quinta-feira, 17 de setembro de 2020

DO REGRESSO DO PÂNICO

10 mortos por covid num só dia. Pânico, não é? Sim, mas ninguém se incomoda por num dia de Setembro (mês geralmente pouco mortífero) terem morrido 332 pessoas? Ninguém se incomoda por se registar 66 óbitos em excesso (acima da média), que não é explicado pelo SARS-CoV-2? Ou será que, afinal,66 é um número inferior a 10?



DAS CORES E DO MEDO

Para aumentar o pânico está já a imprensa a anunciar a TWIN PANDEMIC, o encontro do vírus influenza com o SARS-CoV-2. 

Estou aqui a imaginar uma conversa de bar entre os dois virus. Primeiro, discutem a razão para um ser retratado pelos humanos como azul, cor mais pacífica, e o outro com um tenebroso encarnado, cor de sangue, quando na verdade nem um nem outro têm cor porque não interagem com o espectro visível. 

Depois, seguem para a magna decisão sobre a quantidade de mortais que cada um vai ceifar, e muito ordeiramente determinam uma estratégia em que nenhum deles vai matar alguém que o outro já matou. 

Chegam, porém, à lamentável conclusão que, assim, não matarão muito mais do que um só deles mataria, mas ficam satisfeitos porque mesmo assim matarão muito mais que o habitual. É que muitas mortes serão por pânico.

Nota: Convém referir que, habitualmente, numa época gripal se misturam já diversos vírus que causam gripe. Nunca há só um.




quarta-feira, 16 de setembro de 2020

DA SUÉCIA, AQUELE MALDITO PAÍS DO MATA-VELHOS (E PORTUGAL, NÃO É, CLARO QUE NÃO!)

Durante meses, a nossa (e não só) imprensa fustigou a estratégia da Suécia, e os "covideiros" devem ter torcido para que a coisa ainda desse mais para o torto.

Efectivamente, a mortalidade em 2020 na Suécia continua, globalmente acima da média (cerca de 5,7% até Setembro), e a situação é pior do que a dos seus vizinhos escandinavos. Ainda há dias vi as estatísticas da Noruega que indicavam que 2020 estava com mortalidade total abaixo da média, fruto das medidas draconianas que seguiram. 

Porém, durante o pico da pandemia, e quando em Maio a Suécia ainda apresentava muitas mortes por covid, crucificava-se a sua estratégia, considerando-a desumana: o Governo e as autoridades de saúde da Suécia andavam, dizia-se por cá, a deixar morrer os velhos.

Enquanto isso, Portugal auto-elogiava-se. Governo e o impagável Presidente da República garantiam-nos que estávamos perante um "milagre", invejado por todos.

Tretas! Tretas, mil. Mil vezes tretas.

Eu bem sei que isto começa a tornar-se cansativo, talvez para vós que me acompanham, mas não resisto a vos colocar aqui um pequeno gráfico que mostra a evolução da mortalidade acumulada para os maiores de 65 anos desde Janeiro até 7 de Setembro de 2020 para Portugal e para a Suécia, sendo que os dados estão padronizados em função da população desta faixa etária.

E, como podem observar, nunca - repito, NUNCA - em qualquer altura do ano a Suécia esteve com uma taxa de mortalidade acumulada no grupo dos mais idosos acima da de Portugal. Nunca! 

Primeiro, porque a gripe foi lá menos letal até Fevereiro (deixou-se morrer velho de gripe em Portugal, será?!!).

Segundo, porque, embora tenha havido muita mortandade da covid na Suécia até Maio, muita gente se esquece que em Portugal começou desde cedo a registar-se um excesso de mortalidade não-covid em Portugal.

Terceiro, a partir sobretudo de Julho, a situação na Suécia normalizou (a mortalidade tem estado abaixo da média), enquanto em Portugal temos assistido a um Verão de completo mortícinio da população que nada tem a ver com a covid. Vejam, aliás, a divergência nas curvas da mortalidade acumulada que abaixo vos apresento.

Portanto, se a Suécia é um país de mata-velhos; que será então Poortugal?

