domingo, 24 de maio de 2020

DOS MÁRTIRES E DOS OUTROS

Sucedem-se as homenagens às vítimas da covid. Hoje é a vez do New York Times, que pespega nomes e apelidos desses mortos, e titula: “uma perda incalculável”. À primeira vista é um gesto bonito, mas deixa uma sensação de “tempos normais”, embora de sabor estranho... Nos “tempos normais”, um “morto ocidental” é mais sentido do que um morto africano” ou um morto asiático”: é a proximidade, dizem. Agora, parecem dizer-nos, com estas homenagens, que um “morto ocidental por covid” é um mártir, não é um número. E assim deve ser...

Porém, coisa estranha: e os outros, sim, os outros, que por acaso em número até são mais de 10 vezes mais (em Portugal 94% de todos os mortos desde 15 de Março são de outras patologias)? Esses outros já não são mártires, já não merecem homenagem? Nem aqueles que soçobraram exactamente porque à conta da covid a assistência hospitalar os colocou em segundo plano?



sexta-feira, 22 de maio de 2020

DAS CORES

Andamos há dois meses condicionados e alarmados pelo ROXO (covid); a DGS e o Ministério da Saúde estão a borrifar-se para o VERMELHO (não-covid), que é maior do que o ROXO; e ninguém alguma vez se interessa com a quantidade de AMARELO (mortalidade base de uma infinidade de doenças e outras causas)... É só isto!

DO 'FICA EM CASA'... PARA MORRER

A evolução dos óbitos registados no domicílio entre a segunda quinzena de Março e o final da segunda quinzena de Abril indicia que a pandemia trouxe níveis de medo que terão implicado, em alguns períodos, o surgimento de doenças súbitas, e um afastamento das urgências mesmo perante sintomas graves, que resultaram num inusitado acréscimo de óbitos evitáveis.
Com efeito, nas semanas anteriores à pandemia, e depois do abrandamento do surto gripal, os óbitos diários no domicílio do falecido rondavam os 80. Na primeira quinzena de Março, a média diária foi de cerca de 83. Em 16 de Março, dia da declaração da primeira morte por covid-19 em Portugal, os óbitos no domicílio subiram para 110 e, dois dias depois, sendo anunciado o primeiro Estado de Emergência, atingiram os 126, representando 38% do total, um recorde do ano. A média móvel manter-se-ia acima da centena de óbitos diários até 17 de Abril, descendo apenas para os níveis anteriores à pandemia na última semana de Abril.
Sendo certo que, sobretudo durante o mês de Abril se foram intensificando os alerta de médicos, bem como análises que apontavam para uma redução diária de 191 mil visitas às urgências hospitalares durante o primeiro mês e meio da pandemia (Nogueira et al., 2020), esta situação perdurou por demasiado tempo, contribuindo muito para o acréscimo de mortes por patologias não relacionadas com a covid-19. Se confrontarmos as mortes no domicílio na segunda quinzena de Março e primeira quinzena de Abril com a média da primeira quinzena de Março, estima-se então um excesso de 658 mortes potencialmente evitáveis apenas por esta via. Efacto, se o período 16mar-15abr registasse a mesma média diária da primeira quinzena de Março (83,47 óbitos) seria expectável a ocorrência de 2.671 mortes, mas na realidade observaram-se 3.329.
No entanto, o excesso de mortes não se registou apenas no domicílio. Estimativas recentes indicam excesso de mortalidade que ronda, pelo menos, as duas mil mortes, sendo que apenas metade se deveram à covid-19.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

DO DEBATE NECESSÁRIO

Além da questão de saúde pública, o debate sobre os efeitos da covid-19 deveria focalizar-se na forma como devemos gerir uma sociedade que, como nunca antes, convive com quatro gerações: bisavós, avós, pais e filhos. A esperança média de vida duplicou em um século (de 40 para 80 anos na maioria dos países desenvolvidos). Em consequência, a população idosa, e mais vulnerável em termos de saúde, disparou: por exemplo, nos países da União Europeia, os maiores de 65 anos passaram de um total de 9,5% da população em 1960 para 20,2% em 2018. Os maiores de 85 rondam já cerca de 5% da população. Que fazer numa situação em que devemos tentar proteger os idosos, prolongando-lhes a vida finita por mais alguns anos, sem condicionar o direito ao usufruto pleno da vida pelas populações mais jovens? No caso particular da covid, tal como já sucedia com a gripe, os idosos são particularmente afectados, ao contrário dos mais jovens (menos de 45 anos, por exemplo), para os quais estas doenças não causam qualquer problema (a mortalidade por este tipo de doenças é muitíssimo diminuta). Devemos assim centrar os nossos esforços em soluções que conciliem uma protecção efectiva dos idosos nos períodos mais críticos (Inverno, por exemplo), deixando os mais jovens viver livremente? Ou devemoos antes, como até agora, fazer lockdowns e impor regras restritivas gerais e cegas, de sorte que parecemos estar a viver num mundo distópico? Tenho reflectido sobre isso, mas não tenho soluções. Tenho é notado que não se tem discutido estes aspectos fulcrais; pelo contrário, insiste-se na alimentação do medo, e do "confinamento" da racionalidade.


