quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

DA IGNORÂNCIA, MÃE DO MEDO, O MARIDO DA HISTERIA, ou DA VERDADE, SUA IRMÃ IGNORADA

No ano da pandemia da covid, e de um massacre mediático sem precedentes em que a morte e o pânico se moldou à nossa vivência - como a Igreja fazia na sociedade até ao século XVIII -, afinal fica-se a saber que a percentagem de óbitos em 2020 nos diferentes grupos etários dos maiores de 45 anos foi menor do que em 1995, menor do que foi em 2000 e menor do que em 2010.  Não me recordo de, nesses anos de 1995, 2000 e 2010, assim não tão longínquos, se ter vivido com tanto medo. Podia colocar aqui os gráficos com mais anos para provar que 2020 está a ser um ano pouco anormal, para não dizer normal...

Amanhã mostro-vos a situação para os diversos grupos etários dos menores de 45, só para vos azucrinar o Natal. 

Ah, e caso não saibam: vamos todos morrer... mesmo se mais tarde e em menor quantidade relativa em comparação com a esmagadora maioria dos anos precedentes. Mesmo com a covid por aqui.

Fonte: INE e SICO-eVM. A taxa de mortalidade erm 2020 foi estimada tendo em conta os registos acumulados de óbitos por grupo etário até 20 de Dezembro e assumindo que nos restantes 11 dias do ano a mortalidade diária era equivalente à média dos primeiros 20 dias de Dezembro. A taxa de mortalidade é contabilizada em relação à estimativa da população do ano anterior feita pelo INE.






DA APARENTE CHATICE E DO DRAMA DE SE MORRER VELHO... QUE AFINAL DEVIA SER UMA CELEBRAÇÃO

Pelas mais diversas maleitas, incluindo covid, este ano deverão morrer um pouco  mais de 52 mil idosos de idade superior a 85 anos. Um drama!, dirão muitos. Sim, se fizermos mal as comparações. Por exemplo, se compararmos directamemnte com 1971 seria impossível tal suceder, porque... enfim, só existiam então 44 mil idosos nesta faixa etária.

Na verdade, assistindo ao chinfrim e ao horror deste ano de 2020 - em que o objectivo da maioria é apenas sobreviver, e não viver, e prescindindo de conviver - parece que estávamos muito bem nos anos 70 ou mesmo antes disso, quando os velhos com  mais de 85 anos morriam muito pouco. Era um aqui, outro ali; um hoje, outro daqui a uma semana ou mês. Deduzo que no tempo da gripe espanhola morreram poucos idosos com mais de 85 anos. Desconfio, aliás, que na época da Peste Negra não terão sido mais de meia dúzia em Portugal... pelo simples facto de ser raríssimo chegar-se a essa idade.

De forma muito estranha, vivemos hoje, especialmente nesta época de pandemia histérica, um paradoxo: choramos o sucesso. Com efeito, se compararmos para Portugal as taxas de mortalidade de 2020 em TODAS as faixas etárias, TODAS sem excepção serão mais baixas do que foram no ano 2000, mesmo para os mais idosos. isto devia ser motivo de regozijo, mesmo em época de pandemia, mas não é: sente-se o medo e o pânico. A imprensa mostra u cenário apocalíptico.

Numa sociedade de baixa literacia matemática, sobretudo nas elites "culturais" (o que torna este tipo de literacia ainda mais pernicioso, porque não há pessoa mais perigosa do que, por exemplo, um filósofo completamente ignorante em Matemática), por certo que se considerará negativo que 43% do total das mortes sejam de maiores de 85 anos (como acontecerá em 2020), quando em 1995 este grupo representava apenas 22,2% do total dos óbitos. O drama é morrer-se velho quando, nas anteriores gerações, se morria novo, ou quando ser-se velho era ter 65 anos, ou mesmo 40 anos como se vêem em alguns documentos do século XVIII ou XIX, 

Morrer mais velhos, morrermos cada vez mais velhos, meus amigos e minhas amigas, não é um drama. Pelo contrário. É uma vitória, mesmo se efémera. O drama é, sim, a morte; o drama não é conseguirmos adiar a morte, não é conseguirmos (como estamos a conseguir) reduzir a mortalidade em todas as faixas etárias ao longo das últimas décadas. 