Nota: Os dados de Portugal são obtidos, como habitualmente, no SICO-eVM. Os dados da Suécia podem ser consultados aqui: https://www.scb.se/en/finding-statistics/statistics-by-subject-area/population/population-composition/population-statistics/?fbclid=IwAR3Ash_sTy5oagP-7ES8lghWjgR92ZEDrsFpwuqtHUZgEe5y9mDLSwjHeEM#_Statisticalnews . 



DO DAR DOZE VIVAS AO SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE

Morreram 54 pessoas por covid na primeira quinzena de Setembro, o que significa 3,6 óbitos por dia. Entretanto, como não só se morre de covid (ao contrário do muitos devem pensar), na primeira quinzena morreram, por dia, uma média de 309 pessoas. Destes, contas feitas, e arredondando, cerca de 305 morreram livres de covid, ou seja, "cheios de saúde", porquanto livres do mal que aflige obcecadamente o país, a DGS e o Governo. No período 2009-2019, a média diária na primeira quinzena de Setembro foi de 257 (Setembro é o mês menos mortífero do ano)....

Digam-me lá então qual a parte do gráfico que não entendem. Ainda acham que o SNS está bem? E que a DGS e o Governo estão a fazer tudo para que fique "tudo bem"?



DA INSANIDADE SOBRE A SEGUNDA VAGA (UMA ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DA PANDEMIA NA UNIÃO EUROPEIA)

Para este exercício, posso dizer-vos que demorei menos de duas horas a recolher os dados dos óbitos covid-19 por mês para cada país da UE-27, a fazer os cálculos para determinar a média diária por milhão de habitantes, e a fazer os gráficos. Humildemente, acho que isto é mais útil do que andar (como fez o Público) a "desvendar" no Google Maps os cafés que estão a menos de 300 metros das escolas. 

Porventura, a tabela e o gráfico não precisarão muito de interpretações, pela evidências, mas sempre vos digo cinco "coisas": 

1) achar que já estamos numa segunda vaga é acreditar, por exemplo, que 19,2 = 0,2 [vejam o caso da Bélgica, por exemplo, em Abril e Setembro];

2) achar que já estamos numa segunda vaga é acreditar que 2.550 = 185 [sendo que o primeiro valor se refere à média dos óbitos (valor absoluto) por dia em Abril e o segundo refere-se à média dos óbitos diários (valor absoluto) na primeira quinzena de Setembro];

3) achar que estamos numa segunda vaga é acreditar que os valores das manchas destacadas a vermelho, laranja e amarelo (Abril) são semelhantes aos valores de Setembro (vd. quadro);

4) achar que estamos numa segunda vaga é acreditar que as barras do gráfico em Abril ocupam a mesma área das barras dos meses de Junho, Julho, Agosto e Setembro;

5) achar que estamos numa segunda vaga é, enfim, estar à beira da insanidade, embora sem sanção, porque o mundo anda louco.




terça-feira, 15 de setembro de 2020

DAS CONSEQUÊNCIAS DO MEDO E DAS MÁS ESTRATÉGIAS

Decidi fazer um simples exercício: comparar a mortalidade total dos últimos 365 dias (14 de Setembro de 2019 a 13 de Setembro de 2020) com um período homólogo que tivesse tido um surto gripal relevante e também uma onda de calor no Verão. Escolhi assim o períod homólogo de 2016-2017.

Vejam como foi o surto gripal de 2016-2017 e comparem-no com o surto gripal de 2019-2020 e com o pico da covid de 2020. Mas depois comparem sobretudo os dois Verões.

Na verdade, apesar daquele terrífico pico da gripe de 2016-2017 (sobre o qual nem um ai se ouviu da DGS e do então Governo, já então liderado por António Costa), a mortalidade no período em análise (365 dias) acabou por ser inferior ao de 2019-2020.

Com efeito, para o mesmo número de dias registaram-se 111.150 óbitos em 2016-2017, enquanto em 2019-2020 foram 117.152. Ou seja, mais 6.002 óbitos para 2019-2020 (e ninguém diria, vendo aquele pico de gripe em 2016-2017). Grande parte desta diferença surge a partir de Julho. A diferença de mortalidade entre 1 de Julho e 13 de Setembro nos dois períodos em análise é de 4.066 óbitos.