quarta-feira, 20 de maio de 2020

DOS FACTOS


Sem mais comentários, eis o "milagre lusitano", confrontando a variação do PIB do primeiro trimestre de 2020 (em comparação com período homólogo de 2019) com os óbitos por milhão de habitantes: de entre os 20 países da UE que já divulgarem as contas dos primeiros três meses do ano, Portugal foi o 13º com «melhor» desempenho económico e é o 14º melhor em termos de desempenho na luta contra o SARS-CoV-2.


terça-feira, 19 de maio de 2020

DO MEU STATEMENT PARA MEMÓRIA FUTURA


Para esclarecimento, e para remeter àqueles que têm andado ingloriamente a tentar "infernizar-me" a vida - ignorando que me dou bem como o diabo (para quem conhece os meus romances...) -, em baixo segue uma síntese das minhas opiniões, consolidadas pelas leituras, análises e reflexões que tenho feito ao longo de mais de dois meses:

1 - A covid-19 é uma doença perigosa sobretudo para os idosos, e especialmente para os maiores de 85 anos. 2 - A covid-19 não representa qualquer perigo relevante para a população com idade inferior a 55 anos, exceptuando-se, porém, os casos individuais de pessoas com alguma vunerabilidade. Contudo, essas pessoas são vulneráveis a outras mais doenças. 3 - Portugal teve uma resposta bastante satifastória ao nível do controlo da pandemia na fase inicial, embora com falhas evidentes na forma como não conseguiu conter algums surtos no região do Porto, Braga e Aveiro. No caso específico de Ovar, a cerca sanitária não teve qualquer efeito na contenção, porque existiam focos muitos activos no exterior. 4 - A gestão do medo, desde Março, foi catastrófica. A comunicação do Governo/SNS, ao nível do Estado de Emergência, não conseguiu sossegar a população, de sorte que se verificou uma fuga às urgências e concomitantemente um acréscimo da mortalidade (como fica patente nas análises da mortalidade no SICO). O SNS tinha mecanismos e instrumentos para identificar esses casos em tempo útil (o SICO é uma ferramenta excepcionalmente boa, pioneira no Mundo, e que deveria ser mais usada em vigilância activa). 5 - Observa-se claramente um excessso de mortalidade desde o início de Março, e que continua ainda ao longo deste mês de Maio, mesmo registando-se um decréscimo da actividade do coronavírus. Atinge, mais uma vez, os mais idosos, e a tal ponto que a mortalidade por causas não explicadas pelas covid é superior à causada pela covid. Ou seja, em vez de uma, temos duas pandemias, sendo que uma delas (a não-covid) está a ser menosprezada pelo Governo/SNS. Temo que venha a ter consequências dramáticas ao longo dos próximos meses. 6 - O desconfinamento deveria ter sido diferenciado em função das regiões, uma vez que Portugal sempre apresentou níveis de incidência da doença bastante distintos, com o Norte e o Centro a apresentarem situações mais graves. Mais uma vez o SICO poderia ser um instrumento para auxiliar a definição desse desconfinamento regional. 7 - As novas regras de funcionamento para as creches são aberrantes, lesivas para as crianças e sem qualquer vantagem profiláctica, tendo em consideração que elas são um grupo de risco nulo. Se se receia que sejam transmissoras para idosos, seria mais humano que se evitasse o contacto entre os idosos e as crianças, e não impor regras que elas não entendem e as podem traumatizar. 8 - As novas regras de funcionamento para as praias são uma anedota de mau gosto. 9 - A comunicação social tem, em termos globais, contribuído muito para alimentar o medo. A quantidade de notícias com títulos alarmistas (com o recurso ao verbo PODER) atinge níveis de insanidade. Por norma, quase todos os órgãos de comunicação social têm seguido a "linha informativa" do Governo, não questionando, por exemplo, o grave problema do excesso de mortes por outras causas. 10 - Defendo há muito que sejam feitos testes serológicos, como outros países já fizeram, de modo a estimar, com alguma aproximação à realidade, o grau de contaminação no país, e determinar com rigor os riscos para o futuro. Portugal continua a gerir a pandemia às cegas. A conclusão dos anunciados testes serológicos apenas para Julho não é compreensível nem satisfatório.

