terça-feira, 3 de novembro de 2020

DO POLÍGRAFO, DAS GRIPES E DAS PNEUMONIAS OU DO "COMO SUBVERTER UM SERVIÇO DE FACT CHECKING"

O "fact checking" é um serviço público fundamental nesta época das "fake news". Em Portugal, o jornalismo deveria ter começado a fazer "fact checking" internamente, mas desde que a pandemia nasceu têm-se multiplicado na imprensa a verificação de factos sobretudo transmitidas nas redes sociais. Internamente, está quieto!

Não vou aqui discutir quem faz , pessoalmente, esses "fact checking", embora adiante que gostasse de ver jornalistas mais tarimbados em vez de jornalistas que parecem ter saído da faculdade de comunicação social anteontem sem saber "puto" de outras áreas, muitas delas complexas.

Mas não querendo tergiversar mais, vamos então focar-nos no Polígrafo da SIC que é o mais conhecido "fact checking" nacional e que se tem mostrado particularmente activo. Sobre o coronavíris já escreveram mais de duas centenas de artigos (deixei de contar quando cheguei aos 200). As abordagens são sempre claramente tendenciosas, sobretudo na selecção dos temas a tratar, porque, na verdade, colocam sempre a tónica na resposta a uma pergunta, o que que nem sempre é válido. 

Queria hoje escrever também sobre uma entrevista feita no programa da SIC, mas na verdade terei de me debruçar sobre a última questão abordada pelo Polígrafo, que foi: "Há menos casos de gripe e internamentos em cuidados intensivos do que nos anos anteriores?"

E a seguir vem Gustavo Sampaio, director do Polígrafo, escalpelizar, com dados comparativos, que a afirmação é FALSA porque não ha registo agora de internamentos em UCI por gripes, porque o período da época gripal está cronologicamente a começar, nem havia no ano passado.

Esta é uma forma de "artista" para meter mais um FALSO numa questão que é absurda. A gripe, em si mesma, raramente causa mortes. Se olharmos para os dados da Plataforma da Mortalidade, observamos que a gripe (influenza) apenas surge como causa de morte quando associada a outras infecções respiratórias (código J100-J118 do CDI-19 da OMS). Não é a gripe em si que constitui problema, mas as infecções subsequentes (oportunistas) que se desenvolvem no decurso de uma gripe, incluindo as pneumonias e as infecções respiratórias afins, que essas sim matam mais de 6.000 pessoas por ano.

Aliás, tenho aqui mostrado e demonstrado (e aqui em baixo surge mais um printscreen do SNS) que se tem observado uma queda de cerca de 65% das infecções respiratórias em Portugal desde o início da pandemia. Essa é uma evidência indesmentível, tal como é uma evidência indesmentível (porque vinda da própria OMS), que a actividade gripal quase desapareceu em todo o Mundo, mesmo em países do Hemisf´rio Sul (eg. Austrália, Nova Zelândia, Argentina e Brasil) onde as gripes surgiam naturalmente em anos anteriores entre Junho e Setembro).

Mas voltando a Portugal. Sabendo-se que só as pneumonias resultam em cerca de 120 hospitalizações diárias em anos anteriores, e que mesmo em meses de Primavera e Verão ocorriam, em anos anteriores internamentos e mortes e internamentos, é sensato admitir que em 2020, desde Março, não só tenham diminuído os internamentos em enfermaria como também em UCI por estas doenças. Mas isso não foi analisado pelo Polígrafo. Não lhes interessava.

Portanto, a pergunta que Gustavo Sampaio deveria ter feito era: Há menos casos de pneumonias e internamentos em cuidados intensivos do que nos anos anteriores?"

Deveria ter sido esta a questão feita, e respondida a preceito. Mas se calhar não lhe era conveniente. Podia dar outros exemplos, mas este serve perfeitamente para mostrar como o Polígrafo tem estado a servir sobretudo para formatar a opinião pública. Aproveita para rotular como falsos coisas que são obviamente absurdas (e que eu próprio assinaria), mas em muitas outras situações segue, de forma cirúrgica, apenas a linha da narrativa oficial (sem sequer checkar, por documentos, se as afirmações oficiais são verdadeiras), ou então não enfrenta a questão essencial e selecciona outra paralela e acaba por encontrar argumentos para negar o assunto essencial. Isto dava um estudo sociológico.

Resumindo e concluindo: eu vou aqui afirmar o seguinte, esperando que possa ser desmentido factualmente pelo Polígrafo: HÁ MENOS CASOS DE PNEUMONIAS (E DOENÇAS AFINS) E INTERNAMENTOS EM CUIDADOS INTENSIVOS (POR SI PROVOCADAS9 DO QUE EM ANOS ANTERIORES. Não estou, obviamente, à espera que o Polígrafo me venha dar resposta pessoal. São demasiado importantes para isso. 

Nota: Nas imagens coloquei também o dashboard com a monitorização da gripe e outras infecções respiratórias (pormenor painel completo, que também mostra a queda nos serviços de urgãncia, do SNS), a evolução da actividade gripal na Austrália (OMS), onde se mostra que a actividade gripal desapareceu no meio deste ano, podendo-se comparar com o que sucedeu nos anos anteriores).




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