Devíamos sim estar optimistas, e a celebrar a vida que a Ciência e a Medicina nos prolonga, de sorte a chegarmos ao final da segunda década do século XXI e estamos perante um novo vírus que mata proporcionalmente menos pessoas do que uma gripe mais agressiva nos anos 90 do século XX. E sobretudo vivermos e convivermos, não deixando que a Política e a Imprensa nos convençam que é um perigo viver e conviver; e que a vida serve apenas para sobreviver sob a promessa impossível de risco zero de morte.

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

DO VERDADEIRO IMPACTE DA PANDEMIA NOS IDOSOS DE PORTUGAL: QUASE NADA

Isto chega a ser irónico, se não fosse trágico. Nas últimas duas décadas e meia, Portugal triplicou a sua população com mais de 85 anos (eram pouco mais de 100 mil; em 2019 suplantavam os 315). Desde o início da década aumentou quase 40%. Isso é bom? Para muitos parece que não, porque, embora seja bom sintoma de crescimento da expectativa de vida, aumentando a população idosa, hélas, há assim mais mortes de pessoas com mais de 85 anos em cada ano. 

Enfim. Não se pode querer tudo. E, por muito que me esforce, não há forma de mostrar essa evidência. Deste modo, no meio do histerismo colectivo, torna-se difícil chamar as pessoas à razão, pedindo-lhes que olhem para a realidade com o devido enquadramento. Olhem para a realidade através de uma análise racional. Olhem para a realidade através da taxa de mortalidade, porque se assim não fosse então até eu diria que a Peste Negra matou menos pessoas de 85 anos do que a covid, pelo simples facto de ser muitíssimo raro chegar-se aos 85 anos no século XIV....

Peço-vos, encarecidamente, que mostrem ao número máximo possível de pessoas esta breve análise (e posso fazer, a pedido,para outros grupos etários). Vejam o que está a acontecer no ano da suposta "grande desgraça" de 2020 para os maiores de 85 anos, e assumindo que nos últimos 11 dias de Dezembro irão morrer, em média por dia, o mesmo número registado nos primeiros 20 dias do mês. 

Se assim for, contabilizam-se 53.142 óbitos em maiores de 85 anos. É muito? Respondo já: É. E acrescento mais: será primeiro ano desde que há registos que terá mais de 50 mil óbitos nesta faixa etária. 

Mas, pergunto ainda eu (de forma retórica);: isto deve ser relevado assim, de uma forma desenquadrada? Resposta, a gritar a plenos pulmões: NÃO. Será uma estupidez, uma ignorância, se alguém não contextualizar esses óbitos na população (estimada pelo INE) no ano anterior. Isto é, se não calcular a taxa de mortalidade.

Ora, se assim fizer - como só pode -, o ano de 2020 terá 166 óbitos por mil habitantes (ou 16,6%). É lamentável porque todo o fim de vida é lamentável, mas é uma situação praticamente normal. Na verdade, o ano de 2020 será, para o grupo etários dos maiores de 85 anos (os mais vulneráveis à covid e a todas as doenças mortais), o pior desde 2010 mas será apenas o 16º pior ano desde 1995, não se destacando negativamente muito dos valores da presente década, que andaram quase sempre na "casa" dos 160 óbitos por 1.000 habitantes desta faixa.

Na verdade, se alguém olhar, num futuro longínquo, para a taxa de mortalidade em 2020 para o grupo dos mais idosos não dirá que houve qualquer pandemia: este ano aparenta ser apenas um ano em que morreu um pouco mais porque veio na sequência de um outro (2019) que tinha sido menos mortífero. E concluírá, porventura, que ser-se idoso nos anos 90 - onde "só" havia gripes - era bem pior do que ser-se idoso em 2020, quando houve covid.

Fonte: INE (óbitos por grupo etário e estimativa da população por grupo etário).




