Os fracos conhecimentos em Matemática e raciocínio analítico da maior parte da população (que faz com que muitos adultos, mesmo aqueles bem letrados, saibam pouco mais do que fazer contas pelos dedos), permite as mais descaradas manipulações, agora bem patentes na forma como a generalidade "engole" a narrativa da segunda onda da pandemia da covid, que, dizem, está aí já bem evidente. Muitos pensam até estarmos já bem piores do que em Março ou Abril, predispondo-se, em manso rebanho, a aceitar tudo, daqui a nada o uso de máscara nas próprias casas, incluindo prémios aos vizinhos que façam delações.
No discurso empolado pela PM (Propaganda Mediática, outrora conhecida por Imprensa) fala-se na imperiosa necessidade de mais e fortes restrições por causa do aumento do número de casos positivos, como se isso fosse o facto mais relevante no caso da covid, e não a incidência por grupo etário, que essa sim tem influência directa no número de mortes.
Embora não seja particular apreciador de analisar o impacte da covid através dos casos positivos (apenas a ponta do icebergue, dado a existência de uma elevada quantidade de assintomáticos) e das mortes por covid (dado os diferentes métodos de catalogação nos diferentes países), predispôs-me a fazer análises comparativas em seis países (Alemanha, França, Espanha, Itália, Suécia e Portugal), confrontando os casos positivos e as mortes covidianas (por dia e milhão de habitantes) em dois períodos distintos: Março-Abril (que com excepção da Suécia, correspondeu ao pico da pandemia) e Agosto (primeiros 29 dias).
Como se pode observar nos dois gráficos, apesar do aumento de casos positivos em Agosto (sobretudo se comparado com Julho e Junho, que aqui não apresento, mas que é efectivo), e que em alguns países (e.g., França e Espanha) ultrapassa os números registados no pico da pandemia, certo é que a mortalidade é agora muitíssimo mais baixa. E quando digo muitíssima é mesmo muitíssima. Por exemplo, na Espanha registam-se em Agosto apenas 0,4 mortes por milhão de habitantes, quando em Março-Abril foi de 8,6 por dia em cada milhão. Em Itália, o mês de Agosto tem apenas 0,1 mortes contra 5,4 mortes por dia em cada milhão de habitantes durante o pico da pandemia. Mesmo em Portugal (que é aquele que menor redução apresenta nesta amostra), Agosto tem 0,3 mortes diárias por milhão contra 1,6 mortes diárias por milhão em Março e Abril (e só houve mortes a partir do dia 15 de Março).
Nesta linha de racicocínio, fácil é entender (ou devia ser) a evolução da taxa de letalidade da covid. Com excepção de Portugal, todos os outros cinco países apresentam taxas de letalidade em Agosto inferiores a 1%. [Aliás, a excepção para Portugal mostra que o nosso desempenho não é tão extraordinário no combate à doença]. Estes valores contrastam com taxas de letalidade em Março-Abril que rondavam os 10% ou estavam acima em alguns destes países, como a França, Espanha, Itália e Suécia.
Daqui resultam várias hipóteses: menor virulência do SARS-CoV-2 no Verão, menos incidência de contágios na população idosa e melhoria na eficácia dos tratamentos médicos. Mas nunca jamais se pode inferior por aqui, muito pelo contrário, a necessidade de um agravamento das medidas, porque elas apenas alimentarão o pânico e adiam, por tempo, e sobretudo em Portugal, o retomar da normalidade que já não era boa) do SNS. E esse adiamento sim, causa(rá) muitas mortes.
Enfim, observar os argumentos de que estamos numa segunda vaga, agarrarem-se a isso para justificar mais medo, observar o pânico nas pessoas por via desta "narrativa" enviesada, deixa-me cheio de vergonha alheia. A falta de conhecimento de Matemática, daquela mais básica, dá nesta distopia em que vivemos. Governantes sem escrúpulos agradecem. E para aqueles que veem o absurdo desta situação, esqueçam aquele delicodoce adágio que diz poder-se ser rei em terra de cegos, bastando ter um olho. Na verdade, quem tiver um olho, não conseguirá fazer nada perante a chusma de cegos a correr em pânico a impor máscaras como se elas fossem a solução (não o eram na Peste Negra, diga-se). A única coisa que pode ter alguém com um olho, nestes tristes tempos, é a consciência de viver num mundo louco. Porém, temo, que isso o levará à loucura.