sábado, 9 de janeiro de 2021

DA BOTA E DA PERDIGOTA

Pelo quarto dia consecutivo, Portugal teve mais de 500 óbitos num dia. Pelo sexto dia consecutivo houve mais de 200 óbitos entre a população com mais de 85 anos. Pelo quarto dia consecutivo, os hospitais registam muito mais de 300 óbitos por dia. 

Desde que existem registos, tal nunca sucedera. Em apenas  oito dias deste ano houve mais dias superando os 500 óbitos do que em todos os dias do período entre 1 de Janeiro de 2014 e 31 de Dezembro de 2020.

Entretanto, as urgências em Janeiro de 2021 estão nos níveis mais baixos para período homólogo desde que há regstos. Estão mesmo abaixo da afluência às urgência dos mais amenos dias de uma luminosa Primavera ou das suaves semanas de um sereno Setembro.

E estamos agora a passar por uma vaga de frio intenso. 

Não bate a bota com a perdigota.

O Governo e o seu SNS continuam a olhar para isto como se tudo se explicasse pelas mortes SARS-Cov_2, "manejando" os casos positivos e os óbitos a seu bel-prazer.

Dava um doce a quem me dissesse a mortandade que está a ocorrer nos lares neste Janeiro, tanto por covid como por outras causas.




sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

DA GRIPE E DA METODOLOGIA COVID

Em média, em anos anteriores, durante o mês de Janeiro morrem cerca de 12 mil pessoas por todas as causas, das quais aproximadamente mil são por infecções respiratórias. Em anos anteriores, o mês de Janeiro é também o período “natural” das gripes. Grande parte delas não chega ao hospital nem são registadas, curando-se em casa ou “auto-curando-se”.

Imaginem, porém, que em anos anteriores decidira-se dar “caça” às gripes com testes PCR à farta, a sintomáticos e não sintomáticos.

Quantas mortes por gripe teriam sido então registadas no certificado de óbito de pessoas que faleceram após ataques cardíacos, AVC, cancros e outras tantas mazelas... só porque tinham tido um teste positivo à gripe?


DAS PRIORIDADES DO BLOCO DE ESQUERDA

Em vez de exigir que o Governo (ou DGS) divulgue relatórios da situação da covid (e da mortalidade em geral) nos lares de idoso (cuja situação estará tenebrosa), o B,loco de Esquerda está mais interessado em que se coloquem lá mesas de voto para as Presidenciais, "evitando que [aqueles] tivessem de sair dos lares para votar". Com a vaga de frio e o desmazelo reinante, incluindo na Oposição, desconfio que até às Presidenciais muito idosos vão sair dos lares. Mas não propriamente para votar...

BOLSONARO & DO COSTA E OUTROS APONTAMENTOS

Quatro apontamentos muito importantes:

1 - Portugal ultrapassou pela primeira vez a centena de óbitos (118) por covid. A culpa, claro, foi dos portugueses. Nunca do Governo, e muito menos de António Costa, que anda a assobiar para o ar em relação à situação dos lares (quantos destes mortos eram utentes de lares?). Como a culpa é dos portugueses, não podemos assim fazer o que a nossa imprensa andou a fazer com o Brasil. De facto, como sabemos, foi Bolsonaro [de quem não tenho simpatia nenhuma] o culpado por o Brasil ter atingido um pico de 1.554 óbitos (29 de Julho). Ah, já agora, 1.554 óbitos no Brasil correspondem a 75 óbitos em Portugal [o Brasil tem cerca de 20 vezes mais população]. Ontem, repito, houve 118 em Portugal. E já tivemos quase 30 dias, desde 11 de Novembro, com mais de 75 óbitos por covid. António Costa não tem culpa nenhuma disto.

2 - Pela primeira vez desde que há registos diários (a partir de 2014), estamos com três dias sucessivos de mais de 500 óbitos no total. Antes de 2021, apenas existiam três dias com mais de 500 óbitos (dois em 2017 e um em 2018).

