sábado, 5 de setembro de 2020

DA SUÉCIA E DO NOSSO PORTUGAL, OU DA OUTRA PERSPECTIVA COM QUE SE DEVE OLHAR PARA A PANDEMIA DA COVID

Ontem apresentei aqui uma análise da taxa de mortalidade diária acumulada para os maiores de 65 anos entre Portugal e Suécia; agora apresento outra perspectiva, que me parece particularmente  interessante, pois permite interpretações sobre o desempenho específico em cada país.

Vejam assim, no gráfico, como evoluiu ao longo dos meses, tanto num país como no outro, a taxa de mortalidade diária (óbitos de maiores de 65 anos por 100.00 habitantes nesta faixa etária). A minha (discutível) interpretação segue em baixo.

1 - Janeiro e Fevereiro foram marcados por um período gripal de baixa intensidade, e até mais na Suécia do que em Portugal. Esta situação "poupou" muitas vidas na Suécia, mas que viriam a ser "ceifadas" com o surgimento da covid. Em análises anteriores já mostrei que a mortalidade em 2020 em Portugal nos dois primeiros meses foi inferior à média, pelo que se aplica a mesma interpretação, mas em menor grau.

2 - A mortalidade directamente relacionada com a covid, entre Março e Maio, foi muito mais intensa e duradoura na Suécia do que em Portugal. Na Suécia o pico da taxa de mortalidade diária chegou aos 17, enquanto que em Portugal se quedou pelos 15. Até finais de Maio, a diferença entre os dois países foi, para o grupo dos idosos, de 2 óbitos diários por cada 100.000 habitantes, o que significou, grosso modo, um acréscimo de óbitos na Suécia de cerca de 40 óbitos por dia em comparação com Portugal. Encontra-se aqui grande parte da diferença entre os dois países em termos de vítimas oficiais da covid. 

3 - Note-se ainda que a taxa de mortalidade diária em Portugal durante os piores meses de covid nunca ultrapassou o valor mais elevado de Janeiro (época gripal). No entanto, na Suécia, a mortalidade durante os piores meses da covid foi muito superior à dos meses de Janeiro e Fevereiro.

4 - Em finais de Maio, e durante cerca de uma semana, a taxa diária de mortalidade em Portugal suplantou a da Suécia. Aconteceu pela primeira vez desde o inícioda pandemia, e deveu-se a uma (já referenciada) onda de calor.

5 - A partir de Junho, e sobretudo de Julho, a taxa de mortalidade diária dos idosos na Suécia acompanhou a habitual tendência de decréscimo que se regista na Europa com a entrada do Verão. Mostra ser um sinal consistente de que a Suécia voltou à "normalidade" no final do mês de Maio.

6 - Ao invés, em Portugal, o mês de Julho foi marcado por uma fortíssima e muita atípica subida da taxa de mortalidade diária. Fortíssima porque suplantou mesmo o pico da mortalidade em Abril (pior mês da covid); muito atípica porque os acréscimo de mortalidade no Verão se devem geralmente a ondas de calor que são repentinas e de curta duração (uma semana no máximo), e no caso deste ano a mortalidade total andou sempre bem acima da média. Como já referido em outras análises, o excesso de mortalidade total foi, neste mês, de quase 2.200 óbitos, sendo que a covid apenas matou cerca de 150 pessoas.

Conclusão: o impacte da covid-19 deve ser feito, na minha opinião, à luz de quatro factores que, de forma muito significativa, influenciaram a mortalidade em 2020 no grupo dos mais idosos (65 anos ou mais): 

a) a época gripal; a covid-19 como doença mortal; 

b) as ondas de calor e outros eventos meteorológicosm como temperaturas elevadas; 

c) factores externos relacionados as funcionalidades do Serviço Nacional de Saúde (e,.g.,adiamentos de consultas e cirurgias);

d) "fuga" aos hospitais de pessoas com doenças súbitas, que acabaram por ser fatais.



sexta-feira, 4 de setembro de 2020

DA SUÉCIA MELHOR QUE PORTUGAL... OU DO PODEM CHAMAR-ME NOMES MAS A REALIDADE NÃO MUDARÁ POR CAUSA DISSO

Com algum trabalho, encontrei dados para comparar a evolução da mortalidade em 2020 entre a Suécia e Portugal mas incidindo EXCLUSIVAMENTE no grupo etário dos maiores de 65 anos, ou seja, retirando o efeito da estrutura etária dos dois países. Assim, fica-se a saber qual foi o efeito prático (mortalidade total) da estratégia contra a covid entre os dois países, independentemente da mortalidade desta doença. Como sabem, tenho defendido que uma morte é sempre uma morte, independentemente da causa, e que, por esse motivo, devemos analisar os efeitos da pandemia ao nível da mortalidade total, e não fazer avaliação apenas pelos óbitos por covid nem num curto espaço de tempo. 

