sexta-feira, 30 de outubro de 2020

DOS IGNORANTES ENCARTADOS

Hugo Sequeira (vd. perfil aqui), que se apresenta aqui no FB como cirurgião plástico do Hospital de Braga, decidiu, num comentário a um meu post, passar-me um "atestado de ignorância", e de forma sarcástica, por eu ter destacado esta tarde que a taxa de ocupação de um determinado centro hospitalar (Tâmega e Sousa) estar quase sempre no limite (acima de 90%) e atingindo mesmo períodos de sobrelotação antes da pandemia.

Escreveu ele em tom gozão (vd. em baixo):  "O facto de trabalhar com uma ocupação de 90% deveria ser boa gestão. Ter um doutorado ou doutorando a questionar isso é surpreendente... a produção cirúrgica é equivalente?", acrescentando mais tarde: "Trabalhar com ocupação acima de 90% no verão só teria implicações no Inverno se fossem ocupações prolongadas... que por norma não são! E o Sr. Professor devia saber isso. Estamos de acordo que o problema é o desinvestimento de anos no SNS (que obviamente lhe tira flexibilidade) e o desnorte, comprovado pelo verão que passou sem que qualquer estratégia tivesse sido delineada (por exemplo esses hospitais de campanha)."

Sendo que eu não sou Professor, nem médico nem epidemiologista nem virologista (e são estas as recorrentes  acusações que me fazem nos últimos tempos, como se apenas esses profissionais tivessem neurónios), e sendo o Doutor Hugo Sequeira um médico encartado, sei bem como o argumento do título académico ainda conta muito em Portugal. Como se um disparate dito por um suposto especialista deixasse de ser um disparate por ser dito por um suposto especialista; e como se uma análise rigorosa e correcta de um suposto não-especialista fosse um disparate apenas porque ele não é supostamente um especialista.

Venho, portanto, colocar o Doutor Hugo Sequeira no devido pedestal de especialista encartado apenas com um objectivo: chamar-lhe ignorante encartado, expondo-o aqui como o paradigma da arrogância, que, conhecendo apenas o seu umbigo, não se esforça para estudar a "real" realidade, zurzindo lesto em todos os que ele julga lhe são inferiores na sapiência, apenas pela "falha" crucial de não serem médicos.

Com efeito, conforme podem observar no gráfico que aqui coloco, com dados do SNS (vd. link em baixo), exemplificando com 2019 para o hospital em questão, o número total de dias de internamento na especialidade médica e na especialidade cirúrgica são superiores nos meses de Outono-Inverno (Dez-Mar) do que nos meses de Verão (Jun-Set).

Para que não me viesem dizer que isto é um caso especial, fiz também as contas a nível nacional. Somando internamentos das duas especialidades, o mês com mais dias de internamento em 2019 foi Janeiro (540.105 horas) e o mês com menos foi Agosto (486.581 horas), ou seja, ou seja, menos 10% neste mês de Verão em relação ao mês de Inverno. Que quiser que vá fazer mais anos para confirmar uma situação óbvia para quem conhece minimamente a realidade da Saúde Pública em Portugal. Significa isto que se estiver a trabalhar no Verão acima de 90% de taxa de ocupação em internamento quase de certeza terei esgotamento no Inverno e sem capacidade de suportar picos. Isto é elementar.

Espero, enfim,  sinceramente, que o Doutor Hugo Sequeira seja melhor a fazer cirurgias plásticas... 

Fonte: Actividade de internamento hospitalar (SNS, vd. aqui).





DAS PANTANAS EM DOSE DUPLA

1 - Em 12 de Janeiro de 2018, o Público dava voz a um incrédulo médico: "Porque que é que o SNS está de pantanas se a gripe ainda é ligeira?" Esse médico é o nosso conhecido Filipe Froes... Será que a jornalista do Público, Alexandra Campos, lhe podia perguntar agora se o SNS não está, neste momento, de pantanas?

2 - Por falar no Público: hoje faz uma reportagem sobre os internamentos nos hospitais,destacando o Centro Hospitalar de Tâmega e Sousa que "está a transbordar pelas costuras, o que o obriga a transferir muitos doentes para outras unidades." Coisa nunca vista, não é? Claro que não! Está quase sempre a abarrotar, essa é que é essa! Basta ver o gráfico com a evolução dos internamentos, segundo dados do SNS. Este ano rebentou pelas "costuras" (mais de 100%) em Janeiro, Fevereiro e Março (grande parte do período pré-pandemia), e desde Julho de 2016 até Junho de 2020 esteve sempre acima de 90% da capacidade de internamento (actualmente 464 camas). Por ironia, o mês de menor ocupação desde o ano de 2016 foi exactamente Setembro de 2020. O mês passado, com uma taxa de 87,9%.

