quarta-feira, 14 de outubro de 2020

DAS T-SHIRTS QUE ENCOLHEM ATÉ AOS GORDOS AJUSTES DIRECTOS DE 22 MILHÕES DE EUROS À CONTA DA COVID (UMA HISTÓRIA LUSITANA)

Há 10 meses, se alguém andasse buscando por empresas de brindes que fizessem estampagens de t-shirts, porventura depararia com a ENERRE, uma empresa conhecida sobretudo por comercializar brindes e outros artefactos de merchandising. 

Não ficaria, contudo, bem impressionado com as avaliações de clientes: no Google, em 38 comentários, 15 são de 1 estrela (em 5). Um dos clientes afiança que «a qualidade dos produtos é baixa, os atrasos são constantes. O atendimento ao cliente do péssimo”. Outro, assegura que eles, a ENERRE, “pensam em tudo, menos no cliente», dando uma dica: “se quiserem estampados em preto, peçam em branco”. As queixas não são apenas de índole cromática. Um outro cliente lamenta que «sempre que a roupa é lavada, a roupa encolhe cada vez mais”, acrescentando que “só com 5 ou 6 lavagens, uma sweat tamanho L já está mais pequena do que roupa de 14 anos”. E, para terminar, mais um decepcionado cliente acusa a Enerre de vender gato por lebre: “Tshirts? Parecem tops…”.

Enfim, tudo isto se passou, de acordo com a data destes comentários, antes do início da pandemia, mas serão, porventura, frutos de más-línguas. Na verdade, os qualificativos da ENERRE só podem ser muito melhores. Excelentes, até. Talvez até fantásticos, tanto assim que diversas autarquias, alguns hospitais e até o Estado-Maior-General das Forças Armadas não duvidaram ser esta empresa, com estabelecimento ali para os lados da Matinha (Lisboa, vd. foto), a adjudicante ideal para, sem concurso público, e portanto por ajuste directo, lhes venderem uma parafernália de materiais e produtos de protecção contra a covid. 

Foi coisa pouca: desde Abril até 8 de Outubro de 2020, a ENERRE já encaixou, por via de 89 contratos por ajuste directo relacionados com a pandemia, a exacta maquia de 22.578.166,94 euros. Vamos aqui pôr em extenso, como se fosse um cheque passado pelos contribuintes: vinte e dois milhões, quinhentos e setenta e oito mil, cento e sessenta e seis euros e noventa e quatro cêntimos. 

Acresce ainda a esta pecúlio, o único contrato ganho por concurso público (ou seja, a ENERRE terá tido concorrência) no valor de uns “trocados”: 13.500 euros.

Para se ter uma ideia do Euromilhões que saiu aos gerentes da ENERRE – e, ironicamente, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) também lhes fez ajustes directos para material relacionado com a covid –, durante o período homólogo do ano passado (Abril-14 deOutubro) esta empresa apenas conseguiu arrecadar 122.914 euros a partir de entidades públicas. Ou seja, comparando com 2019, estes sete meses e meio do ano de 2020 registou um crescimento da facturação, apenas considerando os contratos públicos associados à covid, de cerca de 184 vezes mais! 

Excluindo os contratos da covid, este ano seria um ano “corriqueiro” para a ENERRE: no âmbito da sua habitual actividade, obteve apenas sete contratos públicos (quatro dos quais por ajuste directo), totalizando 177.388 euros. Ou seja, sem pandemia, nunca a Enerre sonharia com milhões.

A ENERRE teve direito a pequenas notícias em Março e Abril, quando alguns jornais (Público, Eco, Sábado, i, Visão, etc.) começaram a divulgar alguns ajustes directos com a autarquia de Cascais. Mas na espuma da pandemia, o caso ficou esquecido, e o negócio continuou a florescer, e muito, em outras paragens. Com efeito, sendo certo que a edilidade de Cascais (e uma sua empresa municipal) lidera o montante de ajustes directos (já vai em 11,55 milhões de euros), outras entidades fizeram entretanto a empresa (que faz t-shirts encolher tanto que parecem top) afzer engordar o mealheiro:  a autarquia de Lisboa “contribuiu” já com 1,57 milhões (em dois ajustes directos); as Forças Armadas com 1,30 milhões (em três ajustes directos) e o Hospital Fernando da Fonseca com 1,42 milhões (em 11 ajustes directos). 