Para esta minha análise, foi necessário saber a mortalidade total diária em cada país para os maiores de 65 anos (fontes: SCB e SICO-eVM, respectivamente, para  Suécia e Portugal), bem como a estimativa populacional deste grupo etário (SCB e INE, idem). A partir daí foi possível calcular facilmente a taxa de mortalidade diária desde 1 de Janeiro a 25 de Agosto (último dia com dados em ambos os países). A mortalidade foi padronizada para ambos os países, donde a leitura deve ser feita em óbitos de maiores de 65 anos por 100.000 pessoas com mais de 65 anos. 

Ora, surpresa das surpresas, ou talvez não: a incidência acumulada da mortalidade (taxa) nos idosos durante o ano 2020 tem sido sempre - REPITO, sempre - maior em Portugal do que na Suécia, mesmo quando no país escandinavo a covid-19 foi particularmente mortífera. Em parte, esta situação deveu-se aos meses de Janeiro e Fevereiro terem sido particulamentre pouco letais (gripe pouco intensa) na Suécia, o que fez com que o ponto de partida no início da pandemia fosse já desfavorável a Portugal. No dia 15 de Março, quando a covid começou oficialmente a matar no nosso país, a diferença na taxa de mortalidade entre Portugal e a Suécia era de cerca de 140 óbitos por 100.000 habitantes (maiores de 65 anos). 

Porém, esta aparente vantagem da Suécia, acabou por ser também uma desvantagem inicial, porque tinha uma faixa de população mais susceptível a uma doença particulamente perigosa para os mais idosos. Contudo, sendo certo que a covid-19 foi bastante letal na Suécia (em parte, também, porventura, da gripe invernal ter sido menos mortífera), na verdade a taxa de mortalidade acumulada para os idosos nunca ultrapassou a portuguesa, o que chega a ser surpreendente. O dia 24 de Maio foi aquele onde a diferença na taxa de mortalidade acumulada foi menor entre os dois países: Portugal tinha então 1.915 óbitos por 100.000 habitantes (com mais de 65 anos) e a Suécia 1.877. Essa diferença (38 óbitos por 100.000) aumentaria consideravelmente no período seguinte, não apenas porque a Suécia conseguiu controlar a covid-19 mas sobretudo porque o nosso país continuou a ter um excesso de mortalidade não-covid, que atingiu proporções pavorosas em Julho. Assim, no dia 25 de Agosto, a diferença entre os dois países era de 163 óbitos por 100.000: a Suécia apresentava uma taxa de mortalidade acumulada de 2.826 óbitos por 100.000 habitantes (com mais de 65 anos) e Portugal tinha já 2.989.

Conclusão (para fazer ranger os dentes aos alarmistas): os idosos na Suécia estão a ter um ano menos "horribilis" do que os idosos de Portugal, independentemente da covid. É que, efectiva e lamentavelmente, parece que  há muitos que se esquecem (incluindo a Propaganda Mediática) que há outras "coisas" que matam, e não apenas a covid-19. Mas, tão mau como isto: enquanto na Suécia se respira normalidade, em Portugal o pânico está em picos inimagináveis e o bloqueio anímico e económico está para durar. Triste ano, este o nosso. E não culpemos apenas o SARS-CoV-2. A estratégica com que estamos a enfrentar o vírus é talvez pior do que o dito.

Nota: Para os mais distraído, diga-se que esta comparação é feita para a proporção de idosos de ambos os países, ou seja, elimina o efeito da estrutura etária mais jovem (ou menos envelhecida) da Suécia. Os dados da Suécia podem ser consultados a partir daqui: https://www.scb.se/en/About-us/news-and-press-releases/statistics-sweden-to-publish-preliminary-statistics-on-deaths-in-sweden/ . Os dados portugueses a partir do SICO-eVM, já aqui bastante divulgado, e as estimativas da população por grupo etário na base de dados do INE. Em todo o caso, a estimativa da população com mais de 65 anos em Portugal é de 2.262.325 e a da Suécia de 2.065.367. As mortes de pessoas com mais de 65 anos, até 25 de Agosto, foi de 58.367 na Suécia e de 67.610 em Portugal (fazendo as contas por 100 mil habitantes chega-se ao valor já acima indicado).