Fonte: Taxa de Ocupação Hospitalar (SNS, vd. aqui).






DO BANQUETE

Desde que "isto" começou, e tenho questionado a "nararativa" oficial, muitos amigos, alguns de verdade, foram-se afastando, entre críticas e silêncios. Tenho agora estado a lembrar-me de imensos amigos da área da Cultura, cultíssimos e mui democratas, que nem um 'ai' nem um 'clic' me disseram quando o "democrata" FB me censurou um post, mesmo se eu usava dados oficiais e colocava os links das fontes. Silenciar aqueles de quem se discorda não parece afinal mal de todo, pensarão eles. 

Sobretudo para eles (e estou a lembrar-me de uma boa lista), dedico-lhes uma passagem do meu romance "A Mão Esquerda de Deus", que me parece bastante apropriada para os tempos que correm. Aliás, não me parece só apropriado; encaixa na perfeição. Foi escrito em 2009:

"O famoso Erasmo de Roterdão, morto há quatro anos, deixou-nos muitos escritos cheios de boas verdades, embora a Igreja, lesta, se tenha já aprontado a considerá-los heréticos. Explicou ele, com refinada ironia, ser imprudente o homem que não se acomoda às coisas presentes, que não obedece aos costumes, que esquece aquela lei dos banquetes: 'Bebe ou retira-te'. E que, ao invés, será prudente todo aquele que, não querendo saber mais que os outros, convive e erra de boa vontade com e como a universalidade dos homens. Ou seja, aplicado ao meu caso, se contestasse as doutrinas dos sacerdotes - retirando-me apenas do banquete -, a minha postura seria considerada ofensiva, uma falsa crença, fruto de uma vontade perversa. E, se argumentasse com a justeza da minha opinião, se insistisse na bondade daquilo que defendia, receberia a malquerença, o desprezo, a repulsa, a perseguição e, porventura, a própria morte".



DA LEMBRANÇA

Queria só recordar, sobretudo aos mais esquecidos e aos panikistas, que continuam a existir duas pandemias em Portugal: uma (a reconhecida) matou este mês 451 pessoas até ao dia 28; a outra (a ignorada) já matou 791 pessoas.

Desde 15 de Março, a pandemia "de todas as atenções" matou 2.428 pessoas; a pandemia da "falta de cuidados do SNS" matou 7.525 pessoas. Ou seja, por cada óbito da "tal doença" (que não posso já nomear porque o FB me ameaça suspender a conta), registaram-se três óbitos em excesso por outras afecções.

Era mesmo só isto. Para relembrar. E lembrar sobretudo que, contrariamente a Portugal, muitíssimos países não deixaram os seus sistemas nacionais de saúde colapsarem, e não tiveram excesso de mortes não-c*vid (a tal segunda pandemia). Estou a lembrar-me, por exemplo, até da Bélgica, da Suécia, da França e da Suíça, que até foram mais fustigados pela pandemia "do ai jesus que o mundo vai acabar" do que Portugal.

Fonte: SICO-eVM; DGS. 



quinta-feira, 29 de outubro de 2020

DO ENTRETENIMENTO COM OS CEMITÉRIOS ENQUANTO NINGUÉM SABE O QUE SE PASSA NOS LARES

Continuem a achar que tudo se resolve com máscaras na rua e recolher obrigatório... Não se preocupem em saber o que verdeiramente se tem estado a passar nos lares nas últimas semanas... onde vivem cerca de 100 mil idosos, quase todos bastante vulneráveis. E onde é preciso uma gestão profissional, e não uma gestão de "tapa.-buracos" cheia de voluntarismo mas ineficaz.

Pelo indicadores de crescimento dos casos nos maiores de 80 anos nos últimos dias, os utentes dos lares - esses, que nem sequer saem à rua e estão assim sujeitos a recolher obrigatório - vão ser as principais vítimas nas próximas semanas.

Pelas minhas estimativas, em função da incidência e das taxas de letalidade, vamos ter ao longo da primeira quinzena de Novembro (e independemente do que se fizer nos próximos dias... há um fenómeno de inércia subjacente), mortalidade diária por covid será, numa projecção mais favorável de 32, podendo chegar aos 47. Destes, cerca de dois terços serão pessoas de 80 anos.

São valores elevados? Sim, sobretudo para o grupo mais idoso (maiores de 80 anos), mas deveríamos saber duas coisas fundamentais: a mortalidade em período homólogo com as infecções respiratórias (e saber as mortalidades deste ano), e SOBRETUDO saber quantos dos idosos falecidos viviam em lares e quantos dos idosos falecidos não moravam em lares. Não saber isto é eviesar por completo a correcta avaliação da gestão de uma pandemia.

