quarta-feira, 16 de setembro de 2020

DA INSANIDADE SOBRE A SEGUNDA VAGA (UMA ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DA PANDEMIA NA UNIÃO EUROPEIA)

Para este exercício, posso dizer-vos que demorei menos de duas horas a recolher os dados dos óbitos covid-19 por mês para cada país da UE-27, a fazer os cálculos para determinar a média diária por milhão de habitantes, e a fazer os gráficos. Humildemente, acho que isto é mais útil do que andar (como fez o Público) a "desvendar" no Google Maps os cafés que estão a menos de 300 metros das escolas. 

Porventura, a tabela e o gráfico não precisarão muito de interpretações, pela evidências, mas sempre vos digo cinco "coisas": 

1) achar que já estamos numa segunda vaga é acreditar, por exemplo, que 19,2 = 0,2 [vejam o caso da Bélgica, por exemplo, em Abril e Setembro];

2) achar que já estamos numa segunda vaga é acreditar que 2.550 = 185 [sendo que o primeiro valor se refere à média dos óbitos (valor absoluto) por dia em Abril e o segundo refere-se à média dos óbitos diários (valor absoluto) na primeira quinzena de Setembro];

3) achar que estamos numa segunda vaga é acreditar que os valores das manchas destacadas a vermelho, laranja e amarelo (Abril) são semelhantes aos valores de Setembro (vd. quadro);

4) achar que estamos numa segunda vaga é acreditar que as barras do gráfico em Abril ocupam a mesma área das barras dos meses de Junho, Julho, Agosto e Setembro;

5) achar que estamos numa segunda vaga é, enfim, estar à beira da insanidade, embora sem sanção, porque o mundo anda louco.




terça-feira, 15 de setembro de 2020

DAS CONSEQUÊNCIAS DO MEDO E DAS MÁS ESTRATÉGIAS

Decidi fazer um simples exercício: comparar a mortalidade total dos últimos 365 dias (14 de Setembro de 2019 a 13 de Setembro de 2020) com um período homólogo que tivesse tido um surto gripal relevante e também uma onda de calor no Verão. Escolhi assim o períod homólogo de 2016-2017.

Vejam como foi o surto gripal de 2016-2017 e comparem-no com o surto gripal de 2019-2020 e com o pico da covid de 2020. Mas depois comparem sobretudo os dois Verões.

Na verdade, apesar daquele terrífico pico da gripe de 2016-2017 (sobre o qual nem um ai se ouviu da DGS e do então Governo, já então liderado por António Costa), a mortalidade no período em análise (365 dias) acabou por ser inferior ao de 2019-2020.

Com efeito, para o mesmo número de dias registaram-se 111.150 óbitos em 2016-2017, enquanto em 2019-2020 foram 117.152. Ou seja, mais 6.002 óbitos para 2019-2020 (e ninguém diria, vendo aquele pico de gripe em 2016-2017). Grande parte desta diferença surge a partir de Julho. A diferença de mortalidade entre 1 de Julho e 13 de Setembro nos dois períodos em análise é de 4.066 óbitos.

Ou seja, este Verão, quase sem mortes por covid, está a ser devastador, donde continuo a insistir que a gestão da covid está a ser catastrófica, não por causa da gestão da covid propriamente dita, mas sim pela forma como se está continuadamente a descurar os serviços de saúde. Não estamos a morrer pelas balas do inimgo (leia-se, covid), mas de fome e sede (leia-se, falta de serviços de saúde para as outras afecções e doenças)

Nota: Análise feita com base nos dados do SICO-eVM. O período em análise para ambos os anos teve em consideração o ano bissexto de 2020, pelo que houve um acerto no calendário para 2016-2017, de modo a se compararem 365 dias.



DA REALIDADE, DA COVID, DA OUTRA PANDEMIA E DA NECESSIDADE DE SE ABRIR A PESTANA

Se considerarmos a taxa de mortalidade nos maiores de 85 anos (óbitos no grupo etário pela população no grupo etário), em 10 de Abril de 2020, no auge da pandemia, a taxa de mortalidade acumulada era de 5,0 óbitos por 100 habitantes, e estava muito abaixo da média (para o período 2014-2019). Aliás, estava abaixo mesmo do limite inferior do intervalo de confiança (a 95%), o que significava que, em proporção (note-se), estava a morrer muito menos pessoas deste grupo etário do que seria suposto, muito em parte pela gripe de Inverno não ter sido muito agressiva.

Entretanto, apesar de nos últimos meses a covid estar a matar muito menos, houve um agravamento na mortalidade nos mais idosos. E em 10 de Setembro a mortalidade acumulada estava já nos 11,37 óbitos por 100 habitantes, já um pouco acima da média. Para esta inversão contribuiu sobretudo o mês de Julho (que foi uma hecatombe para os idosos, muitíssimo pior do que a covid) e também os primeiros dias de Setembro.

