quarta-feira, 4 de novembro de 2020

DOS ESPECIALISTAS DA ESTRATÉGIA ANTI-COVID

Desde muito cedo, em Julho, alertei para o mortícinio, sem precdentes num mês de Verão, que se estava a registar. Ninguém ligou, porque os alertas foram feitos num blog e no FB. E eu sou quem sou, e não sou um reconhecido epidemiologista, nem virologista nem sequer médico. Sou, segundo consta, um não-especialista, um curioso, um tipo que está comodamente no sofá.

Entretanto, mesmo sendo um suposto não-especialista, analisei em Agosto o relatório do IPMA, o índice ÍCARO e a mortalidade do mês de Julho, tendo concluído que o excesso de mortalidade não podia ter sido provocada por qualquer suposta onda de calor, e que o tempo quente iria servir sim como bode expiatório. Escrevi, por exemplo, aqui e aqui

Dito e feito. Em meados de Setembro, veio o Doutor Baltazar Nunes, responsável pela divisão de epidemiologia do Instituto Ricardo Jorge (INSA) e consultor da DGS (este sim um verdadeiro "especialista"), garantir que a "culpa" das mortes em excesso em Julho tinha sido do tempo quente. Dizia ele então: “Se o excesso de mortalidade estivesse relacionado com, ou se a principal causa da mortalidade fosse a ausência ou diminuição do acesso aos cuidados, o aumento de mortalidade não teria um comportamento de subida e descida. É essa a principal razão pela qual acreditamos que o aumento da mortalidade tem a ver com estes três fatores.”

Um tipo comum ouve um especialista e fica convencido que o dito sabe mais do que um não-especialista... E, pronto, vaticina que o especialista tem razão, e que o suposto não-especialista (eu, neste caso) tem má-vontade contra o Governo, contra a DGS, contra a Ciência e contra tudo e contra todos, é um negacionista e um histérico.

Sucede, porém, que há outros investigadores que, enfim, não sendo consultores da DGS, fazem Ciência. Alguns estão na Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa. Esta semana, um desses grupos - constituídos por André Vieira, Vasco Ricoca Peixoto, Pedro Aguiar, Giorgio Zampaglione, paulo Sousa e Alexandre Abrantes - veio confirmar o que eu (um suposto não-especialista) havia já escrito em Agosto, explicitando que as temperaturas alcançadas em Julho "dificilmente podem explicar alterações fisiológicas que causem excesso de mortalidade desta magnitude", assentando baterais na redução dos cuidados médicos como explicação. Pronto, desmentiram o especialista Doutor Baltazar Nunes.

Mas o mais curioso disto tudo - ou mesmo bizarro e trágico - é saber que o Doutor Baltazar Nunes - o tal especialista, o tal que é responsável pela divisão de epidemiologia do Instituto Ricardo Jorge (INSA), o tal que é consultor da DGS, o tal que para safar o Governo culpou o Sol - também acumula funções de professor auxiliar convidado da dita Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa e membro integrado do Centro de Investigação em Saúde Pública (CISP). Tantos pergaminhos para depois vir ele, travestido de cientista, culpar o Sol apenas para desculpar o Governo... É por estas e por outras que adoro o modelo sueco. Lá não há destas torpes promiscuidades.

Nota: Relatório da Escola Nacional de Saúde Pública (vd. aqui).

Página do Doutor Baltazar Nunes na Escola Nacional de Saúde Pública (vd. aqui). 

Notícia do jornal i de 18/8/2020 em que o Doutor Baltazar Nunes culpa o Sol pelo excesso de mortes e desculpabiliza o SNS (vd. aqui).



DO JORNALISMO PÉ DE MICROFONE OU DO ESQUECIMENTO DOS 100 MIL PORTUGUESES MORTOS COM EXCEPÇÃO DOS QUE SE FINARAM POR COVID

Não me admira que, vidrados como estão nos números da covid e mais covid e ainda mais covid e mais covid ainda, não haja qualquer jornalista que queira anunciar que Portugal chegará hoje aos 100 mil óbitos... por todas as causas.

E não me admira por três razôes: 

1) estão tão entretidos com a covid, e mais covid, e só covid, que nem sequer se apercebem que há mais perigos nesta vida do que a covid.

2) ao anunciar 100 mil óbitos teriam de admitir que menos de 2,7% foram causadas por covid e que termos chegado tão cedo no ano a essa cifra se deveu ao excesso de mortes por outras causas (leia-se, estado de sítio do SNS), que superam os 7%.