Nota: Estimativas próprias através da incidência por grupo etário (casos positivos entre 4 e 27 de Outubro) e das taxas de letalidade ao longo do tempo por grupo etário.



DO DESCONTROLO, CLARO... DOS LARES, MUITO PROVAVELMENTE

Nos últimos tempos tenho sido bastante atacado (já para não falar da censura do FB), por vezes ataques de carácter e de rigor científico, mas, enfim, isto é mais forte do que eu. E, portanto, mais uma análise, mais um alerta. Chamo a atenção que, no futuro, passarei a escrever a doença como DIVOC e o agente como SRAS-VoC-2 para tentar contornar a censura que o FB anda a colocar aos posts sobre estas matérias.

Face à falta crónica de transparência da DGS (que impede que se tenha facilmente acesso aos casos positivos por idade, bem como os dados da mortalidade, pois os seus boletins "apagaram essa informação... tem de se recorrer aos jornais), nem semnpre é fácil fazer o acompanhamento da evolução. Contudo, fiz agora, recorrendo a informação dos jornais e aos dados da população do INE, uma comparação da incidência diária da DIVOC (casos positivos) por grupo etário (em função da população) em dois períodos distintos; 5-22 de Outubro (18 dias) e 23-27 de Outubro (5 dias).

Além do já conhecido aumento de casos positivos, aquilo que ressalta à vista é o aumento generalizado  da incidência em todas as faixas etárias, mas sobretudo com especial gravidade nos maiores de 80 anos, o grupo mais vulnerável e que integra grande parte dos utentes dos lares.

Com efeito, a incidência diária de casos positivos nos maiores de 80 anos passou de 17 por 100.00 pessoas desse grupo no primeiro período (5-22 out) para 31 no segundo período (23-27out). É um aumento de 80% na incidência no grupo que mais contribui para as mortes por covid (duas em cada três mortes por DIVOC são de maiores de 80 anos). De imediato isso justfica o aumento da mortalidade nos últimos dias e que se agravará nas próximas semanas...

O aumento da incidência é generalizado, como podem observar no gráfico, mas maior na população activa (20-59 anos), diminuindo com a idade. Os valores nos grupos dos 60-79 anos são já muito mais baixos do que nos grupos da população em idade activa mais jovem, mas depois sobe bastante no grupo dos maiores de 80, a faixa etária onde se encontram muitos dos 100 mil utentes dos lares. 

Ora, era suposto os mais  idosos estarem com os mais baixos níveis de incidência se, por exemplo, nos lares as medidas profilácticas estivessem a ser adequada e eficazmente aplicadas. E isto indicia que não estão. Mas sobre os lares portugueses pouco se sabe (excepto, sem se ter acesso a qualquer base de dados que são responsáveis por 40% das mortes por DICOV em Portugal). Continuamos no absurdo de ser mais fácil saber nos lares no Reino Unido, por exemplo, do que em Portugal). E a imprensa não achar nada estranho.

Tenho defendido, desde Março, que a luta contra a DIVOC é sobretudo uma luta ao nível da protecção dos grupos vulneráveis em lares. Não vale a pena confinar 100% da população, fazer lockdowns e recolher obrigatório, meter máscaras na rua e em todo o lado, se depois, nos lares, a DIVOC se espraiar tão ou mais facilmente como na população cá fora.

Tenho defendido, com evidências (e não sou só eu, claro), que o problema da DIVOC não é uma questão de número de casos, mas sim de quantidade de casos na população idosa, e isso consegue-se com especiais cuidados (e sem desleixos) sobretudo nos lares.

Para terem ideia daquilo que digo, façamos um exercício simples, extrapolando as taxas de letalidade distintas entre grupos etários. Se porventura tivessemos 400 mil casos positivos (um absurdo, claro!) na nossa população com menos de 40 anos haveria talvez no máximo 60 óbitos; se tivermos esses 400 mil casos na nossa população de mais de 80 anos as mortes talvez se aproximassem das 60 mil. Vejam isto, obviamente, apenas como mero exercício de comparação para destacar as diferenças brutais em termos de letalidade nos grupos etários. 

Resumindo e concluindo: mais do que andar com medidas e medidinhas sem nexo, convinha saber ao certo aquilo que o Governo anda a fazer (ou deixar de fazer) nos lares. Foi sempre aí que se jogou a questão fulcral da DIVOC.



quarta-feira, 28 de outubro de 2020

DAS MÁSCARAS NA RUA OU DO PÂNICO POLÍTICO QUE O POVO PAGA CARO

O Governo italiano entrou em pânico no início de Outubro, quando a incidência de novos casos positivos por dia naquele país era inferior a 50 por milhão de habitantes (média móvel de 7 dias). Os valores estavam mais baixos do que, por exemplo, na Suécia, que então rondava os 60, e muito abaixo dos de Portugal (então próximos dos 80).

