segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

DA TERCEIRA DERIVADA PARA ENCONTRAR UM CALHAU

Carlos Antunes, doutorado em Geodésia (e que, entre muitos bons estudos na sua área, avaliou recentemente a probabilidade de inundações costeiras devido à subida do nível do mar e a eventos de tempestade extrema), tornou-se um guru da Matemática da Pandemia. E tão apaixonado anda com o seu novo interesse que, com unhas e dentes, defende a sua "dama" até ao nível do absurdo. E atira-se com garras e fúrias a quem lhe aponta, enfim, as limitações dos modelos matemáticos e, sobretudo, os pressupostos para os dados que utiliza. Foi ele que ajudou a fechar as escolas; é ele que agora está a forçar, com Pedro Simas, que Portugal passe habilidosamente de "besta" efectiva a fantasioso "bestial", limpando a imagem do Governo na péssima gestão da pandemia e no caos do SNS em Janeiro.

Já há dias, numa longa entrevista na RTP, fiquei abismado com a sua analogia entre o fecho das escolas e o uso de aviões pesados Canadair para a supressão de incêndios rurais à nascença. Absurda analogia, não apenas por ser impraticável usar aviões pesados em qualquer ignição, mas sobretudo por a realidade mostrar que o efeito do uso de aviões pesados não é um factor determinante para a variabilidade da área ardida em Portugal.

Também já ficara boquiaberto quando ele concluiu que os jovens dos 18 aos 24 anos são o grupo com maior incidência de infeção, quando, na verdade, são os mais idosos, porque a incidência deve sempre ser calculada em função da dimensão de um grupo etário (ou seja, como taxa relativa).

Agora, vejo que polemiza com "uma Raquel Varela", forma pouco cordata de alguém que se assume como académico se dirigir a uma colega académica, mesmo que de outra área científica. Carlos Antunes, no seu post, justifica logo porque não tem em nenhuma consideração os argumentos de Raquel Varela: "como a senhora não percebe nada de matemática dificilmente compreenderá a natureza dos dados a que se refere".

Não me considerando um especialista em qualquer área, uma das vantagens da minha (comprovada) formação académica e profissional (engenharia, conservação da natureza, economia, gestão, comunicação social, história, políticas públicas e até literatura) é ter um conhecimento suficientemente alargado para entender os "mecanismos" de muitas áreas e sobretudo a "retórica" dos que se assumem como especialistas, sobretudo quando falam para leigos. Quase sempre a retórica, quando imposta, se mostra com pés de barro.

Nessa "retórica", como bem fica patente no post de Carlos Antuns, que desanca na Raquel Varela, espraiam-se tiques de superioridade mas assentes num discurso que dá para rir. Fazer uma simples correlação entre temperatura média e mortalidade covid e não-covid, concluindo que a vaga de frio só matou quem não estava com covid é dos maiores absurdos que se pode ver. Aquilo devia dar para chumbar qualquer aluno, e nem era de Matemática.

Porém, quando se temperam argumentos com termos como "correlação numérica", "modelo bio-físico", e "2ª derivada da incidência", dá-se uma ideia de saber superior, ainda mais quando implicita ou explicitamente se faz entender que o opositor não domina esses conceitos. Porém, Carlos Antunes faz-me tão-só lembrar os padres que até ao século XVIII introduziam nos seus sermões, em portugês, frases em latim: os seus ouvintes não entendiam latim, mas essas palavras tinham apenas o propósito específico de granjear maior superioridade "intelectual" ao clérigo.

Nessa medida, eu quero dizer-vos que sei bem o que a "2ª derivada da incidência" pode indicar-nos, mas também desejo confessar-vos ("imodesticamente") que sou especialista em análises aos discursos de académicos, e que as faço muito bem até à "3ª derivada", que serve basicamente para detectar calhaus. E descobri um nas análises e modelos sobre a pandemia que têm sido apresentadas pelo digníssimo professor do Departamento de Engenharia Geográfica, Geofisica e Energia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Carlos Antunes. Aliás, este é um bom caso em que se aplica o adágio: quem te manda a ti, sapateiro, tocar rabecão.

domingo, 7 de fevereiro de 2021

DO COMO SE JUSTIFICA A GRAVIDADE DE UMA DOENÇA COM O PRÓPRIO COLAPSO DO SNS

Enfim, para se justificar aquilo que é o desinvestimento "crónico" do SNS que resultou num colapso "agudo" em Janeiro, vem-se com a história da ocupação das Unidades de Cuidados Intensivos (UCI). Diz-se que nas UCI, 90% estão ocupadas por doentes-covid. 