3 - No ano de 2015, de acordo com a Plataforma da Mortalidade, o mês de Janeiro teve 1.232 óbitos por infecções respiratórias (sobretudo pneumonias), que este ano praticamente desapareceram. Ou seja, em média houve 41 óbitos por dia nesse mês. Actualmente, estamos com uma média de 88 óbitos por covid, isto é um pouco mais do dobro. O país vai "fechar" de novo, e não é para melhorar a situação.

4 - Se não estiver a existir manipulação de números (e eu cada vez ando mais desconfiado), a situação de Portugal em Janeiro de 2021 assemelha-se à de Espanha em Março e Abril de 2020. Naqueles dois meses, a covid foi responsável por 17% e 27%, respectivamente, das mortes totais em Espanha. Nos sete primeiros dias de Janeiro, a covid terá sido responsável (se assim for) por 22% do total das mortes em Portugal. Isto durante uma vaga de frio intensa e num período em que a taxa de letalidade (e de sobrevivência) é muito mais favorável do que era no início da pandemia.





DOS HOSPITAIS PORTUGUESES, ONDE SE DEVE IR APENAS SE FOR PARA MORRER

Na mais cretina campanha possível, e face aos adiamentos sucessivos de consultas e exames no SNS para que tudo vá para a covid, a DGS decidiu este Inverno recomendou  aos portugueses que não corressem para as urgências se ficassem doentes. Os portugueses, obedientes ovelhas e carneiros, têm seguido o "conselho".

Por exemplo, olhando para o dia 6 de Janeiro de 2021, mesmo com a vaga de frio (e suas implicações para a saúde), e comparando-o com o mesmo dia entre os anos de 2017 e 2020. verificamos que foi o de mais baixa afluência às urgências. Apenas 12.887, que confronta com uma média de 16.550 dos quatro anos anteriores, ou seja, menos 22%.

Só houve uma chatice neste dia 6 de Janeiro de 2021: desde que existem registos (a partir de 2014), foi o dia com mais óbitos ocorridos em meio hospitalar. Foram 361-trezentos e sessenta e 1-361! Um absurdo! Uma parte considerável, acredito, terá estado a aguentar até às últimas. Muitos devem ter ido algo contrariados por incumprirem a recomendação da DGS.

Sugiro, por isso, qie a DGS modifique um pouco o seu cartaz, com o acrescento que graciosamente fiz. Assim, as pessoas podem passar a ir morrer ao hospital sem peso na consciência.

Fonte: SICO e SNS (Monitorização Diária dos Serviços de Urgência).


DOS NÚMEROS

Somos metralhados todos os dias com números de casos positivos (a partir de testes PCR de duvidosa fiabilidade), mas não se sabem, porque a DGS recusa ostensivamente divulgar, números tão básicos como:

1 - óbitos por concelho e/ou distrito, o que constitui informação básica para avaliar o mais fulcral impacte da pandemia;

2 - número de casos positivos em lares (valores diários e acumulados), bem como taxas de internamento e de assintomáticos;

3 - número de óbitos em lares (utentes) por distrito (no Reino Unido têm por concelho) e por dia;

4 - número de internados em enfermaria e em UCI por grupo etário e por dia, mas incluindo novos internados, altas, transferências (enfermaria para UCI, e vice-versa) e óbitos (se de enfermaria ou se de UCI), de modo a permitir cálculos de fluxos e ter uma ideia mais precisa sobre letalidade (e perigosidade).

Mas, como se sabe, há números que ao Governo não interessa dar aos cidadãos, para assim se continuar a Grande Manipulação. Vem dos livros.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

DO FRIO

Ontem, dia 6 de Janeiro, terão morrido 535 pessoas em Portugal (número ainda provisório), o valor mais elevado dos últimos quatro anos, dos quais 95 com covid. O número da covid pode parecer-vos elevado, mas a outra parte é que se mostra aterradora.

Num dia de Verão ameno, sem demasiado calor e também sem gripes, a Ceifeira leva 250 vidas das mais diversas causas. Esta é a “nossa” base, aquilo com que infelizmente temos de contar. Geralmente, ao avançar o Inverno, tudo o que está acima desse valor está associado aos surtos gripais e ao frio. Ora, mas este ano deixámos de ter gripe, e temos agora “apenas” a covid, o frio... e o SNS em estado comatoso. Da covid sabemos (ao contrário dos surtos gripais, onde há apenas estimativas) os efeitos directos: ontem, como referi, a DGS indica oficialmente 95 óbitos.