Ou seja, este Verão, quase sem mortes por covid, está a ser devastador, donde continuo a insistir que a gestão da covid está a ser catastrófica, não por causa da gestão da covid propriamente dita, mas sim pela forma como se está continuadamente a descurar os serviços de saúde. Não estamos a morrer pelas balas do inimgo (leia-se, covid), mas de fome e sede (leia-se, falta de serviços de saúde para as outras afecções e doenças)

Nota: Análise feita com base nos dados do SICO-eVM. O período em análise para ambos os anos teve em consideração o ano bissexto de 2020, pelo que houve um acerto no calendário para 2016-2017, de modo a se compararem 365 dias.



DA REALIDADE, DA COVID, DA OUTRA PANDEMIA E DA NECESSIDADE DE SE ABRIR A PESTANA

Se considerarmos a taxa de mortalidade nos maiores de 85 anos (óbitos no grupo etário pela população no grupo etário), em 10 de Abril de 2020, no auge da pandemia, a taxa de mortalidade acumulada era de 5,0 óbitos por 100 habitantes, e estava muito abaixo da média (para o período 2014-2019). Aliás, estava abaixo mesmo do limite inferior do intervalo de confiança (a 95%), o que significava que, em proporção (note-se), estava a morrer muito menos pessoas deste grupo etário do que seria suposto, muito em parte pela gripe de Inverno não ter sido muito agressiva.

Entretanto, apesar de nos últimos meses a covid estar a matar muito menos, houve um agravamento na mortalidade nos mais idosos. E em 10 de Setembro a mortalidade acumulada estava já nos 11,37 óbitos por 100 habitantes, já um pouco acima da média. Para esta inversão contribuiu sobretudo o mês de Julho (que foi uma hecatombe para os idosos, muitíssimo pior do que a covid) e também os primeiros dias de Setembro.

Pergunta: a culpa desta inversão foi da covid? Ou antes foi de um sistema de saúde obcecado com a covid-19 mas que passou a borrifar-se olimpicamente no tratamento de todas as outras afecções? Ainda acreditam que está tudo bem com o SNS, e que a DGS e Ministério da Saúde andam a fazer um bom trabalho?

Nota: A taxa de mortalidade foi calculada em função da mortalidade em cada ano (para os períodos de referência, o dia 10 de cada mês) e da população estimada, segundo o INE. Isto significa que a taxa de mortalidade pode ser menor num determinado ano, mesmo havendo mais óbitos, se o grupo etário tiver entretanto aumentado. Num ano normal, no final de Dezembro, a taxa de mortalidades nos maiores de 85 anos ronda os 15 por 100 pessoas.







segunda-feira, 14 de setembro de 2020

DA ADIVINHA

Duas em cada três vítimas da covid em Portugal morreram nos meses de Abril e Maio. Pois bem, quem olhar para este quadro, que preparei (através do SICO-eVM) com os 20 dias mais mortíferos (óbitos por todas as causas) no total e por grupo etário, consegue adivinhar quais foram os piores meses em 2020? 

Foi Abril? Nã! Maio? Ainda menos! Vejam, vejam, é fácil de ver. Será que afinal se morreu mais nos meses em que a pandemia não existia ainda ou nos meses em que quase não matou? Vejam! Vejam por vós! As máscaras, que até o Marques Mendes quer que usemos na rua, ainda não nos tapam os olhos, mesmo se o medo irracional anda por aí a tapar muitos cérebros. 

Nota. As cores não têm nenhum significado qualitativo ou quantitativo; apenas servem para destacar (e agrupar) meses. 



domingo, 13 de setembro de 2020

DO HORROR DA IGNORÂNCIA

A Índia é agora apontada como o país que prova e justifica a manutenção (ou aumento) do pânico em redor da pandemia da COVID-19. Impressionam os números absolutos: só ontem houve 86.194 casos positivos e 1.076 mortes por covid; no total já se contabilizam 79.690 mortes por esta doença, que é quase tanto quantas as pessoas que morreram este ano em Portugal por TODAS as causas até finais de Agosto. Horroroso, não é? Não tanto.