Em valores mais reduzidos (mas em alguns casos de centenas de milhares de euros) estão ajustes directos adjudicados pela SCML, por mais 12 entidades hospitalares, por mais 9 autarquias (Albergaria-a-Velha, Albufeira, Aveiro, Ílhavo, Oliveira do Bairro, Santiago do Cacém, Sever do Vouga, Sines e Sintra) e por diversos institutos públicos, wentres outros. 

Tudo isto está no portal BASE – contratos públicos online. Tudo isto é legal. Tudo com o nosso dinheiro. Tudo isto é imoral. Tudo isto a continuar nos próximos meses. O regabofe vai ainda no adro. E máscaras e fatiotas de protecção são peanuts. Manter tudo isto vai dar muito dinheiro a uma pouca gente. Nada de novo. Já se viu o filme no passado.



terça-feira, 13 de outubro de 2020

DO VÍRUS QUE PERDEU FORÇA E SE MOSTRA AGORA MANSO

Decidi analisar para Portugal a evolução da taxa de internamentos (geral e em UCI, unidades de cuidados intensivos) por covid desde o início da pandemia, escolhendo períodos de 15 dias (não considerei 15 de Março, porque, naquela altura, havendo poucos casos, internava-se quase todos os positivos, quer fossem ou não graves).

Algumas evidências (muito) interessantes:

1 - O número de casos activos em 13 de Outubro é, nos períodos em análise, o mais elevado de sempre (32.964), quase o quadrúpulo de 1 de Abril (8.757), no pico da mortalidade por covid.

2 - Apesar desse aumento, o SARS-CoV-2 mostra-se aparentemente muitíssimo menos perigoso: no dia 1 de Abril estavam internados 119 doentes por 1.000 casos activos, dos quais 27 em 1.000 em UCI, enquanto em 13 de Outubro estão apenas internados 28 doentes por 1.000 casos activos, dos quais 4 em cada 1.000 nas UCI.

3 - O aumento dos casos activos no último mês e meio (mais que duplicou entre 1 de Setembro e 13 de Outubro, passando de 12.627 para 32.964) não mostra qualquer agravamento significativo da "agressividade" da doença: os internamentos passaram de 23 por 1.000 casos activos para 28, enquanto em UCI subiram apenas de 3,2 para 4,0 por 1.000 casos activos.

4 - Observa-se uma evidente estabilização da taxa de internamamento (geral e em UCI) desde 15 de Maio, com rácios que têm variados entre 23 e 39 por 1.000 casos activos (significa uma variação entre 2,3% e 3,9%) ao nível dos internamentos. No caso dos internamentos em UCI, o valor a 13 de Outubro (já em pleno Outono) é mesmo mais baixo que em pleno Julho.

Esta análise coloca em cima da "mesa" quatro hipóteses, que se podem conjugar:

a) o SARS-CoV-2 perdeu "agressividade", sendo agora incapaz de obrigar a níves de internamento (geral e em UCI) similares aos de Abril;

b) os casos positivos estão inflacionados por via da testagem massiva de pessoas sem sintomas. Deste modo, a taxa de internamentos nos meses mais recentes mostra-se enganadora, porque inclui, no denominador, valores não reais, porquanto se está a incluir muitos falsos positivos, ou seja, pessoas que não estão infectadas (apesar do resultado positivo) e, nessa medida, jamais podem desenvolver a doença e, nessa medida, nunca podem ser internados e muito menos seguirem para as UCI.

c) a mudança do perfil de infectados activos ao longo dos meses (impossível de ser comparado porque a DGS continua sem me conceder autorização para aceder à sua base de dados), resultando daí que, estando a covid a afectar população muito mais jovem, faz assim decair bastante a taxa de intermamentos.

d) o número de pessoas vulneráveis (maiores de 85 anos), que constituem um grupo muito susceptível a ser internado (e mais ainda em UCI) caso seja infectado, diminuiu significativamente nos últimos meses (este ano já morreram 40 mil pessoas com mais de 85 anos, sendo que a covid terá tido um peso inferior a 3% do total). Daqui resulta, indirectamente, uma impossibilidade de aumento relevante das taxas de internamento, sabendo-se que estas abrangem sobretudo os mais idosos.