Daí vejam, e sigam o meu raciocínio: aos 535 retirem 95 da covid e 250 da mortalidade base. Ficam com 190 apenas por frio e por um SNS comatoso. Mas vamos então esquecer admitir que é só por causa do frio. Então quer dizer que, perante temperaturas que chegam apenas a poucos graus negativos, no pior dos casos, o SNS não consegue dar uma resposta eficaz, deixando que só o frio leve 190 pessoas? E isto depois de um ano de forte mortalidade? 

Eis o que tem sido para mim mais aterrador: a fragilidade e vulnerabilidade actuais da população portuguesa, sobretudo dos idosos, são anormais. Não é por causa da covid; é por causa da estratégia da covid. Quem não for da doença, seguirá rapidamente pela “cura”, se isto se mantiver.

DA HISTÓRIA MAL CONTADA DO COLAPSO OU DA ESPANHA QUE NÃO É PORTUGAL

Em 23 de Outubro passado, a ministra Marta Temido garantia (e está transcrito no site do SNS, vd. link em baixo) que "a capacidade máxima de resposta dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para assistência na pandemia de covid-19 é de cerca de 17.700 camas", acrescentando ainda que, além das camas de cuidados intensivos (UCI), existiam 1.891 ventiladores. 

Hoje sabemos que, supostamente, há hospitais quase sem camas disponíveis e em estado de "catástrofe" (Amadora-Sintra) ou próximo disso.

Portugal tinha, no dia 5 de Janeiro, internadas 3.076 doentes covid, sendo que se encontravam 493 em UCI. E, portanto, estará em pré-ruptura, o que não encaixa com os discursos ao longo do Outono.

Independentemente do crescimento dos casos positivos num vírus de características sazonais, constata-se que o Governo português andou a dormir, confiando na sorte. Vejam que de Espanha não surgem agora notícias, mas não porque a covid tenha desaparecido, mas sim porque o Governo espanhol (bem "queimado" com o que sucedeu na Primavera) se precaveu.

De acordo com o mais recente relatório do Ministerio da Sanidad, em 4 de Janeiro, a Espanha contava ciom 13.841 camas de covid ocupadas e 2.220 camas UCI com doentes covid. Se considerarmos a população espanhola (quase 4,6 vezes mais do que Portugal), significa que tinha o equivalente a 3.029 portugueses internados e 486 portugueses em UCI. Ou seja, em termos proporcionais, a Espanha apresenta uma pressão hospitalar praticamente similar á portuguesa.

Porém, estes doentes espnhóis estão a ocupar apenas 11,4% das camas destinadas à covid e 23,1% das camas de UCI destinadas à covid. E porquê? A Espanha aprendeu com os erros e fez um reforço muito apreciável de camas e equipamentos durante os últimos meses para aguentar do ponto de vista clínico o previsível aumento de internamentos por uma infecção de características sazonais, o que lhe permite estar agora com uma grande folga.

Ao invés, Portugal está num incompreensível aperto, porque como em muita coisa, o Governo deu-se em ares de bazófia (estava tudo sob controlo, em Outubro), confiou na Virgem e... não tratou das camas.

Fonte: Dados covid de Espanha (Ministerio de Sanidad, aqui); SNS (comunicado de 23 de Outubro,  aqui).



DO DESCONTROLO DE QUEM NÃO QUE SER CONTROLADO

Por estranho que possa parecer, sabe-se todos os casos positivos de covid por concelho - e servem até para impor restrições legais -, mas ignora-se o número de mortes por covid por concelho e nem se por distrito.

Sobre os lares, segredo absoluto. Nem casos positivos (diário e acumulados), nem internamentos, nem mortes. De quando em vez há uma divulgação mas parcelar, incompleta e quase oficiosa. No Reino Unido, por exemplo, sabe-se os óbitos nos lares por dia e município. Desde o início da pandemia.

