sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

DOS MISTÉRIOS DAS INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS

Um dos grandes mistérios da pandemia tem sido a abrupta redução das infecções respiratórias (incluindo a gripe) que chegam ao SNS. Muitos dizem que a redução se deve às medidas anti-covid, designadamente o distanciamento dito social e as máscaras, mas... assim, nesse caso, há uma questão essencial a colocar: porque motivo essas medidas funcionam para as infecções respiratórias mais vulgares (gripes, pneumonias, bronquites, etc.) e não funcionam para para evitar as infecções por SARS-CoV-2?

Com efeito, reparem no gráfico que apresento. Com o surgimento da covid em Março, as infecções respiratórias baixaram significa e abruptamente em relação aos anos anteriores (2017, 2018 e 2019, segundo dados do SNS). Em Março registou-se uma queda de 35%, mas entre Abril e Junho a redução rondou os 75%. Nos meses de Verão (Julho a Agosto) a redução relativa foi menor, mas esse período é bastante ameno na prevalência de infecções respiratórias.

Seria expectável que nos meses de Outono se registasse um aumento das infecções respiratórias, mas tem andado em contraciclo: em Outubro foram contabilizados 14.764 episódios (47% da média dos três anos anteriores) e em Novembro apenas 9.731 episódios (apenas 26% da média).

Desde Março, o diferencial absoluto de infecções respiratórias em 2020 é de 158.667 episódios em relação à média dos três anos anteriores, Tendo em conta que a taxa de letalidade das infecções respiratórias ronda os 1,6%, significa que se obteve, por aqui, uma "poupança" de mais de 2.500 vidas por causa, paradoxalmente, da covid, e que assim deviam ser deduzidas às provocadas directamente pelo SARS-CoV-2.

Dir-me-ão: isso é bom!, foram os efeitos das máscaras na rua e as novas medidas de confinamento e de recolher obrigatório, entre outras sapientíssimas decisões políticas.

Ah! sim?! E então como essa lógica encaixa na recente evolução de casos positivos de covid (assumindo que são todos verdadeiros positivos)? Como se explica que, com as medidas anti-covid, enquanto as outras infecções respiratórias regrediram de forma espantosa, o SARS-CoV-2 aumentou alegremente a sua capacidade de contágio? Vejam o gráfico! Em Setembro registaram-se cerca de 44 mil casos, em Outubro aumentou para 104 mil e em Novembro aproximou-se dos 200 mil.

Dir-me-ão que o SARS-CoV-2 tem uma capacidade de contágio muito superior, que será um vírus que "bloqueia" outros vírus e também bactérias que causam as habituais infecções respiratórias, mas isso parece-me apenas baseado em especulações. Seria bom, insisto, que se encontrasse alguma lógica para se manterem medidas políticas que não parecem racionais. E se, não parecendo, até são, talvez fosse conveniente algum sumidade nos explicasse o que anda a acontecer. Com desenho (leia-se, provas e estudos científicos), se necessário for.

Fonte: Monitorização da Gripe d Outras Infecções Respiratórias (SNS, consultável aqui).



2 comentários:

  1. Penso que a resposta são os testes PCR. Estes não detectam doença mas sim a presença de fragmentos RNA especificos ao SARS-CoV-2. Gostaria de saber os resultados de testes PCR a outros virus corona, vem como ao influenza. Talvez tivessemos uma surpresa.
    Em todo o caso parece-me obvio (e isto revolta-me) que a maquina da narrativa oficial está imparavel e que vai ser muito complicado desfazer este embuste.
    O seu blog é absolutamente instrutivo e força para continuar.

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  2. A explicação para o fenómeno resulta de confundimento. Podia ler-se na NORMA 4/2020 da DGS (desde 23.03.2020) que "todas as pessoas que desenvolvam quadro respiratório agudo de tosse (persistente ou agravamento de tosse habitual), ou febre (temperatura ≥ 38.0ºC), ou dispneia / dificuldade respiratória, são considerados suspeitos de COVID-19". Isto foi o que se começou a fazer: eu a generalidade dos meus colegas em todo o mundo quando observam doentes com febre e tosse como manifestações cardinais - especialmente, na Europa, entre Outubro e Abril (época gripal) - na maioria das vezes a situação já não é classificada como outrora ("gripe"), mas como "suspeita de infecção COVID-19", que passa a ser confirmada mediante um resultado positivo no teste RT-PCR.
    Por outro lado, só Portugal realiza hoje mais testes laboratoriais ao SARS-CoV-2 num só dia do que antes toda a Europa (ECDC) ao longo de todos os meses da época gripal. O desaparecimento da gripe é uma ilusão, pois o vírus respiratório predominante este ano terá passado a ser o SARS-CoV-2 e insiste-se em dar uma denominação diferente à doença infecciosa causada por este vírus (como se a COVID-19 e a gripe fossem tão substancialmente diferentes). Associar isto ao uso de máscara é patético e mais ainda dar crédito a essa tese. Nunca o uso da máscara na comunidade, como era aliás reconhecido pela OMS, foi reconhecido como medida efectiva no controlo das epidemias de gripe. Por exemplo, o Japão, país onde tradicionalmente se usa máscara na comunidade, não se livrou, por isso de milhões de casos de gripe no início de 2019.

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