DO NEW YORK TIMES, QUE ESTRAGA A PERFOMANCE DE PORTUGAL

Leiam a citação e vejam os quadros: os números não fogem nada dos cálculos que eu tenho vindo a apresentar. Portugal surge com um excesso de mortalidade de 16% entre 16 de Março e 26 de Abril, cerca de 1.000 óbitos a mais não explicados pela covid (ou seja, por falta de tratamento para outras afecções). Ou seja, confirma que há uma pandemia no nosso SNS pior do que a covid (que até àquela data tinha matado 903 pessoas), como tenho vindo a dizer... Para horror dos que zurziram em mim pelas comparações com os "frios" suecos, o excesso de mortalidade na Suécia é de 28%, mas os óbitos por falta de tratamento cifram-se em apenas 400. E isto, como tenho vindo a repetir, não é uma corrida curta. A mortalidade na primeira quinzena de Maio continuou, em Portugal, muito acima da média, sobretudo na população com mais de 85 anos..

«Over the last two months, far more people have died in most of these countries than in previous years, The New York Times found. The totals include deaths from Covid-19 as well as those from other causes, likely including people who could not be treated as hospitals became overwhelmed.»

segunda-feira, 18 de maio de 2020

DO MAU RESULTADO SEM SER CATÁSTROFE (dos efeitos sobre os idosos com mais de 85 anos)

Não é já novidade para ninguém duas coisas:

a) a covid-19 é particularmente grave para os maiores de 85 anos;

b) a faixa etária mais «susceptível» a deixar o mundo dos vivos, independentemente da covid-19, é a dos maiores de 85 anos.

Ora, se juntarmos, na equação, covid + medo + isolamento + descontrolo do SNS, temos um resultado muito pouco satisfatório, mas que, numa análise mais detalhada, não se mostra catastrófico.

Nesta madrugada estive a calcular, com o detalhe possível, a evolução da mortalidade por faixa etária do período compreendido entre 1 de  Outubro de 2019 e 15 de Maio de 2020 (1out-15mai2020), que corresponde, grosso modo, ao período de vigilância gripal, seguindo o modelo do Instituto Nacional de Saúde.

Vou-me debruçar, por agora, na faixa dos maiores de 85 anos, que constitui o problema mais sensível, onde se detectam situações preocupantes, por um lado,.mas também não demasiado catastróficas, numa perspectiva de saúde pública.

No primeiro gráfico encontra-se espelhada a variação da mortalidade neste período, onde se destaca, a partir da segunda quinzena de Março:

a) a mortalidade "explicada", que até 15 de Março representa a mortalidade efectivamente verificada, e a partir de 16 de Março a mortalidade média expectável (mortalidade basal), considerando a média dos últimos cinco anos para esse período) - mancha verde 

b) os óbitos por covid dos maiores de 80 anos (a DGS não faz coincidir as faixas etárias entre os boletins da covid e o SICO, não sei porquê, pelo que assim se pressupôs que todos os óbitos de maiores de 80 anos eram efectivamente só de pessoas com mais de 85 anos) - mancha vermelha

c) SINPADE (Síndrome de Pânico e de Descontrolo do SNS (como há dias referi), e que representa o acréscimo de mortalidade, em relação à não explicada pela covid - mancha amarela

Significa isto que a soma destas três componentes constituem a mortalidade total, por dia, para este grupo etário. Obviamente, antes de 15 de Março, como não se registaram oficialmente óbitos por covid (embora se registe já um incremento na primeira quinzena desse mês, o que denuncia que a covid já estaria então a causar vítimas), o total de óbitos é apenas a da mancha verde (mortalidade "explicada").

Ora, uma breve análise visual mostra que a área da mancha vermelha (covid) é ligeiramente inferior à da mancha amarela (SINPADE), sendo que a soma das duas representa o excesso de mortalidade no período, Em termos numéricos, entre 16 de Março e 15 de Maio morreram este ano 9.136 pessoas deste grupo etário contra uma média em período homólogo de 7.337, o que significa um acréscimo de 1.799 óbitos. Destes, 807 foram por covid (um valor que pecará por excesso, devido a se ter contabilizado todos os óbitos dos maiores de 80 anos como se fossem da faixa dos maiores de 85), enquanto 992 óbitos terão sido devidos ao SINPADE. Ou seja, a covid explicará, nesta perspectiva estatisticamente simplificada, menos de metade do acréscimo de mortalidade. Aliás, para o período da pandemia em análise (16mar-15mai), a covid terá sido responsável, no máximo, por 8,8% das mortes nesta faixa etária (807/9.136).