A Índia tem cerca de 1,383 mil milhões de habitantes. Ou seja, 138 vezes mais população que Portugal, donde afinal os casos da Índia são equivalentes, à escala portuguesa, a 576 mortes no total (nós temos quase 1.900) e ontem morreu o equivalente a oito portugueses (em Portugal morreram 7), e os casos positivos de ontem são equivalentes a 623 casos (ontem tivemos 673).

Mas a Matemática tem sido a principal vítima da pandemia.



sábado, 12 de setembro de 2020

DA ANÁLISE ESSENCIAL PARA BEM COMPREENDER OS (FRACOS) EFEITOS DA COVID E OS (ELEVADOS) CUSTOS DA OBESSÃO PELA PANDEMIA NOS MAIS IDOSOS

Nas últimas semanas, também por razões profissionais, tenho olhado com mais detalhe para o efectivo impacte da covid, tendo em consideração o envelhecimento da população portuguesa, sobretudo após ter constatado que o grupo dos mais idosos (acima dos 85 anos) estava a crescer a um ritmo mais galopante do que pensava. Segundo as estimativas do INE, em 2013 viveriam 248.811 pessoas neste grupo etário, e em 2019 já eram 316.442. Um espantoso crescimento de 27% em apenas seis anos. 

Este crescimento tem um lado positivo - vive-se mais! -, mas um lado negativo: neste grupo é expectável que se morra  assim mais, muito mais, em cada ano, mesmo que não haja situações "anormais". É a simples, e lamentável, "lei da vida". Para se ter uma ideia, por norma, a taxa de mortalidade dos maiores de 85 anos é de 15% por ano (ou seja, morrem 15 pessoas em cada 100 em apenas um ano), cerca de três vezes superior à do grupo dos 80-84 anos (5,7%), quase cinco vezes superior à do grupo dos 75-79 anos (3,1) e aproximadamente oito vezes superior à do grupo dos 70-74 anos (1,8%).

Posto isto, quando olhamos para o impacte de uma epidemia (ou mesmo de surtos, como a gripe), na verdade, para sermos mais rigorosos, devemos olhar sempre para os números absolutos (porque cada número representa efectivamente uma vida), mas convém também saber o verdadeiro impacte através de uma taxa de mortalidade (ou seja, uma taxa relativa que considere as mortes absolutas em função da população desse grupo etário), se for possível aceder a esses dados.

Ora, embora não vos possa revelar todas as análises, e abrangendo outras faixas etárias (até por não ser este o espaço mais adequado), mostro-vos um simples gráfico que, apesar da aparente confusão de linhas, é extremamente elucidativo do (fraco) impacte da covid no grupo dos mais idosos. O gráfico revela, para cada ano com informação (2014-2020) a taxa de mortalidade diária (óbitos por 100 mil habitantes), tendo em conta as mortes no ano correspondente em função da respectiva população dos maiores de 85 anos.

Colocando a mortalidade neste perspectiva, chamo a atenção para quatro aspectos, alguns retirados deste gráfico, outros das análises que entretanto realizei, relacionados com o grupo dos maiores de 85 anos:

1) até Março, a taxa de mortalidade em 2020 era muitíssimo mais baixa do que na generalidade dos anos anteriores. Em final de Fevereiro, a taxa de mortalidade em 2020 era mesmo a mais baixa desde 2014. 

2) a covid, que teve o seu pico de mortalidade em Abril, implicou que em 2020 a taxa de mortalidade neste mês (e também em Maio)  foi a maior desde 2014, mas não de forma muito significativa,. Aliás, a taxa de mortalidade teve um pico nos 55 óbitos por 100.000 habitantes, que compara com picos que rondam os 80 óbitos por 100.000 habitantes nos surtos gripais de 2015 e 2017.

