sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

VÍDEO 4 - DA FUGA ÀS URGÊNCIAS

Novo vídeo no canal do Youtube, desta vez sobre os efeitos da fuga às urgências hospitalares em Janeiro de 2021.

Podem também subscrever o canal.

DA FUGA ÀS URGÊNCIAS OU DO COMO MORRER PELO MEDO

Durante o mês de Janeiro de 2021, e com uma vaga de frio à mistura e uma sociedade com meses de falta de assistência adequada pelo SNS, as urgências continuaram afluxos extremamente baixos. Morrem 700 pessoas por dia durante mais de uma semana e as urgências têm sempre menos pessoas do que nos dias mais calmos da pré-pandemia.

Sucede que as descidas não são apenas nos casos não-urgentes. São também nos números de casos de emergência (pulseira vermelha) e muito urgentes e urgentes (laranja e amarela), deduzindo-se assim (posto de parte que o Povo não anda mais saudável) que as pessoas, mesmo com sintomas graves, fogem das urgências como diabo da cruz. E muitos... morrem por medo da covid.

DO CONVIDADO INDESEJADO

António Costa anunciar ao Mundo que os portugueses não vão visitar os outros países nos próximos tempos é o mesmo que eu vos anunciar que não vou visitar a Sara Sampaio à sua casa.



DO TRABALHO

Uma grande parte das análises que tenho vindo aqui a apresentar sobre a pandemia e tudo o resto, acabam por se inserir no âmbito de um projecto onde tenho estado associado ao ISCTE.

Esta tarde vai ser apresentado muito sucintamente alguns dados e análises desse projecto (embora apenas preliminares) durante o evento anual do CIES-Iscte, desta vez subordinado ao tema Trabalho Científico e Pandemia.

Em formato exlusivamente online (Zoom), a participação é livre e gratuita. 

A parte em que me íntegro deve começar por volta  das 16h00 horas, e será apresentado pelo Pedro Adäo e Silva. Além dele e de mim, nesta equipa estão ainda o Daniel Carolo e a Tatiana Marques.

Podem acompanhar aqui no Zoom.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

DO X E DO Y OU DA PARVALHEIRA JORNALÍSTICA

Portanto, temos Dulce Salzedas, jornalista-especialista em Saúde da SIC, que nos diz que com a variante inglesa a nossa capacidade de transmissão do SARS-CoV-2 passou a ser de "X+Y" pessoas.

Vou aqui tentar resolver este problema:

Portanto, não sabemos bem qual o valor de X nem sobretudo de Y (acréscimo da variante inglesa), mas vamos assumir que X+Y = Z

porém sabemos também que Z = X+Y, donde resulta que Y = Z-X 

sabemos também que Z = W+V, embora também não saibamos quanto é W nem V; porém, mesmo assim permite-se saber que

X+Y = W+V, donde resulta que o Y = W+V-X

Também sabemos que W = P-R

e que

V = 2A+4T-(5/L), daqui resultando que

Y = P-R+2A+4T-(5/L)-X

E já está! Só ficamos a não saber os valores de P, R, A, T, L e X... Mas vamos saber um destes dias... com especialistas.

DAS CULPAS

Primeiro, a culpa era dos portugueses. Agora é da variante inglesa.

Claro que a culpa de o actual grau de mortalidade da covid em Portugal ser 35 vezes maior do que na Finlândia, ou três vezes maior do que na Espanha ou na Itália NÃO é por termos um SNS de merda, pois não? E muito menos do Governo, não é?

VÍDEO 3 - AS DUAS PANDEMIAS: PORQUE ESTÁ A COVID A MATAR TANTO EM PORTUGAL?

 Novo vídeo no canal do Youtube, desta vez sobre os indicadores de eficácia do tratamento dos doentes.-covid, que me têm permitido estimar os óbitos por dia.

Podem, obviamentem divulgar e subscrever o canal.



DA SUÉCIA, ESSE PAÍS COM EPIDEMIOLOGISTAS A SÉRIO, QUE NÃO USOU MÁSCARAS, QUE NÃO CONFINOU, QUE DIZIAM QUE MATAVA VELHOS, QUE... AFINAL ESTÁ JÁ MELHOR QUE PORTUGAL NA COVID E EM TUDO O RESTO

O título é grande, mas é propositado. Não há muito a dizer. Apenas  relembrar que nem sempre aquilo que parece, é. Não é por um Governo andar num corrupio de declarações televisivas, num  frenesim de papel que nos leva a um Estado autoritário, não é por se criar condições psicológicas colectivas que impelem as pessoas a ser polícias de costumes dos outros, não é com estratégias absurdas que se consegue vencer uma pandemia.