Pergunta: a culpa desta inversão foi da covid? Ou antes foi de um sistema de saúde obcecado com a covid-19 mas que passou a borrifar-se olimpicamente no tratamento de todas as outras afecções? Ainda acreditam que está tudo bem com o SNS, e que a DGS e Ministério da Saúde andam a fazer um bom trabalho?

Nota: A taxa de mortalidade foi calculada em função da mortalidade em cada ano (para os períodos de referência, o dia 10 de cada mês) e da população estimada, segundo o INE. Isto significa que a taxa de mortalidade pode ser menor num determinado ano, mesmo havendo mais óbitos, se o grupo etário tiver entretanto aumentado. Num ano normal, no final de Dezembro, a taxa de mortalidades nos maiores de 85 anos ronda os 15 por 100 pessoas.







segunda-feira, 14 de setembro de 2020

DA ADIVINHA

Duas em cada três vítimas da covid em Portugal morreram nos meses de Abril e Maio. Pois bem, quem olhar para este quadro, que preparei (através do SICO-eVM) com os 20 dias mais mortíferos (óbitos por todas as causas) no total e por grupo etário, consegue adivinhar quais foram os piores meses em 2020? 

Foi Abril? Nã! Maio? Ainda menos! Vejam, vejam, é fácil de ver. Será que afinal se morreu mais nos meses em que a pandemia não existia ainda ou nos meses em que quase não matou? Vejam! Vejam por vós! As máscaras, que até o Marques Mendes quer que usemos na rua, ainda não nos tapam os olhos, mesmo se o medo irracional anda por aí a tapar muitos cérebros. 

Nota. As cores não têm nenhum significado qualitativo ou quantitativo; apenas servem para destacar (e agrupar) meses. 



domingo, 13 de setembro de 2020

DO HORROR DA IGNORÂNCIA

A Índia é agora apontada como o país que prova e justifica a manutenção (ou aumento) do pânico em redor da pandemia da COVID-19. Impressionam os números absolutos: só ontem houve 86.194 casos positivos e 1.076 mortes por covid; no total já se contabilizam 79.690 mortes por esta doença, que é quase tanto quantas as pessoas que morreram este ano em Portugal por TODAS as causas até finais de Agosto. Horroroso, não é? Não tanto.

A Índia tem cerca de 1,383 mil milhões de habitantes. Ou seja, 138 vezes mais população que Portugal, donde afinal os casos da Índia são equivalentes, à escala portuguesa, a 576 mortes no total (nós temos quase 1.900) e ontem morreu o equivalente a oito portugueses (em Portugal morreram 7), e os casos positivos de ontem são equivalentes a 623 casos (ontem tivemos 673).

Mas a Matemática tem sido a principal vítima da pandemia.



sábado, 12 de setembro de 2020

DA ANÁLISE ESSENCIAL PARA BEM COMPREENDER OS (FRACOS) EFEITOS DA COVID E OS (ELEVADOS) CUSTOS DA OBESSÃO PELA PANDEMIA NOS MAIS IDOSOS

Nas últimas semanas, também por razões profissionais, tenho olhado com mais detalhe para o efectivo impacte da covid, tendo em consideração o envelhecimento da população portuguesa, sobretudo após ter constatado que o grupo dos mais idosos (acima dos 85 anos) estava a crescer a um ritmo mais galopante do que pensava. Segundo as estimativas do INE, em 2013 viveriam 248.811 pessoas neste grupo etário, e em 2019 já eram 316.442. Um espantoso crescimento de 27% em apenas seis anos. 

Este crescimento tem um lado positivo - vive-se mais! -, mas um lado negativo: neste grupo é expectável que se morra  assim mais, muito mais, em cada ano, mesmo que não haja situações "anormais". É a simples, e lamentável, "lei da vida". Para se ter uma ideia, por norma, a taxa de mortalidade dos maiores de 85 anos é de 15% por ano (ou seja, morrem 15 pessoas em cada 100 em apenas um ano), cerca de três vezes superior à do grupo dos 80-84 anos (5,7%), quase cinco vezes superior à do grupo dos 75-79 anos (3,1) e aproximadamente oito vezes superior à do grupo dos 70-74 anos (1,8%).

Posto isto, quando olhamos para o impacte de uma epidemia (ou mesmo de surtos, como a gripe), na verdade, para sermos mais rigorosos, devemos olhar sempre para os números absolutos (porque cada número representa efectivamente uma vida), mas convém também saber o verdadeiro impacte através de uma taxa de mortalidade (ou seja, uma taxa relativa que considere as mortes absolutas em função da população desse grupo etário), se for possível aceder a esses dados.