quarta-feira, 2 de setembro de 2020

DA "FORÇA' DA OUTRA PANDEMIA QUE NÃO INTERESSA

Sexto mês consecutivo com mortalidade total acima da média, mas sobretudo quarto mês consecutivo em que o excesso de mortalidade não-covid suplantou, em muito as mortes por covid-19. Desde Março, somente no mês de Abril, as mortes por covid-19 suplantaram aquela que, para mim, deveria ser a principal preocupação das autoridades de saúde portuguesas. No mês de Agosto tivemos temperaturas bastantes amenas, mas mesmo assim teve-se o segundo pior registo desde 2009, apenas suplantado por 2018 (que teve uma onda de calor particularmente mortífera). O excesso de mortalidade, em relação à média, como podem ver no gráfico, foi de 737 óbitos, sendo que apenas 87 foram da responsabilidade da covid. Continuem a achar que isto nada tem a ver com o estado do SNS...



domingo, 30 de agosto de 2020

DA VERGONHA ALHEIA, OU DA ANÁLISE À SUPOSTA SEGUNDA VAGA, OU (AINDA) DA ESMAGADORA MAIORIA DOS PORTUGUESES (TALVEZ MAIS DE 90%) QUE NEM SEQUER ENTENDERIA A ANÁLISE QUE EU FAÇO AQUI EM BAIXO SE A LESSE, MAS LENDO-A ME CHAMARÁ NOMES FEIOS

Os fracos conhecimentos em Matemática e raciocínio analítico da maior parte da população (que faz com que muitos adultos, mesmo aqueles bem letrados, saibam pouco mais do que fazer contas pelos dedos), permite as mais descaradas manipulações, agora bem patentes na forma como a generalidade "engole" a narrativa da segunda onda da pandemia da covid, que, dizem, está aí já bem evidente. Muitos pensam até estarmos já bem piores do que em Março ou Abril, predispondo-se, em manso rebanho, a aceitar tudo, daqui a nada o uso de máscara nas próprias casas, incluindo prémios aos vizinhos que façam delações.

No discurso empolado pela PM (Propaganda Mediática, outrora conhecida por Imprensa) fala-se na imperiosa necessidade de mais e fortes restrições por causa do aumento do número de casos positivos, como se isso fosse o facto mais relevante no caso da covid, e não a incidência por grupo etário, que essa sim tem influência directa no número de mortes.

Embora não seja particular apreciador de analisar o impacte da covid através dos casos positivos (apenas a ponta do icebergue, dado a existência de uma elevada quantidade de assintomáticos) e das mortes por covid (dado os diferentes métodos de catalogação nos diferentes países), predispôs-me a fazer análises comparativas em seis países (Alemanha, França, Espanha, Itália, Suécia e Portugal), confrontando os casos positivos e as mortes covidianas (por dia e milhão de habitantes) em dois períodos distintos: Março-Abril (que com excepção da Suécia, correspondeu ao pico da pandemia) e Agosto (primeiros 29 dias).

Como se pode observar nos dois gráficos, apesar do aumento de casos positivos em Agosto (sobretudo se comparado com Julho e Junho, que aqui não apresento, mas que é efectivo), e que em alguns países (e.g., França e Espanha) ultrapassa os números registados no pico da pandemia, certo é que a mortalidade é agora muitíssimo mais baixa. E quando digo muitíssima é mesmo muitíssima. Por exemplo, na Espanha registam-se em Agosto apenas 0,4 mortes por milhão de habitantes, quando em Março-Abril foi de 8,6 por dia em cada milhão. Em Itália, o mês de Agosto tem apenas 0,1 mortes contra 5,4 mortes por dia em cada milhão de habitantes durante o pico da pandemia. Mesmo em Portugal (que é aquele que menor redução apresenta nesta amostra), Agosto tem 0,3 mortes diárias por milhão contra 1,6 mortes diárias por milhão em Março e Abril (e só houve mortes a partir do dia 15 de Março).

Nesta linha de racicocínio, fácil é entender (ou devia ser) a evolução da taxa de letalidade da covid. Com excepção de Portugal, todos os outros cinco países apresentam taxas de letalidade em Agosto inferiores a 1%. [Aliás, a excepção para Portugal mostra que o nosso desempenho não é tão extraordinário no combate à doença]. Estes valores contrastam com taxas de letalidade em Março-Abril que rondavam os 10% ou estavam acima em alguns destes países, como a França, Espanha, Itália e Suécia. 