DO FRETE E DA ESQUIZOFRENIA

O Público continua a sua campanha sobre a Suécia, com mais um extenso artigo sobre o quão mal anda aquele país escandinavo. Não encontro, sinceramente, nenhuma outra explicação para este interesse do Público que não seja por este país ter adoptado uma estratégia flexível  e racional, apostando em recomendações em vez de imposições, não ter embandeirado nas máscaras e, hélas, ter admitido erros nos lares. A Suécia, insisto, não é o Paraíso em termos de resultados mas está longuíssimo de ser um qualquer Inferno; e pelo menos não está a colapsar socialmente, nem tem autoridades de saúde que tomam a vez de comediantes.

O curioso é ver que o Público não olha sequer para Portugal com um décimo do olhar crítico que dispõe para a Suécia, o que é estranho sendo um jornal português... Que está a acontecer com a mortalidade total em Portugal, senhor Público? Silêncio! E com os lares portugueses? Silêncio! E as mortes nos lares em Julho e agora no Outono? Silêncio! E a mortalidade por covid no Outono que até está em níveis superiores aos máximos do Brasil? Silêncio! E, etc., etc.. Caramba, será que ninguém no Público sabe olhar sequer para gráficos básicos?

Porém, hoje o Público mostra também o seu lado simultaneamente esquizofrénico e ignorante. Disponibilizou-se, aleluia!, a dar voz a um português emigrante na Suécia, Tiago Franco, que de forma muito incisiva e equilibrada expõe a filosofia de vida dos suecos que justifica a sua estratégia e as reações até do rei. E também denuncia o abuso dos media internacionais nas descrições sobre a situação da Suécia, por descontextualização ou utilização de fontes sensacionalistas. Aliás, até esclarece, fazendo de tradutor, que quando o rei sueco disse (o que chocou muitas almas europeias) que a situação era “tråkigt” não significava que para ele era “trágica” (como pareceria à primeira vista pela parecença das palavras) mas sim “aborrecida” (já agora, o Google Tradutor até traduz para o simples “chata”). 

Contudo, a jornalista do Público Andrea Cunha Freitas - que obviamente não é obrigada a saber sueco, a usar o Google Tradutor, a ler artigos de opinião no seu próprio jornal, a evitar copiar notícias sensacionalistas da imprensa sueca e, desconfio, que também não se verá obrigada a ser verdadeiramente uma jornalista - decidiu que o rei sueco classificou a situação de “terrível” em vez de “chata”. Pessoalmente, eu acho que é um bocado “chato” o Público ter ficado como está. E também “terrível “.





segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

DO FÍSICO E DO MENTAL

O vice-presidente da autarquia da Azambuja mostra nesta breve entrevista ao Correio da Manhã que o impacte da covid do ponto de vista psicológico é 24 vezes superior ao impacte sobre o físico, patente no número de linhas necessárias para descrever os efeitos em cada uma destas “facetas”. E não se pense que Silvino Lúcio foi um caso “mild”: o autarca não teve só que tomar Bufren OU só tomar Ben-u-ron para sobreviver, como muito boa gente. Teve de levar dose dupla: Bufren E Ben-u-ron. Isso deve equivaler a 1/2 dia em UCI...

DAS ESCADAS ROLANTES

O meu barómetro de Portugal são as escadas rolantes do Metropolitano de Lisboa: só acredito que as coisas que suposta e naturalmente deveriam funcionar bem acabam por funcionar mesmo bem - e estou a lembrar-me da gestão da pandemia e do plano de vacinação - quando uma Administração desta empresa pública conseguir que as ditas escadas estejam a funcionar sempre... vá lá, durante duas semanas sem avarias.

DA SEDE, A ‘DROGA’ MAIS EFICAZ PRÓS VELHOS PORTUGAS

Antes da pandemia estava eu habituado a viver numa sociedade com (alguns) ignorantes. Neste momento, chateia-me deveras viver numa sociedade que, afinal, aparenta ser de ignorantes. Ignorantes ou pessoas ideologicamente cegas... 

