Enfim, para se justificar aquilo que é o desinvestimento "crónico" do SNS que resultou num colapso "agudo" em Janeiro, vem-se com a história da ocupação das Unidades de Cuidados Intensivos (UCI). Diz-se que nas UCI, 90% estão ocupadas por doentes-covid.
Assim visto, duas hipóteses se colocam: ou há muitos doentes ou há poucas camas-UCI. Ou, na verdade, três hipóteses, sendo que a terceira é a seguinte: havendo sempre poucas camas-UCI, e não se fazendo qualquer investimento digno de nota durante a pandemia, um maior afluxo na procura por uma nova doença causou um colapso.
Vamos fazer aqui uma comparação (padronizada) com Espanha. No dia 4 de Fevereiro, Espanha tinha 4.795 camas-UCI ocupadas por doentes-covid. Tendo em conta a sua população, isto significava cerca de 1.050 portugueses-equivalentes. Ou seja, uma procura ligeiramente superior à de Portugal (em redor de 900 doentes-covid).
Ora, como se pode observar no quadro que anexo, a taxa de ocupação de camas-UCI por doentes-covid era, no dia 4 de Fevereiro, de apenas 43,86%. Feitas as contas - e há quem, vivendo na Terra acha que isto de contas só se precisa de saber fazer somas de merceeiro -, isto significa que existem cerca de 10.930 camas-UCI em toda a Espanha, para qualquer doença ou mazela, incluindo covid. Padronizando para a população portuguesa, isto dá o equivalente a cerca de 2.430 camas-UCI.
Portugal, tendo em conta as indicações, terá apenas cerca de 1.000 camas-UCI. Ou seja, Espanha tem muito mais do dobro (quase 2,5 vezes mais) de camas de cuidados intensivos do que Portugal.
E depois a culpa das mortes é do SARS-CoV-2 e do Natal e dos portugueses. Nunca do Governo.
Lendo o post é evidente que não são necessários comentários.
ResponderEliminarEscrevi este como atestado de que li o post.
oliveira
Um internamento com COVID pode ser tão simplesmente um internamento de um doente com outra morbilidade importante e que obteve um resultado positivo para o SARS-CoV-2 num teste laboratorial.
ResponderEliminarUma questão essencial, para a qual não encontro base para dar resposta, é: qual a percentagem desses "casos de COVID" internados em UCI que positivaram dentro do hospital? Suspeito que a infecção intra-hospitalar representa uma proporção elevada e pode estar disfarçada nos tais 87% de contágios que se dizem desconhecidos.