3) neste momento, a imprensa só segue a narrativa oficial, e andam  excitadíssimos com as restrições e a possibilidade de um recolher obrigatório.

Para se ter uma ideia da situação anómala deste ano, e não foi por causa da covid, vejam em que dia se chegou à fasquia dos 100 mil nos anos anteriores:

2009 - 17 de Dezembro

2010 - 12 de Dezembro

2011 - 23 de Dezembro *

2012 - 6 de Dezembro

2013 - 11 de Dezembro

2014 - 17 de Dezembro

2015 - 2 de Dezembro

2016 - 3 de Dezembro

2017 - 4 de Dezembro

2018 - 18 de Novembro

2019 - 23 de Novembro

2020 - 4 de Novembro



terça-feira, 3 de novembro de 2020

DO POLÍGRAFO, DAS GRIPES E DAS PNEUMONIAS OU DO "COMO SUBVERTER UM SERVIÇO DE FACT CHECKING"

O "fact checking" é um serviço público fundamental nesta época das "fake news". Em Portugal, o jornalismo deveria ter começado a fazer "fact checking" internamente, mas desde que a pandemia nasceu têm-se multiplicado na imprensa a verificação de factos sobretudo transmitidas nas redes sociais. Internamente, está quieto!

Não vou aqui discutir quem faz , pessoalmente, esses "fact checking", embora adiante que gostasse de ver jornalistas mais tarimbados em vez de jornalistas que parecem ter saído da faculdade de comunicação social anteontem sem saber "puto" de outras áreas, muitas delas complexas.

Mas não querendo tergiversar mais, vamos então focar-nos no Polígrafo da SIC que é o mais conhecido "fact checking" nacional e que se tem mostrado particularmente activo. Sobre o coronavíris já escreveram mais de duas centenas de artigos (deixei de contar quando cheguei aos 200). As abordagens são sempre claramente tendenciosas, sobretudo na selecção dos temas a tratar, porque, na verdade, colocam sempre a tónica na resposta a uma pergunta, o que que nem sempre é válido. 

Queria hoje escrever também sobre uma entrevista feita no programa da SIC, mas na verdade terei de me debruçar sobre a última questão abordada pelo Polígrafo, que foi: "Há menos casos de gripe e internamentos em cuidados intensivos do que nos anos anteriores?"

E a seguir vem Gustavo Sampaio, director do Polígrafo, escalpelizar, com dados comparativos, que a afirmação é FALSA porque não ha registo agora de internamentos em UCI por gripes, porque o período da época gripal está cronologicamente a começar, nem havia no ano passado.

Esta é uma forma de "artista" para meter mais um FALSO numa questão que é absurda. A gripe, em si mesma, raramente causa mortes. Se olharmos para os dados da Plataforma da Mortalidade, observamos que a gripe (influenza) apenas surge como causa de morte quando associada a outras infecções respiratórias (código J100-J118 do CDI-19 da OMS). Não é a gripe em si que constitui problema, mas as infecções subsequentes (oportunistas) que se desenvolvem no decurso de uma gripe, incluindo as pneumonias e as infecções respiratórias afins, que essas sim matam mais de 6.000 pessoas por ano.

Aliás, tenho aqui mostrado e demonstrado (e aqui em baixo surge mais um printscreen do SNS) que se tem observado uma queda de cerca de 65% das infecções respiratórias em Portugal desde o início da pandemia. Essa é uma evidência indesmentível, tal como é uma evidência indesmentível (porque vinda da própria OMS), que a actividade gripal quase desapareceu em todo o Mundo, mesmo em países do Hemisf´rio Sul (eg. Austrália, Nova Zelândia, Argentina e Brasil) onde as gripes surgiam naturalmente em anos anteriores entre Junho e Setembro).

Mas voltando a Portugal. Sabendo-se que só as pneumonias resultam em cerca de 120 hospitalizações diárias em anos anteriores, e que mesmo em meses de Primavera e Verão ocorriam, em anos anteriores internamentos e mortes e internamentos, é sensato admitir que em 2020, desde Março, não só tenham diminuído os internamentos em enfermaria como também em UCI por estas doenças. Mas isso não foi analisado pelo Polígrafo. Não lhes interessava.

Portanto, a pergunta que Gustavo Sampaio deveria ter feito era: Há menos casos de pneumonias e internamentos em cuidados intensivos do que nos anos anteriores?"

