segunda-feira, 9 de novembro de 2020

DO DESCALABRO NOS LARES OU DO INTOLERÁVEL SILÊNCIO

No passado dia 4 de Novembro escrevi isto: "Olhando para a evolução da última semana (28out-3nov) na incidência da covid nos mais idosos, em comparação com a semana anterior (21out-27 out), é de esperar que nos próximos sete dias a mortalidade por covid se situe entre os 49 e os 64 óbitos, mas irá subir para valores entre os 82 e os 106 óbitos (estimativas feitas com base em intervalos de taxas de letalidade para os grupos maiores de 60 anos)."

Ontem morreram 63 pessoas (ou seja, próximo do limite superior do intervalo da minha previsão) e mantenho a minha previsão para a próxima semana de evolução negativa, o que indica que podemos aproximarmo-nos das 100 mortes. E isto por uma simples razão: descontrolo nos lares.

Com efeito, apesar da DGS continuar a esconder informação (ou nem sequer a ter dados minimamente válidos), não tenho dúvidas que são os lares que, em grande medida, estão a "alimentar" as mortes das últimas semanas.  

Continuo, aliás, a achar perfeitamente intolerável que a DGS e o Governo continuem a assobiar para o ar sobre o verdadeiro estado da pandemia nos lares, onde se encontra o grupo mais vulnerável, não apenas porque a média etária ronda os 84 anos como pelas comorbidades assoiadas. A taxa de mortalidade já é ali, por norma, bastante elevada (por factores compreensíveis), mas a pandemia estará a causar uma verdadeira razia.  

Segundo notícias da imprensa, terão morrido nos lares, até agora, 1.049 idosos. Se assumirmos, com pouca margem de erro, que todos tinha mais de 80 anos, significa então que 54% das vítimas desta faixa etária viviam em lares (até ontem tinham falecidos 1944 pessoas nesta faixa etária).

Isto pode não parecer assim tanto, mas na realidade é uma enormidade. Com efeito, segundo o INE, viviam no final do ano passado 675.863 pessoas com mais de 80 anos, estimando-se cerca de 100 mil viverão em lares.

Contas feitas, temos então 1.049 vítimas em lares num universo de 100.000 pessoas, enquanto fora dos lares temos as restantes 895 vítimas nesta faixa etária num universo de 575.863 pessoas.

Ou seja, enquanto nos lares temos, assim, 105 mortos por cada 10 mil idosos, nos idosos da mesma faixa etária que moram fora dos lares temos apenas cerca de 15 por cada 10 mil. Portanto, nos lares está a morrer-se por covid quase 7 vezes mais do que fora dos lares. 

Se, porventura, a taxa de mortalidade por covid nos lares fosse similar à registada fora dos lares para a mesma faixa etária seria expectável terem aí morrido, em vez dos tais 1.049 idosos, somente  155. Vejam bem a diferença! 



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