O escândalo em redor da suposta estratégia da Suécia por se ter ministrado morfina aos idosos em vez de os levar ao hospital em tempos de pandemia - e que, em muitos casos, derivam de opções dos próprios e/ou familiares - pode e deve chocar mentes mais cristãs como as portuguesas... Isso eu até compreendo, embora se saiba que clinicamente a esmagadora maioria dos doentes com covid sejam “inelegíveis” para as UCI (cuidados intensivos).

Só acho insuportável que, quem critique o modelo sueco, opte por enterrar a cabeça sobre o nosso burgo, e não queira saber, ou pior, queira esquecer, como morrem, morreram e morrerão os idosos portugueses em lares durante esta pandemia ou durante eventos de calor... Falta de água, a maioria das vezes, caríssimos. Isso mesmo! Deduzo, aliás, que a opção morfina só não se aplica em Portugal porque, faltando até quem possa dar um copo de água aos velhos, não haveria quem lhes pudesse dar a injecção. E talvez nem morfina houvesse. 

P. S. Edições como as do Público de ontem, de homenagem aos idosos, só servem para descansar más consciências. Pagava para que o Público insistisse junto da DGS para que fosse divulgado em cada dia o número de infectados e mortes nos lares causadas por covid e outras doenças, e comparando com outros anos. Isso sim seria jornalismo.




DO MONÓTONO PÂNICO EM FORMA DE BOCEJO

Isto da pandemia está a ficar um filme de terror que ameaça tornar-se enfadonho. Agora temos a mutação VUI - 202012/01 no Reino Unido que, no meio de muitas milhares já detectadas, supostamente está a ser o novo ai-Jesus-que-vamos-morrer-todos, apesar já ter sido apanhada no Brasil em Abril, e observada posteriormente na Austrália, em Junho, e circulada nos Estados Unidos em Julho.



domingo, 20 de dezembro de 2020

DA GRIPE E DA COVID: A COMPARAÇÃO NEFANDA

Há dias, na revista Lancet Respiratory Medicine (vdf. aqui), foi publicado um artigo científico que teve a ousadia de comparar a mortalidade (e mais outros indicadores clínicos) entre a gripe e a covid. Desde o início da pandemia do SARS-CoV-2, a começar aqui no FB, fazer alguma alusão entre gripe e covid daria (e se calhar ainda dá) azo a bloqueio e/ou nomes feios. 

O estudo francês, concluía, grosso modo, que a covid foi, na primeira vaga, três vezes mais letal do que fora o surto de gripe de 2018-2019, o mais mortífero dos últimos cinco anos. Não me surpreendeu, e, no entanto, fiquei com uma sensação de nunca ter estado errado desde o início de uma pandemia que se sustentou sempre no histerismo.

Infelizmente, estes estudos ainda se mantêm raros e, na verdade, choca-me que investigadores portugueses na área da gripe e outras doenças respiratórias continuem a contribuir activamente para colocar a covid num patamar de "doença terrível" e "incomparável".

Aliás, um dos grandes estudiosos nesta área é, curiosamente, Baltazar Nunes, professor do INSA e consultor da DGS, que ainda no Verão tentou "lavar" as responsabilidade do SNS relativamente à mortandade de idosos em Julho por afecções não-covid. Baltazar Nunes, tal como Filipe Froes, bem sabem que a covid deve ser classificada e analisada como uma infecção respiratória com características específicas, mas que não é o fim do Mundo. 

Na verdade, Baltazar Nunes é co-autor de um artigo científico publicado em 2011 (vd. aqui) que analisou, em detalhe, o excesso de mortalidade associado aos surtos gripais no período 1980-1981 e 2003-2004 (entre Outubro e Maio), e bem recordado deverá estar de vários surtos gripais particularmente mortíferos (sobretudo associados ao subtipo H3N2, o mesmo da gripe de Hong Kong de 1968-1969, que matou entre um e quatro milhões de pessoas em todo o Mundo). 