Deveria ter sido esta a questão feita, e respondida a preceito. Mas se calhar não lhe era conveniente. Podia dar outros exemplos, mas este serve perfeitamente para mostrar como o Polígrafo tem estado a servir sobretudo para formatar a opinião pública. Aproveita para rotular como falsos coisas que são obviamente absurdas (e que eu próprio assinaria), mas em muitas outras situações segue, de forma cirúrgica, apenas a linha da narrativa oficial (sem sequer checkar, por documentos, se as afirmações oficiais são verdadeiras), ou então não enfrenta a questão essencial e selecciona outra paralela e acaba por encontrar argumentos para negar o assunto essencial. Isto dava um estudo sociológico.

Resumindo e concluindo: eu vou aqui afirmar o seguinte, esperando que possa ser desmentido factualmente pelo Polígrafo: HÁ MENOS CASOS DE PNEUMONIAS (E DOENÇAS AFINS) E INTERNAMENTOS EM CUIDADOS INTENSIVOS (POR SI PROVOCADAS9 DO QUE EM ANOS ANTERIORES. Não estou, obviamente, à espera que o Polígrafo me venha dar resposta pessoal. São demasiado importantes para isso. 

Nota: Nas imagens coloquei também o dashboard com a monitorização da gripe e outras infecções respiratórias (pormenor painel completo, que também mostra a queda nos serviços de urgãncia, do SNS), a evolução da actividade gripal na Austrália (OMS), onde se mostra que a actividade gripal desapareceu no meio deste ano, podendo-se comparar com o que sucedeu nos anos anteriores).




DO 'NADA DE NOVO' OU DO 'COMO TUDO CONTINUA MAL' OU DO 'AINDA VAI PIORAR'

O estado de sítio do SNS continua a "produzir" mortes, Não é só o SARS-CoV-2. Os dados são tão evidentes que as actualizações mensais apenas confirmam o desastre... As barras amarelas servem apenas para ver o que aconteceu em Março, em Abril, em Maio, em Junho, em Julho (um terror!), em Agosto, em Setembro e, também, em Outubro...

Ah, e morreu muita gente por covid-19 em Outubro? Claro que sim. Eu, suposto "negacionista", garanto que sim! E morreu também gente por outras afecções e doenças, uma parte delas (barras amarelas) que, com um SNS em condições mínimas, não deveria ter morrido. Ah, não morreram nada por causa do SNS, dirão a DGS, o Governo, o doutor Filipe Froes, o doutor Baltazar Nunes, o doutor Gustavo Carona e a imensidão de "covideiros" e "panikeiros"... Isso foi azar, então Nosso Senhor decidiu chamar mais cedo uns quantos justos, que, além do mais, nem precisaram da homenagem de ontem em Belém. 

Atenção! Atenção! Não estou a comparar as barras amarelas com as barras vermelhas, porque sei que nada se pode comparar à covid, caso contrário lançam-se as Fúrias sobre mim, e arrisco nova e mais gravosa suspensão do FB.

Vou arriscar só uma coisa... Depois dos ventiladores, o Governo entreteve-se em compras massivas de testes PCR, pensando que isso resolvia o problema, e agora anda numa azáfama de medidas e contra-medidas e outras picuinhices, mudando leis a cada ai. Mexe-se agora só que se diga que não se mexe, porque se se mexe não está parado. E se tudo correr mal não é por causa do Governo que se esteve sempre a mexer. É por causa dos portugueses que se infectam de propósito... tal como comem açúcares de propósito, bebem álcool de propósito, fumam de propósito, e vivem só com um propósito: sobrecarregar o SNS... que só não funciona bem porque os portugueses insistem em ficar doentes... de propósito.   

Fonte: SICO-eVM e boletins da DGS




segunda-feira, 2 de novembro de 2020

DO DIREITO A SABER O QUE SE PASSA NOS LARES

Independentemente da questão dos falsos positivos poderem estar a inflacionar a verdadeira incidência da covid, há um facto preocupante que o mês de Outubro revelou: os mais idosos (que, recordem, eu sempre assumi ser o grupo de risco a proteger, por ser o único à qual a covid constitui um verdadeiro perigo) continuam tragicamente desprotegidos. 

Estranha e inexplicavelmente, os mais idosos estão mais desprotegidos do que as crianças, que estão nas creches ou nas escolas primárias (menores de 10 anos), e do que os adolescentes que estão no secundário ou nos primeiros anos da universidade (10-19 anos). Parece que o melhor será colocar os maiores de 80 anos nas creches e nas escolas para ver se ficam mais protegidos...

