sábado, 7 de novembro de 2020

DO TOUREAR O POVO

A ministra Marta Temido diz estar "preocupada" com a letalidade da covid "que tem subido nos últimos dias”. Devia estar sim preocupada com as infecções que, tudo indica, estão descontroladas nos lares de idosos, e são eles que estão a morrer. Em vez de estar preocupada com aumentos de letalidade deveria sim revelar o verdadeiro estado dos lares e dizer o que está a ser feito para controlar esse desvario.

Entretanto, surge no Público, um professor e investigador do Departamento de Matemática do Instituto Superior Técnico (IST), de seu nome Henrique Oliveira, garantindo que "se as medidas deste ‘estado de emergência suave’ tiverem pouco efeito, podemos chegar às 100 mortes por dia". Balelas! Chegar-se às 100 mortes é patamar que se chegará com a actual incidência de casos positivos dos idosos, e não vai depender por isso de quaisquer resultados de estados de emergência, de muito duvidosa eficácia. Eu, que não tenho nenhum doutoramento em Matemática, já aqui apontei num post do dia 4 de Novembro, que, graças ao falhanço na protecção dos idosos (e tudo indica que seja nos lares, como já expliquei), será expectável atingirmos uma mortalidade entre os 82 e os 106 óbitos nas próxima semana ou daqui a duas (estimativas feitas com base em intervalos de taxas de letalidade para os grupos maiores de 60 anos). O problema, insisto, estará sobretudo nos lares, e seria bom que a DGS revelasse a verdadeira dimensão dos casos actuais. Escrupolosamente. Mas isso não acontecerá, porque politicamente não interessa, e arranjam-se assim manobras de diversão, e actores que queiram fazer favores ao Governo.

Em suma, a fasquia simbólica dos 100 mortos vai ser ultrapassada por causa dos lares. E o "estado de emergência" acaba introduzido sobretudo para mostrar que, se alguma coisa falhar (e vai falhar ainda mais), a culpa jamais será do Governo (que continua a falhar no controlo das regras a aplicar aos lares e no apoio aos idosos que lá vivem) mas sim do povo em geral.

Aliás, constata-se uma tónica comum em grande parte da Europa, que passa basicamente por os Governos tomarem medidas, e mais medidas, muitas delas inócuas, outras até contraproducentes, para controlar casos positivos, independentemente das mortes que houver. Querem mostrar sobretudo serviço com um objectivo claro. Se por um acaso as coisas correrem bem, os Governos sempre poderão dizer que foi em virtude das suas sábias medidas; se correr mal, os Governos podem sempre dizer que, apesar das suas sábias medidas, a degraça sobreveio por culpas do povo.

E vamos andar nisto. Até para o ano. E a nossa Propaganda Mediática, acriticamente, vai dar uma boa ajudinha. E garanto-vos, isto não é nenhuma teoria da conspiração. São evidências.



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