DOS LARES, SEMPRE!

Peço: foquem-se no essencial. Haver 4.000 ou 6.000 ou 10.000 casos positivos é irrelevante, até porque se anda a testar à maluca (já cerca de 40 mil testes PCR), e isso é já apenas um negócio. Aquilo que verdadeiramente interessa não é apanhar casos positivos, sejam verdadeiros positivos quer falsos positivos. 

Na verdade, aquilo que se será fundamental é analisar se, na prática, as normas de segurança dos lares estão a ser cumpridas. 

Desde o início do mês detectaram-se cerca de 300 casos positivos por dia em idosos com mais de 80 anos e mais 275 por dia entre os 70 e 79 anos. Só isto dá, garantidamente, por dia entre 73 e 95 mortes nas próximas duas semanas.

Quantos destes casos positivos são utentes de lares? Quantos das mortes diárias são de idosos que viviam em lares? Pela amostra da imprensa, muitos serão. Mas precisamos de saber a verdade. As restrições de liberdade impostas pelo Governo deverim ter, como moeda de troca, a transparência e a verdade. E transparência e verdade é coisa que o Governo e a DGS nunca nos quiseram dar.  

P.S. Os números de hoje não me surpreendem, e, infelizmente, a tendência será para piorar. Todos os indicadores que uso apontam para o descontrolo dos lares, daí a minha insistência. Quem me acompanha pode ver que escrevi, no sábado passado, o seguinte (e insistindo na questão dos lares): "Eu, que não tenho nenhum doutoramento em Matemática, já aqui apontei num post do dia 4 de Novembro, que, graças ao falhanço na protecção dos idosos (e tudo indica que seja nos lares, como já expliquei), será expectável atingirmos uma mortalidade entre os 82 e os 106 óbitos nas próxima semana ou daqui a duas (estimativas feitas com base em intervalos de taxas de letalidade para os grupos maiores de 60 anos). O problema, insisto, estará sobretudo nos lares, e seria bom que a DGS revelasse a verdadeira dimensão dos casos actuais. Escrupolosamente. Mas isso não acontecerá, porque politicamente não interessa, e arranjam-se assim manobras de diversão, e actores que queiram fazer favores ao Governo." (vd. aqui).








DA PATETICE

António Costa deve pensar que o SARS-CoV-2 se farta e decide ir embora de Portugal apenas porque andam a dizer cada vez mais mal dele por telefone, ou porque se chateia de o andarem a apanhar com zaragatoas e a meterem-no em “tubos de ensaio”... Senhor primeiro-ministro, “amande-lhe” antes com antibióticos, daqueles de que falou na entrevista com o Ricardo Araújo Pereira. Às tantas até terão melhores resultados do que uma estratégia de telefonista e de testes à maluca... 



DO MÉDICO DA TRETA

O médico Gustavo “vão todos morrer” Carona continua, nas páginas do Público, a espraiar a sua doutrina do pânico, escarafunchando na Medicina da Catástrofe. Esta semana ainda esmifra mais, sanguinolenta e pornograficamente, a coisa. Sem pudor, embora parecendo púdico, afirma: “Eu já escolhi deixar pessoas morrer sem pestanejar”, para depois nos garantir que “foi por um bem maior”, continuando em seguida a brandir o bisturi e o alguidar.

Eu até queria muito acreditar que este senhor doutor Gustavo Carona já fez “por volta de duas dezenas de vezes” tudo aquilo que diz ter feito naquele texto do Público. Mas eu, que sou ficcionista, ao ler o seu texto, parece-me tudo aquilo falso; pelo estilo, não vislumbro ali um pingo de realidade. Até porque, se fosse real, nenhum médico sensato o contaria. Há realidades que o pudor nos faz guardar para nós. E geralmente são as mais tenebrosas. 

Texto do Público, aqui



terça-feira, 10 de novembro de 2020

DO OLHAR PARA O ENXAME EM VEZ DE TER O FOCO NA ASA DA ABELHA

Uma das coisas que mais me tem irritado durante a pandemia é observar a incapacidade quase generalizada (incluindo pessoas muito inteligentes que ficaram bloqueadas pelo medo) de se olhar com racionalidade para o problema que, não neguemos, existe a nível mundial. 

A covid passou de problema de Saúde Pública - a necessitar de soluções racionais dentro de um quadro complexo que exige frieza de análise e decisões ponderadas (e assumindo que não somos imortais, e que já existiam e existirão doenças preocupantes) - para uma obsessão, uma histeria, uma distopia. Isto dá, deu e dará muito maus resultados.

Tenho procurado, para a minha sanidade, ver a pandemia com um olhar mais vasto, o que me tem causado alguns ódios e incompreensões, mas também tem revelado muitos corporativismos atávicos, de que os jornalistas são um triste exemplo, e alguns médicos também, por recusarem "dialogar" ou ouvir supostos não-especialistas, muitos dos quais, sendo especialistas noutras áreas, tendem a observar o comportamento do enxame em vez de olharem somente para as asas das abelhas.