É certo que, conforme mostra o gráfico que vos apresento, entre Setembro e Outubro observa-se um forte crescimento generalizado da incidência de casos positivos por grupo etário (medido por novos casos no mês por 100 mil habitantes do grupo). Porém, esse crescimento absoluto e relativo é mais preocupante nos maiores de 80 anos, cuja taxa de incidência somente é ultrapassada pelos grupos dos 20-50 anos.

Gostava de vos chamar especial atenção para uma muitíssimo clara existência de uma tendência decrescente da incidência entre grupos etários a partir dos 20-29 anos (que estará relacionada com a diminuição dos contactos sociais). Entre o grupo dos jovens adultos (20-29 anos) e o grupo dos 70-79 anos passa-se de uma incidência de 1.112 (por 100 mil) para 404, sendo que em todos os grupos intermédios se observa uma diminuição,

Ora, porque razão essa tendência não diminui para o grupo etário seguinte (maiores de 80 anos)? São os tais malfadados netos e filhos que os estão a infectar? Mas os idosos de 70-79 anos (e até os 60-69 anos) também não são avós e pais?

Não será porque, na verdade, uma parte muito substancial dos cerca de 675 mil idosos com mais de 80 anos vivem em lares onde, enfim, pouco ainda se sabe aquilo que verdadeiramente se lá passa?

Qual a razão para se saber mais sobre os lares estrangeiros do que sobre os lares portugueses? O que se passa em concreto nos lares portugueses? Quantos infectados por dia? Quantos internados? Quantos óbitos por dia e concelho? Qual o motivo para essa questão seja quase um segredo de Estado fechado a sete chaves pela DGS? 




DO PEDIDO DE CHAMADA DE UM ADULTO À SALA PARA PÔR ORDEM NA LOUCURA

O gráfico que apresento é muito simples. Mostra a mortalidade média diária em Outubro para todos os países da UE, mas padronizada à população portuguesa, para se ter um melhor termo de comparação.

Como se tem visto, na QUASE generalidade dos países, o mês de Outubro apresentou um forte agravamento da mortalidade (e ainda mais dos casos positivos), embora em níveis mesmo assim inferiores a Abril, com algumas excepções sobretudo de países de Leste.

No entanto, chamo apenas a atenção para uim "pormenor", que afinal é essencial: os países com melhor desempenho (Finlândia, Suécia e Estónia) são APENAS aqueles que incluem estratégias racionais SEM uso obrigatório de máscaras.. Bem sei que as máscaras foram eleitas como uma espécie de crucifixo para afugentar o demónio, mas talvez não fosse errado olharmos para as estratégias dos três países nórdicos e olhássemos para aquilo que políticos histéricos nos andam a fazer. Lembrem-se do que sucedeu em Abril com a histeria dos ventiladores que, afinal, está agora a concluir-se, mataram mais do que salvaram, porque se andou a entubar tudo e mais alguma coisa.

Acho, sinceramente, ser tempo de chamar adultos à sala.

P.S. E nunca esperem que Froes & Ca. Lda. venham sequer um dia admitir que estavam equivocados, e muito menos que estavam profundamente errados. Jamais. Pelo contrário.

Fonte: Wotldometers para obtenção da mortalidade de cada país, tendo depois sido feita a padronização para a população portuguesa (cerca de 10,2 milhões de habitantes).




domingo, 1 de novembro de 2020

DO "ISTO NÃO É UMA COMPARAÇÃO" OU DA COVID E DAS INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS EM PORTUGAL

Estive a fazer um levantamento dos óbitos por infecções respiratórias nos anos de 2014 até 2018 no Portal da Mortalidade (atenção FB, são dados oficiais), de acordo com a classificação da OMS (CDI-10, códigos J100-J22). Através dos dados da Vigilância dos Episódios de Gripe e de Outras Infecções Respiratórias (atenção FB, são dados oficiais), recolhi os dados das ditas infecções entre os anos de 2017 e 2020 para o período Março-Outubro, permitindo assim calcular a taxa de letalidade das ditas infecções para os anos de 2017 e 2018 (1,68% e 1,61%, respectivamente), e a partir delas estimar os óbitos para o período homólogo dos anos de 2019 e 2020. Note-se que 2020 registou uma quebra de 60% nas infecções respeiratórias, o que indicia que a mortalidade tambem tenha descido proporcionalmente.