Decidiu assim o Governo italiano, ainda no dia 3 de Outubro, impor o uso de máscaras nas ruas de Roma; três dias mais tarde em todo o país. 

Os resultados foram catastróficos, mesmo descontando ser expectável, pelo perfil de sazonalidade do SARS-CoV-2 (similar aos vírus e bactérias que causam infecções respiratórias), um incremento de casos no decurso do Outono (e continuará a aumentar no Inverno).

Com efeito, se olharem para a evolução dos novos casos positivos na Suécia - que não usa nem nunca usou as máscaras como estratégia anti-covid em nenhuma circunstância -, observa-se um incremento desde Setembro, que acelerou em Outubro. Mas não é uma situação surpreendente, antes sim expectável, e que apenas deve merecer atitudes racionais e manter um sistema de saúde a jusante que faça uma gestão adequada dos casos mais graves do ponto de vista clínico. Sem histerias, sem dramas, sem chinfrim, sem pânico.

O crescimento de casos na Suécia (sem máscaras, repita-se) não aparenta descontrolo. A actual incidência neste país nórdico (143 novos casos diários por milhão de pessoas) é, actualmente, metade da Itália (308 casos por milhão). Repita-se: a Suécia teve isto sem máscaras; Itália teve um crescimento na incidência por milhão de habitantes de quase quatro vezes depois de obrigar os seus cidadãos a usar máscaras "até ao tutano". 

Aliás, notem bem o gráfico. Esta clara divergência observou-se "apenas" quando a Itália impõs máscaras na rua.  Antes isso, ao longo de todo o mês de Setembro, Itália e Suécia tinham incidências similares. E notem também que a curva de crescimento da Itália, que é assustadora, não dando ideia de estar para achatar.

Mesmo assim, mais preocupante parece-me ser o futuro em Portugal. Se o efeito contraproducente das máscaras nas rua em Itália - que me parece evidente - se repetir em Portugal, os próximos tempos não vão ser nada agradáveis, Com efeito, a incidência de novos casos em Portugal, que já era relativamente elevada em Setembro, está actualmente a níveis próximos dos de Itália. Bem sei que uma grande parte dos casos positivos são falsos positivos, mas não me surpreenderia que a situação se descontrolasse ainda mais por causa do suposto "remédio", leia-se, imposição de máscaras nas rua. 

E, neste caso, se as máscaras na rua forem indutoras de um aumento das infecções, vamos dar-nos muito mal. Porque, nesse caso, são infecções reais que, se atingirem grupos vulneráveis, causará um aumento significativo de mortes. E a culpa não será do SARS-CoV-2, mas sim da estratégia política.  

Fonte: Worldometers.



DA FARSA DE UMA "ESPÉCIE DE PNEUMONIA" CHAMADA COVID

Segundo dados da Plataforma da Mortalidade, as infecções respiratórias (código J200-J22 do CDI-10 da OMS) foram responsáveis, entre Março e Outubro, por 3.433 mortes de pessoas com mais de 70 anos no período 2014-2018. E sem grandes variações interanuais.

A covid-19 matou em período (quase) homólogo, entre 1 de Março e 26 de Outubro deste ano, 2.031 pessoas com mais de 70 anos. 

Entretanto, os episódios das infecções respiratórias regrediram este ano, entre Março e Outubro, cerca de 60%, totalizando até 28 de Outubro apenas 91.099 casos (dados do SNS). A média em período homólogo de 2017-2019 (anos disponíveis pelo SNS) é de 228.212 casos. Será, por isso, de admitir que em 2020 a mortalidade nos maiores de 70 anos por infecções respiratórios entre Março e Outubro tenham sido apenas 40% do habitual, ou seja, 1.373 óbitos.

Significa isto que se somarmos covid (2.031 nesta faixa etária) e infecções respiratórias (1.373, estimativas para 2020), temos 3.404 mortes entre Março e outubro. Ou seja, um valor "normal", e bem abaixo de 2016.

Porém, enquanto isso (escolham a ordem):

1 - o excesso de mortalidade não-covid é avassalador este ano, sobretudo nos idosos; 

2- nos últimos tempos, o Estado tem alegremente gastado quase 20 milhões de euros por mês em testes PCR (os tais que são bullshit, CR7 dixit) para apanhar sobretudo falsos positivos, dos 98% que nem sequer têm sintomas ligeiros de uma gripe comum, e e alimentar o pânico;

3 - temos o SNS de pantanas;

4 - meteram-nos trapos à força mesmo na rua;

5 - a Economia ficou um desastre;

6 - o desemprego alastra.