Um exemplo evidente de não ter sido a covid a explicar a totalidade do acréscimo de mortalidade observa-se no dia 4 de Abril, quando morreram 199 pessoas com mais de 85 anos, mas a DGS indicou apenas 20 óbitos de pessoas com mais de 80 anos (repete-se que se pressupôs que este grupo integrava totalmente a faixa de maiores de 85 anos). Para esse dia seria expectávela ocorrência de 131 óbito neste grupo etário. Ou seja, para este dia estimou-se 48 óbitos para o SINPADE.

Para mostrar, noutra perspectiva, que a pandemia, nas suas duas vertentes (covid e SINPADE), foi particularmente agreste para este grupo etário, saliente-se que, em média, para este período (16mar-15mai), os óbitos de maiores de 85 anos representam 40,5% do total, mas este subiram para 44,1% .

Para o período em análise mais longo (1out2019-15mai2020), que inclui portanto o surto gripal desta época e a pandemia da covid (e seus efeitos colaterais), contabilizam-se 32.621 óbitos no grupo dos maiores de 85 anos, um acréscimo de 2.172 óbitos em relação à média dos últimos cinco anos. Significa isto que o acréscimo de óbitos pelo surto gripal desta época (com pico em meados de Janeiro, mas com incidência a partir de Outubro) foi apenas ligeiramente acima da média.

Saliente-se, contudo, que, apesar da pandemia da covid (e seus efeitos colaterais), a época 1out2019-15mai2020 (com 32.621 óbitos para o grupo dos maiores de 85 anos) foi pouco mais mortífera do que a época 1out2017-15mai2018 (com 32.474 óbitos), que teve um período gripal bastante longo. O Instituto Nacional de Saúde viria mesmo a estimar, para essa época de gripe 2017/2018 um excesso de mortalidade por todas as causas, entre as semanas 52/2017 e 9/2018, de 3.714 óbitos (15% superior em relação ao esperado). 

Em todo o caso, diga-se, a mortalidade no período 1out2019-15mai2020, apesar de elevada, ainda está dentro do intervalo de confiança de 95% (25.956-34.943), ou seja, do ponto de vista estatístico, não constitui uma situação anormal. 

Conclusão: apesar da covid, apesar do medo das pessoas em se dirigirem às urgências, do pânico quase geral, e também de um certo descontrolo do SNS (que baptizei de SINPADE), e pese embora o drama que sempre representará a perdade de entes queridos, até agora a pandemia causada pelo SARS-CoV-2 não se mostra catastrófica mesmo para o grupo mais sensível (maiores de 85 anos). Na minha humilde opinião, os resultados poderiam ter sido melhores se, porventura, o SNS tivesse conseguido dar maiores garantias de segurança para as idas às urgências e se não tivesse descurado as rotinas nos tratamentos aos mais vulneráveis, onde se encontram os idosos. Aliás, a situação continua a ser algo preocupante na faixa dos maiores de 85 anos, porquanto, apesar do surto da covid estão regredir, a mortalidade neste grupo continuava ainda bem acima da média no final da primeira quinzena de Maio, conforme aliás se pode observar no segundo gráfico.

Nota 1: Para uma comparação mais adequada considerou-se o período de 1 de Outubro do ano N até 16 de Maio do ano N+1 sempre que o ano N+1 não era bissexto, ou seja, sempre que o ano em causa tivesse apenas 28 dias no mês de Fevereiro.




domingo, 17 de maio de 2020

DO JORNALISMO DO PODE SER (OU NÃO)