Aplicado aos grupos etários (2014, 2015, 2016, 2017 e 2018 com dados reais; 2019 e 2020 com dados por estimativa, confome indicado), em baixo estão os quadros, para os quais se tiram as seguintes constatações:

1º Gráfico - Nos maiores de 70 anos, a covid apresentou, para o período em análise, uma mortalidade inferior à das infecções respiratórias em anos anteriores, Se somada com as infecções respiratórias (estimadas), a mortalidade é similar à dos anos anteriores apenas com infecções respiratórias. Ou seja, covid até agora sem efeito relevante na mortalidade por infecções de origem respiratória. Note-se que este grupo etário é, de longe, o que apresenta uma maior taxa de mortalidade total e por infecções respiratórias. Em anos anteriores, 93% das mortes por infecções respiratórias atingiram pessoas com mais de 70 anos.

2º Gráfico - A covid apresentou mortalidade superior às infecções respiratórias (ceerca de 25% mais) no grupo dos 60-69 anos. No caso dos grupos etários dos 40-59 anos, a covid apresentou mortalidade relativamente similares à das infecções respiratórias. Em 2020, se somada a covid com as infecções respiratórias (estimadas),, os valores mostram-se mais elevados para o grupo dos 50-59 anos e sobretudo 60-69 anos. No entanto, como referido, estes grupos etários têm, geralmente, uma muito baixa mortalidade por infecções respiratórias.

3ª Gráfico - Nos menores de 40 anos, tanto a covid como as infecções respiratórias são causa pouco provável de morte. Os valores são muitíssimo baixos, embora se confrontada directaente a covid com as infecções respiratórias, estas até matavam mais em anos anteriores. Por exemoplo, em 2016, para o período em análises mataram 21 pessoas com menos de 40 anos, enquanto que a covid matou, em período homólogo, 9 pessoas. Somando covid com as estimativas da mortalidade por infecções respiratórias em 2020, atinge-se um valor muito semelhante à média dos anos anteriores. Ou seja, não se manifesta qualquer impacte agravante da covid nos menores de 40 anos.

Fonte: 

Plataforma da Mortalidade (SNS, vd. aqui)

Monitorização da Gripe e Outras Infecções Respiratórias (SNS, vd. aqui)

Boletins diários da DGS sobre c*v*d (até ao registo de 31 de Outubro de 2020)





sábado, 31 de outubro de 2020

DA CULPA DOS PORTUGUESES E DA DESCULPA DO GOVERNO PORTUGUÊS OU DA ESPANHA QUE SOUBE PREPARAR-SE E NÓS NÃO

António Costa não tem culpa de nada. O Governo muito menos. A culpa é dos portugueses que alegremente andam em festejos e a infectarem-se agora tanto que “esta subida conduzir-nos-á a uma situação insustentável do SNS”, disse-nos agora mesmo o primeiro-ministro.

Com tantos Froes e Nunes que por lá andam a cirandar nos corredores da DGD, entre os quais o Filipe e o Baltazar originais, será que ninguém avisou o Governo que seria natural um aumento de infecções causadas por um vírus que tem "comportamento" similar (e até mais "agressivo") que os vírus de outras infecções respiratórias? Ninguém esperava esta subida de casos e, obviamente, de hospitalizações?

Como se pode compreender que nos últimos meses, em que houve milhões e milhões de euros a jorrarem para testes PCR e mais ajustes directos de milhões e milhões de euros até para lojas de brindes ganharem milhões, o SNS não tenha tido capacidade para se preparar estruturas e logística para aguentar um aumento de internamentos? Ninguém se questiona onde param os hospitais de campanha e as camas e mais o reforço de pessoal que se anunciou na Primavera?

Vejam a Espanha. Veja bem, por favor, o quadro que anexo sobre a situação de Espanha que apresentava, no dia 29 de Outubro, 18.162 hospitalizaçõe, isto dá um rácio de 387 internamentos por milhão de habitantes. Nesse dia, Portugal contava 1.927 internamentos, o que significa 189 internamentos por milhão de habitantes. Ou seja, a Espanha tinha o dobro da pressão no seu serviço nacional de saúde.

E como estava então a situação nos hospitais espanhóis nas hospitalizações c*v*d e ns UCI para esses doentes nesse dia? Vejam o quadro: a percentagem de camas ocupadas era de 14,7%, com o máximo em Melilla (a sua pequena comunidade no Norte de África) de 28,5% e em Madrid estava nos 18,9%. Nas UCI estava uma ocupação nacional de 26,6%, com um máximo também em Melilla de 64,3% e em Madrid de 38,4%. Estão os espanhóis, portanto, muito longe de qualquer saturação e com grande capacidade ainda de encaixe. E a situação é duas vezes pior do que a portuguesa.