Em todo o caso, esta análise confirma a percepção de estarmos muito longe de uma situação catastrófica, e temo muito mais que o SNS continue a meio gás, por via do clima de pânico que se está a reinstalar em força, e que advenha daí impactes negativos em termos de mortalidade total a curto e médio prazos.



DOS MISTÉRIOS

As infecções respiratórias, que têm em Portugal taxas de letalidade que rondam os 1,5%, estão este ano em baixa: as reduções rondam os 60%, como se podem ver no exemplo para o dia 11 de Outubro (comparando com anos anteriores). Tendo em conta que dos casos activos com covid apenas 2,7% estavam internados naquele dia (e 0,4% em UCI), seria bom a DGS esclarecer se existe algum motivo para tanto alarido em volta da mortalidade e dos internamentos (geral e nos UCI) se englobarmos covid e pneumonias.



DOS CEMITÉRIOS, DO ALIENISTA E DA DOUTORA GRAÇA ‘BACAMARTE’ FREITAS

Em 1882, o grandioso Machado de Assis publicou a magistral novela “O Alienista”.

Esta é obra que se mostra essencial para compreender o mundo covideiro de hoje quando, por exemplo, vemos a doutora Graça ‘Bacamarte’ Freitas (o doutor Bacamarte é o alienista da novela) a preparar, nas visitas aos cemitérios, um limite de cinco pessoas por 100 metros quadrados. 

Pergunto-me quando é que a doutora Graça Freitas terá o seu momento de lucidez para tomar uma decisão final similar à do doutor Bacamarte (leiam a novela para saber qual foi)...




segunda-feira, 12 de outubro de 2020

DA CEREJA EM CIMA DO BOLO DA PARVALHEIRA

Voo Milão-Lisboa na Wizz Air. A nossa DGS exige o preenchimento de uma declaração de localização a preencher no avião. Já tinha feito isso num voo de regresso da Suécia. Desta vez entregam-me um questionário em inglês. Começo a ver e todas as perguntas eram como se eu fosse para Espanha e não para Portugal. Chamo uma hospedeira (tradução):

- Este papel é como se fosse para entrar em Espanha. Mas o avião aterra em Portugal, não?

- Sim, mas não temos formulários de Portugal. Mas este tem perguntas quase iguais. 

- Desculpe, mas não vou preencher isto. 

E devolvi o papelucho, que aqui em baixo se mostra. Esta papelada deve ir mesmo para a DGS, deve... Isto se não fosse sério servia para rir.



DA NEGOCIATA

O Doutor Filipes Froes (vd. entrevista no jornal i) anda a espalhar, pior do que um vírus, a ideia de que existem “falsos negativos” nos assintomáticos (ou seja, pessoas que estão doentes mas que não são apanhadas nos testes) para assim incentivar a realização de mais e mais e mais testes. 

A verdade é o oposto: a sensibilidade e a especificidade dos testes (e ainda mais dos rápidos), a par da baixa incidência na população (assintomática), produz sim muitos e muitos falsos positivos (e praticamente nenhum falso negativo) em grupos sem sintomas.

O cheiro a negócio obscuro que anda para aqui causa-me cada vez mais nojo. E a nossa imprensa continua mansa... 

Parece que toda a gente já se esqueceu daqueles escândalos dos delegados de informação médica que subornavam há anos muitos médicos. Há muita gente a afiar o dente perante um negócio que só  em Portugal se aproxima dos 3 milhões de euros por dia. Os próximos tempos vão ser muito duros, mas não por causa da covid.



domingo, 11 de outubro de 2020

DA CEGUEIRA DOS NEGACIONISTAS

Apesar de as minhas análises serem sempre consubstanciadas por dados oficiais (alguns muitos escondidos), sou brindado, por vezes, com epítetos pouco dignificantes, além obviamente de muita gente (mesmo amigos fora do contexto facebookiano) colocarem em causa a minha idoneidade e as minhas capacidades, simplesmente por não ser virologista, epidemiologista ou o "diabo a quatro". Ataca-se o mensageiro face à incapacidade de encontrar falhas na qualidade da mensagem, para que, assim, se negue uma evidência, e assim se continue na espiral de medo. E a espiral de medo sustenta a inacção. E a morte.