Em Portugal não há planos integrados de Saúde Pública. Compotas deve haver. Tudo é para a covid, mas de forma atabalhoada, e apenas com recurso a restrições legais. Tudo o que foge da esefra da covid, ignora-se. E por isso mesmo tivemos em 2020 o mês de Julho mais mortífero desde que há registo, porque ninguém ligou ao tempo um pouco mais quente.

Agora, também não se conhece qualquer plano de contingência da DGS para a vaga de frio que está em curso. Pelo contrário, há uma campanha a aconselhar as pessoas a não irem ao hospital se se semntirem doentes. A mortalidade, entretanto, está a subir em flecha (a culpa será toda da covid?). Ontem (6 de Janeiro) ultrapassou-se os 500 óbitos totais (512, por agora; valor deverá subir com as habituais rectificações), o que é um número avassalador, mesmo que a covid seja responsável por cerca de uma centena (saber-se-á esta tarde). É já o valor mais elevado desde 2 de Janeiro de 2017 (no pico de um quase ignorado surto de gripe).

Mas isso pouco interessa. Se existe um plano, neste momento, é de culpar apenas o SARS-CoV-2 e o povo sobre o suposto descontrolo do Natal e do Ano Novo. A imprensa "come"; o povo "engole".

Porém, sempre que "esgravato" um pouco mais a fundo (e não posso ir a todas a todo o tempo), desenterro mais sinais que indiciam não haver estratégia, não se usarem indicadores expeditos para controlar a pandemia e os seus efeitos secundários (p. ex., excesso de mortes não-covid).

Por exemplo, acabei ontem à noite por verificar que o distrito de Braga (que até é o menos envelhecido de Portugal Continental) registou um acréscimo da mortalidade total de quase 60% (em relação à média de 2014-2019) no passado mês de Novembro. Não foi coisa de Natal ou de Ano Novo. É uma subida perfeitamente anómala.

Por sua vez, Dezembro teve um acréscimo homólgo de 43%, e só não foi pior porque a mortalidade começou a decrescer a partir da segunda quinzena desse mês. Porém, ninguém da DGS jamais mostrou publicamente preocupação, durante o mês de Novembro e metade de Dezembro, o que, na verdade, não admira porquanto em Julho a mortalidade também aumentou 44% (sem covid) e também houve indiferença. Não se sabe, porque tudo o que é mortes por covid é segredo. Não se sabe se esta situação (muito anterior ao Natal e Ano Novo) está relacionado apenas com o recrudescimento da pandemia, se atingiu sobretudo lares ou a população na comunidade, se se deve especialmente a mortes por outras causas, e quais as causas e os grupos etários mais afectados, e etc., etc., etc...

Não se sabe nada, e eu acho que não tem a ver com o gosto pelo secretismo e pela ausência de uma cultura de comunicação por parte da DGS. Não se sabe porque não há, no meio desta pandemia, uma estratégia integrada de Saúde Pública. Não há trabalho analítico, o que não admira sabendo-se que até para um boletim da covid se tem de contratar uma empresa externa para o produzir. Há apenas descontrolo. Puro. Duro. Mortífero.

DO EXTRAORDINÁRIO ESFORÇO DO GOVERNO OU DO MANDAR CAMAS PARA A REFORMA EM PLENA PANDEMIA OU DO SER MAIS FÁCIL ARRANJAR BODES EXPIATÓRIOS

Dos cinco principais centros hospitalares de Portugal (Coimbra, Lisboa Central, São João do porto, Lisboa Norte e Algarve), apenas um tinha mais camas em Novembro de 2020 do que no mesmo mês de 2015. Todos os outros perderam. E muito.

Entretanto, se compararmos com Novembro de 2019 (poucos mesers antes da pandemia), em Novembro de 2020 estes centros hospitalares tinham perdido um total de 261 camas. Extraordinário: há uma pandemia e em vez de um reforço de camas, "atiram-se" com camas para a "reforma". Em Coimbra "perderam-se" 152 camas, cerca de 10% durante a pandemia.

O Governo está mesmo de parabéns!