Enfim, como sempre, Costa e a sua ministra Temido andaram a confiar na Nossa Senhora como Paulo Portas, há uns anos, confiava na mãe de Cristo para um derrame de petróleo (do Prestige) não chegar às nossas costas. Portas teve sorte, porque a Nossa Senhora não faz assim milagres. Costa confiou também na Nossa Senhora ou na sorte (como aliás sempre sucede com as épocas gripais, onde os velhos morrem que nem tordos sem que ninguém ligue), e quem paga agora somos nós.

A culpa de tudo isto é dos portugueses. Nunca do Governo. E a nossa Propaganda Mediática ajudará a culpabilizar-nos. 



DO ESTADO DA NOSSA SAÚDE PÚBLICA E DOS TEMPOS QUE NOS ESPERAM

Ontem, o conhecido Hospital Amadora-Sintra, que no seu site se apresenta "uma unidade de saúde que combina a excelência dos seus profissionais com as mais modernas práticas médicas, procurando responder a uma população de mais de 600 mil habitantes nos concelhos de Amadora e Sintra", contava com 65 doentes covid (tenho de escrever assim por causa da censura do FB), dos quais nove em medicina intensiva.

O Conselho de Administração do hospital diz estar na contingência de alocar mais camas para doentes covid, o que implicará "redução da actividade programada". 

Portanto, lá vamos nós voltar ao mesmo: "chutar" utentes (mesmo se necessitarem de internamento) para morrerem prematuramente daqui a uns dias, semanas ou meses, até porque desses não há contabilização nem a imprensa se preocupa. Não é por acaso que Portugal é um dos poucos países europeus que, desde o início da pandemia, apresenta um excesso de mortalidade não-covid. Por exemplo, a França, a Bélgica e a Suécia, que registaram mair mortalidade por covid, não registam excesso nã-covid, pelo contrário, tiveram uma redução.

P.S. Uma das coisas que a pandemia veio revelar foi a "pobreza franciscana" do nosso SNS. Pesquisando a página do Hospital Amadora-Sintra fica a saber-se, por exemplo, que antes da pandemia existiam apenas quatro camas de UCI nível II (existem três níveis), sendo que uma obra urgente em curso vai conseguir, por 802 mil euros, aumentar em 15 camas esta unidade. Parece muito? Não é nada! É quase o que nos anda a custar a parafernália de testes PCR em apenas um dia.



DO RECOLHER OBRIGATÓRIO

Depois do lockdown, já criticado pela OMS, que só surtiu efeito em descambar a actividade económica, os políticos europeus lançaram-se para as máscaras na ruas (com os lindos resultados da Itália) e agora estão a criar a moda do célebre recolher obrigatório. Em Portugal estará por dias, a Propaganda Mediática (imprensa) lavra já para que o povo não só aceite como o exija.

Só consigo encontrar uma explicação para a imposição de recolher obrigatório na Europa pelos políticos: um “tique saudosista” de poder, porque se agora se vive em sistemas democráticos. Na verdade, não consigo encontrar nenhuma outra vantagem do recolher obrigatório se acrescida aos fechos da restauração e comércio em horário nocturno. 

Será para evitar que os danados dos velhos (os mais vulneráveis) andem e se juntem em aglomerados nas ruas pelas 2 da madrugada a beber copos? 

Ah! não! É para evitar que sejam os jovens a juntarem-se nas ruas a beberem copos clandestinamente, infectando-se e infectando depois os seus avozinhos. Isso!

Ah! Mas deixa cá ver o que vai suceder: os jovens vão passar a juntar-se em casa um dos outros antes do recolher obrigatório e mantém-se lá pela noite dentro, dormindo em sofás e camas improvisadas. Aumentando ainda mais o risco de infecção se comparado com um regresso às casas de cada um. Depois, durante o dia, infectarão os avozinhos...

Ah! Mas acabaremos com as festas nocturnas ilegais dos jovens. Muito bem! Criando-se “gestapos”?



sexta-feira, 30 de outubro de 2020

DOS IGNORANTES ENCARTADOS

Hugo Sequeira (vd. perfil aqui), que se apresenta aqui no FB como cirurgião plástico do Hospital de Braga, decidiu, num comentário a um meu post, passar-me um "atestado de ignorância", e de forma sarcástica, por eu ter destacado esta tarde que a taxa de ocupação de um determinado centro hospitalar (Tâmega e Sousa) estar quase sempre no limite (acima de 90%) e atingindo mesmo períodos de sobrelotação antes da pandemia.