Atenção: Cardumes de SARS-CoV-2 estarão, com toda a certeza, a infectar, com as suas espículas, os cérebros dos nossos jornalistas. Eu, que fui um deles, jamais, que me recorde, usei num título o verbo PODER. Usar o verbo PODER num título DEVE ser uma excepcionalíssima excepção. Porém, vejam esta "pequena lista" de 50 títulos encontrados numa breve pesquisa online, quase todos deste mês. PODE ser que, entretanto, este vírus seja eliminado. Ou não!
1 - Melhor tratamento para a covid-19 PODE ser um cocktail de medicamentos (DN, 15/5/2020)
2 - Covid-19 “PODE nunca vir a desaparecer" (RTP, 14/5/2020)
3 - Médicos alertam: diarreia ou urticária PODEM ser sintomas menos comuns da Covid-19 (Renascença, 22/5/2020)
4 - Animal acusado de ser responsável pela covid-19 PODE ser a solução para tratá-la (ZAP, 14/5/2020)
5 - Covid-19. Pressa de conseguir um medicamento PODE viciar a investigação (RTP 5/5/2020)
6 - Covid-19 PODE causar AVC em adultos jovens (TVI24, 22/4/2020)
7 - Cães PODEM detetar pessoas com COVID-19 (TV Europa, 16/5/2020)
8 - Doentes assintomáticos e infeções mortais. A diferença PODE estar nos genes (DN, 16/5/2020)
9 - Movimento antivacina covid-19 PODE comprometer esforços para acabar com pandemia, alerta estudo (Expresso, 14/5/2020)
10 - Covid-19: Ajuda do FMI PODE ir parar aos credores privados da dívida africana (Expresso, 15/5/2020)
11 - Covid-19: Pandemia PODE convergir com crise climática (RTP, 20/4/2020)
12 - Covid-19: Europa PODE enfrentar "segunda vaga mortal" no inverno, alerta OMS (Sábado, 15/5/2020)
13 - O antidepressivo (vendido em Portugal) que PODE proteger contra Covid-19 (Notícias ao Minuto, 13/5/2020)
14 - O Inverno no Hemisfério Sul PODE Piorar o Alcance da COVID-19 (National Geographic, 30/4/2020)
15 - Nicotina PODE ter efeito protetor contra covid-19, dizem investigadores em França (Negócios, 22/4/2020)
16 - Covid-19 PODE regressar todos os anos, doentes sem sintomas vão ajudar na propagação. O alerta é de cientistas chineses (Observador, 28/4/2020)
17 - Este smartwatch PODE salvar a vida de quem tiver Covid-19 (TSF, 22/4/2020)
18 - Covid-19. Futebolistas PODEM sentir estranheza no regresso à competição (RTP, 12/5/2020)
19 - Covid-19. Economia britânica PODE encolher 14% (Expresso, 7/5/2020)
20 - Vacina contra covid-19 PODE ficar pronta em setembro, dizem Pfizer e NYU (Exame, 14/5/2020)
21 - Medicamento anakinra para artrite PODE melhorar pacientes graves de COVID-19 (TV Europa, 15/5/2020)
22 - Investigação portuguesa PODE contribuir para vacina contra a Covid-19 (Renascença, 8/5/2020)
23 - Covid-19: serviço social em teletrabalho PODE potenciar situações de risco (TVI24, 12/5/2020)
24 - 'Super imunidade' PODE explicar como morcegos não adoecem com a Covid-19 (12/5/2010)
25 - Covid-19: OMS afirma que vírus também PODE afectar sistema vascular e cérebro (Público, 8/5/2020)
26 - Cientistas holandeses criam anticorpo que PODE travar a covid-19 (Expresso, 5/5/2020)
27 - Covid-19: África PODE chegar aos 250 milhões de infetados e 190 mil mortos (Lusa, 14/5/2020)
28 - Covid-19: regresso às aulas PODE criar desigualdade no acesso aos exames (Lusa, 15/5/2020)
29 - Covid-19: número de mortes em África PODE chegar aos 3,3 milhões (Lusa, 12/5/2020)
30 - Número oficial de mortes por covid-19 em Nova Iorque PODE ser pior, alerta agência (Expresso, 11/5/2020)
31 - Pandemia PODE matar indiretamente seis mil crianças por dia (RTP, 13/5/2020)
32 - Covid-19. Crise PODE levar fome a mais 6,9 milhões no Médio Oriente e África (Expresso, 12/5/2020)
33 - Covid-19. Novo vírus PODE estar a adaptar-se aos humanos, facilitando a sua propagação (Expresso, 11/5/2020)
34 - Homens morrem mais de Covid-19 e a culpa PODE ser do sangue (Notícias ao Minuto, 12/5/2020)
35 - OMS avisa que a Europa PODE enfrentar uma segunda vaga letal de covid-19 a partir do Outono (Público, 15/5/2020)
36 - Bolsa PODE “salvar” empresas no pós-covid (Negócios, 13/5/2020)
37 - Medicamento experimental contra o cancro PODE 'matar' o coronavírus (CM, 27/4/2020)
38 - Dor de cabeça pode ser sintoma de coronavírus (CM, 29/4/2020)
39 - Estudo indica que coronavírus PODE permanecer em sémen de homens recuperados (7/5/2020)
40 - Falar gera milhares de gotículas que PODE permanecer no ar até 14 minutos (TVI24, 15/5/2020)
41 - Sequelas da covid-19 PODEM durar anos após a recuperação (JN, 16/5/2020)
42 - A Covid-19 em crianças PODE não começar com tosse (Sábado, 15/5/2020)
43 - Covid-19 PODE gerar “baby boom” de mais sete milhões de gravidezes indesejadas (Expresso, 28/4/2020)
44 - Especialistas avisam: Covid-19 "PODE ser o início" de vaga de pandemias (Notícias ao Minuto, 27/4/2020)