7 - os nossos movimentos confinam no concelho em que o Governo nos "autoriza" a (sobre)viver;

8 - e, cereja em cima do bolo, preparam-se para nos meter um recolher obrigatório;

Toda a gente com meia dúzia de neurónios activos tem de deixar de pactuar com esta farsa. Esta farsa tem de acabar!

Fonte: Portal da Mortalidade em Portugal (SNS, disponível aqui); Monitorização da Gripe e Outras Infecções Respiratórias (SNS, vd. aqui). Dados da mortalidade por grupo etário nos jornais, porque a DGS "apagou" esssa informação dos seus boletins.



terça-feira, 27 de outubro de 2020

DO SARS-COV-2, ESSE COMILÃO DE VÍRUS E BACTÉRIAS

Já aqui tenho referido a brutal diminuição da ordem dos 60% das infecções respiratórias desde que a pandemia da covid surgiu em Portugal no mês de Março, que pode ter explicação nas medidas de distanciamento social.

Porém, em Outubro está a surgir outro "fenómeno", este sim bastante estranho: à medida que este mês outonal avança, os casios positivos de covid estão a aumentar consideravelmente (mais testes, mais testes, mais testes, mais falsos positivos), mas estranhamente, ao arrepio da habitual tendência de agravamento neste período do ano, as gripes e as infecções respiratórias registadas pelo SNS estão a descer abruptamente.

Reparem no gráfico: na primeira semana de Outubro, registaram-se uma média diária de 521 episódios de infecções respiratórias e 877 casos positivos. Nos dias e semanas seguintes vê-se um crescimento da covid mas uma redução da actividade dos outros vírus e também bactérias que causas infecções como pneumonias, bronquites e gripes. Resultado: em comparação com a primeira semana, no período de 22-26 de Outubro observa-se um crescimento de 240% das infecções diárias por SARS-CoV-2, enquanto que para as outras infecções observa-se uma redução de quase de 40%.

Explicação absurda para o Polígrafo da SIC desmentir: o SARS-CoV-2, antes de infectar pessoas, anda a comer ao pequeno-almoço os vírus da gripe, ao almoço papa Streptococcus pneumoniae, lancha pela tardinha uma dose de adenovírus, deglute ao jantar uma dose de Kiebsiella pneumoniae temperado de pseudomonas, e termina com uma ceia leve de Mycoplasma pneumoniae. E é por isso que, cheio de força, tem atacado tanta gente, enquanto os outros vírus e as bactérias, coitados, destroçados por estes ataques, acabaram infectando muito menos gente do que seria expectável ao longo das últimas semanas.

Explicação sensata: isto é tudo uma grande aldrabice mal contada.

Fonte: Boletins diários da covid (DGS); Montorização da gripe e outras infecções respiratórias (SNS), disponível aqui.



DAS CULPAS DO MORDOMO, DE SEU NOME SARS-COV-2

Em Março, no início da pandemia - e escrevi sobre isso -, não tenho dúvidas sobre as mortes por covid se terem iniciado ainda na primeira quinzena, por via do aumento anormal da mortalidade total antes do anúncio oficial da primeira morte.

Depois dessa primeira fase, e sobretudo com o recurso massivo aos testes PCR, sucedeu o oposto. Quem morresse com um teste positivo, a menos que tivesse sido trucidado por um comboio, certo e garantido que ficava catalogado como "morto covid".

Não sendo médico, estas certezas absolutas no número de mortes por covid causam-me bastante espanto e estranheza, sobretudo porque os contextos desses desfechos fatais não são "cristalinos, em especial em idosos. Os seus quadros clínicos nem sempre são claros e, como se destaca nas estatísticas mais detalhadas do CDC norte.-americano, à covid associa-se, muitas vezes, outras doenças, com as pneumonias à cabeça.

E escrevo aqui pneumonias, mas deveria acrescentar bronquites, gripes (que directamente matam pouco) e outras infecções respiratórias, que no conjunto "ceifam" que se fartam.

Porém, aquilo que me causa mais espanto, como escrevia, é a certeza absoluta da DGS (e de outras congéneres estrangeiras) na catalogação dos óbitos covid, ou seja, na identificação do SARS-CoV-2 como agente causador do óbito. Isto porque, na verdade, no caso das pneumonias e afins não se em conseguidos, nos cerificados de óbitos, tantas certezas. 

Com efeito, analiando a Plataforma da Mortalidade, para os anos de 2014 a 2018, observa-se que, usando a classificação internacional da OMS (CID-19, abrangendo, para esta análise os códigos J100 a J22), pode ser declarado como agentes da morte por infecções respiratórias uma longa lista de vírus e bactérias, a saber: diversos vírus da gripe, adenovírus, vírus sincicial respiratório, Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenza, pseudomonas, estafilococos, estreptococos, Mycoplasma pneumoniae e até a babal Escherichia coli.