Ora, embora não vos possa revelar todas as análises, e abrangendo outras faixas etárias (até por não ser este o espaço mais adequado), mostro-vos um simples gráfico que, apesar da aparente confusão de linhas, é extremamente elucidativo do (fraco) impacte da covid no grupo dos mais idosos. O gráfico revela, para cada ano com informação (2014-2020) a taxa de mortalidade diária (óbitos por 100 mil habitantes), tendo em conta as mortes no ano correspondente em função da respectiva população dos maiores de 85 anos.

Colocando a mortalidade neste perspectiva, chamo a atenção para quatro aspectos, alguns retirados deste gráfico, outros das análises que entretanto realizei, relacionados com o grupo dos maiores de 85 anos:

1) até Março, a taxa de mortalidade em 2020 era muitíssimo mais baixa do que na generalidade dos anos anteriores. Em final de Fevereiro, a taxa de mortalidade em 2020 era mesmo a mais baixa desde 2014. 

2) a covid, que teve o seu pico de mortalidade em Abril, implicou que em 2020 a taxa de mortalidade neste mês (e também em Maio)  foi a maior desde 2014, mas não de forma muito significativa,. Aliás, a taxa de mortalidade teve um pico nos 55 óbitos por 100.000 habitantes, que compara com picos que rondam os 80 óbitos por 100.000 habitantes nos surtos gripais de 2015 e 2017.

3) Embora já se observasse um excedente de mortalidade (em relação à média) não associada à covid, tanto em Março como em Abril, a taxa de mortalidade acumulada no dia 10 de Maio de 2020 (referência na minha análise para efeitos de comparação com os anos anteriores) era apenas a 5ª maior (em sete anos), em parte pela gripe em Janeiro e Fevereiro ter sido pouco mortífera. O ano de 2020 estava então, naquele dia, atrás dos anos de 2015, 2018, 2017 e 2019.

4) Porém, e esta é uma situação preocupante, os meses de Verão - que coincidiram com um abrandamente muito significativo das mortes por covid - foram trágicos para os idosos. No grupo dos maiores de 85 anos, o mês de Julho de 2020 foi de longe o pior, o de Agosto foi o terceiro pior e os primeiros 10 dias de Setembro foram também os mais mortíferos em termos relativos. Assim, a taxa de mortalidade acumulada em 10 de Setembro deste ano era já a terceira desde 2014, estando já apenas atrás de 2015 e 2018. Ou seja, este indicador (taxa de mortalidade acumulada) piorou exactamente nos períodos de menor abrandamento da pandemia.

Conclusão: Na minha opinião, esta análise mostra, por um lado, que o impacte da covid, mesmo sendo doença muito perigosa para os mais idosos, não atingiu proporções catastróficas mesmo no período Março-Maio no grupo etário mais vulnerável, tendo mesmo ficado aquém do impacte habitual das gripes (em 2015 e 2017 foram muitíssimo agressivas, pelo que não estou a minimizar nada). No cômputo geral, o impacte da covid no grupo etário mais vulnerável, vista na perspectiva da taxa de mortaldiade, foi episódico e somente com algum relevo por, em parte, a gripe em Janeiro e Fevereiro ter sido menos agressiva do que o habitual. Mais preocupante parece-me a mortalidade que se observou durante o Verão de 2020 que, de forma persistente, tem causado um número anormal de mortes de idosos. Esta situação, que se deverá em grande medida à inusitada concentração de meios do SNS na pandemia, em detrimento das funções habituais (e imprescindíveis), tem contribuído para um aumento da taxa de mortalidade acumulada em 2020, já bem acima da média, embora, saliente-se, não seja este o pior ano (repita-se, se olhado na perspectiva da taxa de mortalidade).



sexta-feira, 11 de setembro de 2020

DO VERÃO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO

Para vossa reflexão, eis uma análise sobre o morticínio de Verão, a verdadeira "pandemia". A covid, ao pé do que anda a acontecer, parece mesmo um "resfriado" se comparada com a hecatombe de mortes que persistem por causas não associadas à pandemia, mas antes sim pelos (des)cuidados ao nível do SNS.