Variante – PODE NÃO (o que é sempre para pior)
45 - Recuperar da Covid-19 PODE NÃO ser um alívio. Médicos temem efeitos a longo prazo (Visão, 27/4/2020)
46 - A Covid-19 em crianças PODE NÃO começar com tosse (15/5/2020)
47 - OMS afirma que Covid-19 “PODE NÃO desaparecer” e alerta para problemas mentais (Jornal Económico, 14/5/2020)
48 - Bioquímico alerta que PODE NÃO haver vacina para a Covid-19 apesar dos esforços (SIC, 8/5/2020)
49 - Covid-19. A máscara é obrigatória, mas a compra PODE NÃO ser fácil (Expresso, 4/5/2020)
50 - PODE NÃO haver vacina nem tratamento para a Covid-19 nos próximos meses (New in Town, 12/5/2020)

sábado, 16 de maio de 2020

DAS DUAS PANDEMIAS QUE PORTUGAL SOFREU: A MÁ COVID E A PÉSSIMA SINPADE

Hoje vamos ter duas análises. Esta parece-me bem elucidativa sobre uma pandemia pior que a covid que afectou Portugal desde Março e sobre a qual a DGS e o Ministério da Saúde disseram até agira "nada". Pois bem, essa segunda pandemia chamar-lhe-ei Síndrome do Pânico e do Descontrolo (SINPADE), forma de expressar o excesso de mortalidade decorrente do medo da covid (que fez com que as pessoas fugissem dos hospitais em caso de doença súbita) e do descontrolo no SNS,incapaz de continuar a dar resposta adequado aos casos do quotidiano. Para apurar os valores da SINPADE calculei, para cada quinzena deste ano, os valores médios dos óbitos diários, e confrontei com a média respectiva dos períodos homólogos de 2010-2019. Fiz a diferença para calcular o excesso de mortalidade. Para determinar a quota do excesso que se devia à covid e à SINPADE, procedi da seguinte forma: deduzi ao excesso médio diário os óbitos diários médios por covid (12 por dia na 2ª quinzena de Março; 29 na 1ª quinzena de Abril; 25 na 2ª quinzena de Abril; 13 na 1ª quinzena de Maio). O remanescente ficou por conta da SINPADE, isto é, representando o excesso de mortes que não foram causadas nem por covid nem pelas habituais afecções que sempre se verificariam (a chamada mortalidade basal). Ora, o que vemos então? Vemos que, com excepção da 2ª quinzena de Abril, a SINPADE matou muito mais que a covid: só neste período, com 42 óbitos diários acima da média, as mortes diárias por covid (25) suplantaram as da SINPADE (17 por dia). De resto, em todas as outras quinzenas, a SINPADE contribuiu muito mais do que a covid para o excesso de óbitos diários: 36 vs. 12 na 2ª quinzena de Março; 42 vs.29 na 1ª quinzena de Abril; e 16 vs.13 na 1ª quinzena de Março. Em termos globais, considerando o período do pandemia (2ª quinzena de Março até 1ª quinzena de Maio) tivemos um excesso de mortalidade de 2.919, sendo que 1.203 se devem à covid e, estimativas minhas, e denominação minha, 1.716 mortes se devem à SINPADE. Muito se poderia especular (no bom sentido do termo) sobre estes valores, mas parece-me evidente que se o SNS soube dar uma resposta adequada à covid, houve falhas evidentes e graves ao longo do processo. Primeiro, na comunicação junto da população para lhe dar confiança em termos de segurança aos serviços de urgência (patentes nos números elevados na 2ª quinzena de Março e 1ª quinzena de Abril); e provavelmente também na capacidade de resposta funcional do SNS aos problemas de saúde do quotidiano. Em qualquer dos casos, mostra-se evidente que a SINPADE foi, e espero que deixe de ser, uma doença pior do que a covid. Nota 1: As barras amarelas nas quinzenas anteriores ao surgimento da covid mostram a situação em 2020 relativamente à média e que é uma função sobretudo do maior ou menor agressividade dos surtos gripais. O surto gripal deste ano (2019-2020) estava a ser menos agressivo do que em outros anos.



DA ESTRATÉGIA: SUÉCIA vs. PORTUGAL

Vamos lá a contas para olharmos o "milagre português" face aos "frios suecos" que optaram por não fazer confinamentos nem restrições à maluca. 

Parafraseando a ministra sueca dos Negócios Estrangeiros de que isto não é um sprint, mas sim uma maratona, consegui encontrar dados credíveis comparar o verdadeiro "efeito" da covid-19 nos dois países em função dos óbitos pela doença e dos óbitos totais para os dois países desde o início do ano. Os dados constam no quadro em anexo, bem como as fontes.

