Como se sabe, a covid tem sido o ai-Jesus do Governo, da Direcção-Geral de Saúde (DGS), do Serviço Nacional de Saúde e da nossa imprensa. Também, como se sabe, estas dignas instituições só olham para os números da covid, para a capacidade de resposta dos hospitais para a covid, para as taxas de internamento da covid, para a ocupação das unidades de cuidados intensivos para a covid. No meio disto, o medo enraizou-se tanto nos portugueses que uma grande parte foge mais depressa dos hospitais do que o diabo da cruz.
Um grandíssimo problema desta visão redutora, errada e completamente absurda de se olhar para uma pandemia - como se esta fosse a única doença do Mundo -, tem sido falada: muitas consultas, exames de diagnóstico e cirúrgias têm sido adiadas, o que vai acarretar um aumento a prazo da letalidade de doenças tratáveis.
Porém, há também um efeito imediato, que se está a fazer sentir de forma muito preocupante, e à qual se tem denominado excesso de "mortalidade não-covid". Embora lamentavelmente a DGS, transformada agora em DGC (Direcção-Geral da Covid), recuse analisar (e divulgar) as causas das morte em excesso não-associadas à pandemia (e era fácil), existem indicadores que mostram que uma parte significativa se deverá a doenças súbitas (e.g., enfartes e AVC). Um desses indicadores (que lança a suspeita) é muito simples de obter: o local do óbito.
Ora, dirão alguns, como o local de óbito pode lançar essa suspeita? Muito simples. Sabendo-se que todos (ou praticamente todos) os doentes covid estarão a morrer nos hospitais, um aumento muito significativo e consistente da mortalidade fora dos estabelecimentos de saúde mostra a ocorrência de eventos anormais e súbitos que não terão sequer permitido uma resposta dos serviços de saúde. Ou seja, um aumento significativo de óbitos fora dos hospitais significa um aumento de doenças agudas. E sobretudo quando não são nada poucas,
Através dos dados do SICO-eVm apurou que este ano, até ao dia 5 de Dezembro, registou-se um aumento de 6.287 óbitos em relação à média dos últimos cinco anos (2015-2019). Repito: 6.287 óbitos a mais, o que é um valor superior aos óbitos por covid.
Esse acréscimo verifica-se, de forma consistente, desde o início da pandemia, em Março, atingindo curiosamente (com excepção do Verão) os picos mais elevados nos períodos de maior restrição (e maior pânico) associada à luta contra a covid, isto é, entre Março e Abril e desde Outubro.
Saliente-se, para os mais distraídos, que esse aumento das mortes fora das unidades de saúde não são de covid. Na verdade, uma parte dessas mortes poderia ter sido evitada se o SNS transmitisse confiança relativamente à segurança das urgências e, sobretudo, se a comunicação social não continuasse a (já quase criminosa) postura de fomentador do pânico.
Insisto na ideia: há uma pandemia de medo que está a matar mais do que a covid. E isso não é racional.