Mais uma análise. E desta vez quase podem esquecer a covid, porque a análise é sobre o Verão, onde a doença quase se tornou irrelevante. Ou melhor: tenham em consideração que matou 398 pessoas durantes os 92 dias dos meses de Julho, Agosto e Setembro, que é muito menos do que a pneumonia matava em anos anteriores em período homólogo (sem que o Doutor Filipe Froes nos quisesse pôr de máscara nas ruas). E depois comparem a mortalidade total nestes meses de Verão com a ocorrida em anos anteriores desde 1996.

O mês de Julho de 2020 ultrapassou pela primeira vez os 10.000 óbitos, com um total de 10.430. Chegou mesmo a ultrapassar a mortalidade de Agosto de 2003, tristemente célebre por uma onda de calor que atingiu toda a Europa, matou mais de dois mil portugueses (relatório da DGS de 2004) e contribuiu para a queima de 350 mil hectares de área florestal nacional. Nem por sombras tivemos um Julho de 2020 similar aos de Agosto de 2003, quando se chegou a ultrapassar os 42 graus em Lisboa (e imaginem no interior do país). Além de Julho, Setembro deste ano, com temperaturas amenas, bateu recordes: nunca antes neste mês, o menos mortífero do ano em situação nornal, houve uma média diária de 300 mortes por dia (o total do mês foi de 9,008). Foi mais um morticínio silencioso e silenciado. 

Enfim, olhando para estes dados (oficiais), quem acha que a responsabilidade por esta hecatombe no recente Verão foi um acaso, ou foi por causa do tempo quente (não houve sequer onda de calor nos distritos do litoral) ou foi por dedo de Nosso Senhor que decidiu castigar os portugueses, e não foi o "estado de sítio" em que se encontra o Serviço Nacional de Saúde (SNS), só pode ser um negacionista. 

A evidência da mortalidade não associada à covid neste Verão, que ainda por cima atingiu sobretudo os mais idosos, é de tal modo avassaladora, é de tal modo superior à propria mortalidade causada pelo coronavírus (desde Março), que somente por uma dissonância cognitiva das graves se pode conseguir encontrar uma explicação. Achar que os morticínios do último Verão não tem relação directíssima com um SNS a meio gás é, sim, a atitude de um verdadeiro negacionista. E, neste caso, ser negacionista (e por se ser facção largamente maioritaria, e pactuar assim com a estratégia de um SNS em serviços mínimos) é contribuir passivamente para muitas mais mortes. E, ironicamente, mortes daqueles que essas pessoas estão a querer salvar a todo o custo de morrerem de covid. 

Nota: Limite inferior do gráfico: 20.000 óbitos.



DAS CRIANÇAS

 A Grécia tem 25% dos casos positivos acumulados de Portugal, 20% de mortes por covid, 30% de casos activos e as crianças vivem como crianças, e os pais com elas. Em Portugal, os parques infantis estão fechados porque, ai Deus, o SARS-CoV-2 só gosta de crianças lusitanas e nada de helénicas... Viajar é tão bom e simultaneamente tão deprimente. E causa raiva no regresso.






sábado, 10 de outubro de 2020

DAS INCONGRUÊNCIAS OU DAS VÁRIAS FACETAS DE UM ESTRANHO VÍRUS

Há dias contei aqui o meu desespero no aeroporto de Roma por ter sido obrigado por um funcionário da Ryanair a comprar uma máscara cirúrgica nos derradeiros momentos da entrada no avião para Malta. Quase perdi o avião, pois tinha uma máscara “social” com TNT. Andei a correr pelo terminal até encontrar a merda de uma máquina de vending... Hoje, no Ágora de Atenas só se poderia entrar numa exposição se se usasse uma máscara que não fosse cirúrgica... O SARS-CoV-2 que ataca nos aviões da Rayanair deve ser muito diferente dos que atacam em Atenas.