Daqui resultam várias hipóteses: menor virulência do SARS-CoV-2 no Verão, menos incidência de contágios na população idosa e melhoria na eficácia dos tratamentos médicos. Mas nunca jamais se pode inferior por aqui, muito pelo contrário, a necessidade de um agravamento das medidas, porque elas apenas alimentarão o pânico e adiam, por tempo, e sobretudo em Portugal, o retomar da normalidade que já não era boa) do SNS. E esse adiamento sim, causa(rá) muitas mortes.

Enfim, observar os argumentos de que estamos numa segunda vaga, agarrarem-se a isso para justificar mais medo, observar o pânico nas pessoas por via desta "narrativa" enviesada, deixa-me cheio de vergonha alheia. A falta de conhecimento de Matemática, daquela mais básica, dá nesta distopia em que vivemos. Governantes sem escrúpulos agradecem. E para aqueles que veem o absurdo desta situação, esqueçam aquele delicodoce adágio que diz poder-se ser rei em terra de cegos, bastando ter um olho. Na verdade, quem tiver um olho, não conseguirá fazer nada perante a chusma de cegos a correr em pânico a impor máscaras como se elas fossem a solução (não o eram na Peste Negra, diga-se). A única coisa que pode ter alguém com um olho, nestes tristes tempos, é a consciência de viver num mundo louco. Porém, temo, que isso o levará à loucura.





sexta-feira, 28 de agosto de 2020

DO IMUNE REBANHO PORTUGUÊS

O Governo conseguiu, com a ajuda da sua diligente PM (Propaganda Mediática, leia-se imprensa), amestrar um povo com tais artes que nem precisa já de justificar-se com base em critérios científicos aquilo que vai fazer daqui a um dia, a uma semana, a duas semanas, a um mês, daqui a um ano. 

Esqueçam como era o passado. Não vale a pena fazermos planos individuais, familares, o que seja. Fomos vacinados pelo medo e ficámos assim sem vontade própria e sem domínio sobre as nossas vidas. Dia 15 de Setembro regressamos ao "novo normal" da contigência e a fazer continência. 

Triste viver nestes tempos que correm, sobretudo quando se sabe olhar para os dados concretos e oficiais (vd. evolução, no gráfico, dos casos positivos, dos óbitos por covid e da taxa de letalidade por mês desde Março). Por vezes, gostava de ser ignorante. Assim, metido num rebanho de gente sem reacção, sinto-me ovelha tresmalhada. E revoltada. 



quinta-feira, 27 de agosto de 2020

DO NOVO NORMAL

O Governo continua na sua INCONTINÊNCIA normativa e promete para dia 15 de Setembro mais medidas de CONTINGÊNCIA. Daqui a nada seremos obrigados a fazer CONTINÊNCIA.



DO EMBARCAR EM PATETICES

Se não há registo de passageiros no metro e no comboio, que é largamente usado, e nos aviões existe; e se nos aviões se exige (e até aceito a prudência) que se viaje agora de máscara facial, que coloca o risco de contágio para níveis bastante reduzidos, porque então a patetice do “cartão de localização do passageiro” dos aviões, estipulado pelas autoridades portuguesas, as mesmas que nem sequer sabem bem o que se passa nos lares (e aqui sim devia-se saber)? As companhias aéreas, como a Lufthansa, onde viajei de regresso a Lisboa, cumprem isto com evidente enfado, porque é evidente que isto não serve para nada. As hospedeiras entregam a papelucho com enfado e com o enfado o recolhem. O passageiro com enfado o preenche, se preenche. E se está virado para a imaginação, pode criar até uma identidade falsa. Neste momento, o meu papelucho, preenchido com imaginação, deve estar a marinar num qualquer envelope que aguarda ida para a reciclagem.



quarta-feira, 26 de agosto de 2020

DO ABSURDO

Em concelhos tão distintos como Leiria, Figueira da Foz, Guarda, Tondela, Alenquer ou Albufeira (e mais cerca de oito dezenas de outros), a mortalidade total em 2020 tem sido, até agora, inferior à média do período homólogo de 2014-2019, enquanto em muitos outros (que não vou, por agora divulgar), o excesso de mortalidade supera os 25%. Olhar para este indicador, e analisá-lo em detalhe por blocos temporais é, para mim, extremamente irritante, porque confirma que a morte e a vida, em cada concelho, em cada freguesia, em cada bairro, em cada rua e em cada casa, tem já muito pouco a ver com o vírus SARS-CoV-2 e a sua letalidade, e sim muito a ver com a estratégia seguida pelo SNS no combate à covid-19. 