Isto a pretexto de mais uma análise de conjunto sobre o impacte (directo e indirecto) da pandemia por grupo etário, e que me fez relembrar um post de 6 de Setembro (vd. aqui) intitulado "Do elefante cor-de-rosa no meio da cidade ou da estranha pandemia dos jovens". Nesse post mostrava que, apesar de ser uma faixa etária de baixa mortalidade, os jovens entre os 15 e os 24 anos apresentavam este ano um acréscimo em relação á média, o que não sucedia com as faixas adjacentes. 

Esta situação é tanto mais estranha, e preocupante (apesar de estarmos a falar de um acréscimo de "apenas" 30 óbitos, mas que representa mais 11,5% do que a média), porquanto nas outras faixas etárias até aos 55 anos o ano de 2020 (em pleno ano covid) está a ser muito menos mortífero do que a média. 
Sendo esta situação estranha, e porventura reveladora de falhas em termos de cuidados de saúde primária, a análise que sintetizo em gráfico mostra também a irracionalidade da actual estratégia assente sobretudo em "lockdowns" impostos na actividade social e económica de toda a população activa para fazer face a um problema específico de um grupo específico e bem delimitado da população. E, com isso, causar um conjunto de problemas que resultam até em excesso de mortalidade até nas pessoas que supostamente se querem proteger. Salvamo-las da covid, deixamo-las morrer de outras doenças curáveis se não se tivesse deixado de as tratar. 

Com efeito, para uma doença que tem tido efeitos irrelevantes ou mesmo nulos para cerca de 2/3 da população portuguesa (a mortalidade em 2020 no grupo dos até 55 anos, que agrega 6,6 milhões de pessoas, é até mais baixa do que a média), convinha concentrarmo-nos em soluções mais eficazes para o restante 1/3, e neste grupo particularmente para os cerca de 315 mil pessoas (maiores de 85 anos) que, de facto, estão a ser bastante afectadas, de forma directa e indirecta, pela pandemia. 

Porém, independentemente da perigosidade da covid para grupos específicos (que devem ser protegidos de forma activa), não é aceitável que uma doença (que vitimou até agora perto de 3.000 pessoas em Portugal) acabe por ser responsável indirecta de um número de mortes muito superior. No caso dos maiores de 85 anos, o acréscimo até 9 de Novembro é de quase 6.700 óbitos, o que revela que se está a falhar em tudo o resto. 

Sabendo também que a mortalidade da covid está associado sobretudo à idade, observar que os acréscimos relativos de óbitos em 2020 (também até dia 9 de Novembro) nos grupos dos 55 aos 74 anos é superior ao que se regista no grupo dos 75-84 anos é também é revelador do falhanço (que já muito tenho falado) do SNS.

Fico por aqui, embora houvesse muito mais a acrescentar.

Fonte: SICO-eVM



segunda-feira, 9 de novembro de 2020

DO MEDO QUE MATA OU DO NÚMERO BAIXO QUE É UM MAU SINAL

Numa época em que o Governo e a já descredibilizada DGS (uma vergonha internacional, o artigo de investigadores da Universidade do Porto sobre a patética qualidade dos dados da covid) só têm olhos de preocupação para os números dos casos positivos , eu olho sim com preocupação para certos números baixos das urgências.

Ali se vê os efeitos do medo insuflado pela Propaganda Mediática, que tem em Rodrgo Guedes de Carvalho o prelado superior.

Com efeito, incidindo a análise apenas nos casos considerados "muito urfentes", pela Triagem de Manchester (os emergentes, cor vermelha, são em menor número e mais variáveis), estive a observar a variação interanual no período 2016-2020 para os dias 1 a 5 de Novembro. 

Enquanto entre 2016 e 2019 se observam nestes cinco dias, uma significativa estabilidade de casos "muito urgentes", sempre entre 7.350 e 7.500, este ano registou-se apenas 5.212 casos "muito urgentes".

Como não é suposto que, de repente, a população portuguesa tenha ficado mais saudável, esta quebra de 30% em relação à média é tremenda, e tem apenas uma explicação: medo! Medo de quem, apesar de sentir problemas de saúde que podem ser letais se não houver intervenção médica, se recusa a ir a um hospital por medo de uma infecção que, até agora, afectou 1,8% da população portuguesa e matou menos de 0,03% da população portuguesa.

Muitos destes que não foram ao hospital, e deviam ter ido, acabaram na morgue. E não se vê nenhuma campanha da DGS a dar garantias de segurança e a incentivar a ida às urgências em caso de sintomas graves de outras enfermidades. Estes podem morrer à vontade que ninguém nota.

Fonte: Monitorização Diária dos Serviços de Urgência (SNS, vd. aqui, dashboard 6)