Assim visto, duas hipóteses se colocam: ou há muitos doentes ou há poucas camas-UCI. Ou, na verdade, três hipóteses, sendo que a terceira é a seguinte: havendo sempre poucas camas-UCI, e não se fazendo qualquer investimento digno de nota durante a pandemia, um maior afluxo na procura por uma nova doença causou um colapso.

Vamos fazer aqui uma comparação (padronizada) com Espanha. No dia 4 de Fevereiro, Espanha tinha 4.795 camas-UCI ocupadas por doentes-covid. Tendo em conta a sua população, isto significava cerca de 1.050 portugueses-equivalentes. Ou seja, uma procura ligeiramente superior à de Portugal (em redor de 900 doentes-covid).

Ora, como se pode observar no quadro que anexo, a taxa de ocupação de camas-UCI por doentes-covid era, no dia 4 de Fevereiro, de apenas 43,86%. Feitas as contas - e há quem, vivendo na Terra acha que isto de contas só se precisa de saber fazer somas de merceeiro -, isto significa que existem cerca de 10.930 camas-UCI em toda a Espanha, para qualquer doença ou mazela, incluindo covid. Padronizando para a população portuguesa, isto dá o equivalente a cerca de 2.430 camas-UCI. 

Portugal, tendo em conta as indicações, terá apenas cerca de 1.000 camas-UCI. Ou seja, Espanha tem muito mais do dobro (quase 2,5 vezes mais) de camas de cuidados intensivos do que Portugal. 

E depois a culpa das mortes é do SARS-CoV-2 e do Natal e dos portugueses. Nunca do Governo.


DA MORTE DE BEBÉS POR COVID E DA IGNORÂNCIA DOS NÚMEROS

Hoje morrem 20% dos bebés (menos de um ano) que morriam no final dos anos 80. Contudo, apesar das fantásticas melhorias médicas no acompanhamento da gravidez e nos cuidados nos 12 primeiros meses de vida, a probabilidade de morte até se completar o primeiro ano de vida é muito superior aos das crianças com mais idade. 

Na verdade, a probailidade de morte nos primeiros meses (0,29%) é 10 vezes superior ao dos bebés de 1 anos (0,029%), e é  equivalente `de uma pessoa de 50 anos. 

Julgo não ser necessário explicar as razões, mas isto explica porque as únicas duas crianças que morreram por covid tinham meses de vida e ambas sofriam de graves malformações congénitas.



sábado, 6 de fevereiro de 2021

DO FAROL XXI - O NOVO PROJECTO

Eis o fruto (inicial) do trabalho de várias semanas, integrado em mais uma iniciativa da Cidadania XXI, feito por uma extraordinária equipa: nasceu hoje o FAROL XXI (cliquem AQUI), uma plataforma de reflexão e cidadania sobre estes nossos estranhos tempos. 

Podem encontrar análises de actualidade (ACTUAL); artigos de opinião (VÉRTEBRAS); muitas estatísticas (ÁLGEBRAS), espaço para tertúlias e ensaios (COM VIDA); humor & cartoons (HUMORES), porque continuar a rir é essencial; e mesmo contos (DISTOPIAS). E vai haver muito muito mais. Muito mais e melhor.

Sugiro-vos, vivamente tudo, mas recomendo em especial quatro análises detalhadas da secção ACTUAL.

As estatísticas detalhadas também, sobretudo as previsões diárias dos óbitos-covid, a situação portuguesa no contexto europeu e mundial e outras informação essencial para compreender a pandemia.

E humor, as subsecções AL-KHARTUM e MILHEIRICES....

Etc., etc., etc...

Falarei disto depois com mais detalhe. Visitem e adicionem-se também à página do FAROL XXI.

Feedbacks serão bem-vindos.