Desde dia 20 de Junho, início do Verão, até 10 de Setembro:

a) a covid vitimou 327 pessoas, representando 1,27% das mortes totais.

b) morreram 25.669 pessoas, quando a média de 2009-2019 foi de 21.822 óbitos, significando um excesso de mortalidade de 3.847 óbitos. 

c) Nesta linha, por cada morto por covid durante o Verão registaram-se 10 mortos por causas não-covid acima da média.

d) Se considerarmos intervalos de confiança (que tem em consideração os famigerados desvios-padrão), o excesso de mortalidade no Verão de 2020 estará, por agora, compreendido entre 2.197 e 5.497 óbitos, não considerando o envelhecimento populacional.

e) O excesso de mortalidade no Verão de 2020 tem sido anormalmente consistente e persistente (vd. gráfico), com 69 dias (num total de 83) acima do limite superior do intervalo de confiança (a 95%) em relação média diária do período 2009-2019.

f) Apenas se registaram cinco dias no Verão de 2020 com mortalidade total abaixo da média (colunas verdes no gráfico).

g) Todos os dias de Julho e, até agora, todos os dias de Setembro (até dia 10) registaram valores de mortalidade total acima da média.

h) No Verão de 2020 registaram-se 52 dias consecutivos com mortalidade acima da média de referência (2009-2019), desde 22 de Junho a 11 de Agosto, um facto inédito. Desde 17 de Agosto, todos os dias têm estado também com mortalidade acima da média (25 dias consecutivos).

Conclusão: Vai ficar tudo bem! Claro que sim! A morrer-se a este ritmo, não haverá gente vulnerável para morrer por covid e gripe no próximo Inverno. E o Governo cantará vitória.



quinta-feira, 10 de setembro de 2020

DA HIPOCRISIA E DO JORNALISMO REVERENTE

"Não há bem maior do que a vida e esse é essencial", disse hoje António Costa. Por isso mesmo, toca a meter mais contingência por causa da covid-19, e nem uma palavra para o excesso de mortalidade que não pára. Morreram 28 pessoas com/por covid nos primeiros nove dias de Setembro, não foi? Não pode ser, não é? Não, não pode! 

Mas já é aceitável que em apenas nove dias (os primeiros deste mês de Setembro) possam morrer à vontadinha mais 221 idosos com mais de 85 anos do que a média (ou mais 159 se se considerar o limite superior do intervalo de segurança) sem que isso cause celeuma a ninguém, não é? Essas vidas não eram essenciais, pois não? Nem em qualidade nem em quantidade sequer, que foram muitas mais do que as mortes por covid em igual período.

Entretanto, não houve um, não há um, unzinho, um simples, um radical, um jornalista que seja que tenha tido a coragem (ou estudado os números para saber, se não for uma questão de coragem) para perguntar ao primeiro-ministro sobre o estado do SNS. Um sequer, para amostra de raridade, que tenha questionado o primeiro-ministro sobre o que vai fazer perante o mais que evidente excesso de mortalidade desde Março não associado directamente à covid. Um excesso de mortalidade associado sim à estratégia política da covid. E que anda a matar mais do que o SARS-Cov-2. E dessas vidas, pouco andam a valer para o primeiro-ministro.



quarta-feira, 9 de setembro de 2020

DO NUNCA MAIS SE DIZ: BASTA!

O PCP vai andar a "cozer" em banho-maria por causa do aumento dos casos positivos. A nossa Propaganda Mediática (leia-se, imprensa) continua ululante, a uivar e salivar com os casos positivos. Nem percebem o ridículo com que a História os brindará por andarem a contabilizar 'ad nauseam' os casos positivos e os mortos por covid, como se morrerem 25 pessoas em oito dias por uma doença infecciosa respiratória fosse o fim do Mundo. 

Tudo bem, já sabemos, a covid é uma doença grave para os mais vulneráveis, mas a continuar esta histeria, e o SNS a assobiar para o ar, daqui a nada é menos grave do que os suicídios. Não é exagero, nestes primeiros oito dias de Setembro, a covid está a vencer por 25-13. 

Entretanto, o mês de Setembro vai ser como os outros. Vai matar que se farta; será o sétimo consecutivo a matar mais do que a média, e desde pelo menos Maio não se pode culpar a covid. Nos primeiros 8 dias de Setembro estamos já com 2.369 óbitos por todas as causas; e a covid representou, portanto, uns "estrondosos" 1,05%! A média (2009-2019) é de 2.078 óbitos, portanto estamos já com um excesso de óbitos de 291, dos quais 266 são não-covid. Se se aplicar os intervalos de confiança, o excesso de óbitos estará então compreendido entre 181 e 401 óbitos. Disto a nossa Propaganda Mediática não quer saber. O Governo agradece. Aqueles que morrerem antes do tempo, não.

E vamos andar nisto enquanto não dissermos BASTA! (que já não se pode dizer chega!). Se estamos à espera da imprensa (ou da Propaganda Mediática), bem nos podemos sentar.



domingo, 6 de setembro de 2020

DO ELEFANTE COR-DE-ROSA NO MEIO DA CIDADE OU DA ESTRANHA PANDEMIA NOS JOVENS

A obsessão pela covid-19 é como uma manada de elefantes no meio de uma cidade; ninguém depois repara que, lá pelo meio, há um elefante cor-de-rosa. É desse que vos quero falar.