DO VÍRUS QUE SABE NADAR YO, DA ESTUPIDEZ QU’ANDA A PATINAR YE

Fiquei a saber que existe rugbyb subaquático, e que é considerado um desporto de médio risco pela nossa DGS. Já a patinagem artística de pares é um desporto de alto risco.




DA DESISTÊNCIA

Eu sabia que ia ser difícil. Praticamente uma semana convivendo num país (Suécia) onde a covid é uma doença mas não A OMNIPRESENTE E OMNIPOTENTE doença, e estou agora em ressaca. Não aguento ler já certas notícias nem tenho forças para as contestar. Uma doença anda a matar duas pessoas por dia e agarram-se aos casos positivos que funcionam como "picaretas martelando na moleirinha do medo colectivo". Andamos nisto há meses. Não vai acabar tão cedo. O Público, então, anda demais. Não sabem fazer a merda de uma análise de jeito para além do pingar dos números de casos positivos. Bosta de jornalismo. Ficarão na história como um case study. Uma vergonha!




segunda-feira, 24 de agosto de 2020

DA RACIONALIDADE

Estou a ouvir nos altifalantes do aeroporto de Frankfurt o aviso para manter a máscara na face e afastar-me 1,5 metros dos outros passageiros, enquanto tiro uma selfie e uma fotografia em frente. Entretanto, quase me falta o ar e os óculos embaciam-se. Vai correr tudo bem. E a Suécia cada vez mais longe.




DO REGRESSO E DO CHOQUE

Rápida visita ao Museu do Vasa. À saída, ultrapassado um casal, percebo sons familiares. Portugueses. Faço a parvoíce do costume, dos lusitanos abanando a cauda ao cheirar patrícios em terras longínquas: “Então, bom dia!” Ficamos ali a falar dois minutos sobre incontornável tema: a liberdade em terras suecas de uns basbaques sem máscara. “Já nem queremos regressar. Aqui não sentimos medo”, diz-me a senhora. “Regresso esta tarde”, lamento. “Estou com medo. Do choque entre a ponderação daqui e o absurdo de lá”. Entretanto, apanho o comboio para o aeroporto, onde revejo a ponderação. Estou ainda sem máscara.




DO MEDO

Ontem, durante, toda a tarde, enquanto andava pela cidade, fui tentando encontrar pessoas com máscara facial. Em Estocolmo é mais raro encontrar uma pessoa de máscara do que uma agulha em palheiro. Encontrei três em mais de cinco horas de caminhada. E aquilo que mais me impressiona, e sucede em Portugal, é um estranho paradoxo: as máscaras parece não darem a quem as usa e defende em todas as situações (eu defendo apenas em transportes com aglomerados e em aglomerações inevitáveis) nem segurança nem confiança. Geralmente, nessas pessoas vislumbra-se, através dos olhos, apenas medo, como se vê nesta senhora (sueca?), uma das três que vi de máscara. Ou seja, a máscara tem um efeito psicológico não irrelevante do ponto de vista da saúde: pespega-nos na cara esse papão omnipresente, a morte, toldando a racionalidade. Passamos a viver com a morte agarrada à boca.



domingo, 23 de agosto de 2020

DO TIRO PELA CULATRA

Sei bem, porque fui jornalista em importantes órgãos de comunicação social (como o Expresso), que as conversas em “off” dos políticos, ainda por cima a dizer mal de alguém, e que não abordaram na entrevista ou conversa, nunca eram desabafos de conversa de café. Eram sobretudo uma tentativa de condicionar, amestrar e/ou influenciar a opinião do jornalista. Aqueles segundos nunca eram um acaso, um despropósito... 

Portanto, independentemente de se saber como vazou a conversa em “off” da gravação do Expresso, desta vez saiu a António Costa o tiro pela culatra.



DAS CARGAS VIRAIS

Li por aí que (mais) um estudo (pouco conclusivo) indica que as crianças podem ter cargas virais de SARS-CoV-2 superiores aos adultos. Mais medo. O pânico habitual. Isto sem tal significar maior capacidade de transmissão, até porque a esmagadora maioria das crianças são assintomáticas... No entanto, até eu me “refugiei” neste parque de Estocolmo, não me juntando demasiado aos baloiços: ali as cargas virais serão lançadas das vias respiratórias da pequenada que nem punhais...

Ver vídeo aqui:

https://www.facebook.com/1322691913/videos/10217647320717804/?extid=50NtNAECWizDrnL0