Link do site: FAROL XXI 

Página do Facebook: FAROL XXI

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

DO PORTUGAL PACÓVIO EM TEMPOS DE PANDEMIA

Há qualquer coisa de grotesco nisto. Entretanto, os lares de velhos continuam a “bombar” receitas para as agências funerárias... e ninguém do Governo interessado em se saiba aquilo que por lá se passa. Entre milhares de lares legais e centenas de ilegais. Entretenham-se.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

DA PERPETUIDADE

Cruzei-me com esta frase, algures por aí... Mentira! Não cruzei nada. Destaquei-a apenas, sem a caratonha do dito, porque isto ultrapassa todos os limites. Consta por aí ter havido certa pessoa que disse, sem se rir, ser um sintoma possível da covid o não ter sintomas. Este agora veio dizer que, enfim, " mesmo os assintomáticos ficaram com sequelas".

Sinceramente, eu acho tudo isto tão absurdo, os tempos tão absurdos, que muita gente nem sequer vai puxar pelos neurónios e, em vez de dar uma sonora gargalhada, aumenta ainda mais o nível de pânico.

Portanto, depois disto, quem fizer uma análise serológica e se lhe detectarem anticorpos contra o SARS-CoV-2, já sabe aquilo que lhe reserva o futuro. O triste futuro. 

Dói-lhe a cabeça? Foi o SARS-CoV-2! 

Torceu o pé? Foi por causa da covid! 

Um desarranjo intestinal? Foi o corona! 

Apanhou pé de atleta? Foi o dito! 

Ataque cardíaco? Pimba: foi o SARS-CoV-2! 

Teve AVC? Ui: foi a covid! 

Sofre de Alzhemeier? Só pode: foi por causa da covid!

Parkinson? Trema: foi o corona!

E se vier um cancro? Ora: quem acha que foi?!

Morreu de velho, em sossego, rodeado de netos e de sorriso nos lábios pela longa e rica vida? Era o que faltava: morreu por causa do "gajo" que se grudou em si para todo o sempre! Amen! E veja se não infecta depois Deus ou o Diabo, consoante o lugar para que siga.

DO FIM DO INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA, POR CERTO DESEJADO POR CARONA

O Excelentíssimo Doutor Gustavo Carona - que se jactancia de "médico intensivista", pese embora tenha apenas a especialidade de "anestesiologia" registada na Ordem dos Médicos - começou em Fevereiro de 2020 por "relativizar" a covid-19. Escrevia ele há um ano ser o SARS-CoV-2 "altamente contagioso, mas que a poucos causa doença, e aos poucos que causa doença nas piores das análises 2 a 3% vão morrer" (FB, 26/2/2020).

Na verdade, um ano depois, as suas palavras mantêm, mais ou menos, a actualidade e o rigor. Com efeito, a taxa de letalidade em Portugal é de 1,8% (nem chega, assim, aos "2 a 3%" que ele referia), apesar de nos mais idosos ser muito mais grave, estando nos 14,6%, sendo que em Janeiro esteve um pouco acima, revelando as falhas do SNS. Na verdade, desde o início, a minha posição tem estado sustentada nestas premissas.

Ora, mas agora, um ano depois, o Excelentíssimo Doutor Gustavo Carona, presumido médico intensivista mas de atestado anestesiologista, já não gosta nada que se relativize coisa alguma. Aliás, abomina. Mais, anatematiza. Melhor dizendo, quer esconjurar quem relativiza.

Assim, ontem, o Excelentíssimo Doutor Gustavo Carona, agora vedeta da rádio & TV, foi à RTP dizer tão-só isto (sic): "(...) Afinal, não há ninguém negacionista. Ninguém nega a existência do vírus. O que é perigoso é a relativização. Os relativistas. Dizer que isto não é assim tão grave, que já houve anos piores, que isto é como a gripe, todo este tipo de frases são perigosíssimas. E nós temos de as retirar da circulação pública".

Portanto, temos aqui um anestesiologista a querer o fim de tudo o que seja "relativização", qualquer comparação. Tudo isto deve ser retirado de "circulação pública". No limite acabar com o INE, presumo, que é o sítio onde mais se fazem "relativizações". Aliás, o extermínio das relativizações, proclamada pelo Excelentíssimo Doutor Gustavo Carona, acaba por ter um óbice: entra em contradição, o que nem surpreende perante o seu "histórico": é que só se relativizarmos podemos dizer em que grau (ou em quantos graus) é que a covid é pior do que outras doenças, incluindo infecções respiratórias. 