3) Embora já se observasse um excedente de mortalidade (em relação à média) não associada à covid, tanto em Março como em Abril, a taxa de mortalidade acumulada no dia 10 de Maio de 2020 (referência na minha análise para efeitos de comparação com os anos anteriores) era apenas a 5ª maior (em sete anos), em parte pela gripe em Janeiro e Fevereiro ter sido pouco mortífera. O ano de 2020 estava então, naquele dia, atrás dos anos de 2015, 2018, 2017 e 2019.

4) Porém, e esta é uma situação preocupante, os meses de Verão - que coincidiram com um abrandamente muito significativo das mortes por covid - foram trágicos para os idosos. No grupo dos maiores de 85 anos, o mês de Julho de 2020 foi de longe o pior, o de Agosto foi o terceiro pior e os primeiros 10 dias de Setembro foram também os mais mortíferos em termos relativos. Assim, a taxa de mortalidade acumulada em 10 de Setembro deste ano era já a terceira desde 2014, estando já apenas atrás de 2015 e 2018. Ou seja, este indicador (taxa de mortalidade acumulada) piorou exactamente nos períodos de menor abrandamento da pandemia.

Conclusão: Na minha opinião, esta análise mostra, por um lado, que o impacte da covid, mesmo sendo doença muito perigosa para os mais idosos, não atingiu proporções catastróficas mesmo no período Março-Maio no grupo etário mais vulnerável, tendo mesmo ficado aquém do impacte habitual das gripes (em 2015 e 2017 foram muitíssimo agressivas, pelo que não estou a minimizar nada). No cômputo geral, o impacte da covid no grupo etário mais vulnerável, vista na perspectiva da taxa de mortaldiade, foi episódico e somente com algum relevo por, em parte, a gripe em Janeiro e Fevereiro ter sido menos agressiva do que o habitual. Mais preocupante parece-me a mortalidade que se observou durante o Verão de 2020 que, de forma persistente, tem causado um número anormal de mortes de idosos. Esta situação, que se deverá em grande medida à inusitada concentração de meios do SNS na pandemia, em detrimento das funções habituais (e imprescindíveis), tem contribuído para um aumento da taxa de mortalidade acumulada em 2020, já bem acima da média, embora, saliente-se, não seja este o pior ano (repita-se, se olhado na perspectiva da taxa de mortalidade).



sexta-feira, 11 de setembro de 2020

DO VERÃO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO

Para vossa reflexão, eis uma análise sobre o morticínio de Verão, a verdadeira "pandemia". A covid, ao pé do que anda a acontecer, parece mesmo um "resfriado" se comparada com a hecatombe de mortes que persistem por causas não associadas à pandemia, mas antes sim pelos (des)cuidados ao nível do SNS.

Desde dia 20 de Junho, início do Verão, até 10 de Setembro:

a) a covid vitimou 327 pessoas, representando 1,27% das mortes totais.

b) morreram 25.669 pessoas, quando a média de 2009-2019 foi de 21.822 óbitos, significando um excesso de mortalidade de 3.847 óbitos. 

c) Nesta linha, por cada morto por covid durante o Verão registaram-se 10 mortos por causas não-covid acima da média.

d) Se considerarmos intervalos de confiança (que tem em consideração os famigerados desvios-padrão), o excesso de mortalidade no Verão de 2020 estará, por agora, compreendido entre 2.197 e 5.497 óbitos, não considerando o envelhecimento populacional.

e) O excesso de mortalidade no Verão de 2020 tem sido anormalmente consistente e persistente (vd. gráfico), com 69 dias (num total de 83) acima do limite superior do intervalo de confiança (a 95%) em relação média diária do período 2009-2019.

f) Apenas se registaram cinco dias no Verão de 2020 com mortalidade total abaixo da média (colunas verdes no gráfico).

g) Todos os dias de Julho e, até agora, todos os dias de Setembro (até dia 10) registaram valores de mortalidade total acima da média.

h) No Verão de 2020 registaram-se 52 dias consecutivos com mortalidade acima da média de referência (2009-2019), desde 22 de Junho a 11 de Agosto, um facto inédito. Desde 17 de Agosto, todos os dias têm estado também com mortalidade acima da média (25 dias consecutivos).

