Tantos meses depois do início da pandemia, e a nossa Imprensa segue sendo a Propaganda Mediática do Governo. Preguiça, incompetência ou reverência pela publicidade paga: não sei qual destes factores é o mais importante. Talvez todos, em partes iguais.
Isto a pretexto do suposto "quase"esgotamento das camas hospitalares por causa da covid, uma questão "premente" que a nossa Propaganda Mediática não pára de gritar, alimentando assim o pânico. Bem sabemos que o Governo e a nossa DGS tentam, por todos os meios, esconder e manipular informação. Fazem o serviço que conseguem para justificar o colapso da estratégia anti-covid, que tem matado mais pessoas do que o SARS-CoV-2. Porém, há muita informação disponível que, mesmo não sendo fácil de tratar e de interpretar, um jornalista de cultura mediana e conhecimentos básicos de matemática (bem sei que muitos nem sabem fazer uma regra de três simples) tinha obrigação de saber.
Pois bem, não fazem eles; faço eu...
Portanto, peguei na informação da Monitorização Diária dos Serviços de Urgência e estive a comparar, para os dias 1 a 20 de Outubro, os fluxos de episódios de urgência (de acordo com a Triagem de Manchester) nos anos de 2020, 2019, 2018 e 2017, bem como os internamentos no decurso.
Eis as conclusões. No total dos episódios de urgência (incluindo outras situações, sinalizadas a branco e a cinzento), o mês de Outubro de 2020 tem sido bastante mais calmo do que os anos anteriores, com apenas cerca de 251 mil episódios contra uma média (2017-2019) de quase 353 mil episódios, i.e., uma descida de 29%. Se se considerar os casos mais urgentes (vermelho, laranja e amarelo), a descida é ainda maior (36%), passando de uma média de 185 mil para apenas 118 mil este ano.
No caso dos internamentos, embora esteja a abordar fluxos (e não a situação pontual ou diária), porque a DGS esconde informação, na verdade não é expectável que se esteja à beira de qualquer colapso. Na verdade, a situação actual aparenta ser mais favorável do que em anos anteriores. Com efeito, entre 1 e 20 de Outubro, em valor acumulado, foram feitos este ano 22.416 internamentos,, ou seja, cerca de 15% menos do que a média (2017-2019). No caso dos internamentos que resultaram de episódios mais urgentes (vermelho, laranja e amarelo), e que, em princípio, podem resultar em internamentos mais duradouros, o mês de Outubro (até dia 20) registou um valor muito inferior à média: 15.778 contra 20.674, i.e., uma redução de quase 24%.
Portanto, apesar da informação esconida, mesmo com covid (ou talvez por causa dela, mas por má razões), não parece existir qualquer situação próxima do esgotamento dos internamentos. Ou se houver, acaba por ser por razões de má logística, tendo em consideração que um número desconhecido (mas provavelmente elevado) de camas está a ser ocupado por doentes covid por razões sociais, e nestes casos deveriam estar a ser reactivadas já os famigerados hospitais de campanha montados e desmontados na Primavera, quase sem qualquer préstimo.
Fonte: Monitorização dos Serviços de Urgência (SNS, vd. aqui). O valor dos casos de urgência máxima (emergência, pulseira vermelha) são, felizmente, bastante reduzidos (820 este ano, em Outubro, e um pouco menos de 1.100 nos outros anos em período homólogo), razão pela qual no gráfico não aparece visível. A Triagem de Manchester tem apenas cinco cores. A cor branca representa casos de registo na urgência, mas que, na realidade, não o são, incluindo, em muitos casos, internamentos programados. O cinzento são outras situações não explicitadas. Curiosamente, o mês de Outubro tem um valor relativamente elevado de casos zinzentos (2.933 contra uma média de 1.856). Serão internamentos covid a aumentarem esta parcela? Enigma.