Pergunta de um milhão: mas consegue-se, em todos os casos, saber quais destas "bichezas" foi a culpada em cada caso? Resposta: nem pensar. Em 2014 apenas se identificou o agente em 3,5% dos casos de infecções respiratórias; em 2015 foi apenas 4,1%; em 2016 de 5,0%, em 2017 de 4,5%; e em 2018 chegou-se aos 6,3%. No resto (ou seja, em cerca de 95% dos casos), o agente infeccioso não foi identificado. Ou seja, a culpa morreu solteira.

Contudo, na actual pandemia, tem-se sempre a certeza absoluta, absolutérrima, que, se há teste positivo PCR, está garantido que o SARS-CoV-2 arcará sempre com as culpas se houver óbito... mesmo se outras "bichezas" se aproveitem para dar a facada final. O SARS-CoV-2 é, na verdade, um mordomo de um policial de série B.

Fonte: Plataforma da Mortalidade em Portugal (DGS), consultável aqui



segunda-feira, 26 de outubro de 2020

DO BRINCAR COM A NOSSA SAÚDE OU DA GRANDE MERDA DAS MÁSCARAS NAS RUAS DE ITÁLIA

Não existe nenhuma evidência científica de as máscaras na via pública contribuirem para uma redução efectiva das infecções. 

Mas os Froes desta vida, aproveitadores-mores da pandemia, acham agora que devemos ter trapos na boca durante todo o dia; os Costas desta vida, que querem mostrar serviço, querem-nos com trapos na boca todo o dia; e mais ainda os Sousas desta vida, que saudosos das selfies e nos querem pôr hipocodríacos, querem-nos com trapos na boca todo o dia. A imprensa, entretanto, está agora em outra cruzada; além das máscaras, "descobriram" que há um risco elevado de infecção se falarmos alto. Mesmo com máscara. Calemo-nos todos, não é? 

Entretanto, vejam a grande merda - desculpem não tenho outras palavras - que resultou da imposição das máscaras nas rua de Itália. Quando a decisão foi tomada existiam 2.677 novos casos positvos. Passados 18 dias subiu para 21.273 novos casos positivos (contabilizados no período de 24 horas). Uma subida de 735%... quando era suposto contribuir para uma descida de casos. 

Entretanto, a Suécia, onde não se usa máscara em nenhuma situação, teve uma subida de apenas 28% de novos casos entre 6 e 25 de Outubro, acompanhando uma tendência habitual em infecções respiratórias ao longo do Outono. Repito: não se usa máscaras nem nos transportes públicos. 

Andam a brincar com a nossa saúde e as nossas vidas. Bandalheira causada por bandalhos!



DO AVISO

Agradeço aos meus poucos amigos e amigas que se afastem de mim durante os próximos 70 dias, se me virem na rua. Vou fazer todos os esforços para garantir o distanciamento social enquanto andar nas ruas, de modo a não ter de meter trapo na cara em pleno ar livre. Prefiro não falar convosco ao vivo do que colaborar numa fantochada sem nexo e que, como se tem visto noutros países, até contribui para o aumento de casos positivos (vd. Itália). Sobre máscaras em zonas fechadas e com ajuntamentos (e.g., transportes públicos) vou continuar a cumprir.



DO "MILAGRE PORTUGUÊS" QUE NOS COLOCA NO GRUPO DOS PIORES OU DO "NEM SÓ DE COVID SE AVALIA UM SISTEMA

Nos últimos dias fiz uma análise cruzada de dois indicadores simples (keep simple) que revelam, por um lado, o impacte da covid e, por outro, como esse impacte se reflectiu no Sistema de Saúde dos países, sendo que o output é a variação da mortalidade total. Estão incluídos na análise 21 países da OCDE, tendo sido incluídos aqueles que tinham dados até Setembro de 2020, bem como as médias dos anos anteriores em período homólogo  (vd. metodologia em baixo).

Simplificando a análise, encontramos cinco grupos:

Grupo 1 - Situação má - inclui países com mortalidade por covid num nível médio a elevado e simultamente indícios de colapso do seu sistema de saúde (ou seja, agravamento da mortalidade total superior ao peso da covid)

* Chile

* Espanha

* Estados Unidos

* Reino Unido

* Holanda

* PORTUGAL   

* Israel


Grupo 2 - Situação sofrível - inclui países com mortalidade por covid num nível bastante elevado mas com bons indícios de ausência de colapso do seu sistema de saúde (ou seja, agravamento da mortalidade total inferior ao pesod da covid)

* Bélgica

* Suécia

* França


Grupo 3 - Situação razoável - inclui países com mortalidade por covid baixa (menos de 2% da mortalidade total) mas com ligeiro agravamento da mortalidade não-covid, embora em níveis baixos.