A Suécia bem avisou que a pandemia não era um sprint, mas sim uma maratona. Portugal andou a vestir-se de lebre, quando não passa de um caracol com um SNS tão sólido como a casca do gastrópode.

Além disso, a Suécia não está com sobremortalidade não-covid, ao contrário de Portugal. 

Ah, e já agora, o Brasil e a França, em mortes-covid por mihão, já estão atrás de Portugal. 





DO CONTÍNUO E MORTÍFERO CAOS

Como sabem tenho apresentado previsões diárias sobre a mortalidade-covid, com base em dois modelos expeditos, um dos quais baseado na taxa diária de mortalidade dos internados.

A degradação da eficácia do tratamento é evidente e assustadora. O gráfico que vos apresenta mostra que a taxa está a subir ininterruptamente desde o início do ano, agravando ainda muito mais o crescimento dos internados. Está, neste momento, no máximo, o que vai garantir, infelizmente, uma mortalidade elevadíssima nas próximas semanas.

Basicamente, o que o gráfico mostra é, por exemplo, que no início de Janeiro, morriam 24 pessoas por cada mil internados-covid; mas ontem morreram 45 pessoas por cada mil internados-covid. Isto é um claro sinal de colapso: não é só o vírus que está a matar; é a perda repentina de eficácia do SNS.

As minhas previsões para hoje indicam uma manutenção da mortalidade-covid acima dos 300 óbitos: 301, segundo o modelo da taxa de miortalidade; 305, segundo o modelo da linha de tendência.


quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

DO ENFADO AO NEFANDO

DO ENFADO AO NEFANDO / Eu sei, a culpa é minha. Toda minha. Quando se escolhe como contendor um tipo que aos 31 anos ficou na 248ª posição no internato de Medicina Geral e Familiar (e que, cinco anos antes, terminara a licenciatura num honroso 422º lugar, ex-aequeo, de entre 1.379 finalistas) não se pode augurar um debate lúcido, íntegro e justo. Levantei uma pedra e, em vez de sair de lá um lacrau (menos mal), saiu-me uma poia, que nem exoesqueleto possui, quanto mais coluna vertebral.

No boteco do Nefando não se destila só ódio requentado. Refina-se requintada maledicência, lapida-se as mais puras mentiras.

Que interessa ao Nefando se eu, desde Março, assumo que a covid é uma doença perigosa para os mais idosos, e que o grande problema, nunca controlado, se encontra sobretudo nos lares? 

Que interessa ao Nefando que eu tenha feito um "statement" em Maio de 2020, manifestando a minha posição, e que se mostra inalterada e inatacável? 

Que interessa ao Nefando que em 4 de Novembro eu tenha, além de recordado esse "statement" (para manifestar que nada mudara na minha posição), alertado para a degradação da situação portuguesa em relação à covid e aos efeitos de um SNS comatoso, como agora se encontra patente? 

Que interessa ao Nefando que todas as minhas análses e opiniões tenham sido no sentido de um enquadramento da doença num contexto de Saúde Pública, nunca tendo embandeirado em arco sobre o suposto "milagre lusitano" na contenção da primeira vaga?

Que interessa ao Nefando que eu integre uma equipa multidisciplinar de académicos que está a estudar os impactes da pandemia nos lares?

Nada lhe interessa. Nada lhe interessa sobre que escrevo, e como escrevo, e sobretudo como analiso. Nada interessará ao Nefando, cuja cabeça tem tantos neurónios como o seu umbigo.

Só lhe interessa meter debates em chafurdeiros, onde se sente como peixe na água. 

Eu já tinha aceitado, enfim, conviver com um tipo que faz queixinhas (como os putos), mas já não tolero que deturpe vergonhosamente as minhas posições e que, não satisfeito, altere o sentido daquilo que escrevo, como fez com um post recente. Onde aviso que os dados da Suécia estão sujeitos a alteração, mas que não deveriam, depois dessa operação, ultrapassar os valores da Espanha, contrapôs ele uma montagem malfeita de um gráfico onde surge a Suécia com uma média de 97. Mentira. Os dados da Suécia foram rectificados, como avisei, mas passaram dos 19 (inicialmente indicados por mim) para os 23 (imagem 3, agora retirada do Worldometer).

Perante isto, já não há irritação possível. Apenas enfado.