No caso específico do surto gripal de 1998-1999 (Outubro de 1998 a Maio de 1999) foi então estimada a morte em Portugal de 8.514 pessoas (com o intervalo de confiança entre 7.908 e 9.120 óbitos). Notem: este surto gripal em poucos meses matou mais do que a covi, e quando a população portuguesa era menos envelhecida. Em mais três anos o excesso de mortos foi superior a 5.000 (vd.gráfico).

Enfim, convinha começarmos a olhar, como pessoas e como sociedade, para a covid com olhos de racionalidade. A covid é uma doença perigosa, mas não é o fim do Mundo. E muito provavelmente, como sucede com o H3N2, vai-nos continuar a visitar, e teremos de encontrar estratégias racionais, assumindo que, infelizmemente, a morte está presente na vida e nas sociedades. Mas estará ainda mais presente se, como anda a suceder em Portugal, o SNS se mantiver num estado comatoso.

sábado, 19 de dezembro de 2020

DO NATAL SEM COMPOTA

O SARS-COV-2 causa estragos não apenas nos humanos: o bacalhau da antevéspera da antevéspera da antevéspera de Natal está esquisito!

DO SABÃO AZUL-E-BRANCO

Como é queremos alguma vez chegar a ter Alta Velocidade na nossa ferrovia se a CP em tempos de pandemia usa sabão azul-e-branco nos sanitários do Intercidades?

DAS OBSESSÕES DO PÚBLICO

O nosso outrora jornal de referência Público tem duas obsessões observáveis em função da frequência noticiosa. 

A primeira é a SUÉCIA, país que tem a 15a. maior taxa de mortalidade por covid na Europa e a 24a. a nível mundial. Não é, portanto, nem o paraíso nem o Inferno. Está este mês até abaixo da nossa vizinha Espanha, que tem suportado muito melhor do que Portugal a segunda vaga (o que levou a sair da esfera noticiosa). Razão da obsessão pela Suécia: os jornalistas do Público, seguindo os seus colegas do Reino Unido (por sinal bem piores do que a Suécia) nunca suportaram a estratégia daquele país escandinavo, que pessoalmente considero a mais racional, porque, tendo errado inicialmente, não se furtaram a assumir o erro e corrigirem falhas, continuando a gerir a pandemia em função da situação conjuntural (btw, não considero, pelo contrário, as medidas das últimas semanas qualquer retrocesso, mas sim a persecução de medidas sensatas, embora na essência se mantenha a postura de as autoridades tratarem os seus cidadãos como adultos). Além disso, Tegnell não anda a promover compotas, cheias de açúcar... é só isso mereceria o meu reconhecimento.

A segunda obsessão do Público: ÍNDIA. Não há quase dia em que não se saiba, pelo jornal, quantas mortes e infectados por covid se contabilizam neste país asiático. Tudo muito detalhado em números absolutos. Sucede, porém, que a Índia ocupa a 107a. posição mundial em casos positivos por milhão de habitantes e a 98a. posição mundial na taxa de mortalidade. Razão da obsessão: esquecendo que a Índia tem mais de 1,3 mil milhões de habitantes, o Público sabe que mesmo baixas taxas de incidência e mortalidade dão sempre números absolutos “generosos” para alimentar a campanha do medo. E é isso que interessa. 

Há uma terceira obsessão do Público: PORTUGAL, mas neste caso no sentido de nunca enquadrar a situação nacional num contexto internacional, e jamais investigar, com detalhe, o que se passa nos lares portugueses, que andam a “alimentar” os actuais níveis de mortalidade por covid... mas como não se pergunta... é como se o problema não existisse.




sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

DOS VAMPIROS

Durante meses, o jornalismo português só teve olhos para a covid. A morte de um cidadão ucraniano em Março às mãos do SEF mereceu pouco mais do que umas breves referências. 

Entretanto, mais de oito meses depois, “desenterrou-se” o processo, que se tornou também político. E a estremunhada imprensa, acordada do seu prolongado sono, lançou-se agora furiosamente à “caça” da viúva do ucraniano, com todas as “ferramentas” que mostram o lamaçal por onde se anda a enterrar. 