* Polónia

* Áustria

* Finlãndia

* Islândia


Grupo 4 - Situação boa - inclui países com mortalidade por covid superior á média mas com muito baixo agravamento da mortalidade total, reveladora de um bom funcionamento do seu sistema de saúde pública para afecções não-covid.

* Suíça

Grupo 5 - Situação excelente - inclui países com muito baixa mortaldide por covid (geralmente inferior a 2% do total) e com um muito ligeiro aumento da mortalidade total (menos de 1% em relação à média) ou mesmo uma redução, revelador de um sexcelente sistema de saúde pública.

* Alemanha 

* Estónia

* Dinamarca

* Noruega

* Nova Zelândia

* Bulgária

* Lituânia

* Hungria

* Letónia


Fonte: Our World in Data  (https://ourworldindata.org/excess-mortality-covid) e Worldometers, com tratamento de dados, segundo a seguinte metodologia: 1) cálculo da mortalidade total em 2020 até 20 de Setembro [excepto Hungria, França e EUA (até 6 de Setembro) e Nova Zelândia, Alemanha e Suíça); 2) cálculo da mortalidade por covid até até  respectiva data de referência, permitindo assim saber o peso da covid na mortalidade total; 3) cálculo da média dos cinco anos anteriores até à data de referência, permitindo assim saber a variação da mortalidade total em 2020 em relação à média.





DAS ONDAS QUE NÃO SE VÊEM

O Dicionário Houaiss refere que ONDA, por metáfora ou extensão de sentido, é uma força impetuosa; agitação, movimento intenso; ímpeto, torrente, tumulto; movimento sinuoso, ondulatório; ondulação, sinuosidade.

Sobre a omnipresente covid, a nossa imprensa - e julgo que quase toda a nível internacional, sobretudo nos países em histerismo colectivo - insiste em torná-la omnipotente e garante estar aí a SEGUNDA ONDA, que pode mesmo ser um TSUNAMI.

Predispus-me a calcular rapidamente as médias diárias de óbitos, por quinzena, e desde Março, para todo o Mundo, de modo a saber se o "bicho" mostra maior "ferocidade" ao longo dos meses, e que nos faça temer por um recrudescimento da gravidade da situação.

Efectivamente, e como se sabe, houve uma subida abrupta a partir de Março e até à primeira quinzena de Abril (6.679 óbitos por dia), seguindo-se uma descida de 36% até à segunda quinzena de Maio (4.236 óbitos), e depois uma subida até Julho para patamares entre 5,000 e 5.850 óbitos por dia, com pequenas flutuações sazonais (Verão-Inverno em função dos hemisférios). Ou seja, desde Julho, a agressividade da covid está estável: mata por dia 5.427 pessoas. Em média, por dia, morrem em todo o Mundo quase 162 mil pessoas.

Não há, assim, e pela evolução recente, qualquer sinal que indicie estar aí uma "segunda onda" pior do que a da Primavera, embora até julgue que possa surgir um aumento de mortes durante o Inverno por covid, sobretudo se a a incidência da pneumonia continuar em níveis muito baixos.

E muito menos me parece que venha aí qualquer crise apocalíptica para a Humanidade por causa da covid, sobretudo tendo em conta a estabilidade nos óbitos nos Estados Unidos e a tendência decrescente na Índia e Brasil. Estes três país contribuíram, até agora, com 44% do total de mortes por covid (e eles são 25% da população mundial).

Mesmo na Europa, apesar da subida nos óbitos neste mês de Outubro, não se observa evoluções similares às ocorridas em Março. Por exemplo, na Espanha a mortalidade mantém-se desde a segunda quinzena de Setembro em níveis estáveis, se se considerar a média de 7 dias. Na Itália, é certo que se passou de níveis em torno de 20 óbitos por dia no início de Outubro (dia 1) para 113 no dia 24. Mas notem que, em Março, foram precisos apenas seis dias para se passar dos 20 para mais de 100 óbitos, e ao fim de 17 dias ultrapassaram-se os 500 óbitos. Bélgica e Reino Unidos, fustigados na Primavera, estão com uma tendência de subida da mortalidade mas com um perfil de crescimento suave, e justificável numa doença que apresenta um claro "comportamento" sazonal. Alguns paíes de Leste (e.g. Hungria e Repúlica Checa) apresentam agora valores de mortalidade mais elevada mas deve-se, em grande parte, à baixa incidência na Primavera (e outros factores relacionados com o lockdown).