Escreveu ele em tom gozão (vd. em baixo):  "O facto de trabalhar com uma ocupação de 90% deveria ser boa gestão. Ter um doutorado ou doutorando a questionar isso é surpreendente... a produção cirúrgica é equivalente?", acrescentando mais tarde: "Trabalhar com ocupação acima de 90% no verão só teria implicações no Inverno se fossem ocupações prolongadas... que por norma não são! E o Sr. Professor devia saber isso. Estamos de acordo que o problema é o desinvestimento de anos no SNS (que obviamente lhe tira flexibilidade) e o desnorte, comprovado pelo verão que passou sem que qualquer estratégia tivesse sido delineada (por exemplo esses hospitais de campanha)."

Sendo que eu não sou Professor, nem médico nem epidemiologista nem virologista (e são estas as recorrentes  acusações que me fazem nos últimos tempos, como se apenas esses profissionais tivessem neurónios), e sendo o Doutor Hugo Sequeira um médico encartado, sei bem como o argumento do título académico ainda conta muito em Portugal. Como se um disparate dito por um suposto especialista deixasse de ser um disparate por ser dito por um suposto especialista; e como se uma análise rigorosa e correcta de um suposto não-especialista fosse um disparate apenas porque ele não é supostamente um especialista.

Venho, portanto, colocar o Doutor Hugo Sequeira no devido pedestal de especialista encartado apenas com um objectivo: chamar-lhe ignorante encartado, expondo-o aqui como o paradigma da arrogância, que, conhecendo apenas o seu umbigo, não se esforça para estudar a "real" realidade, zurzindo lesto em todos os que ele julga lhe são inferiores na sapiência, apenas pela "falha" crucial de não serem médicos.

Com efeito, conforme podem observar no gráfico que aqui coloco, com dados do SNS (vd. link em baixo), exemplificando com 2019 para o hospital em questão, o número total de dias de internamento na especialidade médica e na especialidade cirúrgica são superiores nos meses de Outono-Inverno (Dez-Mar) do que nos meses de Verão (Jun-Set).

Para que não me viesem dizer que isto é um caso especial, fiz também as contas a nível nacional. Somando internamentos das duas especialidades, o mês com mais dias de internamento em 2019 foi Janeiro (540.105 horas) e o mês com menos foi Agosto (486.581 horas), ou seja, ou seja, menos 10% neste mês de Verão em relação ao mês de Inverno. Que quiser que vá fazer mais anos para confirmar uma situação óbvia para quem conhece minimamente a realidade da Saúde Pública em Portugal. Significa isto que se estiver a trabalhar no Verão acima de 90% de taxa de ocupação em internamento quase de certeza terei esgotamento no Inverno e sem capacidade de suportar picos. Isto é elementar.

Espero, enfim,  sinceramente, que o Doutor Hugo Sequeira seja melhor a fazer cirurgias plásticas... 

Fonte: Actividade de internamento hospitalar (SNS, vd. aqui).





DAS PANTANAS EM DOSE DUPLA

1 - Em 12 de Janeiro de 2018, o Público dava voz a um incrédulo médico: "Porque que é que o SNS está de pantanas se a gripe ainda é ligeira?" Esse médico é o nosso conhecido Filipe Froes... Será que a jornalista do Público, Alexandra Campos, lhe podia perguntar agora se o SNS não está, neste momento, de pantanas?

2 - Por falar no Público: hoje faz uma reportagem sobre os internamentos nos hospitais,destacando o Centro Hospitalar de Tâmega e Sousa que "está a transbordar pelas costuras, o que o obriga a transferir muitos doentes para outras unidades." Coisa nunca vista, não é? Claro que não! Está quase sempre a abarrotar, essa é que é essa! Basta ver o gráfico com a evolução dos internamentos, segundo dados do SNS. Este ano rebentou pelas "costuras" (mais de 100%) em Janeiro, Fevereiro e Março (grande parte do período pré-pandemia), e desde Julho de 2016 até Junho de 2020 esteve sempre acima de 90% da capacidade de internamento (actualmente 464 camas). Por ironia, o mês de menor ocupação desde o ano de 2016 foi exactamente Setembro de 2020. O mês passado, com uma taxa de 87,9%.

Fonte: Taxa de Ocupação Hospitalar (SNS, vd. aqui).