É mesmo muito mais fácil encontrar bodes expiatórios - ou fazer do povo bodes - do que investir em Saúde e em Saúde Pública.

Fonte: SNS (Taxa de Ocupação Hospitalar, aqui).



quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

DAS CAMAS DO ESTADO NOVO AO ESTADO DO MUNDO NOVO EM TEMPOS DE PANDEMIA

Quando alguém vier (sobretudo políticos) com a história das "conquistas de Abril" ou quando alguém vier (sobretudo políticos e dirigentes da DGS) com a história da ruptura dos hospitais porque as pessoas, enfim, conviveram durante o Natal e o Ano Novo (que passará a ser "crime de lesa-Majestade de primeira cabeça"), lembrem-se dos gráfcos que aqui coloco. 

O primeiro gráfico mostra que o número de camas hospitalares  é agora menor do que era no Estado Novo. E é menor do que era em 1975, já em democracia. E é menor do que era há 10 anos. Pode haver melhoria das instatações, das valências e do atendimento, mas se nem sequer há camas para meter os costados do doente em descanso, esqueçam tudo.

O segundo gráfico confirma ainda mais o desastre no investimento em Saúde durante a Democracia e sobretudo nas últimas duas décadas, com o aumento do número de pessoas com mais de 65 anos (que são os "clientes" mais habituais no sistema hospitalar). Com referência ao período 1970-2019, estamos agora com o rácio mais baixo de camas por 100 mil habitantes com mais de 65 anos. E sempre, sempre a descer. Sempre, sempre a piorar o rácio. Queriam milagres com uma doença como a covid que atinge, em termos relativos e absolutos, quase apenas os idosos?

E a culpa agora é exclusivamente das pessoas que não seguiram os doutos conselhos do subdirector-geral da Saúde, e que, em vez de "vistas rápidas no quintal" ou no "patamar das escadas do prédio", conviveram mais umas com as outras, não se cingindo a ofertas de compostas.

Fonte: INE e Pordata. N.B. Para os "puristas" e "polígrafos", aviso que há uma quebra de série em 1985, que se deveu a mudança metodológico na recolha da informação, Apenas isso. Em todo o caso, para esses, podem sempre ler o gráfico a partir de 1985. A situação não melhora à conta disso. Pelo contrário.


DA MENTIRA DA PERNA CURTA SOBRE URGÊNCIAS E INTERNAMENTOS

Desde o início do ano temos sido "metralhados" por médicos ao serviço do Pânico e também pela imprensa ao serviço da Narrativa Oficial (leia-se Governo) sobre a grande afluência aos hospitais, que agora (e só agora, pasme-se!) ameaçam ruptura. E lá surgem, à unidade, os números de internamentos covid, e só covid, como senão houvesse internamentos e cuidados de saúde necessários às outras doenças.

Tem-se tornado evidente na acção do Governo duas coisas: 1) como não aumentou a oferta de serviços hospitalares nos últimos meses, procura de todas as formas, mesmo pelo pânico, reduzir a procura, mesmo que isso implique que casos graves de não-covid redundem em mortes; 2) usa os número de casos positivos (e acho que até já de morte COM covid) como forma de demonstrar que a situação se descontrolou por causa do comportamento das pessoas no Natal e Ano Novo, não assumindo quaiquer  responsabilidades, tanto na gestão da estratégia como do reforço de meios hospitalares. E, para isso, manipula e mente, directamente, ou recorrendo à Imprensa ou usando médico que deveriam pensar primeiro no Juramento de Hipócrates.

A mentira, porém, tem perna curta. Estive a analisar os dados do SNS (vamos ver se um destes dias não há um "apagão"...) sobre episódios de urgência, total e pelos dois tipos mais graves, e os internamentos diários entre 1 e 4 de Janeiro. Pois bem, temos a seguinte situação para todo o país:

a) em 2021, os episódios de urgência totalizaram em 46.339  casos, o que contrasta com uma média de 73.474 casos no período 2017-2020, ou seja, uma queda de 37%.

b) em 2021, os episódios emergentes (pulseira vermelha na triagem de Manchester) foi de 196, significando uma queda de 25% em relação á média de 2017-2020.

c) no caso dos episódios muito urgentes (pulseira laranja na triagem de Manchester), em 2021 registaram-se 4.997 casos, enquanto a média de 2017-2020 foi de 7.525, isto é, uma queda de 34%.

d) no caso dos internamentos, em 2021 contabilizaram-sem, nestes dias. 4.772, o que confronta com 5.925 na média de 2017-2020, representando assim uma queda de 21%.