Primeiro, a boa notíci para Portugal: a Suécia registou quase três vezes mais óbitos que Portugal devido à covid (3.220 vs. 1.126 até 8 de Maio). Significa isto que, tendo em conta a população de cada país, Portugal registou uma taxa de mortalidade de  apenas 0,11 por 1.000 habitantes contra 0,32 na Suécia.

Segundo,a péssima notícia para Portugal: contabilizando a covid e o surto gripal de 2020, a mortalidade total da Suécia é apenas de cerca de 85% dos óbitos totais de Portugal (38.409 vs. 45.353), significando assim uma taxa de mortalidade na Suécia se cifrou, até 8 de Maio, em 3,81 óbitos por 1.000 habitantes, enquanto em Portugal foi de 4,45 óbitos por 1.000 habitantes..

Conclusão evidente e irrefutável: a morte na Suécia tem ceifado muito menos do que em Portugal. O menor número de morte por covid-19 é, assim, uma vitória de Pirro para Portugal. A taxa de mortalidade por não-covid é, aliás, superior em 24% no nosso país em comparação com a Suécia (4,34 óbitos por 1.000 habitantes em Portugal vs. 3,49 na Suécia).


DO CRAVO E DA FERRADURA

António Costa apela que se saía à rua para dinamizar o comércio e depois sai-lhe isto: “As pessoas sabem que o vírus anda por aí, que não há vacina, que não há cura, mas se todos nos respeitarmos uns aos outros, podemos retomar em segurança”... Que não há cura, portanto! Ou seja, mais de 99% de contaminados pelo SARS-CoV-2, se atendermos aos testes serológicos, não morreram por milagre. Fónix!

sexta-feira, 15 de maio de 2020

DAS MORTES EM LISBOA E DAS COSTAS LARGAS DA COVID


Tem sido evidente que a mortalidade por covid-19 tem vindo a descer significativamente, conforme mostram os boletins da DGS. Contudo, como também tenho aqui mostrado, causa-me estranheza observar que a variação dos óbitos na faixa dos mais idosos continua pouco favorável. Encontrar onde anda o probllema é, perante a ausência de dados muito detalhados, uim trabalho detectivesco, uma vez que a DGS (a quem caberia identificar situações anormais) anda entretida a criar regras esdrúxulas que, por certo, irão ao pormenor de determinar a distância mínima entre castelos de areia nas praias.

Assim, comecei a observar as variações da mortalidade por distrito ao longo deste ano (comparar com a média daria imenso trabalho). Todos apresentam variações favoráveis (decréscimos significativos) a partir do início de Abril, embora com alguns sinais não tão evidentes em zonas menos afectadas pela covid, como Coimbra e Lisboa. No entanto, mesmo o distrito de Lisboa indicava-me que, em termos absolutos, a situação não era assim demasiado chocante, Mas havia ali sinais de desconfiança. Aprofundei a investigação. Fui ver ao nível de concelho.

Como sabem, o concelho de Lisboa (apesar de pouco afectado pela covid) é um dos mais envelhecidos do país. Fui olhar então para as variações semanais dos óbitos (entre a semana 1 e a 19) e, hélas, a mortalidade está ainda bem acima dos valores expectáveis para a época desde a segunda semana de Março (sema 13 do ano). Não há propriamente um pico de mortalidade, característico de um surto epidémico, mas antes uma subida e uma manutenção. Ou seja, desconfio que o excesso de mortes tenha outras causas que não a covid. O excesso de mortalidade que calculei desde a segunda semana de Março até agora são de quase 100 óbitos a mais, o que não é coisa de somenos, mas sobretudo denota que algo anda a falhar.

Para ter um termo de comparação regional, observei o concelho de Sintra, mais jovem, onde se observa um pico de óbitos em redor da segunda semana de Março, embora não demasiado anormal. mas a seguir uma descida significativa, estando a mortalidade actualmente dentro dos níveis expectáveis. Claramente observa-se comportamentos similares em Lisboa e Sintra entre as semanas 12 a 15, mas a seguir Sintra desce na mortalidade, e Lisboa mantém ou até sobe, divergindo ainda mais da média expectável. Isto é um sinal de alarme.

Faço esta análse apenas como alerta, mais uma vez, para a necessidade de se analisar não apenas o que se anda a passar com a covid, mas com todo as funcionalidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Convinha que fossemos rapidamente para uma "nova normalidade", que deveria ser, no caso do SNS, no sentido de repor a confiança nos cuidados de saúde básicos e na confiança das pessoas para uma assistência médica segura. De contrário, continuo a temer que o SARS-CoV-2 venha a matar mais por via indirecta do que pela covid que provoca. E não épor causa dos convíveios nas praias, nos restaurantes e nas creches.