DO BANQUETE

Desde que "isto" começou, e tenho questionado a "nararativa" oficial, muitos amigos, alguns de verdade, foram-se afastando, entre críticas e silêncios. Tenho agora estado a lembrar-me de imensos amigos da área da Cultura, cultíssimos e mui democratas, que nem um 'ai' nem um 'clic' me disseram quando o "democrata" FB me censurou um post, mesmo se eu usava dados oficiais e colocava os links das fontes. Silenciar aqueles de quem se discorda não parece afinal mal de todo, pensarão eles. 

Sobretudo para eles (e estou a lembrar-me de uma boa lista), dedico-lhes uma passagem do meu romance "A Mão Esquerda de Deus", que me parece bastante apropriada para os tempos que correm. Aliás, não me parece só apropriado; encaixa na perfeição. Foi escrito em 2009:

"O famoso Erasmo de Roterdão, morto há quatro anos, deixou-nos muitos escritos cheios de boas verdades, embora a Igreja, lesta, se tenha já aprontado a considerá-los heréticos. Explicou ele, com refinada ironia, ser imprudente o homem que não se acomoda às coisas presentes, que não obedece aos costumes, que esquece aquela lei dos banquetes: 'Bebe ou retira-te'. E que, ao invés, será prudente todo aquele que, não querendo saber mais que os outros, convive e erra de boa vontade com e como a universalidade dos homens. Ou seja, aplicado ao meu caso, se contestasse as doutrinas dos sacerdotes - retirando-me apenas do banquete -, a minha postura seria considerada ofensiva, uma falsa crença, fruto de uma vontade perversa. E, se argumentasse com a justeza da minha opinião, se insistisse na bondade daquilo que defendia, receberia a malquerença, o desprezo, a repulsa, a perseguição e, porventura, a própria morte".



DA LEMBRANÇA

Queria só recordar, sobretudo aos mais esquecidos e aos panikistas, que continuam a existir duas pandemias em Portugal: uma (a reconhecida) matou este mês 451 pessoas até ao dia 28; a outra (a ignorada) já matou 791 pessoas.

Desde 15 de Março, a pandemia "de todas as atenções" matou 2.428 pessoas; a pandemia da "falta de cuidados do SNS" matou 7.525 pessoas. Ou seja, por cada óbito da "tal doença" (que não posso já nomear porque o FB me ameaça suspender a conta), registaram-se três óbitos em excesso por outras afecções.

Era mesmo só isto. Para relembrar. E lembrar sobretudo que, contrariamente a Portugal, muitíssimos países não deixaram os seus sistemas nacionais de saúde colapsarem, e não tiveram excesso de mortes não-c*vid (a tal segunda pandemia). Estou a lembrar-me, por exemplo, até da Bélgica, da Suécia, da França e da Suíça, que até foram mais fustigados pela pandemia "do ai jesus que o mundo vai acabar" do que Portugal.

Fonte: SICO-eVM; DGS. 



quinta-feira, 29 de outubro de 2020

DO ENTRETENIMENTO COM OS CEMITÉRIOS ENQUANTO NINGUÉM SABE O QUE SE PASSA NOS LARES

Continuem a achar que tudo se resolve com máscaras na rua e recolher obrigatório... Não se preocupem em saber o que verdeiramente se tem estado a passar nos lares nas últimas semanas... onde vivem cerca de 100 mil idosos, quase todos bastante vulneráveis. E onde é preciso uma gestão profissional, e não uma gestão de "tapa.-buracos" cheia de voluntarismo mas ineficaz.

Pelo indicadores de crescimento dos casos nos maiores de 80 anos nos últimos dias, os utentes dos lares - esses, que nem sequer saem à rua e estão assim sujeitos a recolher obrigatório - vão ser as principais vítimas nas próximas semanas.

Pelas minhas estimativas, em função da incidência e das taxas de letalidade, vamos ter ao longo da primeira quinzena de Novembro (e independemente do que se fizer nos próximos dias... há um fenómeno de inércia subjacente), mortalidade diária por covid será, numa projecção mais favorável de 32, podendo chegar aos 47. Destes, cerca de dois terços serão pessoas de 80 anos.

São valores elevados? Sim, sobretudo para o grupo mais idoso (maiores de 80 anos), mas deveríamos saber duas coisas fundamentais: a mortalidade em período homólogo com as infecções respiratórias (e saber as mortalidades deste ano), e SOBRETUDO saber quantos dos idosos falecidos viviam em lares e quantos dos idosos falecidos não moravam em lares. Não saber isto é eviesar por completo a correcta avaliação da gestão de uma pandemia.

Nota: Estimativas próprias através da incidência por grupo etário (casos positivos entre 4 e 27 de Outubro) e das taxas de letalidade ao longo do tempo por grupo etário.