Ou seja, o ano de 2021 não se está a iniciar com sinais de qualquer pressão hospitalar, estando os valores bastante baixos da média e de qualquer um dos anos anteriores (à semelhança do que sucedeu ao longo da pandemia em 2020). Aquilo que está a suceder é uma incapacidade do Governo em reforçar o SNS (face aos protocolos mais exigentes da covid), tendo-se optado assim por uma estratégia de assustar as pessoas para que estas, mesmo face a sintomas graves, "desamparem a loja", ou seja, não se dirijam ao hospital. E isto é gravíssimo, para não acrescentar criminoso.

Não por acaso, analiso as urgências de pulseira vermelha e laranja (que são casos de vida ou de morte), cuja redução significativa não se deve à melhor saúde da população, mas ao medo de uma deslocação ao hospital. Daí que se os números descem por razões artificiais, significa com elevado grau de probabilidade houve situações de gravidade que não foram atendidas por médicos resultando em mortes a curto ou médio prazo.

Mas isso, para o Governo e para os médicos "aliados" da Narrativa Oficial, pouco interessa. Tudo é agora covid, até porque, nos últimos tempos, por um passe de mágica, os mortes por covid (que desde Novembro mantêm um valor elevado) "apagaram" o excesso de mortalidade não-covid, que foi omnipresenrte ao longo do primeiro semestre da pandemia. 

Fonte: SNS (Monitorização dos Serviços de Urgência, aqui).





 

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

DO OLHAR O MUNDO EM DOIS TEMPOS OU DA PANDEMIA QUE ATACA ONDE TEM DE ATACAR

Deu-me para analisar como evoluiu a pandemia nos diversos países, seleccionando os 50 países (de mais de um milhão de habitantes) com maior taxa de mortalidade por covid (por milhão de habitantes), e que varia dos 1.700 na Bélgica (pior situação) até aos 321 do Paraguai (50ª posição). Portugal, já agora, está na 30ª posição desde o início da pandemia.

Porém, quis analisar as duas (supostas) vagas, pelo que defini dois períodos, cujos resultados apresento no gráfico em baixo: X (eixo) - entre Fevereiro e Setembro (primeira vaga); Y (eixo) entre Outubro e 4 de Janeiro (segunda vaga). As siglas representam os países. Na Internet é fácil encontrar sites com a lista de correspondência entre países e as siglas (de Portugal é PT, já agora). O gráfico destaca duas situações (que devem ser olhadas com a precaução devida): cor vermelha significa que a mortalidade da segunda vaga foi pior do que na primeira; cor verde significa o oposto.

Breves e rápidas reflexões:

1 - A pandemia tem tido impacte muito distinto á escala mundial, embora com pendor regional (continental) que, em alguns casos, é homogénea, sobretudo no caso de países da América Latina e da Europa de Leste. Além disso, quase a totalidade dos 50 países com maior mortalidade integram o continente europeu ou americano. As únicas excepções são a África do Sul, Tunísia, Israel. Irão, Arménia e Jordânia. 

2 - Confrontando os dois períodos, raros são os casos de impacte relativamente similar entre a primeira e a segunda vagas no mesmo país ou até na mesma região. Geralmente, os países que registaram elevada mortalidade na primeira vaga (até Setembro) tiveram efeitos muito menores na segunda vaga (a partir de Outubro), sobretudo visível em países da América Latina, o que denota o "carácter" sazonal do SARS-CoV-2.