A covid-19 até agora matou 0-zero-0 jovens portugueses entre os 15 e os 24 anos. Contudo, ao longo deste ano da nossa desgraça de 2020, por outras causas (que se deveriam investigar), os óbitos neste grupo etário (que felizmente morre pouco mas provoca geral consternação nas raras vezes que sucede) estão muito acima daquilo que seria expectável, com especial destaque para Junho e sobretudoJulho, que apresentaram mortalidade muito excessiva para a época.

Com efeito, e conforme se pode observar no gráfico, nos primeiros oito meses de 2020, morreram 233 jovens, sendo que a média (2014-2019) é de 206 (aumento de 13%), e seria expectável (e sem considerar a redução no número de jovens) uma perda de vidas entre 196 e 217. Em todos os meses da pandemia, e sem que o SARS-CoV-2 tenha causado vítimas, os óbitos totais neste grupo etário nunca foi inferior à média (e Julho foi francamente mau). E até agora, DGS e Propaganda Mediática (leia-se, imprensa) nunca se dignou a falar sobre o tema, e a encontrar uma justificação.

Note-se que nos três grupos etários antecedentes (menores de 1 anos; entre 1 e 4 anos; e entre 5 e 14 anos), a mortalidade em 2020 está a ser menor do que a média (colocarei esses gráficos amanhã).

Enfim, isto para concluir que me causa muita estranheza ver tanto frenesi e chinfrim em redor do impacte desta doença (covid-19) na população escolar, mas poucos (ou quase nenhuns) darão importância à situação que aqui exponho.

De facto, cada vez mais convencido estou que "amestrar" a racionalidade das pessoas pode fazer com que olhem obsessivamente para a ordeira manada de elefantes, sem sequer  descortinar que há o tal elefante rosa, e que é esse, e apenas esse, que, afinal, anda a entrar nas lojas de cristais. E a escaqueirar tudo.



DO AMOR DA SUÉCIA AOS VELHOS

O título é provocatório, porque acredito que todos os países, e sociedades, amam os mais idosos, mas usei-o como contraponto ao que sucedeu, durante meses, em relação à suposta péssima e desumana estratégia da Suécia no combate à covid e na protecção aos idosos.

Focados e obcecados pela covid, a Propaganda Mediática (leia-se, imprensa) tem vindo a esquecer sistematicamente que a covid-19 não é a única doença mortal, nem sequer a mais mortal até no grupo mais sensível.

Hoje, publico a terceira análise comparativa entre Portugal e a Suécia, e (oh! surpresa!), apesar da mortalidade por covid naquele país escandinavo ser mais de três vezes superior à do nosso país (5.835 vs. 1838), na verdade quando se analisa os óbitos de todo o ano para a população com idade superior a 65 anos, o caso muda completamente de figura.

Entre Janeiro e 25 de Agosto, morerram na Suécia 28 pessoas com mais de 65 anos por 1.000 pessoas desta faixa etária; no caso português foram 30 pessoas. Mais duas, mas notem que é por 1.000 pessoas.Se se padronizar a população mais idosa de ambos os países para os 2.000.000 habitantes (cada um deles têm um pouco mais), significa que em Portugal morreram este ano mais 3.250 pessoas com idade superior a 65 anos, o que significa que, contas feitas, Portugal teve, para este grupo etário, 5,8% mais mortes do que a Suécia desde o início do ano. Quem cuida, afinal, melhor dos seus idosos?

Na verdade, conforme se observa no gráfico, com a evolução mês a mês, apenas em Abril, no pico da pandemia, a Suécia apresentou uma mortalidade na faixa dos maiores de 65 anos superior a Portugal. Em todos os outros meses, muito menos mortes na Suécia.

Mas, pronto, o que parece contar é se se morre ou não de covid, porque, por certo, os idosos que morrerm das outras demais doenças e afecções (vejam a impressionante diferença em Julho entre os dois países; uma silenciosa hecatombe em Portugal) estarão agora prestes a ressuscitar, ou então a gozar um lugar especial no Paraíso.

Portanto, continuem a achar que os suecos se borrifam para os velhos; continuem a achar que a estratégia portuguesa é a melhor; continuem a achar que não há problema de continuar a adiar consultas, exames e cirurgias.



sábado, 5 de setembro de 2020

DA SUÉCIA E DO NOSSO PORTUGAL, OU DA OUTRA PERSPECTIVA COM QUE SE DEVE OLHAR PARA A PANDEMIA DA COVID

Ontem apresentei aqui uma análise da taxa de mortalidade diária acumulada para os maiores de 65 anos entre Portugal e Suécia; agora apresento outra perspectiva, que me parece particularmente  interessante, pois permite interpretações sobre o desempenho específico em cada país.