Conclusão: Vai ficar tudo bem! Claro que sim! A morrer-se a este ritmo, não haverá gente vulnerável para morrer por covid e gripe no próximo Inverno. E o Governo cantará vitória.



quinta-feira, 10 de setembro de 2020

DA HIPOCRISIA E DO JORNALISMO REVERENTE

"Não há bem maior do que a vida e esse é essencial", disse hoje António Costa. Por isso mesmo, toca a meter mais contingência por causa da covid-19, e nem uma palavra para o excesso de mortalidade que não pára. Morreram 28 pessoas com/por covid nos primeiros nove dias de Setembro, não foi? Não pode ser, não é? Não, não pode! 

Mas já é aceitável que em apenas nove dias (os primeiros deste mês de Setembro) possam morrer à vontadinha mais 221 idosos com mais de 85 anos do que a média (ou mais 159 se se considerar o limite superior do intervalo de segurança) sem que isso cause celeuma a ninguém, não é? Essas vidas não eram essenciais, pois não? Nem em qualidade nem em quantidade sequer, que foram muitas mais do que as mortes por covid em igual período.

Entretanto, não houve um, não há um, unzinho, um simples, um radical, um jornalista que seja que tenha tido a coragem (ou estudado os números para saber, se não for uma questão de coragem) para perguntar ao primeiro-ministro sobre o estado do SNS. Um sequer, para amostra de raridade, que tenha questionado o primeiro-ministro sobre o que vai fazer perante o mais que evidente excesso de mortalidade desde Março não associado directamente à covid. Um excesso de mortalidade associado sim à estratégia política da covid. E que anda a matar mais do que o SARS-Cov-2. E dessas vidas, pouco andam a valer para o primeiro-ministro.



quarta-feira, 9 de setembro de 2020

DO NUNCA MAIS SE DIZ: BASTA!

O PCP vai andar a "cozer" em banho-maria por causa do aumento dos casos positivos. A nossa Propaganda Mediática (leia-se, imprensa) continua ululante, a uivar e salivar com os casos positivos. Nem percebem o ridículo com que a História os brindará por andarem a contabilizar 'ad nauseam' os casos positivos e os mortos por covid, como se morrerem 25 pessoas em oito dias por uma doença infecciosa respiratória fosse o fim do Mundo. 

Tudo bem, já sabemos, a covid é uma doença grave para os mais vulneráveis, mas a continuar esta histeria, e o SNS a assobiar para o ar, daqui a nada é menos grave do que os suicídios. Não é exagero, nestes primeiros oito dias de Setembro, a covid está a vencer por 25-13. 

Entretanto, o mês de Setembro vai ser como os outros. Vai matar que se farta; será o sétimo consecutivo a matar mais do que a média, e desde pelo menos Maio não se pode culpar a covid. Nos primeiros 8 dias de Setembro estamos já com 2.369 óbitos por todas as causas; e a covid representou, portanto, uns "estrondosos" 1,05%! A média (2009-2019) é de 2.078 óbitos, portanto estamos já com um excesso de óbitos de 291, dos quais 266 são não-covid. Se se aplicar os intervalos de confiança, o excesso de óbitos estará então compreendido entre 181 e 401 óbitos. Disto a nossa Propaganda Mediática não quer saber. O Governo agradece. Aqueles que morrerem antes do tempo, não.

E vamos andar nisto enquanto não dissermos BASTA! (que já não se pode dizer chega!). Se estamos à espera da imprensa (ou da Propaganda Mediática), bem nos podemos sentar.



domingo, 6 de setembro de 2020

DO ELEFANTE COR-DE-ROSA NO MEIO DA CIDADE OU DA ESTRANHA PANDEMIA NOS JOVENS

A obsessão pela covid-19 é como uma manada de elefantes no meio de uma cidade; ninguém depois repara que, lá pelo meio, há um elefante cor-de-rosa. É desse que vos quero falar.