Pode existir um volte-face e vir mesmo aí o fim do Mundo? Poder, pode sempre. Mas se calhar tem que ser com outro vírus que não o SARS-CoV-2. O histórico da covid (e já existe histórico) não indicia que venha a provocar uma hecatombe mundial nem que haja uma segunda onda ou um tsunami. É efectivamente uma doença preocupante, sobretudo para idades mais avançadas (e certos grupos de risco), como infelizmente sucede com muitas outras (e.g., pneumonias). Mas deve ser tratada com racionalidade.

E eu, pessoalmente, temo mais a irracionalidade do que a covid, temos mais a irracionalidade que vê a covid como se fosse a única doença mundial a causar mortes, levando ao histerimo colectivo que, sim, neste caso, deixa morrer sem glória muita gente por colapso dos serviços de saúde, afectando irremediavelmente a vida em sociedade e desgraçando a Economia.

Ah, falo da Economia, não é? Pois bem, de onde acham que aparece o dinheiro dos Orçamentos da Saúe? Ah, e já agora, convém pagar contas para nos alimentarmos e, já agora, para podermos viver. Ah, e lembrem-se, antes disto, havia um Planeta a salvar por causa das alterações climáticas. Lembram-se?



domingo, 25 de outubro de 2020

DO SABER COMO OS PAÍSES SE "SAFARAM"

Vou, por agora, apresentar-vos dois gráficos para que, mais tarde, talvez amanhã, vos mostrar uma breve conclusão sobre como diversos países de um conjunto de países da OCDE (incluindo Portugal) se comportaram durante a pandemia, não apenas no que diz respeito à mortalidade por covid mas sobretudo nos cuidados assistenciais para as outras afecções. 

Como tenho dito, não vale a pena um país ter um desempenho razoável no combate a uma pandemia quando, em simultâneo, o respectivo serviço nacional de saúde descura tudo o resto. Portugal é um caso paradigmático, como tenho repetido, e esta análise apenas evidencia com factos. E com comparações. Não somos os piores, mas estamos muito longe do "milagre lusitano"; pelo contrário, os indicadores são preocupantes.

Os gráficos que em baixo surgem são os seguintes:

2) Variação (%) da mortalidade total em 2020 (até meados de Setembro) em função da média dos últimos cinco anos. (verde significa que houve redução; vermelho que houve excesso; Portugal está a amarelo)

1) Contributo (%) da covid para a mortalidade total em cada pais ao longo de 2020 (até Serembro, vd, nota final) 

Estes gráficos mostram duas distintas mas complementares perspectivas. Por um lado  revela-se que o impacte da covid (até Setembro) foi muito distinto regionalmente, mesmo na Europa. Por exemplo, enquanto na Bélgica por cada 100 óbitos por todas as afecções, 11 foram por covid, em Portugal foram apenasd 2 e em diversos países do Leste e nórdicos foi inferior a 1. Aliás, a maior incidência e mortalidade por covid no mês de Outubro em alguns países de Leste (e.g. Hungria) não surpreende demasiado. Portugal, neste aspecto, está numa posição bastante razoável, com o peso da mortalidade por covid muito mais baixo do qu Chile, Bélgica, Estados Unidos, Suécia, Espanha, França e mesmo Holanda e Suíça.

Por outro lado, revela-se que a covid levou a estratégias em termos de políticas públicas de saúde (e de Saúde Pública) que tiveram muito distintos efeitos. Com efeito, há um grupo de países que registou mesmo uma redução na mortalidade em relação à média; outros em que a covid teve um impacte mínimo; outros ainda que tiveram um agravamento na mortalidade total que não é explicada apenas pela covid (e.g., Portugal, que tem um excesso de mortalidade de 7,5% quando a covid representou 2,2% da mortalidade total); e outros ainda que, apesar de uma mortalidade elevada por covid, a mortalidade total teve uma variação inferior (revelador de os serviços de saúde terem conseguido dar resposta às outras afecções). Portugal, neste aspecto, não tem ums situação famosa: dos países em análise é o sétimo com maior acréscimo, com a agravante de a variação da mortalidade total ser superior ao peso da covid na mortalidade total. 

Mas uma análise cruzada (com um gráfico que cruza este dois), com maior detalhe, será apresentada mais tarde. E com conclusões para debate.

Fonte: Our World in Data (vd. aqui) e Worldometers, com tratamento de dados, segundo a seguinte metodologia: 1) cálculo da mortalidade total em 2020 até 20 de Setembro [excepto Hungria, França e EUA (até 6 de Setembro) e Nova Zelândia, Alemanha e Suíça); 2) cálculo da mortalidade por covid até até á respectiva data de referência, permitindo assim saber o peso da covid na mortalidade total; 3) cálculo da média dos cinco anos anteriores até à data de referência, permitindo assim saber a variação da mortalidade total em 2020 em relação à média.