Vejam assim, no gráfico, como evoluiu ao longo dos meses, tanto num país como no outro, a taxa de mortalidade diária (óbitos de maiores de 65 anos por 100.00 habitantes nesta faixa etária). A minha (discutível) interpretação segue em baixo.

1 - Janeiro e Fevereiro foram marcados por um período gripal de baixa intensidade, e até mais na Suécia do que em Portugal. Esta situação "poupou" muitas vidas na Suécia, mas que viriam a ser "ceifadas" com o surgimento da covid. Em análises anteriores já mostrei que a mortalidade em 2020 em Portugal nos dois primeiros meses foi inferior à média, pelo que se aplica a mesma interpretação, mas em menor grau.

2 - A mortalidade directamente relacionada com a covid, entre Março e Maio, foi muito mais intensa e duradoura na Suécia do que em Portugal. Na Suécia o pico da taxa de mortalidade diária chegou aos 17, enquanto que em Portugal se quedou pelos 15. Até finais de Maio, a diferença entre os dois países foi, para o grupo dos idosos, de 2 óbitos diários por cada 100.000 habitantes, o que significou, grosso modo, um acréscimo de óbitos na Suécia de cerca de 40 óbitos por dia em comparação com Portugal. Encontra-se aqui grande parte da diferença entre os dois países em termos de vítimas oficiais da covid. 

3 - Note-se ainda que a taxa de mortalidade diária em Portugal durante os piores meses de covid nunca ultrapassou o valor mais elevado de Janeiro (época gripal). No entanto, na Suécia, a mortalidade durante os piores meses da covid foi muito superior à dos meses de Janeiro e Fevereiro.

4 - Em finais de Maio, e durante cerca de uma semana, a taxa diária de mortalidade em Portugal suplantou a da Suécia. Aconteceu pela primeira vez desde o inícioda pandemia, e deveu-se a uma (já referenciada) onda de calor.

5 - A partir de Junho, e sobretudo de Julho, a taxa de mortalidade diária dos idosos na Suécia acompanhou a habitual tendência de decréscimo que se regista na Europa com a entrada do Verão. Mostra ser um sinal consistente de que a Suécia voltou à "normalidade" no final do mês de Maio.

6 - Ao invés, em Portugal, o mês de Julho foi marcado por uma fortíssima e muita atípica subida da taxa de mortalidade diária. Fortíssima porque suplantou mesmo o pico da mortalidade em Abril (pior mês da covid); muito atípica porque os acréscimo de mortalidade no Verão se devem geralmente a ondas de calor que são repentinas e de curta duração (uma semana no máximo), e no caso deste ano a mortalidade total andou sempre bem acima da média. Como já referido em outras análises, o excesso de mortalidade total foi, neste mês, de quase 2.200 óbitos, sendo que a covid apenas matou cerca de 150 pessoas.

Conclusão: o impacte da covid-19 deve ser feito, na minha opinião, à luz de quatro factores que, de forma muito significativa, influenciaram a mortalidade em 2020 no grupo dos mais idosos (65 anos ou mais): 

a) a época gripal; a covid-19 como doença mortal; 

b) as ondas de calor e outros eventos meteorológicosm como temperaturas elevadas; 

c) factores externos relacionados as funcionalidades do Serviço Nacional de Saúde (e,.g.,adiamentos de consultas e cirurgias);

d) "fuga" aos hospitais de pessoas com doenças súbitas, que acabaram por ser fatais.



sexta-feira, 4 de setembro de 2020

DA SUÉCIA MELHOR QUE PORTUGAL... OU DO PODEM CHAMAR-ME NOMES MAS A REALIDADE NÃO MUDARÁ POR CAUSA DISSO

Com algum trabalho, encontrei dados para comparar a evolução da mortalidade em 2020 entre a Suécia e Portugal mas incidindo EXCLUSIVAMENTE no grupo etário dos maiores de 65 anos, ou seja, retirando o efeito da estrutura etária dos dois países. Assim, fica-se a saber qual foi o efeito prático (mortalidade total) da estratégia contra a covid entre os dois países, independentemente da mortalidade desta doença. Como sabem, tenho defendido que uma morte é sempre uma morte, independentemente da causa, e que, por esse motivo, devemos analisar os efeitos da pandemia ao nível da mortalidade total, e não fazer avaliação apenas pelos óbitos por covid nem num curto espaço de tempo. 

Para esta minha análise, foi necessário saber a mortalidade total diária em cada país para os maiores de 65 anos (fontes: SCB e SICO-eVM, respectivamente, para  Suécia e Portugal), bem como a estimativa populacional deste grupo etário (SCB e INE, idem). A partir daí foi possível calcular facilmente a taxa de mortalidade diária desde 1 de Janeiro a 25 de Agosto (último dia com dados em ambos os países). A mortalidade foi padronizada para ambos os países, donde a leitura deve ser feita em óbitos de maiores de 65 anos por 100.000 pessoas com mais de 65 anos. 

