domingo, 22 de novembro de 2020

DA ANÁLISE À MORTALIDADE DOS MAIS IDOSOS OU DA BOA NOTÍCIA E DA MÁ NOTÍCIA

Vamos a uma análise detalhda (mesmo estando em terras italianas) que, em certa medida, explica porque, em primeiro lugar, eu julgo que a histeria em redor da pandemia é injustificável, mas simultaneamente me mostro extremamente preocupado com a situação dos idosos. Não é um contra-senso, como verão. Aliás, como tenho defendido, tem sido a histeria, as medidas políticas do tipo baratas tontas e o estado comatoso do Serviço Nacional de Saúde (SNS) que é a nossa verdadeira "pandemia", estando a causar já graves efeitos colaterais imprevisíveis, que se prolongarão a médio e longo prazo.

Um ponto prévio, que raramente é alvo de análise. Em termos absolutos, seria "normal", independentemente da pandemia, que morressem mais idosos. A população com mais de 85 anos tem vindo a aumentar de forma galopante. Segundo o INE, em 2013 viviam cerca de 249 mil pessoas desta faixa etária; em 2019 eram já 316 mil. Ora, neste grupo a mortalidade é sempre elevada, estando por ano acima dos 150 óbitos por 1.000 habitantes, i.e., em cada 100 idosos desta idade é expectável que morram 15. É a lei da vida, infelizmente, que muitos se esquecem.

Posto isto, para a faixa etária dos maiores de 85 anos, considerando a mortalidade em cada ano (ano N) e cruzando com a população deste grupo do ano anterior (ano N-1), podemos assim calcular a taxa de mortalidade num determinado período. Para os menos atentos, a taxa de mortalidade MEDE o número de óbitos por 1.000 pessoas para um determinado grupo etário. Significa isso que num determinado ano pode suceder um aumento absoluto de óbitos mas observar-se uma diminuição da taxa de mortalidade, se a população alvo tiver aumentado bastante. Esse deve ser sempre o indicador de referência.

Assim, fiz cálculos da taxa de mortalidade do grupo dos maiores de 85 anos para 2014 até 2020, e nos seguintes períodos (vd. gráficos e, para os cálculos vd. dois primeiros comentários):

a) 1 de Janeiro até 20 de Novembro; 

b) 1 de Janeiro até 15 de Março (pré-pandemia);

c) 16 de Março até 30 de Junho (1ª fase da pandemia); 

d) 1 de Julho até 20 de Setembro (período entre as duas fases da pandemia, incluindo o Verão "negro" com elevada mortalidade)

e) 1 de Outubro até 20 de Novembro.

Principais conclusões, sempre referentes aos maiores de 85 anos, a população mais vulnerável à c0vid e a outras doenças, que talvez sejam surpreendentes, para quem anda desatento:

1 - Apesar de toda a histeria, a taxa de mortalidade (TM) em 2020, até 20 de Novembro, não é a mais elevada desde 2014. O ano de 2015 registou uma TM 1,5 pontos permilagem (p.p.m.) acima do valor deste ano. O valor deste ano é, porém, muito mais elevado do que 2019 (+ 7,6 p.p.m.).

2 - O agravamento da mortalidade em 2020 pode explicar-se, em grande medida, por o ano de 2019 ter sido particularmente menos mortífero para os maiores de 85 anos, e sobretudo por o período imediatamente anterior à pandemia ter tido um surto gripal pouco agressivo. Com efeito, no período de 1 de Janeiro até 15 de Março, o ano de 2020 foi o menos mortífero, com uma TM que foi 12,6 p.p.m. abaixo da de 2015 e mesmo mais baixa 5,1 p.p.m. em relação a 2019. Significa que a c0vid surgiu com um sugrupo populacional vivo mas bastante vulnerável.

3 - A primeira fase da pandemia (16 de Março até 30 de Junho) teve um impacte na mortalidade nos mais idosos, mas não exagerada. Com efeito, apesar de ser 2020 ter sido o ano com mais elevada TM, esteve apenas 1,1 p.p.m. acima de 2015, mas já 4,2 p.p.m. acima de 2019. Note-se, porém, que mesmo assim, a TM acumulada em 30 de Junho era então ainda ligeiramente menor em 2020 (83,5 por mil) do que em 2019 (84,5). Ou seja, a primeira fase da pandemia não trouxe um efeito relevante na mortalidade dos mais idosos.

4 - O período estival (Julho a Setembro), quando a c0vid estava a matar pouco, a TM em 2020 foi a mais elevada no período em análise, estando 1,5 p.p.m. acima do ano mais próximo (2016) e 5,6 p.p.m. acima de 2019. Este foi o período que, de forma inequívoca, demonstrou o colapso do Serviço Nacional de Saúde (SNS), que se mostrava já evidente durante a primeira fase da pandemia.

5 - O período outonal (1 de Outubro até 20 de Novembro), correspondente à segunda fase da pandemia, mostra um reforço da tendência de uma TM mais elevada em 2020 do que nos anos anteriores, estando com valores 2,0 p.p.m e 2,8 p.p.m. acima dos anos de 2016 e 2019, respectivamente. São valores elevados, mas ainda não catastróficos, se se considerar que, mesmo assim, como se indicou no ponto 1, a TM de 2020 ainda não é a mais elevada. Contudo, a tendência é preocupante, pois parece evidente que, mais do que a c0vid, subsiste o estado comatoso do SNS, que atinge com particular gravidade os mais idosos, que, mesmo não tendo c0vid, estão sujeitos a mil e um problemas que necessitam de acompanhamento médico quase contínuo. Não o tendo, simplesmente morrem mais.











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