Deixou de ter piada, para mim, ter como entretém o Nefando e mais suas torresmadas. Desisto. Deixo a serpente sozinha, mais as suas crias e a sua língua. Que cuide dos dentes. Não por causa de cáries, mas para não se morder, 

Adeus. Nem mais uma linha para o Nefando.



DOS INCÊNDIOS E DA PANDEMIA

Ciclo encerrado no meio da locura pandémica, e enquanto em simultâneo preparo o doutoramento: com a apresentação da tese, terminei hoje o Mestrado em Gestão e Conservação dos Recursos Naturais, no Instituto Superior de Agronomia e Universidade de Évora. Esta última já era a minha alma mater (Engenharia Biofísica), e a primeira junta-se ao ISEG (Economia e Gestão). Seguir-se-à, agora, o ISCTE.

Pode causar confusão a muitos que, ponderado tudo isto, ainda esteja agora a "botar postas de pescada", segundo alguns, sobre os efeitos da pandemia e sobre políticas públicas na Saúde, e estar mesmo no projecto com ligações ao ISCTE sobre estas matérias.

Na verdade, aquilo que todas estas formações me têm ajudado é sobretudo uma melhor compreensão do mundo, e como ele funciona em repetição.

Por exemplo, cada vez encontro um maior paralelismo sobre os incêndios florestais - tema do meu mestrado e área sobre o qual me estou a debruçar no doutoramento - e a pandemia da covid.

Se nos incêndios, quando algo corre mal, os Governos culpam o tempo quente e seco do Verão; 

                    agora, na pandemia culpa-se o Inverno e o vírus.

Se no Verão, um incêndio se descontrola, a culpa é atribuída ao vento e não á incapacidade do combate e das estratégias de prevenção; 

                    agora, na pandemia, a culpa é dos doentes e nunca da incapacidade do SNS em se preparar para surtos e aguentar minimamente a sobrecarga de doentes com exigências de logística distintas da "normalidade"

Se no Verão, ocorrem grandes incêndios que chamam a atenção até internacional, o Governo culpa os supostos incendiários e nunca as falhas de um sistema corroído de interesse de capela;

                    agora, na pandemia, a culpa é dos portugueses que se deixaram infectar (mesmo se o Consellho de Ministros têm uma taxa de incidiência 6 vezes supeerior ao do povo; 35% vs. 6%) e não de um SNS que entrou em completo colapso quer para tratamento dos doentes covid quer dos outros.

Tanto num caso como no outros, estamos apenas perante um só problema: gestão. Ou mehor, ainda outro: incapacidade de assumir responsabilidades.

E sabem numa outra coisa que há também paralelismo? Nos incêndios também se pensa que as coisas se resolvem no futuro com diplomas legais. E já não falo apenas na gestão da pandemia que anda a produzir mais normas do que acções; falo sim na quantidade de diplomas que serão produzidos para anunciar um SNS melhor e mais eficaz. Isso geralmente é feito após anos catastróficos nos fogos. E resultam? Claro que não. Resultam até á próxima catástrofe.

Nota 1: Esta nota serve para anunciar a nota. A tese ficou-se pelo 18; a média pelo 17. Não é a perfeição, mas é o melhor que se vai conseguindo.

Nota 2: Agradecimentos especiais aos meus orientadores da tese: Teresa Ferreira e Francisco Moreira.

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

DA SIMPLES CAUSA E ESPERADO EFEITO DO CAOS

Isto é muito simples de ver: em 1 de Outubro havia um pouco mais de 600 internados e morreram 6 pessoas nesse dia.

Hoje, que temos 10 vezes mais internados do que no dia 1 de Outubro, não estão a morrer 10 vezes mais pessoas do que no dia 1 de Outubro.

Se assim fosse, estariam a morrer 60 pessoas.

Estão sim a morrer quase 300. 

Quase 5 vezes mais. Se formos complacentes, quase o dobro do que se esperaria com a eficácia duante o mês de Dezembro, quando se tinha cerca de 3.000 internados.

Não consta que o vírus se tenha tornado mais letal. Aquilo que está a suceder é a consequência da falta de investimento do SNS, a falta de médicos, de enfermeiros, enfim, a falta de preparação do Governo. 

Veja como foi evoluindo perigosamente a taxa de mortalidade diária dos internamentos, até ao colapso absoluto a partir do início de Janeiro.