DA GRÉCIA E DE PORTUGAL

Ontem, na Grécia houve 306 casos positivos de covid. Em Portugal houve 1.646 casos positivos. Cinco vezes mais casos em Portugal... Meus senhores e minhas senhoras, jovens e jovens, meninos e meninas, vamos lá acabar com as festanças à noite em Portugal... espera! caraças, isto é Atenas há uns minutos...

Ver vídeo aqui.

DA COVIDZINHA DE 1998-1999 E DA PANDEMIA MORTÍFERA DE 2020

No Inverno de 1998-1999, no rescaldo da Expo-98, houve gripe. A habitual gripezinha. Portugal tinha então aproximadamente a mesma população de hoje, mas muito menos velhos: com mais de 85 anos contava apenas cerca de 145 mil pessoas, enquanto agora se aproxima dos 320 mil, ou seja, os muito idosos mais que duplicaram. No final do século XX, Portugal tinha, portanto, uma populalação teoricamente bastante menos vulnerável. 

Porém, nesse Inverno (do qual não tenho memória de ter sido mediaticamente relevante do ponto de vista da saúde pública, e eu era então jornalista no Expresso e na Grande Reportagem), a gripe bateu forte. Não lhe chamemos gripe mas sim "covidzinha", visto ser, assim o dizem, menos mortífera que a covid. Bom, escrevia então eu, a covidzinha de 1998-1999 bateu bem forte. Entre Dezembro de 1998 e Fevereiro de 1999 morreram, no total, 37.227 pessoas, sabendo-se que a covidzinha não deu apenas um pequeno empurrão. Passou por cima da vida de muita gente. Só em Janeiro de 1999 foram registados 14.737 óbitos (o pior ano de que encontro registos na base de dados do INE), o que significa uma absurda média diária de 475 caixões por dia! Terão ocorrido, acredito, alguns dias com mais de meio milhar de mortos.

A título comparativo, no período de maior mortalidade por covid (Março-Maio), registaram-se 30.642 óbitos. Comparando este valor de mortalidade total com aquele Inverno de 1998-1999, temos menos 6.585 óbitos em apenas três meses; menos 73 caixões por dia em sucessivos nove dezenas de dias. O mês mais mortífero de 2020 com influência da covid (Março) teve 10.619 óbitos, ou seja, uma média de 342 mortes por dia; e destes apenas cerca de 30 por dia foram por covid.

Houve mais três Invernos (1996-1997; 2014-2015 e 2017-2018) com trimestres de mortalidade acima de 35 mil óbitos. No gráfico que apresento destaco ainda os 10 meses mais mortíferos desde 1996 confrontando-o com o mês mais mortífero desde que apareceu por cá a pandemia.

Tenho manifestado a minha opinião, alicerçada por análises e atendendo aos estudos de muitos investigadores, que a covid é uma doença perigosa para as pessoas vulneráveis.Porém, a estratégia absurda que se tem estado a seguir em muitos países e particularmente em Portugal (com o desleixo na assistência médica em outras enfermidades) está a causar efeitos colateriais piores do que a covid. 

A manipulação mediática, o fomento da "cultura do medo" e as redes sociais que a fomentam, e os interesses num negócio de larga escala (a indústria dos testes em que vivemos, a que se seguirá a indústria da vacinação a larga escala, mesmo de jovens que estatisticamente não são afectados pela covid) estão a empurrar-nos para um mundo distópico. E temo que haja dificuldades em nos recompormos animicamente depois disto: a nossa vida está, como nunca, impregnada pelo medo da morte. Vejo isso pelo menos no olhar de quem usa máscara. E isso assusta-me mais do que a covid.



sexta-feira, 9 de outubro de 2020

DO VERÃO E DO NATAL DOS VELHOS (COM UM APELO)

 Marcelo Rebelo de Sousa está preocupado com o Natal dos velhinhos. Devia estar antes preocupado só com os velhinhos. Marcelo Rebelo de Sousa está preocupado com o Inverno dos velhinhos. Devia estar antes ter estado mais preocupado com o Verão dos velhinhos.

