O Rei Carlos XVI Gustavo da Suécia falou hoje sobre a gestão da pandemia: "Falhámos", disse. Sobre o nosso presidente da República, convido-vos a pesquisar no Google as palavras "Marcelo" e "elogio" (ou suas formas verbais), e vos surgirá um chorrilho de encómio, alguns quase diritambos, em torno da acção de Portugal na luta contra a pandemia, na protecção dos idosos, etc,., etc., etc...
Bem sabemos que Portugal não é a Suécia, e a maior diferença é na postura, na verdade e na transparência dos seus responsáveis políticos. Algo não corre bem na Suécia? Pois bem, admite-se, avalia-se e corrige-se, para não repetir o erro. Algo não corre bem em Portugal? Espera aí?! Algo correu mal em Portugal? Não correu nada! Ou seja, não se admite sequer, porque nem se avalia, e continua-se alegremente a errar, até porque mal nenhum haverá, excepto para quem desse mal directamente sofre, mas também a sua voz é demasiado sumida, de certo que se equivale aos zurros de burros que, como sabido, nunca ao Céu chegam.
Mas, enfim, entre o que parece e a realidade existe uma distância colossal. Os mesmos jornais portugueses que destacam as críticas do rei sueco, não querem ou nem sequer têm capacidade (coitados!) para analisar o comportamento dos dois países durante o ano d 2020 na protecção dos idosos, os mais vulneráveis à covid e a muitas outras doenças que matam. Pois bem, não faz a imprensa portuguesa, faço eu - tem sido essa a minha postura nos últimos meses.
Assim, pegando exclusivamente em dados oficiais (INE, SCB, DGS), analisei a taxa de mortalidade dos maiores de 65 anos (portanto, padronizando) ao longo dos merses de 2020, desde Janeiro até Novembro.
Os resultados são esclarecedores: mortalidade total até 30 de Novembro para os maiores de 65 anos: Portugal com 41.730 óbitos por milhão de habitantes neste grupo etário, o que é 12,7% pior do que a Suécia (37.041 óbitos por milhão) em igual período.
Comparando mês a mês, somente a Suécia ultrapassou Portugal em Abril e Maio, quando os lares suecos registaram vários problemas (assumidos desde cedo). A partir daí a taxa de mortalidade tem estado bem acima em Portugal, chegando a ser quase 38% superior no mês de Julho (foi muito mau ser idoso em Portugal neste mês), 20% no mês de Outubro e 26% no mês de Novembro. Dezembro não está nada famoso.
Daqui se conclui que na Suécia o rei pode estar insatisfeito, e em Portugal o presidente pode estar satisfeito, mas no fundo em Portugal os idosos estão a morrer em muito maior número do que na Suécia. É um facto, indiferente a críticas ou encómios. E é esta a realidade que vivemos em Portugal. Por muito que o nosso país se recuse a admitir. Por muito que a cegueira da nossa imprensa faça por ignorar.
Fonte: INE e SCB (estimativs da população com mais de 65 anos em Portugal e na Suécia), SICO-eVM e SCB (mortalidade total em Portugal e na Suécia par maiores de 65 anos).