Fonte: DGS (cálculos meus; média móvel de 7 dias)

DA BIPOLARIDADE, DO CHERRY PICKING E DA VELHA QUESTÃO DOS ASSINTOMATICOS

Para se ser Nefando ajuda ser bipolar. Por exemplo, há dias em que o Nefando acorda e acha que uma revista científica, peguemos na BMJ como exemplo, é óptima como "arma" para chamar dealer a um digno professor catedrático jubilado, especialista em Saúde Pública (e que não deve ter ficado no 248º lugar do seu internato, presumo). 

Noutros dias estremunha, porém, o Nefando. e vai de zurzir num editor da mesma BMJ, Peter Doshi, também professor da Universidade de Maryland, só porque, enfim, este coloca reservas sobre a eficácia das vacinas da Pfizer e da Moderna, e exige mais dados (vd. aqui).

Também sucede ao Nefando, além da bipolaridade, ser propenso ao famigerado "cherry picking", i.e., lê o que lhe interessa; suprime o que o incomoda. 

Há dias, no tal ataque ao digníssimo professor catedrático jubilado, o Nefando cita um artigo da BMJ ("Asymptomatic transmission of covid-19"), da autoria de Allyson M Pollock e James Lancaster (vd. aqui), transcrevendo até um parágrafo inteirinho em inglês. Nesse parágrafo, efectivamente refere-se que uma parte (49%) dos assintomáticos acabam por desenvolver sintomas. Embrulha lá, Torgal!

Sucede, contudo, que, no mesmíssimo artigo, e logo nos cinco parágrafos seguintes, surgem informações que, enfim, colocam em causa toda a teoria "nefandesca" em redor dos "perigosos assintomáticos" e dos testes PCR, a saber:

a) a única forma de detectar o vírus é através de cultura viral, e que os testes PCR (e outros) não distinguem se o vírus está activo (live vírus);

b) uma pessoa com um resultado positivo num teste PCR pode ou não ter uma infecção activa e pode ou não ser infecciosa;

c) são feitos alertas muito consistentes sobre os ciclos (Ct) dos testes PCR e como estes estão sujeitos a erros;

d) não apenas por não terem sintomas (como tosse), os autores afirmam que a duração de libertação de RNA viral é mais curto em pessoas assintomáticas, decorrendo daí que estas são provavelmente menos infecciosas do que aquelas que apresentam sintomas;

e) os autores destacam um estudo de prevalência na cidade de Wuhan (10 milhões de habitantes) onde não se encontrou evidências de transmissão assintomática;

f) e, last but not the least, os autores alertam para a necessidade de cuidados suplementares para os assintomáticos e os pre-sintomárticos (o que, na prática, coloca todas as pessoas que não apresentem sintomas de doença) a terem especial cuidado na lavagem das mãos e na distância social. Não referem as máscaras faciais. 

Talvez, sejamos benevolentes, o nosso Nefando tenha feito este "cherry picking" de modo involuntário. Talvez só consiga ler um parágrafo em inglês de mês a mês, Pode ser que no próximo mês leia o seguinte, de sorte que, lá para o Verão, entenderá o artigo. 



DO DESASTRE LUSITANO - O VÍDEO

Um vídeo explicativo sobre a situação portuguesa no contexto da União Europeia e dos países com maior mortalidade por covid desde o início da pandemia. Um desastre.

Entretanto, se assim desejarem, podem subscrever o meu canal do Youtube. Tentarei com frequência colocar vídeos explicativos com questões relacionadas com a crise actual.

DO DESASTRE LUSITANO

O nosso Governo e a nossa fantástica Imprensa continuam unidos na construção da Narrativa: tentam agora convencer-nos que a pandemia se descontrolou em todo o lado. E que a culpa é dos casos positivos e dos portugueses. É assim? Não.

Está sobretudo descontrolada em Portugal, e poucos são os países da União Europeia em crescimento da mortalidade. E aqueles que se encontram nessa situação (e.g. Dinamarca, Irlanda e Espanha) estão com níveis proporcionalmente muitíssimo mais baixos.

Estamos com níveis absurdos de mortalidade or covid (o pico já suplantou 5 vezes o pico do Brasil e quase 3 vezes o pico dos Estados Unidos), porque o nosso SNS entrou em colapso absoluto, tanto no tratamento da covid como no das outras doenças. As análises e previsões que tenho feito comprovam isso, com as taxas de mortalidade diária dos internados a mais que triplcarem em relação a Outubro.

Havia 17.700 camas prometidas para a covid? Não havia nada.

Reforço do SNS com um plano Outono-Inverno? Qual quê! Saíram do SNS mais de 900 médicos ao longo de 2020.

Queriam milagres? Saiu-nos o Inferno.