Enfim, eu já bem sei que isto é fazer chover no molhado; que a DGS, o Governo o Presidente da República, a Propaganda Mediática (leia-se, imprensa) e a maioria das pessoas que já corporizou em si o medo não mudarão de perspectiva. Que vai tudo ainda piorar nesta assassina "obsessão pela covid" que está a matar mais do que a covid. Mas, mesmo de férias, na bela Atenas (onde não se vêem muitas máscaras e a prevalência da covid é bem menor que em Portugal), não consigo aguentar e lá fiz mais umas análises.

Infelizmente, eu sei que não se vai querer jamais assumir (e a OMS é responsável por isso) que a covid se tornou particularmente mortal, pelo menos na Europa (e em Portugal) porque o surto gripal no Inverno de 2019-2020 foi particularmente benigno. Olhando para a mortalidade dos maiores de 85 anos (os mais vulneráveis e que apresentam taxas de mortalidade por ano da ordem dos 15%... é bom recordar que, infelizmente, os muito idosos morrem muito), os dois primeiros meses tiveram menos 1.530 óbitos do que o expectável. Neste caso, o expectável tem em consideração a taxa de mortalidade média (2014-2019) ponderada ao crescimento populacional deste grupo etário (i.e., considera o envelhecimento). 

Ora, foi uma parte deste grupo "sobrevivente", mas bastante fragilizado, que acabaria por ser morto pela covid. Mesmo assim, entre Março e Maio (período que registou um total, para todas as idades, de 1.424 mortes), o excesso de óbitos no grupo dos maiores de 85 anos foi de 727. Significa que entre Janeiro e Maio a covid, mesmo assim, não causara uma mortandade que pudesse ser considerada relevante. Na verdade, nos primeiros cinco meses do ano, era expectável que tivessem morrido 23.764 pessoas com mais de 85 anos, mas tinham afinal, mesmo com a covid, morrido 22.961 pessoas. Pode-se dizer até que essa situação ainda favorável se deveu às medidas de confinamento que então se tomaram.

Porém, o grande problema dos muito idosos é, além de morrerem mais facilmente, necessitarem, por isso mesmo, de cuidados de saúde mais continuados. Uma grande parte da população pode "sobreviver" facilmente com um SNS parcialmente suspenso por 6 meses ou mais ou aguentar umas temperaturas mais quentes; mas um idoso acima dos 85 anos não.Se lhe falta algo num momento crítico, fina-se.

Sucedeu isto particularmente no Verão. E numa dimensão muito pior do que a covid. Vejamos: no mês de Julho, o excesso de mortalidade para este grupo etário foi de 958; em Agosto de 86; e em Setembro de 270. No total, os três meses de Verão (ironicamente os mais benignos para os muito idosos) foram este ano particularmente mortíferos, ceifando a mais 1.314 pessoas. E isto num período particular em que a covid quase se mostrou irrelevante em termos de mortalidade. 

Tem sido esta triste evolução a partir de Julho - e não a covid -, no decurso de um SNS a meio gás (ou já sem gás), a agravar o já bem evidente excesso de mortalidade dos maiores de 85 anos mesmo considerando o envelhecimento populacional (Portugal tinha em 2019 cerca de 316 idosos nesta faixa etária). Os indicadores mostram que andam, cada vez mais, a morrer com uma enorme facilidade. 

Era bom (e este é o meu apelo) que os médicos olhassem para a sua consciência, e não ficassem indiferentes aos que anda a suceder nos últimos meses. Era bom que o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (e os seus investigadores) se compenetrassem que não são "janízaros" para "limpar" consciências políticas e ao serviço dos interesses de um Governo e de um partido que o sustenta, mas sim uma entidade ao serviço da Saúde Pública, e portanto ao serviço do público. Tenham mais medo do que está a suceder ao SNS do que à covid. Esta pode matar; mas a outra anda a matar muito mais; e de forma silenciosa e perniciosa.