Ora, surpresa das surpresas, ou talvez não: a incidência acumulada da mortalidade (taxa) nos idosos durante o ano 2020 tem sido sempre - REPITO, sempre - maior em Portugal do que na Suécia, mesmo quando no país escandinavo a covid-19 foi particularmente mortífera. Em parte, esta situação deveu-se aos meses de Janeiro e Fevereiro terem sido particulamentre pouco letais (gripe pouco intensa) na Suécia, o que fez com que o ponto de partida no início da pandemia fosse já desfavorável a Portugal. No dia 15 de Março, quando a covid começou oficialmente a matar no nosso país, a diferença na taxa de mortalidade entre Portugal e a Suécia era de cerca de 140 óbitos por 100.000 habitantes (maiores de 65 anos). 

Porém, esta aparente vantagem da Suécia, acabou por ser também uma desvantagem inicial, porque tinha uma faixa de população mais susceptível a uma doença particulamente perigosa para os mais idosos. Contudo, sendo certo que a covid-19 foi bastante letal na Suécia (em parte, também, porventura, da gripe invernal ter sido menos mortífera), na verdade a taxa de mortalidade acumulada para os idosos nunca ultrapassou a portuguesa, o que chega a ser surpreendente. O dia 24 de Maio foi aquele onde a diferença na taxa de mortalidade acumulada foi menor entre os dois países: Portugal tinha então 1.915 óbitos por 100.000 habitantes (com mais de 65 anos) e a Suécia 1.877. Essa diferença (38 óbitos por 100.000) aumentaria consideravelmente no período seguinte, não apenas porque a Suécia conseguiu controlar a covid-19 mas sobretudo porque o nosso país continuou a ter um excesso de mortalidade não-covid, que atingiu proporções pavorosas em Julho. Assim, no dia 25 de Agosto, a diferença entre os dois países era de 163 óbitos por 100.000: a Suécia apresentava uma taxa de mortalidade acumulada de 2.826 óbitos por 100.000 habitantes (com mais de 65 anos) e Portugal tinha já 2.989.

Conclusão (para fazer ranger os dentes aos alarmistas): os idosos na Suécia estão a ter um ano menos "horribilis" do que os idosos de Portugal, independentemente da covid. É que, efectiva e lamentavelmente, parece que  há muitos que se esquecem (incluindo a Propaganda Mediática) que há outras "coisas" que matam, e não apenas a covid-19. Mas, tão mau como isto: enquanto na Suécia se respira normalidade, em Portugal o pânico está em picos inimagináveis e o bloqueio anímico e económico está para durar. Triste ano, este o nosso. E não culpemos apenas o SARS-CoV-2. A estratégica com que estamos a enfrentar o vírus é talvez pior do que o dito.

Nota: Para os mais distraído, diga-se que esta comparação é feita para a proporção de idosos de ambos os países, ou seja, elimina o efeito da estrutura etária mais jovem (ou menos envelhecida) da Suécia. Os dados da Suécia podem ser consultados a partir daqui: https://www.scb.se/en/About-us/news-and-press-releases/statistics-sweden-to-publish-preliminary-statistics-on-deaths-in-sweden/ . Os dados portugueses a partir do SICO-eVM, já aqui bastante divulgado, e as estimativas da população por grupo etário na base de dados do INE. Em todo o caso, a estimativa da população com mais de 65 anos em Portugal é de 2.262.325 e a da Suécia de 2.065.367. As mortes de pessoas com mais de 65 anos, até 25 de Agosto, foi de 58.367 na Suécia e de 67.610 em Portugal (fazendo as contas por 100 mil habitantes chega-se ao valor já acima indicado).



quarta-feira, 2 de setembro de 2020

DA "FORÇA' DA OUTRA PANDEMIA QUE NÃO INTERESSA

Sexto mês consecutivo com mortalidade total acima da média, mas sobretudo quarto mês consecutivo em que o excesso de mortalidade não-covid suplantou, em muito as mortes por covid-19. Desde Março, somente no mês de Abril, as mortes por covid-19 suplantaram aquela que, para mim, deveria ser a principal preocupação das autoridades de saúde portuguesas. No mês de Agosto tivemos temperaturas bastantes amenas, mas mesmo assim teve-se o segundo pior registo desde 2009, apenas suplantado por 2018 (que teve uma onda de calor particularmente mortífera). O excesso de mortalidade, em relação à média, como podem ver no gráfico, foi de 737 óbitos, sendo que apenas 87 foram da responsabilidade da covid. Continuem a achar que isto nada tem a ver com o estado do SNS...