3 - Porém, no caso concreto da Europa, embora seja evidente que a maioria dos países mais atingidos na primeira vaga (Europa Ocidental) tenha registado uma menor mortalidade mais baixa na segunda vaga (a excepção são a Itália e a França, bem como a Bélgica, que embora com uma redução registou mesmo assim mortalidade elevada), os efeitos da pandemia a partir de Outubro estão a ser genericamente mais grave. Esta situação não surpreende, tendo em consideração o "carácter" sazonal do SARS-CoV-2. 

4 - Torna-se bastante notório que os países da Europa que "escaparam" à primeira vaga, sobretudo da Europa de Leste, foram gravemente atingidos a partir de Outubro, atingindo em alguns casos taxas de mortalidade bastante elevadas, como são os casos da Eslovénia, República Checa, Bulgária, Hungria e Croácia.

5 - Existem dois países particularmente com um percurso interessante: Irlanda (ainda mais pela sua proximidade ao Reino Unido) e Canadá. Além destes, todos os países que estejam com menos de 200 óbitos por milhão na primeira vaga e simultaneamente com menos de 400 óbitos na segunda vaga parecem-me em situação razoavelmente aceitável.

6 - Por fim, Portugal: a situação nacional apresenta, como se sabe um grande agravamento entre a primeira e a segunda vagas. Se considerarmos o primeiro período, Portugal tinha a 29ª pior situação; se considerarmos o período a partir de Outubro, Portugal apresenta já a 17ª pior situação de entre os 50 países analisados, estando mesmo à frente (maior mortalidade relativa) da França, Reino Unido, Estados Unidos, Espanha e... Suécia e Brasil. Já agora, desde Outubro, a Suécia apesenta a 36ª pior situação e o Brasil a 41ª (entre 50 países).

Fonte: Worldometers.

DAS ONDAS E DO ESTRABISMO NO SUÉCIA-PORTUGAL

Não sei se há ondas ou vagas na pandemia. Sei sim que há ondas na nossa imprensa sobre a covid na Suécia. Bastou uma subidazita na mortalidade na primeira quinzena de Dezembro, e os nossos jornalistas salivaram com o “desastre” dos irresponsáveis escandinavos. O Público não largou o osso e zurziu mais uma vez na estratégia da Agência Sueca de Saúde Pública. O Observador teve por lá uma espécie de enviado especial para relatar o descalabro em directo, ao vivo e a cores.

Entretanto, a onda esmoreceu. Foi mais uma onda. Pena é que a atenção crítica direccionada à Suécia nunca seja depois transposta para Portugal, onde a estratégia e a acção do Governo nem num milímetro é questionada pela nossa imprensa.

Estive a ver a média de mortes nos últimos 15 dias em Portugal e na Suécia (com valores actualizados hoje). Em Portugal registou-se, neste período, 1.096 mortes por covid, ou seja, 73 óbitos por dia. Para os jornalistas portugueses, de quem é a culpa? Dos portugueses, claro! Nunca pode ser do Governo!

Na Suécia, em igual período, morreram 375 pessoas com covid, uma média de 25 por dia. Um terço de Portugal. Porém, no caso da Suécia haverá sempre culpados. E quem são eles, para os jornalistas portugueses? As autoridades de Saúde Pública da Suécia, claro, e o Governo sueco por não impôr lockdowns e recolheres obrigatórios!

P.S. Há-de alguém vir dizer que a mortalidade na Suécia diminuiu porque, entre outras pequenas medidas profiláticas, o Governo sueco proibiu a venda de bebidas alcoólicas a partir das 8 da noite... num período do ano em que já é noite às 4 da tarde.


DA CULPA DO DOENTE OU DO ASCO DA IMPRENSA

A imprensa continua a sua função de porta-estandarte do Governo para criminalizar a doença. Ou melhor, o doente. Por exemplo, o Público, pegando em Portugal e cinco outros países europeus, apurou e comparou a evolução da covid entre 1 de Dezembro e 4 de Janeiro, com base apenas nos novos casos positivos a partir dos testes PCR - testes esses em número variável, e que, repita-se, não são auditados por qualquer entidade independente, tal como nunca se avaliou a prevalência de falsos positivos. 