DO CRIME EM ANDAMENTO

A covid - que nos traz aprisionados e em contínuo clima de pânico - foi até agora responsável por 1 em cada 4 mortes em excesso (relativamente à média). Significa que temos uma segunda "pandemia" (excesso de mortes não-covid) que é afinal três vezes mais mortífera. Para quem ainda não entendeu: desde 16 de Março até 6 de Outubro deste ano, 3 em cada 4 mortes não exceptáveis ocorreram por causas "anormais". Eu direi que grande parte desta principal "pandemia" tem como "vírus" o estado do SNS e a obsessiva estratégia anti-covid.

Já o Doutor António Costa, circunstancial primeiro-ministro da República Portuguesa, despacha o excesso de mortes não associados com a covid com um passa-culpas para a "temperatura elevada", como se o Sol fosse um bode expiatiório. E siga para bingo, como se fosse a coisa mais natural do Mundo.

Não é. O Verão é o período do ano em que, por norma, menos se morre. Este ano só o mês de Julho teve temperaturas elevadas mas as ondas de calor nem chegaram aos distritos povoados do litoral. O mês de Setembro foi relativamente ameno, mas mesmo assim continuou o excesso de mortalidade não-covid.

Continuem a meter a cabeça na areia como a avestruz. E grande parte dos médicos, e sobretudo aqueles que andam a apaparicar a estratégia do Governo, deviam envergonhar-se por assistirem candidadamente a este morticínio.



segunda-feira, 5 de outubro de 2020

DOS VELHOS QUE NÃO SE SAFAM OU DA MÃO QUE EMBALA A CEIFEIRA

Até agora morreram 1.352 pessoas com mais de 80 anos vítimas de covid. Vamos assumir até que tinham todos mais de 85 anos... Entretanto, em 30 de Setembro verificava-se um excesso de mortalidade no grupos dos maiores de 85 anos que atingia já os 5.395 óbitos. Em 30 de Junho era de 2.659 óbitos.

Portanto, num período de três meses (Julho-Setembto) em que morreram 359 pessoas por covid de todas as idades, o excesso de mortalidade nos maiores de 85 anos aumentou mais 2.736 óbitos.

A covid ao pé desta hecatombe é um diabrete. E, claro, virão daqui a nada muitos afiançar que a culpa disto não é da estratégia da DGS e do Governo. Na verdade, este excesso deve representar sim gente afortunada: são velhos que, embora morrendo antes do tempo, partiram felizes, porque não se finaram por covid... Agora sem sarcasmos: isto não é só atroz; chega a ser ridículo: monta-se uma estratégia para se proteger os idosos do SARS-CoV-2 e deixa-se depois que morram de tudo e mais de alguma coisa. Incluindo de abandono, e muitos sem sequer se poderem despedir da família. É como deitar o velhinho fora com a água dop banho. Triste e lamentável. E mais ainda ver tanto silêncio. Tudo entorpecido de medo e de deferência ao Governo e à Autoridade.



DA BRINCADEIRA DA SAÚDE PÚBLICA

Não vale já a pena usar eufemismos: a "brincadeira assassina" que corrói o nosso Serviço Nacional de Saúde continua sem fim à vista, e mata mais do que o SARS-CoV-2. Mesmo em férias, fiz uma actualização. O mês de Setembro costuma ser o menos mortífero em Portugal. A média diária de óbitos andava, no período 2009-2019, nos 256. Este ano atingiu-se o absurdo número de 300 por dia; no total do mês foram 8.999 mortes, das quais 153 de covid. Mas só se fala de covid (vergonhosa Propaganda Mediática), que representou 1,7% da mortalidade total, e nada se diz sobre o acréscimo de 17,2% de mortes que se registaram acima da média (2009-2019). Andamosa brincar à saúde pública, com o mete máscara, põe máscara, que ficará como símbolo do medo e da hipocrisia nesta pandemia. Olhar para o gráfico aqui em baixo dá-me uma raiva que só me apetece chamar assassinos a certas e determinadas pessoas. É que não só é assassino quem nos espeta um punhal; também é aquele que se desleixa (já não se por negligência ou intencionalmente) para aspectos vitais de saúde pública. Não tenham medo da covid; tenham medo sim do estado das coisas.