Nota: O gráfico mostra as variações semanais dos óbitos por concelho. Está indicado o mês (Jan, Fev, Mar, Abr, Mai) na semana em que tanto o dia de início como o dia do fim dessa semana se encontram no mês referido.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

DA VIDA, DA MORTE E DO VÉU QUE SE DESTAPA DA COVID


Os recentes testes serológicos em Espanha, um dos países mais afectados pela covid, começam a revelar a dimensão da pandemia. Em vez de taxas de letalidade verdadeiramente aterradoras (10%) se se considerasse o número de óbitos (27.321) em função do número de casos positivos (272.646), afinal temos taxas de letalidade de 1,1%, tendo em considerção que o número de contaminados (a esmagadora maioria assintomático) é muito superior. Em regiões muito afectadas, como a Comunidade de Madrid, uma das piores regiões, os testes serológicos estimam que cerca de 11% dos residentes foram contaminados pelo SARS-.CoV-2, pelo que a taxa de letalidade ronda os 1,2%.

Não exisetem indicadores por faixas etárias, mas tudo indica, até por testes serológicos em outros países (e.g., EUA), que a covid-19 sendo uma pandemia preocupante, particularmente para a população mais idosa (com mais de 85 anos), não é uma peste negra nem a gripe espanhola de 1918. Tem, aliás, a particularidade (feliz dentro da infelicidade) de não estar a afectar a população jovem e em idade adulta. Além disso, quer queiramos quer não, a situação está a ser mais dramática em resultado de um sucesso civilizacional e geracional: o aumento "estonteante" da esperança média de vida (para quem não sabe, no início do século XX era de apenas cerca de 40 anos na Europa), fruto da melhoria dos cuidados médicos e particularmente da redução fortíssima da mortalidade infantil.

Que devemos fazer perante estes valores? Perante isto? Ser racionais. Reconhecer que viver é um risco, tomar precauções mas sem demasiados fundamentalismos, sobretudo numa altura (a actual) em que tudo indica que a covid regrediu (não significando que possa não regressar, mas essa probabilidade não nos pode tolher os movimentos). Não podemos ter a posição definitiva de não sair à rua porque nos pode sempre cair um vasos em cima (existe sempre uma probabilidade, mesmo remota de suceder tudo), Essa opção pode até dar-nos mais anos de vida, mas não é uma forma de vida. Não é para uma criança numa creche que não pode agora brincar com os seus amiguinhos; não é para um jovem estudante que não pode beber os seus copos com os amigos (e estudar também); não é para famílias que deixam de confraternizar e ter férias; não é sequer para os vellhos para quem esta tal sorte (a distopia em que vivemos) ameaça ser pior do que a morte.

Viver de forma realizada é saber arriscar, embora com prudência. Viver de forma realizada não é certamente aceitar que nem se pode sequer colocar uma toalha numa praia deserta só porque há uma norma "cega", construída por um burocrata, que decreta que agora só é permitido "andar" por lá em passeios curtos. Viver de forma realizada seria, por exemplo, poder abraçar a minha mãe que faz 80 anos daqui a uma semana, mas que, por todo o espectro do medo que se instalou, faz com que, provavelmente, não o venha a fazer. Para quem, como eu, está imune ao medo e pânico que se foi instalando, não se se livrou, porém, do ferrete do receio. Estar constantemente sob uma espada de Dâmocles não é certamente a melhor forma de se viver.

Há decisões que temos de tomar; e as melhores não devem ser tomadas em exclusivo apenas pelos políticos, sobretudo quando, entre eles, germina essa semente do gosto pela "ordenzinha" imposta e pelo controlo das nossas vontades. Drones, torniquetes e cédulas de "pureza", por amor da Santa!, são coisas aterradoras, bem piores do que o SARS-CoV-2. Sejamos sensatos e racionais. Sigamos, por exemplo, a Suécia, onde a sensatez e a racionalidade imperaram.

Logotipo do reality Big Brother e retrato do escritor George Orwell

quarta-feira, 13 de maio de 2020

DO DEUS NOS LIVRE DESTES DISCURSOS


«É possível recomeçar com esperança. A pandemia é um chamamento à conversão espiritual mais em profundidade. (...) O vírus da indiferença só é derrotado com os anticorpos da compaixão e da solidariedade».
António Marto, bispo de Leiria-Fátima, hoje

Nota: Alguém explique ao distinto clérigo que dizer «anticorpos da compaixão e da solidariedade» significa considerar que a compaixão e a solidariedade seriam agentes infecciosos...