domingo, 30 de agosto de 2020

DA VERGONHA ALHEIA, OU DA ANÁLISE À SUPOSTA SEGUNDA VAGA, OU (AINDA) DA ESMAGADORA MAIORIA DOS PORTUGUESES (TALVEZ MAIS DE 90%) QUE NEM SEQUER ENTENDERIA A ANÁLISE QUE EU FAÇO AQUI EM BAIXO SE A LESSE, MAS LENDO-A ME CHAMARÁ NOMES FEIOS

Os fracos conhecimentos em Matemática e raciocínio analítico da maior parte da população (que faz com que muitos adultos, mesmo aqueles bem letrados, saibam pouco mais do que fazer contas pelos dedos), permite as mais descaradas manipulações, agora bem patentes na forma como a generalidade "engole" a narrativa da segunda onda da pandemia da covid, que, dizem, está aí já bem evidente. Muitos pensam até estarmos já bem piores do que em Março ou Abril, predispondo-se, em manso rebanho, a aceitar tudo, daqui a nada o uso de máscara nas próprias casas, incluindo prémios aos vizinhos que façam delações.

No discurso empolado pela PM (Propaganda Mediática, outrora conhecida por Imprensa) fala-se na imperiosa necessidade de mais e fortes restrições por causa do aumento do número de casos positivos, como se isso fosse o facto mais relevante no caso da covid, e não a incidência por grupo etário, que essa sim tem influência directa no número de mortes.

Embora não seja particular apreciador de analisar o impacte da covid através dos casos positivos (apenas a ponta do icebergue, dado a existência de uma elevada quantidade de assintomáticos) e das mortes por covid (dado os diferentes métodos de catalogação nos diferentes países), predispôs-me a fazer análises comparativas em seis países (Alemanha, França, Espanha, Itália, Suécia e Portugal), confrontando os casos positivos e as mortes covidianas (por dia e milhão de habitantes) em dois períodos distintos: Março-Abril (que com excepção da Suécia, correspondeu ao pico da pandemia) e Agosto (primeiros 29 dias).

Como se pode observar nos dois gráficos, apesar do aumento de casos positivos em Agosto (sobretudo se comparado com Julho e Junho, que aqui não apresento, mas que é efectivo), e que em alguns países (e.g., França e Espanha) ultrapassa os números registados no pico da pandemia, certo é que a mortalidade é agora muitíssimo mais baixa. E quando digo muitíssima é mesmo muitíssima. Por exemplo, na Espanha registam-se em Agosto apenas 0,4 mortes por milhão de habitantes, quando em Março-Abril foi de 8,6 por dia em cada milhão. Em Itália, o mês de Agosto tem apenas 0,1 mortes contra 5,4 mortes por dia em cada milhão de habitantes durante o pico da pandemia. Mesmo em Portugal (que é aquele que menor redução apresenta nesta amostra), Agosto tem 0,3 mortes diárias por milhão contra 1,6 mortes diárias por milhão em Março e Abril (e só houve mortes a partir do dia 15 de Março).

Nesta linha de racicocínio, fácil é entender (ou devia ser) a evolução da taxa de letalidade da covid. Com excepção de Portugal, todos os outros cinco países apresentam taxas de letalidade em Agosto inferiores a 1%. [Aliás, a excepção para Portugal mostra que o nosso desempenho não é tão extraordinário no combate à doença]. Estes valores contrastam com taxas de letalidade em Março-Abril que rondavam os 10% ou estavam acima em alguns destes países, como a França, Espanha, Itália e Suécia. 

Daqui resultam várias hipóteses: menor virulência do SARS-CoV-2 no Verão, menos incidência de contágios na população idosa e melhoria na eficácia dos tratamentos médicos. Mas nunca jamais se pode inferior por aqui, muito pelo contrário, a necessidade de um agravamento das medidas, porque elas apenas alimentarão o pânico e adiam, por tempo, e sobretudo em Portugal, o retomar da normalidade que já não era boa) do SNS. E esse adiamento sim, causa(rá) muitas mortes.

Enfim, observar os argumentos de que estamos numa segunda vaga, agarrarem-se a isso para justificar mais medo, observar o pânico nas pessoas por via desta "narrativa" enviesada, deixa-me cheio de vergonha alheia. A falta de conhecimento de Matemática, daquela mais básica, dá nesta distopia em que vivemos. Governantes sem escrúpulos agradecem. E para aqueles que veem o absurdo desta situação, esqueçam aquele delicodoce adágio que diz poder-se ser rei em terra de cegos, bastando ter um olho. Na verdade, quem tiver um olho, não conseguirá fazer nada perante a chusma de cegos a correr em pânico a impor máscaras como se elas fossem a solução (não o eram na Peste Negra, diga-se). A única coisa que pode ter alguém com um olho, nestes tristes tempos, é a consciência de viver num mundo louco. Porém, temo, que isso o levará à loucura.