O DN relata como tem sido o cerco: “Oksana Homeniuk diz-se ‘muito pressionada’ por equipa da RTP que foi à Ucrânia. Outro canal ligou-lhe, conta ao DN, a dizer que se der a entrevista a um tem de dar a todos. Viúva de cidadão ucraniano considera-se alvo de ‘atenção exagerada’ e pede a jornalistas que dirijam atenção para processo.”

Ao pé disto - e estou a lembrar-me do filme do Coppola -, os vampiros são um primor de dignidade e cortesia perante as suas vítimas.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

DO REI ACUSADOR E DO PRESIDENTE ELOGIADOR

O Rei Carlos XVI Gustavo da Suécia falou hoje sobre a gestão da pandemia: "Falhámos", disse. Sobre o nosso presidente da República, convido-vos a pesquisar no Google as palavras "Marcelo" e "elogio" (ou suas formas verbais), e vos surgirá um chorrilho de encómio, alguns quase diritambos, em torno da acção de Portugal na luta contra a pandemia, na protecção dos idosos, etc,., etc., etc...

Bem sabemos que Portugal não é a Suécia, e a maior diferença é na postura, na verdade e na transparência dos seus responsáveis políticos. Algo não corre bem na Suécia? Pois bem, admite-se, avalia-se e corrige-se, para não repetir o erro. Algo não corre bem em Portugal? Espera aí?! Algo correu mal em Portugal? Não correu nada! Ou seja, não se admite sequer, porque nem se avalia, e continua-se alegremente a errar, até porque mal nenhum haverá, excepto para quem desse mal directamente sofre, mas também a sua voz é demasiado sumida, de certo que se equivale aos zurros de burros que, como sabido, nunca ao Céu chegam.

Mas, enfim, entre o que parece e a realidade existe uma distância colossal. Os mesmos jornais portugueses que destacam as críticas do rei sueco, não querem ou nem sequer têm capacidade (coitados!) para analisar o comportamento dos dois países durante o ano d 2020 na protecção dos idosos, os mais vulneráveis à covid e a muitas outras doenças que matam. Pois bem, não faz a imprensa portuguesa, faço eu - tem sido essa a minha postura nos últimos meses.

Assim, pegando exclusivamente em dados oficiais (INE, SCB, DGS), analisei a taxa de mortalidade dos maiores de 65 anos (portanto, padronizando) ao longo dos merses de 2020, desde Janeiro até Novembro. 

Os resultados são esclarecedores: mortalidade total até 30 de Novembro para os maiores de 65 anos: Portugal com 41.730 óbitos por milhão de habitantes neste grupo etário, o que  é 12,7% pior do que a Suécia (37.041 óbitos por milhão) em igual período.

Comparando mês a mês, somente a Suécia ultrapassou Portugal em Abril e Maio, quando os lares suecos registaram vários problemas (assumidos desde cedo). A partir daí a taxa de mortalidade tem estado bem acima em Portugal, chegando a ser quase 38% superior no mês de Julho (foi muito mau ser idoso em Portugal neste mês), 20% no mês de Outubro e 26% no mês de Novembro. Dezembro não está nada famoso.

Daqui se conclui que na Suécia o rei pode estar insatisfeito, e em Portugal o presidente pode estar satisfeito, mas no fundo em Portugal os idosos estão a morrer em muito maior número do que na Suécia. É um facto, indiferente a críticas ou encómios. E é esta a realidade que vivemos em Portugal. Por muito que o nosso país se recuse a admitir. Por muito que a cegueira da nossa imprensa faça por ignorar.

Fonte: INE e SCB (estimativs da população com mais de 65 anos em Portugal e na Suécia), SICO-eVM e SCB (mortalidade total em Portugal e na Suécia par maiores de 65 anos).



DAS COMPOTAS E DO COMPORTAMENTO OU DO COMO PREGA FREI TOMÁS

Isto de andar em almoçaradas com este e aquele, e ainda por cima não respeitar a distância social, terá agora o merecido castigo: António Costa terá de se contentar com um Natal isolado, e, quando muito, receberá umas “compotas” através do “patamar das escadas do prédio”. E nem pode celebrar na véspera da véspera de Natal com um pequeno-almoço...