Nota: Em anexo, por ser público, coloco o registo de Gustavo Carona na Ordem dos Médicos, bem como o de outros médicos, para atestar que um médico pode ter simultaneamente a especialidade de anestesiologia e de medicina intensiva. Gustavo Carona só tem a primeira.



terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

DOS PARABÉNS À TIA OU DO COMO O INFERNO ESPANHOL SE PASSOU PARA CÁ NUM ÁPICE

Em Junho de 2020, a deputada socialista Joana Sá Pereira declamava na Assembleia da República: "Tal como noutros períodos da nossa longa história, há fortes motivos de orgulho para os portugueses. Não foi sorte. O vírus teve, diria, talvez o azar de encontrar pela frente um povo experimentado e um Governo capaz."

Oito meses depois, Portugal ultrapassou a Espanha em mortes por milhão, encontra-se em 11º lugar no ranking mundial, neste critério, de entre os Estados com mais de 1 milhão de habitantes.

Eis o Governo capaz. Eis o azar do vírus.

Bem sei que muitos amigos (e inimigos) dirão que aí está a confirmação de a covid ser terrível. Leiam-me. Sempre disse que era muito perigosa para os mais idosos e alertei para os lares. Sabe-se o que se está a passar nos lares portugueses, nos legais e ilegais? Claro que não! Eu posso saber o que se passa em imensos países nos seus lares, aqui é top secret. Lamentável. Todos os meus indicadores apontam que andam a alimentar as morgues.




DA COLABORAÇÃO

Portanto, Portugal desinveste décadas a fio no Serviço Nacional de Saúde, e, perante o caos e a aflição, pede agora ajuda internacional. A Alemanha dispõs-se a enviar-nos médicos e ventiladores (onde estão os que comprámos aos chineses?). Entretanto, a ajuda de um terceiro transforma-se, na boca da ministra da Saúde, em colaboração. Portugal está a colaborar com a Alemanha.

A partir de agora, quando virem um pedinte na rua, ele não está a pedir-vos ajuda. Deseja colaborar convosco. Na verdade, não é um pedinte; é um (vosso) colaborador. Colaborem, sff.

DOS CROMOS

Há uns meses, o CM fez uma “colecção de cromos” com as fotos de idosos vítimas da covid. Agora está a fazer uma colecção de cromos de casos polémicos relacionados com as tomas de vacinas. Neste casos, estamos mesmo perante cromos.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

DOS SINAIS DE DEGRADAÇÃO DO SNS

Mais um indicador do colapso do Serviço Nacional de Saúde: desde o fim do Verão, com a estabilização dos procedimentos de tratamento e o aumento da testagem (e dos doentes), a taxa de letalidade nos mais idosos (maiores de 80 anos) tem estado sempre a piorar.

Em Outubro situou-se nos 8,3% (o valor mais baixo desde o início da pandemia), depois subiu para os 13,2% em Novembro e em Janeiro já foi para os 15,4%.

Em termos concretos, se se conseguisse manter a eficácia de Outubro (cerca de 8 óbitos por 100 casos positivos), teríamos quase metade dos óbitos que se registou em Janeiro de 2021 (mais de 15 óbitos por 100 casos). 

O nosso drama não é apenas a doença; é a qualidade da cura, que se foi perdendo.

DAS PRIORIDADES DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Para investigar chico-espertices, para as quais bastaria a censura social e sanções disciplinares e políticas, o Ministério Público vai a correr. Sobre investigar aquilo que se anda a passar nos lares: ora!, está quieto! 



DAS NOTÍCIAS AUTOMÁTICAS

O Público continua a bater teclas sem noção já daquilo que é UMA notícia. Está em piloto automático. As “notícias” sobre a pandemia na Índia são já cómicas, no sentido patético do termo: anteontem morreram em Portugal 303 pessoas, e o Público destaca as 118 que morreram na Índia... Contas feitas, e face à população de cada país, a situação portuguesa é 337 vezes pior do que a da Índia... Amanhã saberemos como será: o Público dir-nos-à. Sempre.

DO NOVO NORMAL

Como a vacina não eliminará jamais o vírus - ou pelo menos num futuro próximo (vd. varíola) -, prevejo que tenhamos um Novo Normal em curso. Viver com risco zero será não-viver; será sobreviver; será morrer cheio de saúde.  

domingo, 31 de janeiro de 2021

DA ANALOGIA

O Governo português quis controlar uma cheia rezando para Nossa Senhora controlar as nuvens. E foi alegremente construindo no vale. Até que chegou Janeiro de 2021.