A covid-19 até agora matou 0-zero-0 jovens portugueses entre os 15 e os 24 anos. Contudo, ao longo deste ano da nossa desgraça de 2020, por outras causas (que se deveriam investigar), os óbitos neste grupo etário (que felizmente morre pouco mas provoca geral consternação nas raras vezes que sucede) estão muito acima daquilo que seria expectável, com especial destaque para Junho e sobretudoJulho, que apresentaram mortalidade muito excessiva para a época.

Com efeito, e conforme se pode observar no gráfico, nos primeiros oito meses de 2020, morreram 233 jovens, sendo que a média (2014-2019) é de 206 (aumento de 13%), e seria expectável (e sem considerar a redução no número de jovens) uma perda de vidas entre 196 e 217. Em todos os meses da pandemia, e sem que o SARS-CoV-2 tenha causado vítimas, os óbitos totais neste grupo etário nunca foi inferior à média (e Julho foi francamente mau). E até agora, DGS e Propaganda Mediática (leia-se, imprensa) nunca se dignou a falar sobre o tema, e a encontrar uma justificação.

Note-se que nos três grupos etários antecedentes (menores de 1 anos; entre 1 e 4 anos; e entre 5 e 14 anos), a mortalidade em 2020 está a ser menor do que a média (colocarei esses gráficos amanhã).

Enfim, isto para concluir que me causa muita estranheza ver tanto frenesi e chinfrim em redor do impacte desta doença (covid-19) na população escolar, mas poucos (ou quase nenhuns) darão importância à situação que aqui exponho.

De facto, cada vez mais convencido estou que "amestrar" a racionalidade das pessoas pode fazer com que olhem obsessivamente para a ordeira manada de elefantes, sem sequer  descortinar que há o tal elefante rosa, e que é esse, e apenas esse, que, afinal, anda a entrar nas lojas de cristais. E a escaqueirar tudo.



DO AMOR DA SUÉCIA AOS VELHOS

O título é provocatório, porque acredito que todos os países, e sociedades, amam os mais idosos, mas usei-o como contraponto ao que sucedeu, durante meses, em relação à suposta péssima e desumana estratégia da Suécia no combate à covid e na protecção aos idosos.

Focados e obcecados pela covid, a Propaganda Mediática (leia-se, imprensa) tem vindo a esquecer sistematicamente que a covid-19 não é a única doença mortal, nem sequer a mais mortal até no grupo mais sensível.

Hoje, publico a terceira análise comparativa entre Portugal e a Suécia, e (oh! surpresa!), apesar da mortalidade por covid naquele país escandinavo ser mais de três vezes superior à do nosso país (5.835 vs. 1838), na verdade quando se analisa os óbitos de todo o ano para a população com idade superior a 65 anos, o caso muda completamente de figura.

Entre Janeiro e 25 de Agosto, morerram na Suécia 28 pessoas com mais de 65 anos por 1.000 pessoas desta faixa etária; no caso português foram 30 pessoas. Mais duas, mas notem que é por 1.000 pessoas.Se se padronizar a população mais idosa de ambos os países para os 2.000.000 habitantes (cada um deles têm um pouco mais), significa que em Portugal morreram este ano mais 3.250 pessoas com idade superior a 65 anos, o que significa que, contas feitas, Portugal teve, para este grupo etário, 5,8% mais mortes do que a Suécia desde o início do ano. Quem cuida, afinal, melhor dos seus idosos?

Na verdade, conforme se observa no gráfico, com a evolução mês a mês, apenas em Abril, no pico da pandemia, a Suécia apresentou uma mortalidade na faixa dos maiores de 65 anos superior a Portugal. Em todos os outros meses, muito menos mortes na Suécia.

Mas, pronto, o que parece contar é se se morre ou não de covid, porque, por certo, os idosos que morrerm das outras demais doenças e afecções (vejam a impressionante diferença em Julho entre os dois países; uma silenciosa hecatombe em Portugal) estarão agora prestes a ressuscitar, ou então a gozar um lugar especial no Paraíso.

Portanto, continuem a achar que os suecos se borrifam para os velhos; continuem a achar que a estratégia portuguesa é a melhor; continuem a achar que não há problema de continuar a adiar consultas, exames e cirurgias.