terça-feira, 22 de dezembro de 2020

DO VERDADEIRO IMPACTE DA PANDEMIA NOS IDOSOS DE PORTUGAL: QUASE NADA

Isto chega a ser irónico, se não fosse trágico. Nas últimas duas décadas e meia, Portugal triplicou a sua população com mais de 85 anos (eram pouco mais de 100 mil; em 2019 suplantavam os 315). Desde o início da década aumentou quase 40%. Isso é bom? Para muitos parece que não, porque, embora seja bom sintoma de crescimento da expectativa de vida, aumentando a população idosa, hélas, há assim mais mortes de pessoas com mais de 85 anos em cada ano. 

Enfim. Não se pode querer tudo. E, por muito que me esforce, não há forma de mostrar essa evidência. Deste modo, no meio do histerismo colectivo, torna-se difícil chamar as pessoas à razão, pedindo-lhes que olhem para a realidade com o devido enquadramento. Olhem para a realidade através de uma análise racional. Olhem para a realidade através da taxa de mortalidade, porque se assim não fosse então até eu diria que a Peste Negra matou menos pessoas de 85 anos do que a covid, pelo simples facto de ser muitíssimo raro chegar-se aos 85 anos no século XIV....

Peço-vos, encarecidamente, que mostrem ao número máximo possível de pessoas esta breve análise (e posso fazer, a pedido,para outros grupos etários). Vejam o que está a acontecer no ano da suposta "grande desgraça" de 2020 para os maiores de 85 anos, e assumindo que nos últimos 11 dias de Dezembro irão morrer, em média por dia, o mesmo número registado nos primeiros 20 dias do mês. 

Se assim for, contabilizam-se 53.142 óbitos em maiores de 85 anos. É muito? Respondo já: É. E acrescento mais: será primeiro ano desde que há registos que terá mais de 50 mil óbitos nesta faixa etária. 

Mas, pergunto ainda eu (de forma retórica);: isto deve ser relevado assim, de uma forma desenquadrada? Resposta, a gritar a plenos pulmões: NÃO. Será uma estupidez, uma ignorância, se alguém não contextualizar esses óbitos na população (estimada pelo INE) no ano anterior. Isto é, se não calcular a taxa de mortalidade.

Ora, se assim fizer - como só pode -, o ano de 2020 terá 166 óbitos por mil habitantes (ou 16,6%). É lamentável porque todo o fim de vida é lamentável, mas é uma situação praticamente normal. Na verdade, o ano de 2020 será, para o grupo etários dos maiores de 85 anos (os mais vulneráveis à covid e a todas as doenças mortais), o pior desde 2010 mas será apenas o 16º pior ano desde 1995, não se destacando negativamente muito dos valores da presente década, que andaram quase sempre na "casa" dos 160 óbitos por 1.000 habitantes desta faixa.

Na verdade, se alguém olhar, num futuro longínquo, para a taxa de mortalidade em 2020 para o grupo dos mais idosos não dirá que houve qualquer pandemia: este ano aparenta ser apenas um ano em que morreu um pouco mais porque veio na sequência de um outro (2019) que tinha sido menos mortífero. E concluírá, porventura, que ser-se idoso nos anos 90 - onde "só" havia gripes - era bem pior do que ser-se idoso em 2020, quando houve covid.

Fonte: INE (óbitos por grupo etário e estimativa da população por grupo etário).




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