Dos países seleccionados, apenas Portugal e o Reino Unido apresentam crescimentos desde as festividades natalícias. O povo lusitano e britânico, históricos aliados, irmanaram-se agora no suposto mau comportamento. Porém, nós, segundo o Público, ainda pior: registou-se uma redução de casos após o Natal e depois um significativo aumento após o Ano Novo. E isto apesar da circulação entre concelhos estar proibida e ter sido imposto o recolher obrigatório, vincou o Público. 

Qual a conclusão que o justiceiro Público, de ponteiro na mão, quer subrepticiamente tirar, e que será tão do agrado do Governo? Que, obviamente, a subida de casos no período do Ano Novo não é culpa do Governo, que até tomou medidas, mas sim das pessoas, que prevaricaram, e a situação, só por causa delas, está de novo descontrolada.

Eis o estado em que nos encontramos. O Governo já tratou de desculpabilizar os transportes públicos. Lá não há infecções. O Governo já tratou de desculpabilizar as suas medidas obtusas que levam a aglomerações nos estabelecimentos comerciais aos fins de tarde e aos fins-de-semana. Não é nas bichas do supermercados nem nas filas do último take away aberto que alguém se contamina. Só há contaminações em casa. Só há contaminações se se beber um copo com amigos. Só no lazer e no descanso o vírus ataca. E sobretudo à noite e ao fim-de-semana. Ah! e esqueçam o que é Saúde Pública e gestão de risco e solidariedade social. Tudo tretas!

Em suma, com a ajudinha preciosa da imprensa (e o Público está a merecer cada cêntimo de publicidade institucional), o Governo português está agora a provar inequivocamente que a culpa da mortalidade excessiva da covid não é de quaisquer medidas obtusas nem do SARS-COV-2 ser um vírus sazonal de perigosidade relativa, mas das pessoas, só das pessoas, apenas do doente.

Eis o estado em que nos encontramos. O Governo jamais terá responsabilidades. Se não houver camas-covid para internamento, a culpa é dos doentes. Deixaram-se infectar. Pior: andaram na "boa-vai-ela" e contaminaram-se. E ainda mais: contaminaram outros. Se as camas-UCI entrarem em ruptura, a culpa nunca será do Governo, mas sim dos doentes, que ainda por cima caprichosamente pioraram só porque não usaram máscara, ou abriram uma janela ou o raio que os parta.

Bem-vindo ao Mundo Novo, ao Novo Normal. No futuro, para tudo, para qualquer outra doença, para qualquer outra maleita, o Governo vai manter hospitais abertos, mas pouco, talvez só de vez em quando, e em vez de tratar da saúde dos doentes, vai tratar de os inculpar. Se os hospitais não aguentarem a afluência, a culpa nunca será do Governo por não investir na Saúde; será dos doentes porque ficaram doentes. Se morrerem, a culpa é dos doentes; nunca do Governo.

É fumador? Não se queixe se tiver, mais tarde ou mais cedo, problemas respiratórios, um AVC ou um cancro. E se ralhar muito contra o Governo, só é tratado se pagar a conta. Ou então vai morrer longe. O melhor mesmo é morrer logo, de síncope. Até porque, se a defunção demorar, o Governo e a imprensa, como o Público, tratarão de amealhar provas e denunciar os tabagistas cancerosos pelo "crime" de ocupação ilegítima de recursos hospitalares; e estes serão justa e implacavelmente ostracizados pelo Povo, apedrejados talvez, porquanto a Sociedade do Mundo Novo não tem nada de pagar males de vícios alheios.

Teve um ataque cardíaco? Eh lá! Vamos já investigar o seu passado nutricional, inspeccionar, através da Autoridade Tributária, quantos quilogramas de sal e de doçaria foi adquirindo ao longo dos últimos anos. Acima de determinado limite, a vítima passará a criminosa, com nome exposto em pregão pela praça pública.

No limite, o Governo elaborará uma lista negra dos cidadãos de comportamento suspeito, aqueles que potencialmente serão responsabilizados se ficarem doentes. 

Assim, toda a doença será culpa do doente. Toda a doença será criminalizada. O Governo português, a partir daí, passará a gerir um Admirável Mundo Novo. E todos os jornalistas serão condecorados com a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito. A Bem da Nação.